Anta, anta, anta! Ele ouviu! Eu sei que ouviu, pelo modo em que desviou o olhar para o outro lado... Como alguém pode ser tão idiota, a ponto de praticamente falar para a pessoa que gosta, que não gosta dela? Como eu pude ser tão idiota a chegar nisso? Mas agora, eu estraguei tudo! Como vou me aproximar dele (para descobrir meus sentimentos) depois disso? Com que cara eu faço isso, santo Damon? Alguém pode me gritar uma resposta, porque sinceramente eu não sei.

— Clara, tá tudo bem? - Lucy me perguntou durante o intervalo.

— Lógico que está, por que não estaria? - respondo com um sorriso mais do que falso.

Lu levanta uma sombrancelha e me olha pouco convencida. Não adianta Lucy, eu não vou te contar. Mas não vou mesmo! Você deve estar pensando: ué, ela não confia na Lucy? Sim, eu confio nela. Mas o problema é que eu sou muito orgulhosa para voltar atrá, em coisas que eu disse. Quando Lucy me zoou falando que eu gostava dele, eu neguei. Falar a verdade agora, vai afetar totalmente o meu orgulho. Talvez eu esteja errada, em colocar meu orgulho em primeiro lugar, mas eu não posso mudar quem sou agora.

Suspirei e olhei para frente. Nós estávamos no jardim, Val cantava de um lado com a Anna (uma dupla "super incrível" de canto, se você me entende) e Thomas estava... Onde está o Thomas? Olhei para os lados o mais discretamente que pude, e vi ele. E a Lauren. Os dois são amigos? Que legal, porque eu não gosto dela. Não porque ele tá conversando com ela, mas sim porque não nos demos bem, que fique explicado!

— Que foi, está com ciúmes? - Lu perguntou, enquanto Val e Anna riam.

Droga! Fui pega no flagra!

— Até parece! Ciúmes, eu? De quem? Daquilo? Até parece! - disse rindo e virando os olhos.

Por que eu falei isso?! Eu só estou piorando tudo! Droga!

***

Sabe o dia em que tudo dá errado, parece que o mundo conspira contra você? Pois é, acho que meu dia foi assim hoje. Vamos começar com metade da escola te perguntando se você tem alguma coisa com o menino que você gosta, acresente uma negação, o menino ouvir o que você diz e uma grande confusão interna. Foi isso o meu dia hoje. Cada vez que me zoavam com ele, ele estava perto o suficiente para ouvir minhas negações e ofensas. Por que eu ofendi ele? Que droga, o que eu tenho de errado na hora falar em como ele é legal, mas que eu não gosto dele? Eu sei que a última parte não é verdade, mas... Niguém precisa saber disso, precisa?

Depois de guardar minhas coisas no ármario, fui andando para me despedir das meninas, quando ouço alguém me chamando:

— Clara! Espera! - me viro para trás e vejo uma menina respirando muito rápido.

— Ah! Oi, Madeleine. - digo sorrindo.

— Hoje você vai para o alemão, não? - ela perguntou.

— Sim, por que? Você não vai e quer que eu dê algum recado para a... - comecei a perguntar.

— Não, quero saber se podemos ir juntas, sabe, é chato esperar sozinha a aula começar.

— Concordo. - falei rindo - Vamos juntas então.

Me despedi das meninas, Madeleine aproveitou e se apresentou para elas, e eu e Madeleine fomos para o jardim.

Começamos a conversar e eu vi que ela era uma menina muito simpática. Gostei muito dela, nós tinhamos muitos gostos em comum, por exemplo o fato de amar Vampire Diaries, amar o Damon, adorar ler e etc.

— Clara, posso te perguntar uma coisa? Promete que não fica brava? - ela perguntou olhando nos meus olhos.

— Acho que sim, o que é? - perguntei.

— Você gosta do Thomas? - ela perguntou.

— Até você?! - disse bufando - Eu não gosto dele. Acho ele legal e tal, mas não gosto nesse sentido.

SCORE! Consegui! Eu elogiei e neguei ao mesmo tempo! Aleluia! Ouço o coro de anjos ao fundo!

— Tudo bem, é que sei lá, todo mundo tá falando... O East tem muita fofoca, eu hein! Lá no meu outro colégio, não era assim. - Madeleine falou olhando pro céu.

— Perai! Você disse outro colégio? Então você é nova tanto quanto eu? - perguntei ficando animada.

— Pelo jeito... - ela respondeu dando de ombros.

Eu fiquei feliz em saber disso. É legal ter alguém que entende se você tiver crises no colégio novo, alguém que sinta a mesma coisa, sabe? Tipo, ela é nova como eu, tudo é uma novidade para nós duas... Isso é bom, no meu ponto de vista.

Madeleine olhou no relógio e viu que estava na hora da aula, fomos correndo e rindo de nós mesmas quando tropeçamos e derrubamos um menino, que bateu na parede, que estava na direção oposta da nossa.

— Desculpa! - eu disse controlando o riso, ao contrário da Madeleine, que estava tendo um ataque respiratório.

— Quer me matar? - ouvi uma voz conhecida perguntar em tom de brincadeira - Quase tive um traumatismo aqui!

— Desculpa, Thomas. Não vi por onde tava andando. - respondi sem graça, com um sorriso tímido. É, tímido. O que tem de errado comigo?!

— Andando? Pra mim vocês duas estavam correndo... Sabia que é proibido correr nos corredores? Vocês querem levar uma advertência ou serem expulsos? - ele disse apontando para nós duas.

— Nossa! Falou o "certinho" agora, hein? Obrigada pelo aviso, agora as meninas malvadas que vão ser expulsas, vão para a aula de alemão. - disse puxando a Madeleine e empurrando o Thomas.

