“Era noite. Noite seca, sem chuva. Eu andava de bicicleta pela rua, até parar em um beco”.

Lá estava Neji. Sorriu ao me ver, e disse:

“Desculpe”.

“Como” perguntei, confusa.

Vi  que tinha uma pessoa atrás dele. Lá se encontrava Usui, com uma rosa na mão. Aproximou-se de mim, e disse-me:

“Uma rosa para uma dama”.

“Mas eu não sou uma dama!” Protestei.

Neji e Usui se olharam, e disseram juntos:

“É claro que é!”.

Senti uma mão em meu ombro. Virei-me para trás, e dei com Lee.

Ele segurou minha mão. Bufou, e disse para os outros dois:

“TenTen não é uma dama.”

Acordei suando.

Não foi um sonho terrível. Nem perto de ser um pesadelo. Mas eu suei. Estava nervosa. Nervosa porque ele estava aqui.

Levantei, e olhei no relógio. Cinco da manhã.

Resolvi entrar no chuveiro. Apesar de faltar três horas para a aula começar, eu já ficaria pronta. Isso era bom.

Depois de um bom banho, troquei de roupa, e arrumei meu material. Ao fazer isso, lembrei-me das provas que fiz. Eu tinha ido bem. Estava com notas acima da média, e isso era um certo milagre para mim. De qualquer modo, estava feliz com isso. Eu... Não costumava fazer isso antes.

Desci para a cozinha, e tomei meu café. Meus pais não estavam acordados, como imaginei. Como já estava pronta, e não tinha nada para fazer, resolvi sair. Peguei o meu skate, e fui.

O dia estava feio.Nublado, sem sol. Eu gostava assim. Então, não me importei de continuar em frente.

A rua estava bem vazia. Na praça, alguns homens bêbados, e pessoas no ponto de ônibus esperando o ônibus passar. Nesse horário, nenhuma criança com nenhum cachorro.Nenhuma vovó com a sacola de feira. Nada de interessante.

Resolvi ir embora.

Estava muito cedo para ir na casa de Kiba; e muito cedo para ir para a escola.

Não tinha nada muito construtivo que eu pudesse fazer.

Pensei em visitar Hinata; mas será que ela não estaria dormindo?

Como o horário de visita deste hospital era bem estranho, resolvi tentar.

Peguei meu skate, e fui.

Ao chegar no Hospital Uzumaki, a mulher da Central de Atendimento disse que tive sorte. Pois era mesmo esse horário que era disponível para visita.

-         Mas ela já não podia ter saído do hospital? – perguntei a enfermeira, enquanto ela me levava ao quarto 208 – afinal já passaram duas semanas, e ela ainda está aqui.

-         Sim – disse a enfermeira, sorrindo – ela podia cuidar dos ferimentos em casa, mas ela e o Neji-kun acharam melhor sair daqui só quando estivesse totalmente boa.

-         Ah.

No que ela citou o nome de Neji, lembrei que não o via há um bom tempo. Afinal, quem seria meu novo tutor?

Chegamos no 208. Abri a porta, e a enfermeira disse:

-         Hinata temos visita.

Olhei ao redor. Não havia ninguém lá. Hinata estava sozinha. Sorriu ao me ver, e fui abraça-la.

-         Como está? – perguntei.

-         Estou bem – respondeu-me ela, retribuindo meu abraço – e você? Como está? Aquele desmaio se repetiu?

-         Que nada – disse eu sorrindo, e me sentando na beirada de sua cama – minha pressão caiu, e só isso.

Hinata fez cara de quem não acreditou.

-         Estou falando sério – sorri.

Pareceu-me que ela acreditou. Continuamos conversando, e contei-a como estava a escola. Ela me disse que estava indo bem com Naruto, mas estava se sentindo culpada por Kiba.

-         Ei, não fique assim – eu disse – Kiba é assim. Você não tem culpa de não gostar dele. Não vou mentir, estava torcendo para ficarem juntos, mas se não deu... Ele vai achar outra garota. No começo ele ficou bravo, mas não viu que depois ele voltou correndo para ver como você  estava?

-         É – ela disse, ainda meio desanimada – mas mesmo assim... Preocupo-me com o Kiba-kun. Não queria, de jeito nenhum, magoá-lo.

-         Mas então... Vamos mudar de assunto? – sorri para ela.

