Através dos Seus Olhos escrita por ReLane_Cullen


Capítulo 8
Ela


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como vocês estão? Como prometido, aqui está o EPOV. YAY! Espero que vocês gostem!

Ah, a partir de agora aparecerão algumas músicam em alguns capítulos, começando por esse. Quem não tiver a música é só ir no meu profile que lá você encontrará um link para download.

A música desse capítulo é Cry da Mandy Moore.



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Capítulo 8- Ela

[EPOV]

O meu quarto estava envolto com a melodia que saia do meu aparelho de som. Clair de Lune. Uma das minhas composições preferidas de Debussy.

A música sempre foi a minha paixão.

Eu me perguntava se existia outra arte capaz de exprimir tantos sentimentos, sem dizer nenhuma palavra.

Fazer alguém sorrir, ou chorar. Acalmar ou inquietar, com apenas uma melodia.

Até hoje eu não havia encontrado nada igual. Talvez, porque nada se comparasse a música.

Música.

A única coisa que havia sobrado na minha vida. A única coisa da qual eu não havia me afastado. A única coisa constante na minha vida.

Mas nem sempre foi assim.

Houve um tempo que eu era como qualquer outro garoto. Adorava sair com os amigos, ficar com a minha namorada, rir da vida e de tudo o que ela me trazia.

Mas tudo na minha vida desmoronou.

Assim que eu descobri sobre a minha doença, eu demorei um pouco para aceitá-la, mas acabei aceitando-a. Todos me diziam que ela demoraria muito para se desenvolver, e que talvez estacionasse onde estava.

Aos quatorze anos, coloquei meu primeiro par de óculos. Depois de dois anos usando lentes, era libertador usar algo que não ficasse dentro do meu olho. Alice também fazia um ótimo trabalho, me dizendo que eu ficava sexy de óculos.

Mas aos poucos, as coisas foram mudando. Rapidamente, os óculos aumentavam de grau, numa velocidade que eu não entendia. Essa doença não evoluía devagar?

Eu troquei de médicos inúmeras vezes, mas nenhum deles conseguia dar uma resposta exata do porquê. Meu pai já havia me levado para New York atrás de respostas, mas nada. Nenhum deles conseguiu evitar ou explicar o inevitável.

Certo dia eu abri os meus olhos, e tudo o que eu enxergava era escuridão.

Eu tentei entender tudo o que acontecia comigo, mas não tinha nada para entender. Eu era um garoto de apenas dezesseis anos, que não enxergava mais.

Era doloroso, ter uma coisa, e vê-la sendo tirada de você como se aquilo não te pertencesse. Como se você tivesse usurpando algo que não era seu. Como se você não merecesse aquilo.

E foi exatamente assim que eu comecei  a encarar as coisas.

Eu me afastei de todas as pessoas ao meu redor. Era a melhor coisa que eu devia fazer. Não queria ser um estorvo na vida deles, o melhor seria não fazer parte da vida deles.

Afastei meus amigos, Tanya, e tentei inutilmente afastar Alice, Rosalie, Emmett, Jasper e meus pais.

Mesmo eu não sendo o garoto que um dia eu fui, eles nunca me abandonaram.

Mesmo eu não falando tanto quanto antes, de certa forma, eles sempre estavam por perto.

Eu sabia que os estava magoando, mas o que eu podia fazer?  Essa era a melhor maneira que eu havia encontrado para lidar com a minha situação. E estava funcionando perfeitamente.

Os meus amigos conseguiam se divertir, mesmo sem eu estar por perto. Meus pais seguiam com a vida deles. E as pessoas na escola se desviavam de mim quando eu passava.

Sem dúvidas, isso tornava minha vida mais fácil. Eu já havia decorado a planta daquela escola, desde quando comecei a estudar lá. Quando deixei de enxergar, isso fora muito útil. Eu odiava ter que usar uma bengala, ou guia, ou qualquer outra coisa que me servisse de apoio.

As pessoas logo aprenderam a não ficar no meu caminho.

Pelo menos era assim, até ela chegar.

Eu nunca havia conhecido alguém tão desastrada, e com uma incrível capacidade de esbarrar em mim a toda hora que nos encontramos.

Eu aprendi a me afastar das pessoas, e deixar todas elas longe de mim. Eu havia construído uma muralha ao meu redor, me isolando do restante do mundo. Mas parecia que ela tinha o dom de ficar no meu caminho.

