Just My Luck escrita por Daniele Avlis


Capítulo 4
That Girl - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Capitulo dividido em três partes



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Capitulo três
That Girl

“O que seria do seu futuro se não tivesse sonhos e esperanças? Por que, quando olhamos para o céu estrelado, levantamos o braço, estendemos a mão no ar e temos a sensação de que podemos tocar a estrelas? Mas as mesmas estão tão longe e depois de abaixarmos o braço, e ao olhar a mão para ver se pegamos alguma, ela está vazia; contudo, ao mesmo tempo, temos a sensação de que não a pegamos com as mãos e sim com o coração, pois cada estrela, vagando no céu, é uma pequena centelha de esperança de alguém. E quando somos pegos de surpresa, por algum estranho, que te olha curioso para saber por que você estava com o braço estendido no meio de uma avenida mais movimentada, na hora do rush, quando todos aqueles trabalhadores estão voltando para casa. Você simplesmente a olha, a pessoa curiosa te devolve com um olhar de indignação e desprezo por duas coisas: “Por que eu estou olhando para alguém maluco com o braço estendido no meio da rua?” e “Mas que petulância! Que ser desprezível! Ainda tem coragem de me encarar?” E depois, essa pessoa solta um bufo alto para você ouvir que sua atitude o incomodou ou mostrando que você está se fazendo de idiota perante todas aquelas pessoas. Mas você, de inicio, sente vergonha, por ter sido percebido num momento íntimo seu por um estranho e que outras pessoas, que também viram – talvez –, podem achar que você é um maluco, um doido. Mas saiba que alguém disse uma coisa interessante lá no começo remoto da história que ‘há mais loucos do que sensatos, e até no próprio sensato há mais loucura do que sensatez’. Eu já fiz isso, e quer saber? Não há nada melhor do que rir daquela situação”.

**

Sarah havia deixado o celular na mesinha ao lado da cama, ligado, na esperança de que o dono viesse a ligar e relatar as trocas, mas por vergonha ou por outras razões que ela não soube explicar, antes, não resolveu fazer o mesmo. Mas aceitou o que Vitória disse depois que ela comentou: “Atender se for somente o seu número, vai que você atende e é uma namorada dele ou coisa parecida? Você ficaria mais de uma hora tentando explicar como trocou os celulares e tendo uma dor de cabeça horrível com ela de xingando de vários nomes possíveis e impossíveis!”, por estas razões, causas e circunstâncias ela resolveu não ligar e seguir o conselho da amiga e saberia que aquela noite ela não iria dormir se o fizesse. Então, manteve o que disse: somente se for o número dela.
       Mas ao contrário do que parece, Sarah não dormiu. Ela acordava com o barulho estridente do celular berrando no seu ouvido a cada cinco minutos, olhava o visor colorido do aparelho e quando não era o seu número, simplesmente ignorava as ligações, até que chegou um momento em que o aparelho apitava e ela já apertava o botão de ignorar antes mesmo sem saber qual era o número que ligava e assim ela viu o dia raiar pelas frestas da cortina opaca da janela enquanto babava no travesseiro, sonolenta de um dia belo de sábado.

       “AAAAAAAAAHHHHHHH!!! Sim esse foi o grito ensurdecedor que saiu da minha boca. Stop! Calma, respira, respira, respira... ufa, passou! Agora volta a fita e pára. É, é exatamente aí que parou. Nessa hora! Merda! Como pude deixar isso acontecer! E nem Michele e nem Vitória podem me ajudar, claro estão morrendo de rir da minha cara e ainda disseram que viriam aqui para zuar comigo, pode? Pimenta nos olhos dos outros é refresco!
       É, eu sei, você não deve esta entendendo nada, certo? Certo! OK, vou explicar, ontem, andando – andando não, correndo pra ser mais exata – por causa da bata chuva que desabou em cima do bairro todo, eu me viro uma esquina e me deparo com um deus grego tão molhado quanto eu. Minha nossa! Praticamente eu deveria esta parecendo um gato ensopado e fedendo a galinha molhada e perto daquilo na minha frente... sem comentários...
 Deixei todas as minhas coisas caírem espalhadas no chão, oh clichê! E eu vou apanhar logo o cell do garoto? Aff... fala sério! Tá certo que em outra ocasião até que daria pulos se fosse algum carinha que eu desejasse conhece, mas tipo... era um estranho, certo? Nem tanto... eu tenho impressão de que já o vi antes... mas onde?! Burra.
       Outras pessoas achariam que trocamos os números para contatos, mas não! Trocas literalmente. E além do mais, estão lá coisas íntimas como mensagens particulares e números íntimos, entende? Celular é algo, hoje em dia, pessoal demais, pelo menos pra mim.
 Normalmente ligaria para o celular dele, ou melhor para o meu número e diria...”

