Depois de parar um milhão de vezes para pedir informações, acabamos chegando no shopping, quando olhei para o relógio já estava quase na hora. Eu e Noah subimos para o segundo piso e ficamos esperando no local combinado.

            − Você já pode ir! − Disse olhando entediada para ele.

            − Não enquanto eu não tiver certeza que seu amigo não é um velho tarado procurando por menininhas para estuprá-las, esquartejá-las e matá-las−   Ele se contorceu a falar, parecia aqueles malucos que tomam remédio controlado. Me lembrei daquele doutor maluco que toma a porção e vira um monstro, quando ele está se transformando se contorce todinho, Noah fez igualzinho.

            − Em primeiro lugar: QUANDO VOCÊ ESQUARTEJA ALGUÉM ELE MORRE!!! A ordem que você disse ta errada!!! Em segundo lugar: Eu confio no Phillipe, ele não é um pedófilo.  Em terceiro lugar: Eu estou em um lugar público, se ele for um pedófilo, (o que não acredito) eu saio correndo e te procuro!

            − Você é a Mellody?

            Eu e Noah nos viramos.

            − Phillipe? − Noah olhou para ele.

            − Eu...? − Phillipe pareceu confuso.

            − Conhece o Phillipe, Noah? − Perguntei.

            − Ele é da minha sala.

            − Oi Phillipe! − Disse acenando.

            − Oi Mellody.

            − Se é esse o seu amiguinho... ta, vou comprar minhas roupas e deixar vocês em paz− Noah disse dando tchau para Phillipe.

            − Mel ele é seu namorado? − Phillipe perguntou confuso.

            − NÃO! Ele é meu irmão.

            − Ops, me desculpe.

            Como todas as pessoas normais do mundo resolvi prestar atenção em Phillipe, ele era alto, só uns cinco cm menor que Noah, tinha os cabelos castanhos claros, lizinhos cortados cuidadosamente, estes que eram meio repicados; os olhos eram da cor do mais límpido e profundo oceano; ele não era forte e musculoso, mas também não era franzino.

            − Então você tem algum apelido oficial? − Perguntei.

            − Lippe. E você?

            − Mel...

            − Mellody! − Noah gritou− Vem, falei com o papai ele não quer que voltemos para casa. Depois liguei para a mãe da Claire, contei nossa situação e ela deixou que nós ficássemos lá hoje e amanhã, segunda o pai vai pro trabalho e aí ficamos livres. Mas temos que ir agora, me desculpe, você e o Lippe podem se ver na escola na segunda.

            − Tudo bem... − Disse.

            − Não entendi nada, mas depois você explica Noah, podem ir, de boa, tchau Mel, nos vemos na segunda! − Lippe disse indo embora− Tchau Noah, até segunda.

            − Vamos Mel! − Noah me puxou e fomos indo para a casa da Claire da Annya e do Josh... droga.

            Nesse momento não conseguia entender no que nossa família havia se transformado, tava tudo estranho... a mãe deixou a gente, o pai agora nem queria saber se estávamos vivos ou mortos. Nesse momento tudo que queria era desabar em lágrimas. Noah se virou para mim percebendo que estava quase chorando. Ele parou de andar e me puxou para ele. Me deu um abraço apertado e eu não consegui segurar as lágrimas.

            − Calma, vamos nos arrumar, isso não vai durar muito. Não chora por aquele idiota...

            − Noah ele ta com outras mulheres, ele não quer mais saber da gente, ele me bateu... − Falei desabando em lágrimas

            − Olha Mel, fica calma, isso passa...

            − Você parou de falar porque sabe que não parará! Noah nossas vidas estão acabadas, sem a mamãe não podemos fazer nada, eu to perdi...

            − Calma! Vamos conversar quando chegarmos na casa da Claire, aqui na rua não. Certo?

            Balancei a cabeça afirmativamente, estava cansada, fui arrastando os pés até chegar a casa deles. Claire veio nos receber na porta. Quando ela me viu pude ver a pena em seus olhos. Como era de se esperar desabei mais uma vez, só que dessa não fui só eu, pude ver uma lágrima solitária descendo pelo rosto de Noah.

            Claire me abraçou e me levou para dentro murmurando palavras consoladoras, John estava na sala e quando me viu chorando veio correndo para ver o que estava havendo. Annya estava na cozinha com a mãe deles, as duas vieram.

            Claire me colocou sentada no sofá e em um segundo já estava cercada por todos... mas para mim isso não era importante, estava me sentindo horrível, o que eu tinha feito para que aquilo acontecesse comigo? Eu e Noah éramos ótimos filhos, papai e mamãe quando estavam juntos eram tão legais, agora a mamãe não estava mais ao nosso lado e papai nem queria ver minha cara.

            Palavras consoladoras em nada adiantariam... nada adiantaria...

            Noah se sentou ao meu lado colocando minha cabeça em seu colo, após isso não me lembro de mais nada...

            Uma dor intensa invadiu minha cabeça... me levantei zonza e Noah estava deitado ao meu lado, rapidamente ele também acordou.

            − Mel... você ta melhor?

            − Acho que... talvez...

            − O que foi?

            − Minha cabeça dói.

            − Vem, vamos descer, talvez a senhora Colleman tenha um remédio para dor de cabeça.

            Noah me puxou e me guiou descendo pelos degraus da escada, quando vi todo mundo lá em baixo fiquei morrendo de vergonha. A senhora Stacy  veio em minha direção.

            − Então você ta melhor? − Disse ela parecendo durante um segundo com minha mãe.

            − Sim.

            − Senhora Colleman, ela ta com um dor de cabeça terrível, a senhora teria algum remédio? − Noah falou tão educadamente que não o reconheci.

            − Tenho sim, venha pequena. − Então a senhora Stacy me pegou pela mão e me levou ate a cozinha.

            Annya me deu um sorrisinho sem graça e Claire pareceu prestativa ao ajudar sua mãe a procurar o remédio numas gavetas na estante da televisão. Enquanto elas procuravam meu olhar se encontrou com o de John, ele me olhava como que querendo entrar em minha alma para entender o que estava sentindo. Por um segundo me perdi naquele olhar.

            −Aqui querida− Stacy me entregou um comprimido.

            − Obrigada!