Just My Luck escrita por Daniele Avlis


Capítulo 14
Asian Nation - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dividido em duas partes
parte final do capítulo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/8294/chapter/14

        

Continuação...      

 

Uma garota de cabelos castanhos louros, encaracolados, com vento que batia em seu rosto à medida que ela acelerava o carro em alta velocidade pela estrada. Seus olhos castanhos, furtivos e expressivos, visavam à frente com grande atenção. Ela adentrará numa ruazinha conhecida onde dava para ver os dois grandes prédios iguais de quatro andares. Quase subiu a calçada de uma só vez no momento em que o porteiro do lugar, Jorge, lhe deu passagem. Ela apenas acenou ao olhar para trás e soltou um “Desculpe!” quando o pobre homem se levantava com dificuldade por ter se jogado para o lado no momento em que ela passou. Passou arrancando com seu sedan prata para o estacionamento ainda arrancando fumaça e um barulho estridente dos pneus que assustou algumas pessoas a sua volta, estas, pularam para o lado no momento em que ela passou voando. Freou com impacto numa vaga encostando a frente do carro na parede do lugar. Desligou o carro.

         Ela trajava vestes rosadas e brancas, cheias de babados e rendas, uma saia pequena e rodada e franzida dois palmos acima dos joelhos finos de penas finas. Uma blusinha branca cheia de babados e rendas, quase infantil e ao mesmo tempo sensual. As pernas estavam calçadas com grandes meias quadriculadas de xadrez, branco e rosa. O sapato era branco e alto, o qual ela pegou – com grande dificuldade – no chão do banco do carona ao lado do motorista; calçou-os sem demora. Pegou uma bolsa de mão e uma sombrinha pequena e rosada, fechada e a levou consigo. Saiu do carro colocando seus óculos escuros grandes e olhou em volta para algumas pessoas que estavam no estacionamento. Deu um sorrisinho simpático e ao mesmo tempo antipático. Trancou o carro e saiu do estacionamento fazendo um barulho irritante com seus saltos. Ela passou pelas pessoas do Asian que acenavam para ela, ela retribuía o aceno sorrindo como se fosse uma estrela de cinema americano de nariz empinado. De quando em quando, mandava beijinhos para o ar ou quando trombava em alguém a frente, tinha dois acessos: ou pedia desculpas ou ralhava, este ultimo sempre quando alguém tinha algo em mãos como um copo de papelão com algum líquido que poderia manchar sua roupa impecável.

         Adentrou no hall e mais acenos e sorrisos pregados no rosto fino, subiu as escadas aos pulinhos, ofegante, até o segundo andar, o andar dos ensaios. Passou por alguns rapazes que soltaram assovios, ela apenas os ignorou arrebitando o nariz de forma arrogante. Passou por mais algumas pessoas acenando para ela enquanto retribuía o aceno. Chegou à porta da Diretoria e adentrou sem bater. A barulheira parecia pior lá dentro do que fora. Gente correndo de um lado para o outro, gente brigando com gente e outros chamando outros aos berros e o som dos telefones que pareciam competir com aquele alvoroço.

         Ela passou por ali sem se importar com as pessoas que corriam agitadas pegando papel de um lado e levando para outro. Ainda deu para vê que havia um cigarro aceso na mão de um dos rapazes dentro da sala que caiu em cima de uma mesa e acabou incendiando um papel. Uma garota rapidamente pegou o extintor da sala e jogou quase pra todo lado, mesmo já terem apago o foco do fogo.

         A garota abriu a porta da presidência balançando a cabeça ao olhar para a cena. Entrou na sala sendo seguida pelo barulho que logo cessou assim que ela fechou a porta. Duas cabeças a olharam.

         - Oh! – fez Karin. – Oi, Fuuko!

         - Como é que ninguém me avisa que a Sonymay vai para Portugal? – indagou assim que depositou a bolsa em cima da mesa de Karin e debruçou-se sobre a mesa, a frente de Karin e Asuka que se entreolharam confusas.

         - Como ninguém avisou? – perguntou Asuka de cenho franzido.