       - O que você ta fazendo? – perguntou uma voz espantada da porta do quarto da garota. Sarah se vira de modo penoso, era seu irmão mais novo, um garotinho de dez anos de idade. – MÃÃÃEEEE... – berrou. – LIGA PARA O HOSPÍCIO! A SARAH ENLOUQUECEU!
       - Ora seu moleque! – ela pulou de um salto da cama enquanto seu irmão saiu correndo aos berros entrando num outro quarto fechando a porta num baque surdo.
       - MÃÃÃEE!! A SARAH TAVA FALANDO SOZINHA! OU A CASA É MAL ASSOMBRADA OU É DOIDA! – berrou ele do outro lado da porta. 
       - Sarah, pare de falar com as paredes! – gritou sua mãe numa voz tediosa da cozinha. Sarah bufou dando passos pesados de volta para seu quarto.

       Esse tormento durou todo o seu final de semana e para piorar; ela recebeu um recado de uma das representantes de sala sobre um trabalho que teria que fazer para o professor Spencer para apresentá-lo na segunda-feira sobre Química Inorgânica Experimental e Química Analítica. Um trabalho que o professor pediu para cobrir sua nota da última prova que tivera sido um pesar. Mas Sarah não conseguiu nem dormir quanto mais pensar em fazer um trabalho; bem que ela tentou, foi à biblioteca pública, um lugar calmo e tranqüilo, mas que nos minutos seguintes foi obrigada a sair por causa do barulho estridente do celular. Tinha raiva só de pensar no que faria com o dono do aparelho caso o encontrasse. Por que não desligá-lo? Tentou fazer isso, mas se o dono ligasse justo no momento em que tivesse desligado? Ela saiu desolada da biblioteca e começou a ter pesadelos com celulares quando se aproximava as horas para segunda-feira, estava ficando com arrepios. Talvez colocar no modo de somente vibrar fosse melhor, mas ela já tentou fazer isso e quando esquecia o aparelho, corria para verificar as chamadas e passava quase uma hora – parecia ser de propósito! – além de ignorar as novas que chegavam. Ela não tinha idéia de quantas pessoas ligavam para ele, ele era alguém importante? Algum filho de alguém importante? A situação ficava cada vez pior. Já pensou em jogá-lo dentro de um rio, um pequeno lago que tinha num parque, quando ela foi comprar pão numa padaria próximo a sua casa; esse pensamento era bem tentador, pelo menos se livrara do aparelho. Mas quem disse que ela tinha coragem para tal feito? Não era só coragem, era ter consciência. Você jogaria o aparelho celular de alguém numa situação dessas? E se a pessoa viesse a procurá-la mais tarde? O que diria? Ah! Desculpe, joguei no lago do parque! Que resposta heim?

