- CABRUM! - eu abri meus olhos assim que ouvi um estrondo vindo do andar de baixo. “Calma, não foi nada, volte a dormir” obedeci o conselho da minha mente cansada e voltei a dormir.
....
- CABRUM! – abri meus olhos novamente, poucos minutos depois do primeiro barulho. “Não ligue, não foi nada, apenas
 dur...” mas caí no sono antes de terminar meu pensamento.
...
- CABRUM! – mais uma vez meus olhos se abriram lentamente por conta do sono. “ Pronto, deve ter sido a última vez- CABRUM!.
-MAS QUE MERDA É ESSA? – berrei já irritada depois do quarto estrondo. Não recebi resposta, então me dei por vencida e saí da cama.
Depois de todo ritual matinal, desci as escadas. Aquele não ia ser meu dia...
-Será que não se pode dormir em paz nessa casa meu Deus? – falei enquanto descia as escadas.
Quando cheguei na sala, vi uma cena que só podia ser descrita com uma palavra: tosca.
Rachel estava na frente da porta totalmente descabelada com uma almofada nas mãos, em uma pose de ataque, enquanto Bella estava atrás do sofá com vários livros nas mãos, fazendo menção de arremessá-los em direção a outra.
Devo ter ficado parada durante uns trinta segundos apenas as observando, considerando o fato de que talvez aquilo ainda fosse um sonho, até que depois de tomar uma almofadada na cara, percebi que não era.
Antes de perguntar qualquer coisa, entrei na cozinha, peguei um copo com água congelante, voltei para a sala e virei o seu conteúdo na cabeça de Rachel, que jogara a almofada em mim.
Ela ficou me encarando, tentando encontrar o por que do banho.
-Não gosto de ser acordada com uma almofadada na cara. – respondi antes que ela pudesse perguntar.- Agora me respondam – disse me virando para poder encarar as duas – que diabos está acontecendo aqui embaixo?
Como resposta ouvi milhares de berros, vindo dos dois lados da sala, que juntos não faziam sentido algum.
-Ela trapaceou...
-MENTIRA!
-Não é não!
-Claro que é! Você que é ruim!
-NÃO SOU NÃO!
-É HORRIVEL!
-SUA INVEJOSA!
-COITADA!
Estão entendendo?....Nem eu....
-Por favor...
-SUA TAPADA!
-TAPADA EH A VÓ!
-Se acalmem garotas...
-VOVÊ NEM SABE O QUE É CONTROLE!
-EU NÃO SEI? FOI VOCÊ QUE PERGUNTOU COMO QUE FAZIA PRA PULAR!
-Meninas...
-VAI SE CATAR!
-VO TE MANDAR FAZER UMA COISA NÃO MUITO LEGAL SE VOCÊ CONTINUAR ASSIM!
-Meninaaaaas...
-CALA A BOCA! – será que a única coisa que pode junta-las depois de uma briga é me mandar calar a boca?
-CALEM A BOCA VOCÊS!- berrei irritada. Po, ser acordada cedo (onze e meia pra mim é cedo no fim de semana ok!) em pleno domingo, levar uma almofadada na cara sem ter feito nada e ainda ser mandada calar a boca é barra né! – Agora façam o favor de me explicar que droga é essa que está acontecendo!
-ELA ROUBOU!
-MENTIRA!
-SUA FALSA!
-PERDEDORA!
-CHEGAAA!!! JÁ TO COM DOR DE CABEÇA PO!
As duas pararam de berrar, o que não foi uma coisa tão legal assim, já que com o silencio o meu berro ficou ecoando na minha cabeça me deixando cada vez com mais dor.
-Ela roubou no jogo! – falou Rachel apontando para Bella escondida atrás do sofá.
-Roubei nada! Eu peguei um atalho ok!
-Eu continuo não entendendo...
