Just My Luck escrita por Daniele Avlis


Capítulo 2
A Constellation - Parte I


Notas iniciais do capítulo

O capitulo foi dividido em duas partes



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Capitulo dois

A Constellation




            "KAMPAI!!". Eles levantaram seus copos em gestos de brindes em meio a sorrisos e gargalhadas que se juntaram aos tilintar dos corpos. A alegria era tamanha e contagiante que chamava a atenção de curiosos passantes na rua à porta do estabelecimento da cafeteria, àquele dia a cafeteria estava reservada. O ambiente estava decorado com vários papéis coloridos e cartazes. A rua, antes pacata, estava numa grande aglomeração de carros estacionados sob o sereno. Era como ver o céu negro, daquela noite, brilhante juntamente com o brilho ofuscante das estrelas. Uma mistura de sentimentos. Uma constelação. Os olhos de Kokoro observavam aquelas pessoas com grande respeito e admiração e se perdeu em suas lembranças passadas quando as conheceu; pelos vários momentos e situações que passaram juntos havia achado por alguns minutos que não era aquele mundo que ela pertencia, mas eles a fizeram acreditar que aquele mundo era como um grande coração de mãe: sempre cabia mais um. Sempre estava de braços abertos para aquele que viesse a entrar... Era sempre assim... Vê-los ali, era como ver ma fotografia em preto e banco e mesmo que não se visse a cor, você sabia que existia, sabia que sempre existiu... E nesse dia, ela não estava servindo as mesas como uma garçonete que trabalhava naquela cafeteira juntamente com suas duas grandes amigas, era como uma convidada e era assim que eles queriam que ela fosse: uma integrante daquele grupo risonho, feliz e espalhafatoso, no bom sentido, mas que sempre fez seu coração bater mais forte a cada minuto.


            As pessoas pulavam somente para vê-los passar; as pessoas gritavam o nome deles, só para ter a sensação de que eles os virão nos olhos; as meninas queriam ser como ela, a vocalista, queriam usar suas roupas e não mediam esforços para copiá-las; as pessoas trocavam foto da banda ou cada pedacinho inédito como uma tampa de garrafa assinada por um dos guitarristas, a baqueta do baterista ou a camisa jogada pelo baixista, ou uma fita de cetim da roupa da vocalista. As filas, durante as primeiras horas das apresentações nas casas de shows das cidades brasileiras, ficavam dando voltas nos quarteirões ou provocavam engarrafamentos nos trânsitos.  Apinhavam-se em barracas durantes dias quando o dia da apresentação era anunciado. Aglomeravam-se nos shoppings ou feiras de convenções musicais quando sabiam que eles iriam passar por lá. Choravam e esperneavam quando estavam próximos, tão próximos a eles. Desmaiavam-se quando tacavam nas mãos de um deles no show. Pulavam quando eles pulavam juntos, riam junto com eles e choravam quando eles choravam. E faziam filas nas lojas de CDs a espera do lançamento. Compartilhavam comunidades nos sites de relacionamento e criação de sites que falavam deles. Tinham o currículo de espiões ou jornalistas em busca de qualquer noticia que fosse sobre eles. Eles criaram sonhos e realizaram desejos que há muito estavam trabalhando...