Hinata sorriu.Pareceu gostar da idéia. Sentou-se, e começou:

-         Eu fiquei sabendo que Neji desistiu de ser seu tutor. Porque?

Dei de ombros.

-         Não sei.

Hinata olhou-me, estranhando.

-         Eu achava que... Ah, deixa para lá.

-         O que você achava? – perguntei.

-         Não, nada – ela sorriu maliciosamente.

-         Ah não, me fale, é sério!

Ela sorriu.

-         Não vai me bater?

Assenti.

-         Não.

-         Bom... – ela suspirou – nunca, e falo sério, nunca vi Neji olhar para uma menina desse jeito. Ele pareceu bem preocupado quando você desmaiou, mas tentou não demonstrar isso. Sabe TenTen-Chan, eu acho que ele...

Eu já sabia bem o que ela ia falar, então a cortei.

-         Não. Não é nada disso.

Ela sorriu mais uma vez.

-         Sabia que diria isso.

Ficamos um tempo em silêncio. Isso que Hinata tinha dito era tecnicamente impossível.

Olhei para o relógio. Faltava meia hora para a aula começar.

E do jeito que o hospital era longe, eu já tinha de ir.

-         Bom, tenho que ir, Hinata. A aula já vai começar.

Ela olhou para o relógio e assentiu.

-         Cuide-se bem, TenTen-Chan. E pense no que eu te disse.

Eu ri.

-         Vou pensar – falei, ironicamente.

Dei um outro abraço nela, e quando ia saindo de seu quarto, trombei com Neji.

Ele ficou surpreso ao me ver, e perguntou frio:

-         O que está fazendo aqui, Mitsashi?

Aquilo doía meu coração. Vê-lo me chamando de Mitsashi novamente, como se eu fosse um objeto, como se eu fosse um...Nada.

-         Vim visitar a Hinata – esclareci sua dúvida.

Ele fez cara de indiferença, e entrou no quarto. Tomei raiva naquela hora. Peguei em seu braço, o levei para um canto, e disse, apontando para sua cara:

-         Porque... Foi embora?

Ele nada respondeu, apenas abaixou a cabeça.

      -     Porque?- repeti -  Só me responda isso e nunca mais aparecerei na sua vida.

Neji levantou a cabeça, com uma expressão de fúria.

-         Você é hipócrita, Mitsashi. A pior aluna que eu tive. Não tinha motivos para eu continuar dando aula para alguém como você.

Frio. Como sempre, frio.

Sorri, derrotada.

-         Então ta. Poderia ao menos me falar o nome de meu novo tutor?

-         Ele se chama Lee. É novo na escola, mas é super inteligente. Era tutor na outra escola aqui da cidade, e sei que...Você vai se dar bem com ele.

Encarei Neji. C-como? Além de ter que conviver com Lee, ele seria agora meu tutor também?

-         Lee? Quis dizer, Rock Lee?

Neji assentiu.

Saí de perto dele, assustada. Caí no chão de joelhos, e levei as mãos ao rosto.

-         Não... Por favor, não...

-         V-v-ocê está bem, Mitsashi? – perguntou-me ele, envergonhado.

Não levantei meu rosto. Eu estava muito ocupada, chorando.

Isso mesmo, EU estava CHORANDO.

Isso não é algo comum.

Levantei-me tremendo, e dei as costas para Neji. Eu tinha que ir embora rapidamente.

Ouvi o mesmo gritar meu nome, mas foi em vão. Não voltei atrás.

Peguei meu skate, e fui para a escola, esperando que o terror viesse.

Eu tinha de me preparar mentalmente para me encontrar com Lee. Sabia que ele estaria me esperando no portão da escola. Eu o conhecia bem.

E lá estava ele.

Aproximou-se de mim e me deu um beijo no rosto; sabia que eu não poderia fazer nada para revidar.

-         Como está, TenTen-Chan?

Respirei fundo.

-         Estou bem.

Ele passou a mão pela minha cintura, e fomos andando para a sala. No percurso, as pessoas me olhavam. Oh será que a Mitsashi, aquela durona, está namorando? Burburinhos se espalhavam por todos os lados.

Lee não era nada bonito. Tinha sobrancelhas grossas, e um cabelo de cuia que o piorava. Mas as meninas gostavam. A feiúra que agrada as mulheres.