         - É, parece que ninguém se lembra de mim quando essas coisas acontecem! – exasperou retirando os óculos escuros com fúria e encarando as duas garotas de frente. – Quem me contou foi a Jess hoje de manhã!

         - Ahhh... – fez Karin em tédio. – Calma, Fuuko, você está incluída na viagem, não se preocupe. – sorriu amarelo. – E que barulheira é essa?! – bufou ao se levantar e caminhar até a porta a passos pesados. Abriu-a de um só gesto. – PAREM COM ESSA ALGAZARRA OU TODO MUNDO VAI PRA RUA! – berrou fechando a porta num baque surdo. Asuka e Fuuko se entreolharam. As duas deram os ombros.

         - E a vocalista para a banda? – perguntou Fuuko se sentando na cadeira defronte a mesa e colocando sua sombrinha numa cadeira que estava ao lado.

         - A vocalista da Sonymay? – quis saber Asuka.

         - Sim! – exclamou Fuuko, impaciente. – Jess me disse que o Gin falou que Ichigo contou a ele que já havia encontrado ela! – terminou e franziu parecendo confusa.

         - Encontrado? – fez Asuka surpresa. – Como...

         - O Ichigo disse a Gin que contou a Jess que falou para você que já tinha uma vocalista? – interrompeu Karin confusa.

         - Sim! É isso que estou falando, foi Jess quem me contou, hoje de manhã. Ela olhou no site para comprovar se o que o Gin tava falando era verdade; o que acho um tanto desnecessário, nada do que o Gin diga não é nada suspeito. – acrescentou no seu estilo perua de ser.

         - Mas, Takuya sabe disso?

         - Disso eu não sei. Ela não me deu detalhes, só falou isso rápido! E eu quero saber quem é!

         - Não estamos sabendo de nada! – Karin olhou para Asuka que estava mais confusa do que ela. – Nós também queremos saber quem é! – vociferou.

         - E disso que estou falando! – ponderou Fuuko.

         - Será que Takuya e Naruto já sabem? – perguntou Asuka, pensativa.

         - Disso não sei... – suspirou Fuuko, agora, olhando as unhas.

         - COMO É QUE NINGUÉM ME AVISA UMA COISA DESSAS?! – berrou Karin. Fuuko e Asuka se assustaram com o grito.

         - Ok. Vou dar uma volta por aí! – disse Fuuko ao se levantar animada. – Volto já, meus amores. – e saiu fechando a porta. Passou pela sala da Diretoria ainda em grande barulheira. Passou pelo corredor de ensaios ganhando as escadas e descendo-as aos pulos. Chegou ao hall e ao cruzar a porta de saída trombou em alguém que a segurou pelos braços. – Hiro? – fez ela surpresa numa voz distante. O rapaz a olhou, surpreso.

         - Fuuko?

         -... Ai, né? Olha só, tava eu lá quando ela finalmente veio... Opa! – soou a voz Ryuki ao adentrar no corredor. Ele vinha ao lado de Yasu, Lee e Naruto que carregavam caixas encomendadas de papéis e outras quinquilharias por Karin. Os rapazes pararam ao sentirem o clima tenso pairar no ar. Naruto, que estava mais atrás, franziu ao perceber que Ryuki ficou estático, e parou de falar de repente.

         - Ryuki? O que foi? Viu fantasma...? – ele indagou ao olhar para o amigo, mas sua resposta foi respondida quando duas pessoas entraram em seu campo de visão. – Fuuko? – este ofegou. A garota havia derrubado a bolsa e a sombrinha no chão e encarava um garoto a alguns poucos passos de distância dela. Fuuko não percebeu que havia entrado mais pessoas no corredor.

         - Naruto! – exclamou Yasu quando o amigo fez menção de intervir.

         - Deixa eles! – brigou Ryuki ao tomar a frente de Naruto.

         - É melhor que eles se entendam! – contestou Lee. – Não vale a pena.

         Fuuko se abaixou e apanhou suas coisas em silêncio, de cabeça baixa. Levantou se saiu a passos pesados em direção aos rapazes que deram passagem e acelerou o passo, quase correndo pelas escadas quando escutou a voz de seu primo, Naruto, chamando-a. Ela o ignorou e desapareceu de vista.

