-Por favor, não voa embora de novo, Tom! –ouvi Bill dizer, só que dessa vez, o pedido parecia mais uma súplica.

Parei diante da porta, já com a mão na maçaneta.

-Eu não vou a lugar algum, Bill... –me virei para olhá-lo.

Meu irmão tinha uma feição tão frágil e inocente que ele não parecia o mesmo Bill de sempre. Eu estava com uma enorme vontade de chorar. A culpa de tudo o que estava acontecendo entre nós, era minha, SÓ minha.

Isso não deveria estar acontecendo! Eu mais uma vez acabei com tudo o que estava começando entre nós. Coloquei as mãos na minha face para conter as lágrimas que iam começar a cair.

Bill se levantou da cama e veio até mim. Por um instante eu pensei que ele fosse me acusar de ser um idiota e partir o coração dele, mas pelo contrário! Ele apenas abriu os braços e eu o abracei com força.

Minha vontade de chorar era maior do que eu podia agüentar. Senti as minhas lágrimas escorrerem pelas maças do meu rosto e morrerem no ombro esquerdo do Bill.

Meu irmão rompeu com nosso abraço e colocou as mãos nos meus ombros. Seus olhos me encaravam.

-Por que você está chorando, Tomy? –ele tinha um tom de voz extremamente dócil e gentil, algo que eu nunca tinha ouvido antes.

-Porque apesar de tudo o que eu fiz para você, você anda está aqui! –enxuguei as minhas lágrimas com força.

-Eu sempre vou estar aqui e eu acho que isso nunca vai mudar! Não posso te deixar Tomy! Algo não me deixa fazer isso! –o sorriso dele era totalmente inocente.

-É algo forte? -olhei para ele. –Isso que não te deixar sair de perto de mim é muito forte? Talvez, forte o suficiente para me perdoar quando eu errar?

-É... –ele bufou, como se soltasse o ar que estava prendendo há muito tempo. –Sim, Tom... Acho que eu sempre vou estar aqui... Você é tudo o que corre nas minhas veias. Eu poderia até tentar, mas eu não conseguiria mudar isso! –ele se sentou na beirada da cama. –Eu só não entendo o porquê de você ter feito... Isso! –ele me olhou nos olhos.

-Eu também não... –me sentei ao lado dele. –Não sei o que me levou a tal ato... A Debbie fez eu me sentir um homem de verdade... Não foi tão bom quanto eu imaginei que seria, mas foi... Legal! –tentei sorrir para não chorar de novo.

-Tudo bem... –ele enfim disse.

-Tudo bem o que? –perguntei.

-Tudo bem você querer se sentir um homem às vezes, ou sempre... Eu sei que o que nós estamos fazendo é errado... Isso tudo entre nós é instável!

-Era para ser? –olhei para ele.

-Você queria que fosse?

Fiquei sem palavras para responder essa pergunta. Eu não sabia se eu queria ter algo estável com o Bill... Apesar de tudo o que eu sinto por ele, ele ainda é o meu irmão e isso nunca vai mudar!

-Eu posso esperar por você para sempre... –ele segurou minha mão. –Não há problemas nisso para mim!

-E se eu partir seu coração de novo?

-Daí eu vou saber que eu tenho um! –ele sorriu como se isso fosse à solução que ele estava procurando há muito tempo para justificar ao seu coração todas as besteiras que eu fazia.

-Não acho certo... –a luz da lua que invadia o quarto pela janela que estava atrás de nós, deixava metade da face do meu irmão iluminada e a outra metade completamente escura.

-Tudo bem... Às vezes as pessoas que você mais ama, são as que mais te desapontam no final! –ele estava se referindo a mim, porque o único idiota que o fez chorar fui EU!

-E mais uma vez eu te decepcionei porque eu fiquei com a Debbie... –baixei a cabeça com vergonha de admitir meu erro.

-Não há problemas nisso, Tomy! Se formos feitos um para o outro, um dia você vai voltar para mim, mas se não formos, você vai viver a sua vida e eu a minha, só que com pessoas diferentes do nosso lado!

-Eu não quero outra pessoa... Não além de você! Acho que eu não preciso de mais ninguém!

-É bom saber disso... Mas um dia você muda de idéia, um dia você se esquece de todas as promessas que já fez a alguém! –ele apertou a minha mão. –Sabe por que você se esquece, Tom?

Fiquei em silêncio. Por mais que eu não quisesse admitir, eu sabia a resposta.

-Porque elas não eram reais! Elas não saíram do seu coração e sim da sua boca!

-Eu não vou me esquecer de hoje! Isso vai ser eterno! –respondi mais para mim do que para ele.

-Eu espero Tom, eu realmente espero!

Nosso silêncio não incomodava ambas as partes. Eu precisava pensar um pouco no que ele tinha me dito.

-Você acha que eu não fui muito fiel a você... –Bill rompeu o silêncio e soltou minha mão. –Eu senti que depois daquele lance com o Mike você mudou comigo... Não foi minha culpa, mas se você não quiser, não precisa acreditar!

-Eu acredito em você! Eu só não sabia o quanto...

-Um dia você descobre Tom... Um dia você descobre!

-Eu devo ser a pessoa mais idiota do mundo agora, né? Você deve estar me achando um panaca por completo! –disse sem pensar.

-Não, Tom! Você não é um idiota para mim! Você só está confuso... Só isso!

-Eu queria voltar no tempo e jogar nosso jogo de novo! –disse por fim.

-Por que não podemos jogá-lo mais? –ele me olhou nos olhos.

-Já estamos velhos demais, não acha? –senti que a minha resposta o decepcionara.

-Também acho... Estamos velhos demais... Nós crescemos... –ele respirou fundo e depois soltou o ar com a boca.

-É, Bill, nós crescemos...

Ficamos em silêncio mais uma vez. Apesar do que eu tinha dito a ele, eu queria jogar nosso jogo de novo, mas acho que não podíamos mais.

-Tom? –Bill rompeu com a minha falação interna.

-O que? –respondi olhando nos olhos dele.

-Me promete que não importa o que aconteça você ainda vai estar sorrindo? Mesmo que seja entre lágrimas? –o tom de voz dele não parecia de gozação.

-Prometo Bill, eu te prometo! –ele repousou a cabeça no meu ombro direito e fechou os olhos.

Eu poderia, mesmo não querendo, partir aquele pobre coração um milhão de vezes que ele ainda estaria aqui para mim, sim ele estaria! Ele me perdoaria de novo, eu sei que perdoaria, não precisava nem pedir. O coração dele automaticamente faria isso.