Minha parceira nas aulas, amiga do meu irmão, a nova ‘filha’ dos meus pais. Para qualquer lugar que eu ia, ela estava lá. Era como se eu estivesse cercado por ela.

Alice insistia em dizer que eu devia conhecê-la, e estranhamente, uma parte de mim desejava isso.

Bella era diferente.

Eu não sabia explicar como ou por que, mas ela não era igual a nenhuma pessoa que eu conhecera.

Ela era extremamente desastrada, e incrivelmente impulsiva na hora de falar. Ela discutiu comigo na frente dos meus pais, e com o Jasper na frente da escola toda.

Ela não tinha medo de falar o que pensava, e era a única pessoa que não era da minha família, e mesmo assim me enfrentava.

Essa história de tratar as pessoas do jeito que te dá na telha, pode funcionar com as pessoas daqui, mas você vai precisar de muito mais do que isso para me afastar.

Ela havia me deixado sem ação diante de suas palavras. O que eu poderia ter dito? Por mais que uma parte de mim queria se aproximar dela,  eu não podia fazê-lo.

Mesmo com o som da música tocando, eu ainda podia ouvir os sons que vinham do quarto ao lado.  Abaixei um pouco mais o volume para poder ouvi-los.

 “Oh, você tá corada.”  Emmett disse debochado. Ela corava? Acho que eu nunca conheci uma garota que corava.

“Não tô não.” Ouvi Bella negar.

“Você tá parecendo um pimentão.” Ele completou rindo.

“Sai daqui senão eu vou te chutar.” Ela disse irritada com a implicância dele.

“Não saio não.” Ele falou. Logo depois ouvi um grito, e várias risadas da parte de ambos.

 “Emmett, para!” Ela implorava sem fôlego, de tanto rir. “Para, Emmett”

Um sorriso escapou dos meus lábios ao ouvi-los. A risada musical dela, se mistura com a de Emmett. Sem dúvida alguma, aquela garota havia conquistado todos ao seu redor.

Eu fiquei escutando-os até o filme acabar. Eu sentia que era errado ficar ali, escutando o que eles falavam, ou faziam, mas a minha curiosidade falava mais alto. Eu não podia evitar.

“O jantar está na mesa.” Meu pai me avisou, algum tempo depois, do lado de fora do meu quarto.

“Já vou.” Respondi sem muito ânimo.

Às vezes eu gostaria que minha família não se importasse tanto comigo. Seria mais fácil se eles tivessem parado de tentar de uma vez por todas. Eu nunca demonstrei nem um sinal de que algum dia eu voltaria ser o garoto de antes. Mas de alguma forma, eles não desistiam. Sempre arrumavam um jeito de me fazer participar em algo.

“Sente-se, querido” Minha mãe disse assim que me viu a entrada da sala de jantar.

Fiz como ela pediu, e me sentei ao lado do meu irmão.

“Como foi o dia de vocês?” Meu pai perguntou interessado.

“O de sempre.” Jasper respondeu um pouco desatento.

“Foi demais!” Emmett disse rindo.

“Oh, as meninas apareceram aqui?” Minha mãe perguntou.

“Não.”

“Por que você não avisou? Eu poderia ter tentado voltar para casa. Quem tomou conta da Bella?” Minha mãe realmente parecia preocupada. Como eu havia dito, ela havia conquistado a todos ao meu redor.

“Eu, oras.” Emmett respondeu. Eu não podia ver, mas eu tinha certeza de que ele estava com um imenso sorriso no rosto. Assim como minha mãe devia estar com o cenho franzido.

“Você?” Ela perguntou surpresa.

“Eu e Bellinha tivemos um ótimo tempo juntos.” Ele respondeu. Tentei não rir ao me lembrar do grito que ele dera, quando ela o acertara em alguma parte do corpo.

“Espero que ela tenha sobrevivido.” Meu pai comentou, e eu ouvi todos rirem, exceto Emmett. “Edward, e o seu dia?” Meu pai voltou a atenção para mim.

“Foi como todos os outros.”  Vazio, chato, solitário, completei mentalmente.

O jantar se seguiu com mais algumas pequenas conversas. Minha mãe falou sobre um novo cliente que estava lhe dando muito trabalho, e meu pai falou sobre a confusão que teve no hospital com um acidente de carro que ocorrera numa das principais vias da cidade.

Eu fui o último a me retirar da mesa. Emmett e Jasper logo saíram para poderem ligar para suas respectivas namorada.  Eu precisava urgentemente voltar para o meu mundinho particular.