         Hiro passou por eles com um ar arrogante, sem encará-los, a passos pesados, e desceu as escadas por onde Fuuko havia passado. Naruto passou a mão direita sobre os cabelos loiros agressivamente e suspirando alto.

         - Vamos levar isso lá pra cima. – disse sem mais delongas para sair logo daquela tensão. Ryuki, Lee e Yasu concordaram sem dizer mais nada.

 

Poderia ser um encontro de dois alunos de faculdade que há muito não se viam. Seria isso se não fosse pelo simples fato de dois adultos ficarem em estado de choque: parados. Um olhando para a cara do outro. Enquanto os presentes estavam ali, prestando a mínima atenção em cada expressão do rosto que aqueles dois faziam. Sarah levou um cutucão de Michele para que ela acabasse com esse clima estranho e desconfortável que se instalou na cafeteria, ela poderia até mesmo jurar que poderia ouvir os grilos cantando. Enquanto uma pessoa que estava mais no fundo da loja, olhava para todos com a cara mais confusa do mundo: Jeane.

- Nossa, quanto tempo, não?! – disse em voz alta Lizzy, e Sarah percebeu um fio de voz tremula, quando ela abafou uma risada quase escandalosa.

- É, faz mesmo muito tempo... Como andam as coisas? – ele perguntou enfático.

- Ah, vão bem, sim! – ela respondeu.

- Isso é ótimo.

- É... é... – murmurou Lizzy.

Silêncio.

         - Ah, - começou Sarah pigarreando. – O senhor não deseja tomar um café? – disse no seu mais sorriso profissional que tinha ao professor Fábio. Que parecia acordar lentamente pelas palavras de Sarah.

         - Ah, professor...

         - É! – exclamou Lizzy interrompendo Ichigo. – Quer tomar um café?

         - Claro. – ele respondeu sorrindo gentilmente. Sarah, Michele e Vitória rapidamente correram para onde a dona da loja estava.

         - Um café! – disse Michele rapidamente como quem pedia algo numa lanchonete lotada, e se não ultrapassasse a fila, nunca conseguiria ser atendida.

         - Não, dois cafés! – corrigiu Sarah, igualmente atarefada.

         - Pra quê dois cafés?! – perguntou Vitória olhando para as duas.

         - Um pra a minha mãe e o outro para o professor Fábio. – respondeu.

         - Ah... – fez. – E rápido! – acrescentou Vitória.

         Jeane olhou paras as três graças que estavam de frente para ela, com seus rostos ansiosos e cheios de esperanças. Jeane sorriu ironicamente.

         - E o que fazem achar que serei eu quem irá preparar? – indagou gentilmente e pausadamente para as três. As três garotas franziram. – São vocês quem trabalham aqui e não as clientes. Andem! ANDEM! – disse espantando as três como se fossem moscas.

         Com as palavras de Jeane as três pareceram acordar de seus devaneios. Rapidamente elas correram para trás do balcão com os olhos argutos em cima do casal que conversava animadamente a uma mesa. Elas já tinham até esquecido que havia mais pessoas naquela loja. Sarah pegava os ingredientes, Michele pegou os copos e Vitória esquentava a água e os olhos das três não desgrudavam do casal.

         - Ele é seu professor? – perguntou Michele ao chegar perto de Sarah, arrumando os corpos.

         - Sim. – respondeu Sarah.

         - Você sabia que eles se conheciam? – perguntou Vitória a se juntar as duas.

         - Não.

         - Será que eles estão namorando?

         - Não... Acho que não!

         - Como não?

         - Olha, vamos parar com isso ta legal?! – rosnou ao tomar com agressividade os copos de Michele e preparar sozinha o café. As duas amigas nem se importaram, continuaram olhando como se estivessem assistindo a um último capitulo de novela.

         - Acha que eles vão sair daqui juntos?

         - Michele, se toca! Isso não é novela!

         - Mas poderia ser! Daquelas bem românticas! – disse sonhadora, um segundo antes de levar um tapa na nuca de Vitória. Michele bufou.

