Fúria dos Deuses escrita por Neline


Capítulo 33
Souvenirs Olimpianos sofrem vandalismo




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Sentei no chão, olhando para o teto anormalmente alto do Olimpo. Meu lar. Lar dos Deuses. A vertigem parecia burbulhar do meu estômago até meu cérebro. Eu tinha vontade de vomitar. Tinha vontade de desmaiar. Nada daquilo fazia sentido. Era surreal. Meus pensamentos estão desordenados, mas tentei me prender a algum ponto de lógica, sem sucesso. Fiquei de pé, e andei pela Sala dos Tronos.

Eu sou uma deusa. Estranho ou não, deixou de ser uma possibilidade. Isso quer dizer que eu sou imortal? Sou deusa do que? Quer dizer, posso controlar a água, como Poseidon. Tenho uma inteligencia fora do comum, como Atena. Mas é só isso. Sou só neta de dois grandes Deuses. Sei das minhas qualidades assim como sei dos meus defeitos, mas o que me torna diferente dos outros semi-deuses? Uma explosão ao longe me acordou. Parece que a minha crise existencial vai ter que esperar até o fim da batalha. Isso se eu sobreviver. Isso se eu puder morrer.




Os largos vidros do Olimpo pareciam frágeis. Eu olhava através deles, sabendo que nada poderia ultrapassa-los, apesar do que parecia. Eu via luzes brilhando ao longe, explosões, fogo. Minha cabeça vacilava entre meus amigos do acampamento lutando lá fora e eu aqui, sendo simplesmente inútil e instável. Então aconteceu. Eu escutei um barulho doloroso de queda, e me virei.

Chuck estava caído no chão. Sua perna estava dobrada em um ângulo estranho. Mas aquilo não pareceu incomoda-lo. Praguejou em grego antigo, esticou a perna e se levantou. Eu poderia jurar que ele havia quebrado algum osso. Aparentemente, estava errada.O raio-mestre estava no ponto mais alto do trono de Zeus, tremeluzindo. E eu me encontrava sentada na frente do mesmo, patética, com minha espada em punho e cara de choro.

– Blair? - Chuck parecia tão surpreso em me ver ali quanto eu fiquei ao vê-lo. Me coloquei de pé em um pulo, com Anaklusmos esticada na minha frente.

– O que está fazendo aqui, Bass?

– Por favor, apenas saía da minha frente. Não posso te machucar. - Aquilo fez meu sangue ferver. Por que ele sempre me tratava como se eu fosse uma garotinha indefesa? Eu sou uma Deusa, porra. Ele deveria ter mais respeito comigo.

– Ah, por favor. Não preciso da sua piedade. Achei que estivessemos resolvidos quanto nossa posição nessa batalha.

– Você não entende, Blair. Realmente não posso te machucar. Eu sou o primeiro a chegar, mas existem mais pessoas subindo. Eu preciso te manter em segurança.

– Sei me cuidar. - Murmurei mal-humorada, agora sim, soando como uma criança.

O ar trêmulou na nossa frente, e Chuck arregalou os olhos como se a morte estivesse prestes a aparecer em sua frente.

– Esconda-se! - Ele gritou com tanta verocidade, um desespero tão tangível... que eu o fiz. Não entendi porque, mas meu corpo simplesmente agiu por conta própria. Me encolhi atrás do trono de Zeus.




Analisemos a minha situação. A maior guerra da história do Olimpo está acontecendo à uns 500 andares de mim (o que não é muito se você considerar que demonios não se contentam em atirar fogo, e tem que voar também), e eu estou escondida atrás de um trono inútil enquanto meu ex-quase-futuro-namorado/meu inimigo está à alguns passos da arma mais poderosa do mundo. E toda essa idiotice vem de uma deusa, neta de Atena. Só pode ser meu lado Poseidon assumindo o comando, não é possível.

– Está vendo as estatuetas? - Não importa quanto tempo passasse, aquela voz sempre iria me atingir em cheio. Era uma mistura de rugido de leão com unhas no quadro negro. Cronos. Rezei para que aquilo fosse apenas uma mensagem de Íris, o que achei engraçado. Pra quem eu rezo, afinal? Sou uma deusa.

– É a sala do trono. Existem várias estatuetas aqui. Estou vendo o Raio Mestre, na verdade.

– Pegue-o na saída, se sobrar tempo. Alguma resistencia? - Quis pular na frente de Chuck e gritar "Sim, uma resistencia louca para chutar seu traseiro imundo de titã!", mas antes que pudesse fazer isso, ele respondeu.