As duas pararam e me olharam como se eu fosse a maior caipira do mundo por não entender do que elas falavam. Rachel fez um olhar de pena, como se olhasse pra uma pessoa que nunca havia ouvido falar de video game.
-Ela roubou no Crash tag team...
-Já disse que não roubei! Eu peguei um atalho!
-Você sumiu da tela e do nada apareceu na linha de chegada, isso foi roubo!
-Isso foi inteligência!Familiarizasse com isso!
-...Até mais garotas...
Que tipo de pessoa em sã consciência ia botar o apartamento a baixo por um jogo? O tipo “amiga da Lyla”...
Mas naquela hora, deveria me preocupar mais era com a certa conversa que teria com o Bert mais tarde. Não sei por que, mas um sentimento não muito agradável me invadia sempre que pensava nessa conversa, Bert sempre foi a “coisa empolgada saltitante” que não falava serio e se ele estava sendo serio e afobado, algo muito estranho tava acontecendo.
De qualquer forma, subi as escadas deixando as duas berrando na sala e fui me arrumar.
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-Você ta atrasada...- ouvi uma voz vindo de trás de mim assim que entrei na Starbuck’s.
-Não to não, na verdade eu cheguei cinco minutos antes. – falei me sentando no banco em frente a mesa na qual Bert estava sentando.
-Mas você tinha que ter chegado antes de mim...só assim eu podia fazer a minha entrada dramática, entrando correndo com uma expressão de sem ter para onde ir na cara, assim você ia ficar desesperada pra saber o que tinha acontecido e não ia me encher quando descobrisse...- falou com uma expressão infantil.
Eu ergui uma sobrancelha e perguntei:
-E por acaso o que você vai me contar pode me fazer querer te encher?
-Provavelmente...- ele pareceu pensar um pouco sobre o assunto e completou - ...certamente...
-Ok, mas antes de falar, eu vou buscar alguma coisa pra beber.
- Eu quero um café com açúcar por favor...
- Eu perguntei se você queria algo? – eu falei levantando do banco e indo em direção ao balcão.
-Grossa...
 Pedi um milkshake e fiz uma caridade para a criança que estava na mesma mesa que eu e levei o café com açúcar para Bert.
-Ok, agora me diga o que lhe aflige meu bebê – zombei sentando no banco outra vez.
-Muito engraçada você...
-Eu sei...mas vai, fala.
Ele respirou fundo algumas vezes até criar coragem e abrir a boca.
-É que...é que eu ando sentindo uma coisa sabe...por alguém...
-Você quer dizer que está gostando de alguém?
-É...mas não tem nem como eu ficar com essa pessoa...sabe, ela nunca imaginária que eu to gostando dela e além do mais, ela nunca vai gostar de mim...
-Mas por que não?
-Ah, sei lá! Eu não faço o tipo dessa pessoa sabe? Ela deve gostar de gente mais extrovertida...
-Bert, você não é extrovertido a muito tempo querido.
-Não esse tipo de “extrovertimento” ,sei lá...ela deve gostar de alguém inteligente e estudioso, ser falar em ser bonito.
-Bert, você se olha no espelho? Você é uma coisa! – ele deu uma risadinha fraca.
-Sei sei...mas é serio Lyla...nunca ia dar certo, e ia ser o melhor pra nós dois se eu não falasse nada...
-Ah não amigão, começou, termine.
Ele parou e ponderou. O que será que era tão importante assim a ponto de ele manter segredo? Será que essa pessoa era...Não...deixa de ser boba Lyla, óbvio que não é...
- Você quer mesmo que eu conte?
-Quero! – falei decidida.
-Mas você tem que prometer que vai continuar minha amiga depois de eu te contar!
...Pensando bem...pode até ser...vamos encarar os fatos: a gente anda junto a mais de dois anos, é normal! Afinal, somos homem e mulher certo? E eu tenho que admitir que sou irresistível...nossa..essa foi horrível!
-Eu prometo!
-Serio mesmo Lyla?
-Aham!