         Sarah levou os cafés para a mesa quando seus olhos bateram em Ichigo e o garoto que estava com ele. Ela pigarreou olhando para a rua e assim que deixou os cafés na mesa foi até Ichigo.

         - Eu...

         - Poderia chamar a gerente, por favor. – pediu ele secamente ao interrompê-la sem olhá-la. Sarah franziu e olhou rapidamente para o rapaz bonitinho que estava com ele, este pareceu tão confuso quando Sarah, mas sorriu gentilmente para ela, parecia esperançoso por alguma coisa.

         - Está bem. – respondeu ela ao se encaminhar para o balcão.

         - E? – indagou Michele curiosa.

         - Ele quer falar com a gerente... – respondeu num tom preocupado. – Eu fiz alguma coisa de errado?

         - Quem fez alto errado? – perguntou Jeane ao se postar ao lado das três.

         - A mesa cinco quer dá uma palavra com a senhora. – disse Michele calmamente. Sarah lhe lançou um olhar assassino. – O quê? O que foi? Nós nunca vamos saber o que ele quer se ela não for até lá, não? – explicou como se tivesse mostrando algo obvio demais que nem precisasse de explicações mais elaboradas. Sarah suspirou pesado.

         Sarah ficou espiando a conversa absorta de Ichigo, o rapaz bonitinho que estava com ele e a sua gerente, de rabo de olho, enquanto atendia os clientes que chegavam. Estava ficando apreensiva e nervosa. Quando chegava um cliente que se sentava numa mesa próxima, Sarah corria para atendê-lo, como se sua vida dependesse disso, e fazia o possível para escutar a conversa, mas nunca conseguia escutar. As horas foram se passando e ela ficava cada vez mais apreensiva e nervosa, chegou até a discutir com Michele e Vitória, que praticamente não quiseram dar corda para os ataques de Sarah. Quase uma hora depois eles se levantaram.

         Sarah não conseguia, por alguma razão inexplicável, desgrudar os olhos de Ichigo; enquanto enchia um copo de café quente que esboroou e saiu sujando e queimando seus dedos enquanto ela era trazida de volta à realidade, quase derrubando o café em Michele, que passava com uma bandeja com alguns doces para uma mesa. Ela rapidamente levou a mão suja de café numa pequena pia ao lado, lavando-a enquanto sentia a água fria bater em seus dedos. Havia nos olhos castanhos de Ichigo um brilho diferente, intenso e intrigante. Ele se aproximou do balcão, onde Sarah estava, de mancinho, olhando-a com um leve interesse. Sarah o encarou por alguns minutos, e baixou a cabeça como quem se ocupava com algo embaixo do balcão. Ele se debruçou sobre o mesmo e ficou mais próximo de Sarah, quando ela levantou a cabeça para olhá-lo, corou violentamente ao notar a proximidade.

         - O que está fazendo? – indagou ela em disparada, se afastando aos poucos.

         - Não posso observar seu trabalho? – soou sua voz rouca. Sarah se inclinou levemente para frente, Ichigo não recuou.

         - Atrapalha. – disse entre dentes.

         Ichigo esboçou um leve sorriso no canto dos lábios, o que fez Sarah prender a respiração por alguns segundos, como se tivesse achado um novo jogo fascinante.

         - Só isso?

         - Não.

         - Desde quando?

         - Desde o dia da chuva.

         - E o que eu fiz?

         - Não devolveu o que me pertence.

         - Tenho um prazo de entrega.

         - Eu quero agora!

         - Você ainda tem o meu.

         - Posso entregar a hora que quiser!

         - Isso seria fácil demais.

         - Não acha que está sendo infantil?

         - Absolutamente não.

         - O que você quer...?

         - Já vamos fechar! – soou a voz de Vitória as costas de Sarah, e pelo tom de voz de Vitória, a amiga não estava falando com ela. Sarah percebeu que estava inclinada demais para frente assim como Ichigo, quando os dois ficaram retos diante do balcão ao serem interferidos. Ele enfiou a mão no bolso da calça jeans escura e dela, retirou um papel amassado.