       O dia fatídico chegara com uma cara de poucos amigos mostrando suas nuvens carregadas e cinzentas ameaçadoramente no céu para todos os moradores daquele bairro pacato. O Sol, temente as grandes nuvens, deu o ar de sua graça, pouco a pouco, timidamente, ganhando espaço entre as nuvens que se recusavam a dar algumas brechas, mas cederam. O sol veio ganhando seu espaço, pequeno, juntamente com o piar dos pássaros nas árvores que enfeitava os jardins e os gramados úmidos e esverdeados das casas dos moradores no bairro. Mas nem todo habitante estava contente com aquela segunda-feira, por motivos pessoais; uns, pois mais um final de semana se fora e era mais um dia de trabalho que teria que enfrentar com os chefes que mais pareciam terem engolido uma dúzia de limões azedos em plena manhã de segunda; outros porque teriam quem enfrentar os colégios e darem de cara com aquela professora ou professor insuportável e tantos, e tantos outros motivos que todo habitante da Terra gostava de pôr a culpa na segunda. Tudo culpa da segunda-feita! “Eu odeio segunda-feira!” quem nunca disse essa frase que jogue a primeira pedra; mesmo que você não odeie, mas já disse, não?
       Até mesmo uma jovem de seus vinte e um anos de idade não estava nada contente com a segunda-feira, mas não era só o dia que tinha culpa, era também o dono do celular que deveria ter sido engolido do mundo, pois Sarah já não agüentava mais esperar; ligará para seu numero de celular pelo menos umas vinte vezes por minuto o que já fez com que o aparelho já fizera parte de seu corpo, ou melhor de sua mão, talvez de seu dedo que não parava de apertar o botão de re-discagem, ela achou que o botão já estivera sumido, em alguns momentos. Mas o bendito do celular só dava caixa de mensagens. Até o pobre canário do vizinho, que ficava apenas alguns metros de distância das duas casas, bem abaixo de uma faia, perto de uma janela, quase pagou o pato. O estado de nervosos de Sarah durante aquela manhã de segunda-feira foi tamanho que ela ameaçou a jogar seu All Star pela janela no pobre animal se o mesmo piasse nos próximos cinco segundos.
       Lá estava ela, descendo as escadas aos pulos enquanto fazia várias coisas ao mesmo tempo: calçava um dos pares de tênis, enquanto amarrava o outro par; re-discava no celular o número de seu celular; enquanto pegava a alça da bolsa que saia escorregando pelo seu ombro ao mesmo tempo em que brigava aos berros com seu irmão menor por ele quase a empurrar pela escada, quanto este corria as pressas pelo corredor alegando, também aos berros, que estava atrasado para a escola e saiu correndo com uma grande mochila mais pesada do que chumbo. Sarah tinha sérias dúvidas se aquele moleque de dez anos de idade carregava somente livros.
       Ela saiu respirando ar gelado que adentrará em seus pulmões, estes reclamaram dando a Sarah um pequeno ataque de tossi involuntária. Ela saiu correndo pelas ruas úmidas e molhadas em direção ao ponto de ônibus mais próximo, e enquanto fazia isso, tentava, inutilmente, arrumar uma desculpa pelo trabalho não feito e tentar pedir mais um dia. Isso se o professor aceitar; já estava adiando aquele trabalho havia tempos, mais um dia seria difícil ele considerar. Mas as nuvens carregadas e desafiadoras no céu realmente não estavam felizes com aquelas pessoas que caminhavam agitadas e apressadas, e se apinhavam em pontos de ônibus a espera de uma locação para irem aos seus destinos; ela pôs a jogar água em todo mundo. Uma chuva inesperada, talvez nem tanto, caiu sobre as cabeças daquelas pessoas que foram obrigadas a correrem de um lado para o outro para se protegerem da chuva pesada que caiu sem dó nem piedade. Sarah, enquanto corria para o ponto de ônibus ao mesmo tempo em que colocava sua bolsa sobre a cabeça para se proteger da chuva, mais uma vez inutilmente; ouvia algumas mulheres reclamarem: “Meu cabelo!”, “Minha chapinha!”, “Meu tratamento de cabelo foi por água abaixo!”, sem dúvida.