**

            Ela pisou firme, com sua bota de salto alto plataforma de couro branco, num toco de um cigarro acabado na calçada cinzenta. A neblina prateada e sombria pairava sobre as casas muito juntas sob o céu cinza de nuvens carregadas. O veludo do vendo suave balançava seus cabelos negros e reluzentes juntamente com as fitas de cetim de suas vestes negras e extravagantes. Seus olhos, semicerrados, visavam o nada a frente enquanto vagava por um mundo desconhecido e intimido; e, suas pernas a levavam para um lugar tão conhecido ao qual ela chamava de lar. Agasalhava-se na jaqueta desbotada de jeans rota escuro, enquanto as mechas de seus cabelos chicoteavam seu rosto rosado e pálido. Ela cruzou uma rua adjacente, estreita e calma, onde visava dois grandes prédios de quatro andares iguais. Ela passou pelos portões metálicos, aberto pelo porteiro que a cumprimentou com um "Bom dia", e foi recebida por um ar quente, apesar de ser apenas o térreo a céu aberto, e que mesmo este estava sob o céu frio e cinzento, o lugar parecia ter uma atmosfera quente e aconchegante. O térreo era um grande estacionamento onde nele se abrigava vários carros e motos de vários modelos, tamanhos e cores, alguns desses carros tinham amortecedores que o faziam pular e alegravam um grupinho próximo numa música agitada. As pessoas que andavam por ali, de um lado para o outro, pregadas em suas tarefas rotineiras ou não, trajavam vestes exóticas, originais, infantis como bonecas ambulantes com sombrinhas coloridas e cheias de babados e rendas e outras, algumas mais simples como roupas normais. Em grupinhos de quatro ou mais pessoas, em dupla, em trio. A cada canto, a cada extremidade uma música, um som, uma vibração. Era uma pequena cidade dentro de outra. Alguns a chamavam de Faculdade da Música Asiática era o subtítulo ao seu nome real: Asian Nation.

            Haviam pequenas lojas de vários tamanhos e fachadas de várias cores, com teor diferentes uma das outras, cada uma com seu nome estampado ou placas de conteúdos a venda, a moeda ali era em Real. Alguns pequenos restaurantes, ou cantinas, barraquinhas e trabalhadores ambulantes vendendo seus produtos alimentícios asiáticos aglomerados em meio esta agitação de pessoas. Ela caminhou pelo lugar calmamente enquanto passavam por algumas pessoas que a cumprimentavam, ela acenava com um sorriso gentil. Entrou no hall de um dos prédios e, subiu as escadas largas do mesmo. Adentrou num corredor movimentado, latejado de janelas e portas e vários quadros de avisos com cartazes coloridos e adesivos de bandas e shows futuros. O som, ali, era ambiente e instrumental. Este era o 2° andar, o andar dos ensaios. Passou por algumas portas abertas, dentro dava para se ver algumas pessoas com violão, guitarras, violinos, saxofones, baterias, baixos, teclados, samplers, e entre outros instrumentos, afinando-os e testando-os; outras com pessoas, garotos e garotas, com microfone nas mãos, olhando para o espelho ou para um grupinho de pessoas presentes, como uma platéia particular, testando a voz; e nos outros seguintes algumas escrevendo em folhas pautadas ou lisas, compondo futuras letras de suas canções.

            Cruzou mais um corredor, no final deste, uma porta com uma placa de plástico reluzente e polida, escrita em letras garrafais: DIRETORIA. Ela bateu três vezes e uma voz soou:

            - Entre!

            Era uma grande sala onde havia três mesinhas simples e exprimidas a um canto da sala ocupadas por três moças que anotavam, aqui e ali em papéis ou em cadernos, ou imprimiam artigos ou liam alguma matéria em uma revista recém-lançada; uma grande estante, que ficava ao fundo da sala, coberta de livros encadernados, apostilhas e pilhas de pequenas caixas contendo mais alguns documentos arrumados de qualquer jeito; um extintor de incêndio pendurado na parede; algumas janelas escancaradas por onde entrava a brisa forte do vendo, que este, fez alguns papéis em cima das mesas voarem, e algumas pessoas dentro da sala fazerem alardes enquanto aos berros, gritavam: "Os papéis!", "Pega! Rápido!". Ela entrou na sala indiferente à barulheira e a correria para pegar os papéis que voavam pela sala, e se dirigiu para uma segunda porta a um canto, dentro da sala, onde uma plaquinha igual à anterior dizia: PRESIDENTE. Esta era menor numa temperatura fria por causa do ar-condicionado, uma janela de vidro fechada, onde os primeiros pingos de chuva da manhã começaram a chicotear a janela; e havia uma mesa larga com papéis, livros e cadernos abertos, lápis e canetas espalhados; mais algumas estantes; um grande quadro de avisos com logotipos de bandas e entre outros panfletos coloridos. Uma garota de aparências quatorze anos de idade, estatura baixa, cabelos castanhos presos em tranças, usava óculos marcantes em seu rosto fino e infantil, trajava um macacão jeans rasgados que continha algumas coisas escritas e rabiscadas. Estava em pé, debruçada sobre a mesa com sua atenção presa nos documentos em mãos, parecia nervosa e agitada. Sentado displicentemente na cadeira defronte a mesa, estava um homem por volta de seus vinte e sete anos de idade, jovem e muito bonito, num porte forte e ativo, tinha cabelos castanhos e lisos, olhos da mesma cor que lhe davam uma expressão incógnita e maliciosa. Ele esbanjou um sorriso perigoso e maroto ao ver a recém-chegada.