Assim que cheguei no meu quarto, eu não liguei nem a TV, nem o meu som. Estranhamente, eu esperava ouvir alguma coisa vinda do quarto dela.

Essa curiosidade estava me matando. Nunca ninguém despertara tamanha curiosidade em mim. Era uma sensação estranha que eu não conseguia entender.

Eu conseguia ouvir alguns ruídos, mas nada que eu conseguisse identificar. Devia ser a televisão, pensei.

Não demorou muito, até que os sussurros dessem lugar a uma conversação mais audível.

“E você preferiu acreditar nisso, a vir conversar comigo?” Ela parecia indignada com alguma coisa.

“Me desculpa, mas é que... eu não gosto que briguem com o Edward.” Jasper respondeu. Pela voz dele, ele parecia estar desconfortável com o rumo da conversa.

“Você não pareceu não gostar quando eu discuti com ele aqui na sua casa.” Ela revidou.

“Aquilo foi diferente. Ele também teve culpa, ele te provocou.” Ele explicava.

“E qual é a diferença?”

“Bella, desde que tudo isso aconteceu, eu tenho enfrentado inúmeras pessoas estúpidas fazendo piadas e tratando o meu irmão da maneira que ele não deveria ser tratado. Quando eu ouvi falar que vocês tinham discutido, eu surtei. Eu prometi a mim mesmo que nunca deixaria ninguém machucar o  Edward.” Jasper explicou. De certa forma eu sempre soube que ele estava me defendendo pelas minhas costas, embora ele nunca tenha falado sobre isso comigo.

“Acredite em mim, o seu irmão sabe se defender muito bem.” Bella deu uma leve risada ao final da frase. Aposto que ela devia estar rindo de todos os foras que eu havia dado.

“Eu sei, mas é que ele sempre me defendeu quando eu era mais novo. Eu só queria poder retribuir.” Jasper me pareceu sincero no que dizia. Ele era o meu irmão mais novo, e eu tinha a necessidade de cuidar dele, quando éramos mais novos. Eu nunca esperava que ele tivesse a necessidade de retribuir isso.

“Comece tratando-o como uma pessoa normal, por que é isso que ele é.” Se ela realmente me conhecesse, ela nunca diria que eu era normal.

“A Rose me ligou hoje...” Ele começou hesitante. ” Ela falou que ela te contou tudo.”

“É, ela veio aqui hoje a tarde.”

“Então, sem sermões?” Ele perguntou com um toque de bom humor na voz.

“Jazz, como você mesmo disse, eu não sou ninguém para julgar a maneira como você trata o seu irmão. Isso não é da minha conta.”

“É sim. Você convive com a gente, e é nossa amiga. Eu errei em te deixar de fora da situação.” Ele se desculpou.

“Então, amigos de novo?” Ela propôs.

“Com certeza.” Ele concordou. E risadas de felicidade logo puderam ser ouvidas.

***

Após o café da manhã, eu voltei para o meu refúgio. Peguei meu violão e comecei a dedilhá-lo, mas a melodia que saía era desconexa. A minha cabeça ficava relembrando a conversa que eu ouvira na outra noite.

Ela me achava normal? Como isso era possível?

Desde o momento que eu a havia conhecido, a única vez que eu não discuti com ela, foi quando eu entreguei a matéria para ela.

E mesmo assim, de alguma forma ela me defendia.

Aquela garota não parava de me surpreender.

Desisti de tentar compor qualquer coisa, eu precisava espairecer um pouco.Ainda estava descendo as escadas, quando ouvi vozes vindo da sala de estar.

Eu consegui reconhecer todas elas.Emmett, Rosalie, Jasper, Alice, Angela, Ben, Eric e Mike. O que aquele idiota estava fazendo ali?

“Vai Bella, eles têm razão.” Alice insistia. Mais uma vez a curiosidade tomou conta de mim, e eu fiquei sentado na escada, ouvindo a conversa.

“Nós queremos fazer a apresentação com você, mas para isso precisamos saber se você canta bem.” Ben explicava para ela.

“Eu não canto em público.” Ela disse apreensiva.

“Você não está em público.” Emmett apontou.

“Têm mais de cinco pessoas me encarando, eu chamaria isso de público.” Ela respondeu nervosa.

“Vai, não custa nada.” Rose também insistiu. Eu ouvi um suspiro alto e derrotado. Só podia ser da Bella.