-E lembre-se de que a gente não escolhe de quem gosta!
-Ta ta! Fala!!!
-Eu to com vergonha...
Oh meu Deus! É mesmo!!!
-Eu to gostando...
Só pode ser!
-é...
De m...
-Do Gerard!
De mim! Sabi- Ã? DO GERARD? O QUE? MEU DEUS!
A minha reação foi única : cuspir todo o milkshake na cara dele. Mas foi realmente inconsciente.
- O QUE?- eu berrei surpresa me levantando do banco.
- O que o que?
-O que o que o que?
- Ã?
-DO GERARD?
-Cala boca Lyla! – ele sussurrou desesperado.
- DO WAY?
-Lylaaaa...
-DO MALDITO WAY?
-Para Lyla! Tem gente olhando!
Eu sentei tentando me acalmar.
- Você ta gostando do Way? Daquele retardado? – eu sussurrei rápido sem acreditar.
-É! Feliz?
-Nã- quer dizer, sim! Finalmente vai desencalhar Bert! – COM O WAY? COMO ASSIM?! ELE É HÉTERO! ESQUEÇA ELE MCCRACKEN!...isso é ciúmes Lyla?...NÃO VEM ENCHER QUE EU NÃO TO DE BOM HUMOR!...mas as melhores horas são essas..
Eu devo ter ficado minutos sem falar nada, por que Bert me olhava com uma cara assustada.
-Tudo bem Lyla?
-Ah sim! Claro!
-Er...Lyla...posso te perguntar um negocio?
-Sim...vá em frente.
-Você...gosta...dele?
A minha reação foi mais uma vez única (como uma reação feita duas vezes pode ser única?) : cuspi mais uma vez todo o milkshake na cara dele.
-O QUE? NÃO! CLARO QUE NÃO! – disse me levantando mais uma vez do banco.
- Obrigado pela chuva...- ele disse se limpando.
-Foi mal...- disse me sentando de novo.
-Você pode me fazer um favor?
-Depende...- falei desconfiada.
-Sabe...por causa do seminário você tem que passar bastante tempo ele né?
-Infelizmente...- to impressionada com a sua falsidade...
-Então será que você podia...bem...me ajudar com ele?
Será que ia virar um vício cuspir o meu milkshake nele? Por que essa foi a terceira vez.
-Dá-pra-fechar-essa-boca? – ele falou irritado entre os dentes se limpando mais uma vez.
-Te-te ajudar?
-É...
NÃO! NÃO VOU TE AJUDAR! NINGUÉM TOCA NELE, ENTENDEU? ELE É ME- DE TODAS! ELE É UM “VADIO” QUE SAI CATANDO TODO MUNDO OK! ELE NÃO FICA COM NINGUEM!
-Tudo bem se você não quiser Lyla...Eu entendo que você tem uma quedinha por ele, quem não tem, não é mesmo?
-NÃO! NÃO É! –eu berrei sem querer- Quer dizer, não, não tenho! E ok ok, eu te ajudo! Mas você fica me devendo uma viu! Agora preciso ir! – Se eu ficasse mais um minuto lá, tenho certeza de que pularia no pescoço daquele...daquele...viado! Levantei apressada da mesa e corri para a porta, já estava abrindo quando ouvi alguém me chamar.
-Lyla!
Olhei para trás e vi Bert.
-Sim?
-Valeu...mesmo.
-Ah sim...sem problemas. – e sai fechando a porta atrás de mim.
Sem problemas? Sei...SEM PROBLEMAS MESMO!...tirando o fato de você estar querendo torcer o pescoço dele, claro, sem problemas...Eu não quero ok! Eu to surpresa! Só isso!...é claro, você não esperava concorrência...Vou te ensinar uma frase: Vai-se-FERRAR! ... ‘brigada, assim eu posso repeti-la para você: vai se ferrar... Faça um favor: cale a boca.





De fato: aquele não era meu dia.