— Vocês tem aula agora?

— Foi o que a Clara disse, não? - Madeleine devolveu rodando os olhos.

— Quem é você? - Thomas perguntou enguerdo a sombrancelha.

— Madeleine, estou na sua aula de matemática, história e física. - ela respondeu em tom indignado.

— Ah! A nerd que só tira dez! - ele falou batendo na testa.

Madeleine olhou pra ele com cara de tédio e disse virando para mim:

— Não acredito que você gosta dele.

— Eu não gosto dele! - eu respondi nervosa.

— Da onde vocês tiraram que a gente se gosta? Que saco! - Thomas falou bufando e olhando pro lado - Até parece que eu ia gostar dela...

Sabe aquele negócio de se sentir mal em negar? Pois é, acabou total depois do que ele disse. Tenho que confessar que até que doeu um pouquinho, mas como não vou deixar meu orgulho ser ferido, devolvi a ofensa:

— Digo o mesmo. Não posso gostar de um garotinho que fica jogando Ds o dia todo.

— Eu não fico o dia todo! E o meu é DsI! - ele respondeu irritado.

— Que diferença! - retruco.

— Tem mesmo!

— Não tem! - respondo chegando perto dele.

— Tem sim! - ele fala chegando mais perto de mim.

De repente ficamos em silêncio muito perto um do outro, perto demais. Perto o suficiente para que eu sentisse o seu cheiro, e o decorasse, perto o suficiente para ver que seus olhos são castanhos e não pretos... Perto o suficiente para que algo a mais acontecesse. Ou talvez, perto o suficiente para que Madeleine me empurrasse.

— MADELEINE! - eu grito quando percebo que cai em cima de Thomas, empurrando o mesmo na parede atrás dele.

— Que foi? - ela pergunta em um tom inocente e ingênuo.

— POR QUE VOCÊ ME EMPURROU, MENINA DAS TREVAS? - pergunto me virando para ela.

— Porque vocês estavam tão pertinho... Estava tenso olhar sem fazer nada, Clara! - ela me respondeu rindo - Além disso, se vocês não gostaram, por que a Clara continua praticamente em cima de você aí na parede? - Madeleine perguntou cruzando os braços.

Foi aí que me toquei que ainda estava em cima do Thomas. Nós dois nos encaramos e nos separamos o mais rápido que pudíamos, enquanto a menina das trevas ria da nossa cara. Tenho certeza que fiquei vermelha, tô até sentindo meu rosto ficar vermelho!

— Só tenho uma coisa para te falar, Madeleine: maldita seja! - falou brava andando na frente dela em direção a sala.

— Vai dizer que ficou brava? Foi só uma brincadeirinha inocente! O que poderia acontecer? - ela falou me seguindo, enquanto ria baixinho.

O que poderia ter acontecido de ruim? A gente ter se beijado talvez?

***

— VOCÊS QUASE O QUE? - Rapha perguntava como uma garota histérica que acabou de quebrar a unha.

— Eu sei que você ouvi, Rapha! Agora dá pra parar como o chilique, ou vou começar a pensar que você joga no outro time! - disse.

Estávamos na minha casa, eu fiquei entediada e pedi pro chato do Raphael passar aqui para me distrair. Era de tardezinha e eu tinha contado pra ele o que tinha acontecido mais cedo.

— Quem aquele sem-vergonha pensa que é para tentar agarrar a minha menininha? - Raphael disse se levantando do sofá - Vou dar uma lição naquele safado! Clara, seu pai mudou o lugar onde ele deixa as facas de churrasco? - Raphael disse a caminho da cozinha.

— Parou! PAROU TUDO! - eu digo pulando em cima do Rapha e caindo em cima dele no chão - O que você pretende fazer com uma faca?

— Prefiro deixar isso em off, já que você é uma garota... - ele responde.

— Raphael!

— Que foi? Tem algo de errado em querer dar uma lição em um idiota? A menos que... Que você tenha gostado. - ele fala e eu sinto minhas bochechas corarem - Esse silêncio de sua parte, só afirma minhas suspeitas.

— Para, seu chato pervetido! - eu respondo me sentindo mais vermelha ainda.

— Você que faz a coisa feia e eu que sou o pervetido? A propósito você pode sair de cima de mim? Você tá pesada pra caramba, viu...

Saio de cima dele e jogo uma almofada na cara do mesmo.

— Por que isso? Eu hein! - ele fala se sentando no chão - Vai me contar tudo agora ou ainda vai esconder alguma parte?

Suspirei e contei tudo para ele. Tudo mesmo. Sem esconder nadinha. Depois de terminar ele me olhava com um sorrisinho.

— Por que raios você está me olhando com essa cara? Você tá me assustando! - digo abraçando uma almofada.

— Porque a minha pequena está apaixonada! Olha só! Tá até ficando vermelha! - ele falou quando eu escondi meu rosto na almofada - Não precisa ficar com vergonha não, tá? Seu irmão do coração tá aqui...

— Parecendo um bobão, que eu vou fazer comer sabão se não parar agora não! - eu digo.

— Rimou! - ele diz com os olhos brilhando e ignorando as palavras que eu disse.

— Raphael, concentra! O caso é sério! Como eu descubro se realmente gosto dele?

— Pra mim isso já está mais do que óbvio... Na verdade pra mim e para todo mundo, né!

Eu abaxei a cabeça. Eu tinha descoberto que gostava do Thomas há uns dois dias no máximo e todo mundo já sabe, antes mesmo de mim contar a alguém. A minha vida não está só melhorando não mãe, ela está é ficando complicada...