“Tá bem. Angela, você pode tocar o violão?” Bella perguntou. Nenhuma resposta foi ouvida por mim. Mas, pelo o que veio a seguir a resposta deve ter sido sim.” Lembra daquela música que a gente tava falando?”

“Claro.” Angela respondeu. Segundos depois, o som do violão preencheu o ambiente.

“I'll always remember...it was late afternoon

It lasted forever, but ended so soon. Yeah

You were all by yourself, staring up at a dark gray sky,

 I was changed. ”

 

 

Eu não tinha palavras para descrever o que eu estava ouvindo.

 

“In places no one will find,

 all your feelings so deep inside.

 Was there that I realized that forever was in your eyes.

 The moment I saw you cry.”

 

Bella tinha uma das vozes mais perfeitas que eu já tinha ouvido. Era linda e doce.

“It was late in September and I've seen you before

.You were always the cold one but I was never that sure

 you were all by yourself, staring up at a dark gray sky.

 I was changed”

 

“In places no one will find,

 all your feelings so deep inside.

 Was there that I realized that forever was in your eyes.

 The moment I saw you cry.”

 

 

Ela cantava com o coração. Não era preciso enxergar para ver e sentir as emoções que ela colocava em cada palavra que cantava.

 

 “I wanted to hold you. I wanted to make it go away.

I wanted to know you.I wanted to make your everything

All right.”

 

“Ill always remember it was late afternoon”

“In places no one will find,

 all your feelings so deep inside.

 Was there that I realized that forever was in your eyes.

 The moment I saw you cry.”

 

Todos aplaudiram ao final da música, e eu ainda estava completamente maravilhado com o jeito dela cantar.

Ouvi o barulho de um beijo estalado.

“Eca, Jasper!” Bella reclamou, rindo.

“É amor, só eu gosto dos seus beijos.” Alice constatou, e todos riram

“Uau, você arrasa.” Rose disse, naturalmente para a Bella.

“Obrigada.” Ela agradeceu, sem graça.

“Sério Bella, você canta muito bem.” Ben a elogiou. Mas ele estava errado, ela não cantava muito bem. Ela cantava maravilhosamente bem.

“Você tem que fazer a apresentação com a gente.” Mike insistia.

“Eu não sei.” Ela pareceu meio hesitante.

“Por favor.” Eric implorou.

“Eu vou pensar.” Ela respondeu, e todos pareceram ficar satisfeitos com isso. “Mas o que vocês tem em mente para a apresentação?”

“Não sabemos ainda.” Angela respondeu.

“Que tal algum hip-hop?” Mike sugeriu. O que esse garoto tinha na cabeça? Ah é, nada.

***

Mais um dia na escola. Mais um dia desnecessário na minha vida.

Se eu pudesse, eu não viria à escola. Eu não precisava, os meus professores mesmos diziam isso. Segundo eles, eu tinha talento suficiente para matar todas as aulas. Mas, infelizmente eu dependia dela para poder entrar na faculdade.

Então eu não tinha escolha, a não ser suportar esse tormento diário.

Ao final da aula, o Sr. Banner pediu que eu o esperasse, pois ele precisava falar comigo.

“Edward, como você sabe, nós teremos apresentações semanais a partir do mês que vem. ”

“Não se preocupe, eu vou trabalhar em algo.” Tratei de certificá-lo. Ele não precisaria ficar preocupado com o fato de eu esquecer isso.

“Com a Bella?” Ele perguntou.

“Sr. Banner...” Eu tentei me explicar, mas ele logo me interrompeu.

“Desculpe, Edward mas o trabalho não é individual. É em dupla. Na verdade já está virando um trabalho em grupo, já que algumas duplas estão se juntando.”Ele fez uma pausa, ao perceber que estava divagando. “O ponto é, você só poderá apresentar o seu número juntamente com a sua dupla.”

“Mas, Sr. Banner...” Mas uma vez ele me interrompeu.

“As apresentações vão valer nota.” Ele avisou. “E eu não vou voltar atrás na minha decisão. ”

Suspirei e assenti com a cabeça.

Eu não sabia para que essa palhaçada. Tecnicamente eu só deveria começar a trabalhar com a Bella no próximo ano letivo, já que as apresentações desse ano seriam solo.

O Sr. Banner, minha família e o universo inteiro pareciam conspirar de alguma maneira para que eu me aproximasse dela. E agora minha vida acadêmica estava em jogo. Parecia que só me restava uma coisa a ser feita: Eu teria que falar com a Bella.


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