         - Fique com isso. Amanhã, na faculdade, a gente conversa. – falou ao colocá-lo em cima do balcão. Sarah o pegou e franziu ao olhar para o rapaz que já estava dando as costas a ela indo falar com o amigo que estava numa conversa animada com Michele.

         - Mas o quê...? – ela fez ao abrir o papel. Era um pedaço de folha de caderno, rasgada. Nela, estava escrito, numa caligrafia fina e apressada o endereço de algum lugar. – Rua Fechada?

         - Vamos?! – disse Vitória ao lado de Sarah. – O que é isso? – indagou ao tomar o papel das mãos de Sarah sem pedir licença. Sarah ficou olhando Ichigo se despedir gentilmente de Michele e viu um leve rubor no rosto da garota, e sair da cafeteria ao lado do amigo e do professor Fábio, este ultimo custou a sair e a se despedir da mãe de Sarah.

 

         Ao chegarem a casa. Sarah não tirava os olhos de sua mãe que tinha uma expressão melancólica no rosto misturada a uma nostalgia sem tamanho. Ela depositou o casaco no cabideiro ao lado da porta e saiu andando para a cozinha debaixo dos olhos argutos de Sarah. A garota deixou o casaco no cabideiro, como fez a mãe, e subiu direto para o quarto, preferiu deixar sua mãe com seus pensamentos, sozinha, para organizá-los. Mais tarde, quem sabe, perguntaria, discretamente, essa nova descoberta que fez sobre sua ela. “Minha mãe e o professor Fábio?”, “Desde quando?”, “Como?”. Assombrada com a idéia repentina de descer escada abaixo e indagar a sua mãe sobre o professor, preferiu se prender a sua bolsa, e tentar dar uma limpeza na mesma já que havia milhões de porcarias dentro dela. Até um pacotinho de balas vencidas do ano passado, ainda estava lá. Mas a possibilidade de um romance antigo de sua mãe com o professor Fábio latejava em sua mente. Sabia que os dois tinham estudado juntos há muito tempo, mas ela nunca lhe falara sobre o mesmo, mesmo depois da separação conturbada com seu pai. Remoendo pensamentos e perguntas gentis para fazer a mãe, Sarah deitou na cama fitando o teto. As imagens da cafeteria e das expressões desenfreadas de sua mãe lhe viam a mente, já o professor pareceu mais fácil lidar com aquela situação; já sua mãe, parecia uma adolescente que não via o seu grande amor há muito tempo. “Eles tiveram um caso?”...

         - O que está fazendo? – perguntou uma voz arrastada na porta de seu quarto. Sarah virou a cabeça. Era seu irmão. Rápido como um gatilho, o dia da cafeteria se formou em sua mente. Estava tão vidrada na reação de sua mãe que esquecerá todo o resto. “O que Ichigo tanto conversava com Jeane”?

         - O sobrinho da Jeane estuda na mesma sala que você, não é? – ela indagou ao se sentar. Vitor deu de ombros.

         - É. Por quê?

         - Não, por nada... – disse ao pegar sua bolsa. Sarah percebeu, de rabo de olho para o irmão, que ele contemplava o quarto da irmã. – O que foi?

         - Só estava pensando numa maneira de como persuadir a mamãe a deixar esse quarto pra mim. Sabe, eu sou mais inteligente que você, tenho melhores notas que você, e já tenho até emprego garantindo numa grande firma de computadores dos Estados Unidos. Resumindo: eu mereço mais que você, porque sou mais jovem e claro, mais bonito. – ele deu um sorrisinho debochado, Sarah encarava o irmão num tom irônico com um sorriso divertido no canto dos lábios. – E você ficaria com o menor quarto da casa, claro, se você preferir o quartinho de empregadas, assim sobre mais espaços para os meus brinquedos.

         - E o que eu ganharia com isso? – indagou Sarah num leve tom sarcástico e divertido.

         - Nada. Eu disse: eu mereço mais. No entanto, respondendo melhor a sua pergunta: Você não merece nada. – ele abriu um largo sorriso inocente.