– Não. Nada. Vou começar a quebrar essas malditas estatuetas estúpidas agora. - Ele respirou fundo. Eu podia não o conhecer profundamente, mas sabia que aquele gesto significava que ele estava prestes entrar em colapso. - Pode sair. - Tentei andar como uma gata sexy prestes a atacar, mas ainda parecia confusa, com uma espada pesada demais na mão e olhos inchados.

– Então, a arma mais poderosa do mundo está aqui, e tudo que você vai fazer é sair por ai quebrando peças de decoração? Uh, vandalismo divino. Estou tremendo de medo. - Ele estava de olhos fechados, mas sorriu torto. Depois, girou, e derrubou uma dezena de estátuas pequenas que cobriam as paredes claras do Olimpo. Elas se chocaram contra o chão, partindo-se em milhões de pedacinhos. Chuck bufou.

– Nunca vou entender essa fascinação que deus tem por estátuas. - Mais algumas caíram contra o chão. Anaklusmos esquentou na minha mão. Eu dei quatros passos largos, me colocando entre Chuck e a próxima fileira de imagens de mal gosto, e coloquei a ponta da espada em seu pescoço. Ele ficou paralisado.

A única coisa que passou na minha cabeça foi: eu deveria matá-lo agora. Mais inimigos estão chegando. Eu não vou conseguir me livrar de um grupo sozinha. Tenho que os matar em ordem de chegada. E Chuck tem que ser o primeiro. Ele é meu inimigo. É minha obrigação o matar.

Então, ele sorriu.

– Vai mesmo fazer isso? - E eu soube que não faria.

– Sente, seja um bom garoto e pare de quebrar os brinquedinhos de Zeus antes que eu lhe coloque de castigo.

– Você não entende, Blair.

– Não, Chuck. Eu não entendo! O que diabos você está fazendo?

– Meu trabalho.

– Seu trabalho é ficar do meu lado, protegendo nossos amigos. Nossa família, Bass. Esse é seu trabalho. Esse é o seu lugar.

– Porque você sempre arruma desculpas para eles? São deuses, Blair! Eles são egoístas, auto-centrados e irresponsáveis. - Abaixei minha cabeça, respirando fundo.

– Você não entende como é ser um deus. Só o título já pesa sobre os ombros. Você quem que lutar entre o que é certo para o povo e o que você acha certo. Tem que suportar a pressão de que um deslize seu acaba com o mundo. Você simplesmente não entende.

– E você entende? - Ele falou, arqueando uma sobrancelha, e meu sangue ferveu.

– Sim. - Murmurei simplesmente, e ele aproveitou para derrubar a próxima fileira de estutas. A prateleira mais alta veio a baixo, e eu fechei os olhos para evitar os estilhaços. Então, entre o barulho agudo de argila e vidro quebrando, um "tum" surdo me chamou a atenção, e eu abri os olhos. Entre todos os cacos coloridos, uma estatueta repousava inteira.

Ela tinha cerca de 15 centímetros. Era a figura de um homem com pele muito clara e cabelos negros como a noite. Ele vestia um tipo de manto azul escuro, coberto por estrelas, e estas pareciam cintilar levemente, assim como os olhos de Chuck.

– Até que enfim. Saia da minha frente, Waldorf.

– O que?

– Saia da minha frente. - Franzi o cenho para ele, que pareceu me ignorar. Seus olhos estavam presos no homem de argila em nossa frente.

– O que você vai fazer? Levar um souvenir brilhante da batalha do Olimpo?

– Não. - Uma voz alta e poderosa soou atrás de nós, enquanto uma bolha d`água envolvia a estatueta caída e fazia ela flutuar. - Ele quer fazer um ritual de invocação com uma das partes da alma de Urano. - Eu me virei, assim como Chuck, para encarar a face poderosa e (para mim, é claro) segura de Poseidon. Meu avô. - Mas é claro que, para isso, ele vai ter que passar por cima de dois deuses.

– Dois? - Chuck perguntou, confuso, mas meu avô o ignorou, enquanto seu tridente surgia imponente em sua mão. Na minha opinião, muito mais perigoso que aquele raio mestre bobo.- Vai ser um prazer lhe fritar, filho do céus.

E a última coisa que eu lembro é de brilhar.


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram? Espero que sim, afinal, estou postando no meio da minha viagem, porque sou uma escritora responsabilíssima (só que não).
Enfim, espero minhas reviews.
Ah, e estou louca pra ver a cara do Chuck quando descobrir que a Blair é uma deusa. Sou a única?