       Sarah precisava pegar dois ônibus para chegar à faculdade, que ficava praticamente quase do outro lado da cidade. Ela tomou o ônibus e viu o tempo passar enquanto ainda formulava algumas desculpas, até tentou ligar para sua mãe para envolvê-la nisso, mas levou grandes gritos nos ouvidos dela, por pensar em tal coisa. “Você acha que vou fazer uma coisa dessas? Eu não sei o que você andou fazendo, mas você teve tempo de sobra para fazer o trabalho e blá, blá, blá...” não era a pessoa mais indicada para ajudá-la naquele momento, de fato, talvez sua mãe tivesse razão: ela teria que enfrentar a fera de qualquer jeito. Sarah desceu do ônibus, a faculdade não estava lá tão longe, mas a chuva ficava mais densa a cada minuto. Sarah jurou que parecia ter andando numa piscina quando adentrou numa loja de conveniência e não era a única a esperar a chuva passar ou ter nadado num rio numa manhã de segunda com vestes formais de trabalho ou uniformes escolares. Ela suspirou.
       Os vidros das portas da loja de conveniência estavam fechados, abrigando as pessoas dentro da loja enquanto via a chuva bater no vidro; e o lugar parecia está entregue a um silêncio modorrento quebrando de quando em quando por um arranhar de passos, um rasgar de algum saco de batatas fritas, alguns murmúrios e sussurros. Aquele barulho realmente irritava. Sarah suspirou mais uma vez ao olhar para o relógio e notou que uma garota a observava. Ela tinha cabelos longos e negros e uma maquiagem pesada no rosto e suas vestes pareciam àquelas roupas de alguma integrante de banda de rock desafinada e ensurdecedora. Sarah a encarou.
       A garota estava encostada na porta de vidro com o nariz colado na mesma e olhava pelo canto do olho para Sarah. A garota se afastou da porta e a encarou. Sarah franzino cenho.
       - Pode me dizer que horas são? – a garota perguntou gentilmente. Sarah olhou para o relógio no pulso.
       - Hum... são nove e vinte. – respondeu ao olhar para fora da loja, não estava com humor para conversar. Notou que havia umas três garotas do outro lado da loja que cochichava e a observavam. “Tinha alguma coisa na minha cara?”, pensou Sarah.
       - Obrigada. – agradeceu a garota. Sarah resmungou algo com a garganta para indicar que ouvirá. – Dia ruim, não? – falou a garota.
       - É. – respondeu indiferente, estava se sentindo incomodada com os cochichos e resolveu encarar as três garotas, que devolveram num olhar ríspido e deram a entender que não eram para Sarah que elas olhavam. Sarah resolveu seguir os olhos das garotas, e percebeu que as três olhavam para a moça ao seu lado.
       - Atrasada?
       - Nem me fala. – respondeu ao observar melhor a garota, depois virou-se novamente para fora da loja. “Ela não é nenhuma famosa ou coisa do tipo... pelo menos que eu saiba. Não era pelas roupas isso já é normal... Isso é alguma pegadinha?” pensou enquanto vasculhou o local com os olhos a procura de câmeras. 
       - Sei como é... – Sarah resmungou de novo. – Você é daqui?
       - Desde que nasci.
       - É? Que legal! Eu também – a garota pareceu se diverti. Sarah teve certeza que ela era à única que estava alegre com aquela situação. O mundo despencando lá fora, o pessoal atrasado e bufando por causa da chuva e ela sorrindo e três garotas cochichando e dando risinhos. – Você faz faculdade?
       - Sim. – respondeu, não queria ser indelicada.
       - Estuda na Universidade Federal?
       - Sim.
       - Tenho um amigo que estuda lá. Ele faz Engenharia Química.
       - É? – Sarah achou que esse “É” saiu com algum interesse, ao que ela olhou para a garota que sorriu mais uma vez. Rapidamente ela virou o rosto para fora da loja observando a rua,
       - É. – ela olhou para fora da loja. Sarah a observou com o canto dos olhos. A garota voltou a sua posição inicial. Sarah voltou a olhar para fora da janela achando que aquele dia não estava lhe reservando algo de bom.