         - Quando você vem com essas conversa quer alguma coisa. Fala. – disse ela num tom cansado.

         - Você viu o papai? – a voz de Vitor soou distante. Sarah hesitou por alguns milésimos de segundos e consentiu com a cabeça. – E como ele está? – Sarah tinha que admitir: seu irmão, apensar de ser muito jovem, era mais forte do que ela.

         - Ele está bem...

         - Eu ouvi a discussão... entre você e a mamãe. – comentou ao adentrar no quarto da irmã e sentar na ponta da cama. Sarah acompanhou o irmão com os olhos.

         - Toda?

         - Toda. – ele respondeu dando um suspiro desdenhoso que fez Sarah esboçar um sorriso. Era impressionante como ele era amadurecido e seguro. – Talvez, mesmo que seja impossível, eu entenda o papai.

         Sarah franziu.

         - Como assim?

         - Mirian é uma boa pessoa, Sarah. Ela e mamãe sempre foram boas amigas. E pelo que sei: mamãe e papai estavam enfrentando dificuldades no relacionamento dos dois, antes do papai perceber a existência de Mirian. Sei que para você, pode ser duro não aceitar que papai fique com ela. É normal queremos colocar a culpa em alguém, quando nos sentimos ameaçados. Eu também fiz isso. Logo de inicio eu não concordei com o que ouvi. Que papai estive saindo com a Mirian, mas pense um pouco Sarah: se fosse outra mulher? Uma mulher estranha?

         Sarah ficou em silêncio. Olhando para seu irmão. Ela estendeu a mão a ele. O garotinho a aceitou e Sarah o puxou para um abraço apertado que foi retribuído da mesma forma.

         - Com certeza você é mais inteligente do que eu. – ela disse divertida numa voz embargada, não queria chorar ao pensar na tarde com seu pai e Mirian, no que sentiu ao saber que estava juntos. Preferiu, por hora, se apegar as palavras de seu pequeno irmão. Que tanto se parecia com seu pai. Centrado. Seguro. E ao dizer essas palavras Sarah, escutou a doce e infantil risada de seu irmão.

 

         O despertador ao lado da cama berrou estridente em cima do criado mudo, alto o bastante para que Sarah escutasse algo se chocar, contra a parede que dividia o quarto dela e do irmão, ser arremessado contra a mesma. Sarah imaginou ter sido algum par de sapato. Ela levou a mão pesada ao despertador que parou de tocar no instante em que ela o desligou. Virou-se de barriga pra cima, enquanto se espreguiçava gostosamente na cama. Suspirou levemente agarrando o travesseiro enquanto se esparramava na larga cama de seu quarto quando batidas secas na porta do mesmo vieram a tirar de sua tranqüilidade.

         - Sarah, está atrasada de novo! – soou a voz de sua mãe. Sarah arregalou os olhos. Os mesmo pregaram no despertador e ela pulou da cama de um salto.

         - MERDA! Eu sempre erro isso! – exclamou ao começar a catar a roupa no guarda-roupa e jogá-las na cama. – Droga! Droga! Droga! – resmungava ela nervosa, pegando uma tolha e entrando no banheiro, tropeçou numa trouxa de roupas que estava no chão do mesmo. Com raiva, as pegou agressivamente e algo caiu levemente no chão. Ela olhou para baixo e viu um papel amassado. Se abaixou franzindo e algo no seu peito deu um salto violento contra as costelas. Como uma mão ameaçadora, ela sentiu algo envolver em seu estomago e o puxá-lo para baixo. Ela exalou pesado ao guardar o papel numa caixinha que estava em cima da mesa do computador enquanto voltava para o banheiro.

         Ansiosa, tentando a todo custo fazer com que algo no seu peito parasse um instante de bater tão rápido, rumou para a faculdade. E dessa vez não havia se queixado da lata de sardinha que vinha rumando à esquina e parara em frente ao ponto de ônibus, nem se havia chegado ao fim da primeira aula. Com o estomago quase colado nas costas, ignorou o mesmo e rumou para a sala da próxima aula; e, a cada passo que dava dentro do prédio da faculdade, sua garganta secava progressivamente e o coração apertava ainda mais no peito. Parecia estar a caminho da forca.