            - Maaki, minha gata perigosa, seja bem vinda! - saudou o homem num tom maroto. Maaki o olhou indiferente, porém um sorriso divertido apareceu em seu rosto.

            - Itsuki, como vai? - perguntou num tom debochado ao tom divertido e perigoso do homem.

            - Eu vou bem, vou muito bem... - respondeu fingindo inocência. A garota de óculos os observava com a sobrancelha erguida.

            - Oi Maaki, como vai você? - perguntou a garota.

            - Vou bem, Karin. Ichigo já chegou?

            - Não, mas ele ligou dizendo que quanto sair da faculdade ele vai passar numa oficina...

            - Ele não troca aquela carroça, não? - indagou Itsuki colocando os pés em cima da mesa.

            - Não, e... - Karin o olhou com um olhar reprovador para o homem. - Itsuki, faça o favor de tirar os pés de cima da mesa, ou ponho você pra fora da sala.

            - Sim, senhora... - disse este retirando num olhar infantil.

            - Karin, ta com a chave da sala?

            - Estou sim, Maaki, só um instante. - ela se dirigiu a um grande quadro como uma caixa de vidro pendurado na parede, abriu e lá havia várias chaves, todas enumeradas de acordo com o andar dos prédios e corredores. A grande maioria já não se encontrava mais lá. - humm... Achei! - exclamou ela mais para si do que para os presentes na sala, pegando uma das chaves. - Aqui. - disse ao entregar. - Ah! Maaki! - chamou quando a garota já se encaminhava para a porta. - Sabe alguma noticia da Asuka? Ela ficou de vir esta manhã, mas ainda não apareceu...

            - Hum... não falei com ela ainda... mas ela deve esta pra chegar.

            - Certo... - murmurou Karin. - Obrigada assim mesmo.

            - De nada. - disse Maaki ao sair da sala.

            - É sobre o processo do terreno? - perguntou Itsuki num tom sério, porém indiferente.

            - É sim, Asuka esta advogando para nós... - disse ao avaliar mais alguns papéis. Ela parou e respirou fundo. Itsuki a olhou preocupado. - Não sei, mas espero que ganhemos a causa... ou perderemos o Asian Nation... - seu tom preocupado e cansado foi exibido por suas palavras amargas e angustiadas. Itsuki nada disse, mas seu semblante divertido e maroto deu lugar a um sério e aflito.

           

            Ela limpava os óculos finos com delicadeza enquanto o silêncio modorrento pairava no ambiente do quarto arrumando e amplo. A mesa de madeira faiscante acolhia livros e cadernos de anotações diárias de estudos facultativos todos arrumados em fileiras. Trajava vestes compostas como um conjunto cinzento de saia na altura dos joelhos, uma blusa branca de mangas compridas com um decote simples e modesto e seus longos cabelos claros presos num coque apertado com elegância. Ela levou os óculos à altura dos olhos castanhos e os colocou, levantou-se e começou a catar alguns objetos pessoais em cima da mesa como chaves, celular - que estava desligado; ligou-o. -, alguns documentos pessoais e um papel de teor importante. Colocou tudo dentro de uma pequena bolsa de mão preta. Desligou o computador fechando alguns trabalhos ainda não acabados no Word. Abriu a porta do quarto e foi recebida com um ar frio do corredor amplo e silencioso. Seu sapato alto e fino fazia um ruído sensual à medida que andava. Vozes de uma conversa animada vinham de uma das salas de baixo. À medida que ela descia as escadas ela pode ver seus pais conversando com mais duas pessoas das quais ela conhecia, mas não lhe agradava o conteúdo da conversa a qual eles tratavam. Parou no meio da escada quando escutou seu nome sendo proferido de uma delas:

            -... Sim, Mariana e Fernando farão um belo casal!