      Assim que a chuva cessara um pouco, ela saiu correndo aos tropeços dando a mão para o ônibus que já estava abandonando algumas pessoas em sua viagem. Mas antes tivesse ido a pé, no próximo cruzamento o ônibus quebrou e todos os passageiros desceram reclamando com o pobre motorista que gesticulava com os braços alegando inocência. E colocando a culpa na segunda-feira e na chuva que voltou a castigar todos lá em baixo. Sarah não queria ter que esperar outro ou não chegaria à faculdade, teve que sair correndo; agora nem mais colocava a bolsa para se proteger, era mais fácil se molhar tentando se proteger do que não tentando. Ela correu o máximo que poderia e quando viu, já de longe, o grande campus da faculdade, estava sentindo uma pontinha de felicidade e alívio, sairia daquele aguaceiro e adentraria numa sala quentinha e antes que pudesse se apegar em pensamentos um carro cor de verde musgo – fazia um barulho estridente com o motor – passou perto dela jogando uma poça de água suja da chuva a molhando ainda mais. Sarah não teve nem tempo de berrar e se o fizesse talvez a água entrasse em sua boca. Estava ciente que tinha acordado com o pé esquerdo naquele dia. Correr já nem dava mais ânimo, foi andando desoladamente e sabia que teria que enfrentar a diretoria caso alguém a levasse até lá e um professor que cobraria um trabalho, mas este último ela já sabia.
       Ela chegou às grandes portas abertas da faculdade, se apoiou nos joelhos da calça jeans molhada e respirou o ar que, pelo menos isso, ela tinha direito. Se endireitou e entrou no hall principal da faculdade, mas o som que a acompanhava eram os de seus tênis; com água nos mesmo, faziam um barulho engraçado a medida que ela andava.
       A secretária que ficava logo no balcão de entrada na faculdade, era uma mulher magra e alta, cabelos ruivos e muito bem tratados. Ela estava à frente de uma máquina de refrigerante e cantarolava enquanto esperava que a máquina cuspisse para fora seu refrigerante diet. Quando a lata saiu fazendo um baque metálico, ela o apanhou sem demora e olhará para uma jovem que vinha fazendo um barulho jocoso com os tênis, parecia que a jovem havia pegado carona em alguma grande carreta que levava alguma piscina de plástico e ela deveria ter ido dentro da piscina para ter chegado à faculdade num estado deplorável.
       Quando a jovem chegou perto desta e viu que ela a olhava com a boca levemente entreaberta. Sarah ergue a mão rapidamente para esta não falasse nada.
       - Foi uma manhã terrível e agradeceria se você me deixasse entrar.
 A mulher a olhou como se a avaliasse entre deixar uma jovem entrar atrasada sem passar pela diretoria e relatar o ocorrido com alguma pena e perder o emprego; ou, levar a pobre garota a diretoria, talvez ganhasse alguma promoção por um trabalho eficiente, mas teve dó da menina.
       - Por favor! – suplicou a jovem. – Você deveria ter achado difícil vir ao seu trabalho debaixo desse dilúvio para não molhar seu cabelo... que aliais está lindo, quem é seu cabeleireiro? – acrescentou achando que suas chances seriam mínimas. Rebecca, a secretária, adorava perder várias e várias horas falando de tratamentos para cabelos. Talvez se elogiasse os cabelos ruivos da mulher pudesse lhe dar alguma chance.
       - Está bem, pode entrar, mas não diga que me viu! – acrescentou a mulher. – Ah! – ela exclamou e Sarah parou quase que derrapando no corredor quando a mulher lhe havia dado passagem. – Está me devendo essa! – Sarah suspirou e acenando correu aos tropeços e escorregões pelos corredores lisos deixando algumas pegadas de água pelo caminho. – Isso vai dar um trabalho ao zelador... – suspirou a mulher ao voltar para seu posto. 
      Sarah adentrou no outro corredor. Derrubou quase que praticamente sua bolsa no chão quando chegou ao seu armário que ficava num extenso corredor ladeado de portas e armários dos estudantes; tirou o que precisava e jogou a bolsa molhada dentro do armário o fechando bruscamente. Correu mais uma vez pelo corredor e chegou numa porta branca com uma placa de plástico que indicava: S – 22. Ela abriu a porta sem demora ao entrar com tudo o que tinha direito não se importando com o que o professor iria falar, quando esbarrou em alguém a sua frente a fazendo derrubar seus materiais no chão.