         E ela parou. Diante a porta da sala de aula. Vasculhou o local cautelosamente como se procurasse um individuo assassino. Nada. Seus olhos varreram a sala insistentemente, alguns minutos antes de entrar. E mesmo ao entrar e caminhar vagarosamente até a sua carteira, os olhos de Sarah ainda varriam a sala. Amaldiçoou-se em pensamento, ao notar que o individuo que estava procurando não estava ali. E notou um certo desapontamento, involuntariamente, atingir em cheio em seu peito. Ela suspirou, pesado, e se repreendeu em mente, sentir tamanha decepção. Confessou-se, intimamente, que esperava algo. Ou melhor: o esperava. E ele não estava lá. Abrindo agressivamente a pasta e recebendo uma folha de atividades que o professor mandara a aluna da primeira fila passar para toda turma; Sarah se viu num grande desconforto. Pensou em prender suas atenções à lista de atividade em questão e não se apegar às vozes de sua cabeça que reclamava constantemente: “Onde ele está? Por que não veio?”.

         Com uma desolação no peito. Sarah foi para casa tentando manter sua atenção ao cronograma de trabalhos na folha de atividades.

         - Ele não apareceu na cafeteria! – comentou Michele, aquela tarde no trabalho quando Sarah mais parecia uma múmia ambulante, ainda presa em pensamentos. E quanto mais o tempo passava, mas ela ficava nervosa e chegava a discutir possíveis contratempos, com as amigas.

         - Talvez ele tenha tido um compromisso! – sugeriu Vitória dando os ombros, e Sarah se viu perguntando que tipo de compromissos seriam e quando se pegou pensando dessa forma, brigou consigo mesma.

         - Seja o que for que ele tenha tido, não me interessa. – soou sua foz maquinalmente fria enquanto limpava uma mesa. Cada carro que passava na porta da cafeteria fazia o coração de Sarah pular e quando não o via, sentia o mesmo despencar para o estomago.

         - Pelo menos tem amanhã. Ele pode ir amanhã! – disse Vitória animada. Sarah sentiu uma leve esperança brotar em seu peito e ao mesmo tempo ignorá-la. Era como entrar num corredor e sua passagem se limitasse a duas portas iguais, mas que davam para lugares totalmente diferentes. Era um sim ou não. E Sarah já não sabia realmente qual escolher. Se sentia uma completa idiota, outras garotas deveriam estar aos pulos por pelo menos, ter um pouco da atenção dele. E ela lembrou amargamente da sua primeira noite com o celular do rapaz, o quanto de gente que ligava, além dele ligar também e ela não perceber, mas eram centenas e centenas de números desconhecidos. E a manhã veio fazendo Sarah se sentir mais idiota do que na manhã anterior. Dessa vez chegou até cedo, foi quase uma das primeiras a chegar, algo até que admirou um de seus colegas ao franzir ao olhar para ela.

         - Caiu da cama, Sarah? – sorriu gentilmente um rapaz ao passar por ela. Sarah apenas acenou, suas mãos geladas batucavam na carteira enquanto olhava para a porta da sala toda vez que um aluno entrava. Mas nada. Quando o professo chegou e começou a dar inicio da aula, Sarah já havia perdido as esperanças dando vitória ao seu outro lado.

         Ao fim do primeiro turno, perto do almoço; andando de cabeça baixa, fitando o endereço que ele lhe dará, pela aglomeração de alunos que vagavam todos os dias pelos largos corredores da faculdade. Sarah fitava o papel em suas mãos. Atravessando o campo e tomando o caminho da ruazinha do campo que serpenteava o imenso gramado esverdeado. Um carro cor verde musgo, começou a andar devagar ao seu lado sem que ela percebesse. Guardando o papel no bolso da calça, Sarah ajeitou a bolsa no ombro e os livros nos braços quando notou um veiculo parando ao seu lado. Rapidamente ela parou e o carro parou em seguida. Ela franziu os olhos, semicerrados com o sol alto daquela manhã. O motorista desceu do carro e encarou Sarah por cima do mesmo. O coração de Sarah foi aos pulos.