            -... Fazemos muito gosto desta união...

            -... Temos que arrumar tudo antes da viagem!

            -... Sim! Sim!

            A moça suspirou cansada. Ajeitou os óculos no rosto e desceu o restante da escada do seu modo costumeiro, porém arrogante. Passou pela porta da sala fingindo não ter visto a presença daquelas pessoas.

            - Oh! Querida! - chamou sua mãe exibindo um largo sorriso. A moça se virou ao encarar a mãe. - Venha aqui um instante.

            - Mas eu tenho que...

            - Venha! Venha! - chamou ignorando as palavras da filha. Esta hesitou por alguns segundos. Entrou na sala cabisbaixa, sem emoção. Seu pai estava em pé, ao lado de um senhor de aparência severa e desconfiada. Havia também, uma senhora de vestes azuladas, cabelos negros e olhos grandes, sentada na ponta de um sofá caro que a mãe da moça mandou trazer da França. - Aqui esta ela, minha filha, Mariana! - disse num tom de quem apresentaria um troféu que ganhara a muito custo exibindo um sorriso orgulhoso. Mariana apenas esboçou um sorriso forçado tomando conta para que este não fosse descoberto, seus olhos encontraram os do pai, que este lhe respondeu num tom curioso e discreto.

            - E então, Mariana, como se sente? - perguntou a senhora. Mariana a encarou por alguns segundos.

            - Como me sinto? - perguntou mostrando não entender.

            - Sim, como se sente em relação ao seu futuro casamento? - Mariana correu os olhos pela sala rapidamente, evitando os olhares dos presentes que estes, esperavam pacientemente pela resposta da moça, por alguma razão, sentiu uma coisa no peito a incomodar ao ouvir tais palavras.

            - Bem. - respondeu não muito segura de si.

            - Bem? - perguntou cautelosamente a senhora. - Mariana se empertigou.

            - Um pouco nervosa... como toda moça em seu casamento, não?

            - Sim, sim... é verdade. - disse a senhora sorrindo gentilmente. - Também me senti assim...

            - Bem, se me dão licença. - disse cortando a senhora. - tenho um compromisso. Tenham um bom dia. - disse ao se despedir de todos com apenas um cumprimento e um sorriso discreto. - Até! - falou ao sair da sala a passos rápidos fingindo pressa e olhando para o relógio no pulso esquerdo.

- É impressão minha ou ela pareceu um pouco incomodada? - perguntou a senhora procurando uma explicação plausível nos olhos da mãe da moça, que esta deu os ombros e procurou, com os olhos, o apoio do marido.

- Não creio que fosse algum incomodo. Se não me engano, Mariana esta com um caso importante em mãos e anda um pouco preocupada...

- Ela se dedica muito ao trabalho! - exclamou a mãe da moça apreensiva.

-... Um caso de uma posse de terreno... - continuou o pai da moça como se não tivesse sido interrompido. - Ela só está preocupada. Esses jovens de hoje em dia querem fazer as coisas o mais rápido possível. - disse ele sorrindo gentilmente.

- Alô! - disse Mariana ao atendeu o celular que tocava insistentemente na saída da porta de casa caminhando apressadamente para seu Ford preto quatro portas estacionado na garagem. Uma voz feminina e infantil soou do outro lado, preocupada.

            - Asuka! Achei que tivesse acontecido algo grave. Estou te esperando há quase duas horas e nada! Liguei várias vezes para o seu celular e estava desligado!

            - Coisa grave ainda não aconteceu, Karin, mas esta prestes a acontecer! - falou ao apertar um botão num pequeno dispositivo da chave para destravar o carro e abrir a porta do motorista.

            - COMO?! - gritou Karin do outro lado da linha fazendo com que Asuka, ou Mariana - seu nome real -, tirasse seu celular da orelha no ato do grito. - É alguma coisa relacionada à posse do terreno do Asian Nation?

            - Não, Karin, não... - tranqüilizou-a. Asuka escutou Karin suspirar aliviada.

            - Mas e então? - perguntou ainda num tom aflito.