       - Opa! – disse uma voz severa a sua frente. Sarah rapidamente apanhou seus materiais. – A senhorita está atrasada. – a voz do professor ecoou em seus ouvidos. Ela sentiu os olhares da turma, curiosos, nela. Uma garota toda molhada entrar na sala de supetão não era comum, mesmo assim, todo aluno que está sentado quer um motivo de distração quando a aula está chata e esse motivo, naqueles minutos torturantes para Sarah, era ela. Ela acenou para o professor sem falar nada e caminhou apressadamente para a sua carteira e ao fizer isso; parou quase que instantaneamente alguns passos de distância, mínima, de um jovem que estava com a cabeça baixa e escrevia numa folha algo qualquer. O rapaz notou está sendo observado. Levantou a cabeça e olhou para Sarah. Esta estava com a boca entreaberta, desviou o olhar de uma forma penosa e irritada ao seguir o caminho para a sua carteira que era alguns passos de distância do jovem. Ele deu de ombros e voltou ao que estava fazendo. Ela sentou-se quase se jogando na cadeira. O professor retomou a aula. Sarah estava com a cabeça doendo demais para prestar atenção. Seus olhos estavam voltados para o jovem que trajava calça jeans escura e uma camisa de mangas compridas branca, tinha cabelos negros e espetados, meio bagunçados e tanto ele, quanto alguns outros jovens perto da janela estavam sendo iluminados pelos raios tímidos do sol que brigava no céu com as nuvens por um lugar. “Ele havia cortado os cabelos?” pensou aborrecida Sarah, que notará de onde estava lembrando-se do rapaz que era dono daquele aparelho de celular que transformou seu final de semana e seu começo de semana num inferno. Ele não parecia cansado ou coisa do tipo, porém. Sarah aprecia está um bagaço, pior do que o da laranja.
       Enquanto o professor falava, falava e falava a frente do quadro e o som de rabiscos de arranha dos lápis e canetas nas folhas ou o abrir e fechar de livros grossos e pesados ecoava pela sala, Sarah estava pensando em milhões de maneiras para matar o rapaz que parecia está tão bem com a vida. Enquanto amaldiçoava alguém de diversas coisas; Sarah resolveu respirar e refletir no que estava pensando. Chegou até pensar em seqüestrar o rapaz e cortá-lo em pedaços e mandá-lo de volta para o país de origem. Macabra? Ela riu da própria piada sem graça, pelo menos chegou a rir do próprio estado moribundo. 
       O Professor Spencer era um homem untuoso, cabelos grisalhos, corpo flácido e rosto rosado. Tinha um olhar severo que demonstrava com seus olhos incrivelmente negros e grandes que mais pareciam duas bolas saltando das orbitas sem falar nos grandes e pesados óculos que aumentava umas cinco vezes aqueles olhos horrendos. Ele chegou gingando sua generosa barriga que servia de apoio para seus pequenos livros de estudos de química quântica. A sua aula, como todo estudante tinha que prestar atenção a cada detalhe que ele dissesse, pois Spencer, não falava duas vezes – todo mundo tinha que ter uma memória a lá agente de policial de filmes policiais: era dizer uma coisa e já está gravada –, corria muito bem, para todos os alunos, excerto para Sarah, que roia os lápis e olhava para o grande relógio pendurado na parede enquanto o tempo passava.
       - Mas professor! – exclamará, pedirá e suplicará ao professor Spencer por mais uma chance, pela milésima vez, enquanto caminhava apressadamente pelos corredores aglomerados de alunos, durante um intervalo de aulas. – Eu tive um compromisso muito forte para não ter feito! – o professor parou de repente quase fazendo com que Sarah esbarrasse nele.
       - Você pode me confirmar isso? – ele a acarou através daqueles óculos aumentados. Sarah engoliu em seco.
       - Posso... – falou não muito segura disso.
       - Sua mãe pode confirmar isso? – ele recomeçou a andar. Sarah o seguiu. Ele parou esperando a resposta da moça, esta parou quase que abruptamente, de novo. Andar atrás do professor Spencer não era seguro, ainda mais com ele carregando uma caneca de café quente e espumante.
       - Pode... – falou novamente ao desviar o olhar do professor. – Talvez... – murmurou para si mesma.
       - Como disse?
       - Nada! – exclamou sorrindo forçadamente. O sinal tocará estridente bem em cima da cabeça de Sarah, esta levou as mãos aos ouvidos e percebeu que estava à porta da sala dos professores. Ela caminhou apressadamente para a sala de aula e viu que alguns estudantes estavam pegando suas coisas e saindo da sala.
       - O Professor Michael vai dar uma aula no laboratório! – disse Camila em voz alta para Sarah que corria para o lado contrário da aglomeração de alunos que saiam da sala. Sarah adentrou na sala de aula, era uma das ultimas a pegar suas coisas e sair apressadamente da sala e correr pelos corredores quase vazios, pelo menos não era a única que corria para não se atrasar.


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