         - Tem um lugar que quero te mostrar. – sua voz soou abafada pelo vento. Sarah franziu, olhou para os lados como se procurasse respostas de como recusar o convite.

         - Tenho que ir trabalhar. – respondeu. Sua voz saiu tremida e notou suas mãos tremulas, Sarah apertou os livros contra o peito. “Ora, o que é isso? Eu nem o conheço!” pensou se repreendendo.

         - É só ligar. Creio que não fará falta.

         - Não posso, deixei meu celular em casa. – replicou mordendo de leve os lábios. Sarah observou os seus movimentos e o viu pegar algo dentro do carro.

- Pode usar o meu. – disse. E ao se levantar, ele jogou algo pequeno para ela. No susto, Sarah derrubou os livros todos no chão para pegar o que ele havia jogado e percebeu que era um aparelho de celular.

         - Ficou maluco?! – berrou. Ele apenas esboçava um sorriso perturbador.

         - Pode ligar para Jeane. Ela me conhece e vai deixar você vir comigo. – Sarah hesitou. Olhando do celular para Ichigo e desde de volta para o celular. Ela mordeu mais uma vez o celular. Torcendo para que Jeane não deixasse, ela digitou, com as mãos tremulas o numero da gerente. Seus olhos encontraram os olhos de Ichigo quando ela levou o aparelho ao ouvido. O olhar de outrora ainda estava lá, intenso, brilhante, instigante misturado a algo intimidador. Sarah cortou o contato visual de fato, deveria estar mostrando todas as suas fraquezas enquanto ele demonstrava está o mais calmo possível e seguro. Enquanto ela só faltava derrubar o celular no chão com uma tremedeira repentina.

A voz da gerente soou do outro lado da linha, ansiosa.

         - Jeane? Aqui é a Sarah! – falou tentando manter a voz centrada. “Poderia mentir!” pensou enquanto escutava a voz da gerente do outro lado. “Mas se os dois se conheciam, ele poderia ligar.” – Eu tenho um compromisso, posso chegar um pouco mais tarde hoje? – “Diga que não! Diga que não!, mas você não objetivou o motivo, sua idiota!”, “Mas eu também quero ir...”. – O rapaz que foi aí na loja, está me chamando para ir a algum lugar.- “Isso, melhorou! Ta na cara que ela não vai deixar, mas... e essa cara de convencido dele? Por que não desarma?!” – O quê?! – exclamou nervosa. – Esta bem, esta bem. – e desligou e no momento em que apertou o botão para encerrar a chamada Sarah se viu numa encruzilhada, uma ansiedade se misturava a uma animação com uma derrota. – Eu vou. – foi o que disse por fim. Ichigo entrou no carro e abriu a porta do carona para Sarah. Ela apanhou os livros no chão e entrou.

         Fazia um friozinho ali dentro, o ar deveria estar ligado, diferente do ar quente e abafado que rondava fora do carro. Uma musica suave tocava baixinho ali dentro da qual ela conhecida como sendo de Jimmy Eat World, Hear You me; Sarah pôs o cinto de segurança enquanto Ichigo engatava a marcha para sair da ruazinha do campo. Em sua cabeça havia várias perguntas que se atropelavam em sua boca fechada. Se fosse em outro caso, não entraria de forma alguma naquele carro, mas a segurança que Ichigo passava era acolhedora, apesar de seu jeito rude e ríspido.

 

 

Não há ninguém na cidade que eu conheça

Você nos deu algum lugar pra ir

Eu nunca disse obrigado por isso

Eu acreditei que você iria me dar uma chance

O que você pensa de mim agora

Tão sortuda, tão forte, tão orgulhosa?

Eu nunca agradeci por isso

Agora você nunca irá me dar uma chance

 

 

 

*****

N/A:

Mais um capítulo completo. Lendo ele pôr inteiro, sinto que ainda faltava algo, mas se eu lembrar do que faltou nele, decerto, estará no próximo. Obrigada por acompanhar a fic e espero que esteja gostando!

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Just My Luck" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.