            - É comigo... mas depois te conto. Me espere!

            - Ok! - as duas desligaram. E Asuka seguiu seu caminho.


            A grande sala de aula se encontrava num silêncio estável e calmo, quebrando de quanto em quanto, pelo arranhar de lápis e canetas e o virar de páginas. Havia em média cerca de quarenta alunos prestando um exame, um teste, do curso de Engenharia Química da faculdade, todos voltados a sua atenção exclusivamente para a prova em cima de suas carteiras. Alguns balançavam o pé ou as pernas, inquietos; outros pareciam calmos, outros mordiscavam a ponta do lápis ou apagavam algumas respostas rabiscadas. O professor lia calmamente, em silêncio, um livro de química sobre sua mesa, de vez em quando, corria os olhos pela turma silenciosa e absorta no teste. A brisa leve do vento que entrava pela janela aberta convidava os alunos daquela sala a cair em sono leve. Aqui e ali, era possível ver um ou outro bocejar ou levantar os braços ao simples movimento de se espreguiçar. O som mais alto da sala era o tic e tac do relógio que anunciava o passar do tempo.

            Uma garota de cabelos castanhos escuros e olhos da mesma cor; tinha um semblante magnânimo e delicado postado numa delicadeza brasileira de traços belos; doce que lhe entregavam a uma ingenuidade. Ela escrevia calmamente em sua folha de perguntas onde nesta, logo em cima, estava escrito seu nome: Sarah Oliveira. Expressava várias impressões, muitas vezes preocupada e aliviada. Apagava aqui e escrevia ali, rápido ou lentamente, tinha mãos pequenas e ternas. Há duas carteiras mais atrás na quarta fileira da esquerda de Sarah tinha um rapaz de ascendência japonesa, bem aperfeiçoado de aspecto agradável e gentil, que mesmo este mostrava uma expressão séria e indiferente. Tinha cabelos negros que lhe caiam nos olhos e pele muito clara, exibia uma beleza distinta oriental numa sutileza simples de traços formosos e um porte desenvolto. Como a garota e mais alguns alunos, ele escrevia calmamente em sua folha de perguntas onde também, logo no cabeçalho do teste, encontrava-se seu nome escrito: Daniel Hiiragizawa.

            O sinal tocou anunciando o final do exame daquela manhã. O barulho de carteiras e mesas sendo empurradas; passos apressados e lentos; o abrir e fechar de zíper de bolsas ou mochilas dos alunos e o abrir das portas das outras salas tomaram conta dos corredores e salas da faculdade. Os alunos caminhavam para a porta da sala à medida que entregavam as provas ao professor, que este dizia para um e outro: "Até logo!", "Ei! Não vá embora, ainda quero falar com você!", "Pedro, não finja que esqueci, você ainda me deve uma nota. Está faltando na sua ficha!", "Priscila, espere que tenho que corrigir um trabalho seu, acho que temos que discutir o que você escreveu!", e mais alguns "Até logo!", "Até logo!" e "Até logo!", os burburinhos e comentários sobre a prova foram aumentando a medida que os alunos saiam entregando os testes; um ou outro ainda demorara alguns segundos para entregar, verificando se havia esquecido alguma coisa ou dar um jeitinho em algo que não havia ficado bom.

            Daniel guardou seu material dentro da mochila e a pôs no ombro esquerdo, passou pela fileira quando trombou em Sarah.

            - Oh! Desculpe! - disse ele a segurando pelo braço quando esta estava para esbarrar em mais alguém ao lado.

            - Tudo bem. - disse ela ao recompor-se. E ir entregar a prova. Uma garota de cabelos ruivos pulou na frente de Sarah com entusiasmo.

            - Sarah! - exclamou essa. - O que achou da prova...?

            - Não comentem a prova dentro da sala! - interveio o professor, mas a garota pareceu não escutar.

            -... Eu achei difícil! Nossa! Não caiu quase nada do que estudei, acho que dessa vez levei bomba!

            - Não estava tão difícil assim, Camila. - argumentou Sarah esperando a fila passar pelo professor para entregar a prova. - Decerto que não foi fácil, acho que devo ter escorregado em alguns pontos, nada demais.

            - Pode ser um "nada demais" aqui, mas fará uma grande diferença quando estiver fazendo uma formula! - inquiriu o professor de modo sombrio quando a garota entregou a prova.

            - Ah! Professor! Como o senhor é sério demais! - exclamou Camila fazendo bico.

- Está certo, professor; perdoe-me, tomarei cuidado da próxima vez. - falou Sarah ao se desculpar. Camila entortou o nariz. As duas já estavam na porta quando o professor falou num tom sério:

- Camila, você tirou zero.

            - Não... - disse a voz distante e arrastada de Camila num tom alarmado, esta foi até o professor a passos largos e arrancou a prova do mesmo, o que o fez derrubar algumas e fazer alguns alunos que estavam entregando reclamarem algo como: "Tá maluca?!", "Só podia ser a Camila...", "É doida mesmo!". Ela vasculhou com os olhos arregalados na prova a procura de algum zero explícito.

            - Calma... - disse o professor sorrindo. - foi só uma brincadeira! - tranqüilizou-a. Camila pareceu chocada e abobalhada o que precisou de alguns minutos para entender. Encarava o professor de modo assustado e atônito.

            - Professor o senhor que me matar do coração? - disse ela engasgada quase sem voz.

            - Claro que não! - respondeu ele num tom divertido. Sarah riu ao agarrar o braço da amiga e a arrastar para fora da sala ainda num estado espantado. As duas desapareceram ao cruzar a porta.

            - Ah! Daniel, quero falar com você um instante. - disse o professor. O rapaz esperou até que os alunos estivessem entregue as provas. - Sente-se! - mandou.  O rapaz obedeceu.

            O professor pegou a prova de Daniel e começou a avaliá-la.

            - Há algo errado, professor? - perguntou o rapaz num tom sério, mas muito longe do quase imperceptível tom de preocupação que alguns fariam, tom esse que o professor sabia que, vindo de um dos alunos mais inteligentes da faculdade, jamais viria.

            - Não. - disse ele ao abaixar a prova e encarar o aluno, que este devolveu seu olhar numa indiferença e desinteresse. - Daniel, você sabe que conheço sua família e hoje cedo, seu pai me ligou... - Daniel levou a mão ao rosto num gesto de quem coçara de leve o nariz, pareceu desconfortável. Mas voltou a prestar a atenção no professor, mesmo que seus olhos fossem atraídos pela janela para movimentação de alunos que passava pelo campus da faculdade. -... você é um ótimo aluno, se não o melhor desta faculdade que já tive a honra de ter em minha turma, não só eu, mas como todos os professores desta faculdade lhe têm como grande apreço e respeito pela sua capacidade de aprendizagem esplendida. Com apenas o quê...? - ele pareceu pensar. - vinte e um anos de idade, muito jovem. Conheço você desde criança. Você tem um futuro pela frente e dons assim devem ser explorados...

            O professor parou esperando alguma manifestação do rapaz incógnito a sua frente, mas não veio, agora de cabeça baixo fitando os próprios tênis. Ele continuou.

            - Creio eu que são poucos, muito poucos, os alunos que conseguem uma oportunidade para estudar fora do país. Você poderia muito bem estudar em Oxford ou até mesmo em Havard como seu pai tanto quer...

            - Professor! - disse o rapaz cortando o professor ao se levantar da cadeira. - O senhor tem mais alguns alunos que quer conversar sobre futuro ou não, que estão esperando lá fora. Fico grato por seus conselhos, mas este assunto já esta encerrado.

            O professor o encarou por alguns momentos, com um olhar paterno e desapontado pareceu avaliar o discurso frio do jovem.

             - Esta bem. - disse por fim. - Desculpe-me por tomar seu tempo, Daniel. Pode ir. - o rapaz não esperou nem dois segundos para escutar mais algum comentário e se precipitou pela porta a passos largos. - Espero que um talento como esse não seja jogado fora... - lamentou. - Como será que estará Mitsuki numa hora dessas? - perguntou para o nada a sua frente. - Pode entrar o próximo... há! É você mesmo com quem quero falar, Pedro. Sua ultima nota...

           


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