Ele sorria para todas elas. E elas sorriam de volta.

Eu não falei nada neste percurso. Apenas respirava para não encher um soco na cara de Lee.

Ele logo percebeu.

-         Porque está tão quieta TenTen-Chan?

-         Eu... Não acordei muito bem hoje, é só isso –sorri.

Ele sabia que eu estava mentindo, mas ficou quieto.

Ao chegarmos na sala, ele sentou-se ao meu lado. Kiba olhou para mim com cara de dúvida, e eu apenas abaixei a cabeça. Não. Eu não poderia contar a ninguém o que passei com Lee.

A aula seguiu, e todos olhavam para mim. Até o Gai Sensei não tirava os olhos de mim, não acreditando que eu estava “namorando”. Eu não podia fazer nada a respeito. Não estava namorando Lee, mas não podia contrariá-lo.

Quando a mesma acabou, Lee disse-me que iria lá em casa.

Assenti.

-         Já está sabendo? – perguntou-me, e eu olhei para o mesmo, confusa – vou ser seu tutor novo.

Sorri.

-         É. Estou sabendo.

Lee sorriu.

Fomos saindo da escola, ele mais uma vez com a mão em minha cintura. Vi Neji saindo da escola e olhando-me, com uma expressão confusa. Abaixei a cabeça. Eu não devia nada a ele.

Quando passei ao seu lado, Lee o cumprimentou. Neji não o respondeu, não tirava os olhos de mim. Eu apenas olhava para baixo. Não queria olhar para ele.

-         Ei, Neji! – Rock Lee disse, passando a mão em frente ao seu rosto – está hipnotizado, cara?

Neji finalmente olhou para Lee.

-         Ah, oi. Desculpe te ignorar, estava imerso em pensamentos.

-         Tudo bem – Lee sorriu, batendo no ombro de Neji – sabe, não acho que essa aqui seja um trabalho tão difícil assim. Ela me obedeceu direitinho.

Lee levantou minha cabeça, para que eu pudesse ver seu rosto sorridente.

-         Não é, TenTen-Chan?

Encarei Neji.

-         É.

Lee despediu-se de Neji, e me fez dar tchau para o mesmo também. Neji não retribuiu o meu aceno, apenas o de Lee.

-         Vocês brigaram? – perguntou-me Lee,enquanto íamos andando para minha casa, com um sorriso cínico no rosto.

-         Não... – respondi – ele sempre é assim.

-         É? – Lee pareceu não acreditar no que eu disse, mas não tocou mais no assunto. Mas... Eu tinha falado a verdade? Quer dizer, Neji era sempre assim? Talvez já fora há um tempo atrás. Ou não? Resolvi deixar para lá.

Quando chegamos em casa, minha mãe ficou radiante ao ver Lee. Apertou sua bochecha, bagunçou seu cabelo, e fez tudo o que tinha direito. Lee explicou que estava estudando junto comigo, e que tinha tornado-se meu tutor ao invés de Neji.

-         Porque? – perguntou minha mãe, assustada – o que houve com o Neji-kun?

-         Ele não me agüentava mais – respondi a minha mãe.

-         Own! – minha mãe veio, e me abraçou – Não fique assim, TenTen!

-         Eu não disse nada – respondi.

Ela me ignorou.

-         Lee-kun será ótimo para você, não é mesmo Lee?

Lee sorriu para minha mãe, e assentiu.

-         Vai ser ótimo.

-         Bom, então, vão estudar! – minha mãe deixou-me respirar, e levantou. – Aposto que vai ser ótimo estudar com o Lee-kun, não é mesmo?

Assenti.

-         Vai ser – fingi alegria.

Eu e Lee subimos para meu quarto; ele carregava alguns livros na mão. Ao entrarmos, o mesmo os depositou em minha mesa de estudos, e fechou a porta. Trancou-a.

Sentei em minha cama, e levei minhas mãos ao rosto.

-         Por favor, Lee... O que realmente quer de mim?

-         TenTen... – ele sorriu e sentou-se ao meu lado. Deu um beijo em minha bochecha, e passou a mão pela minha cintura – só quero ficar perto de você.

Vi que ele tinha um cd nas mãos; eu sabia bem o que era aquilo.

-         Por favor, não mostre isso a ninguém! – eu já estava chorando – por favor!

-         Não vou mostrar... – ele passou a mão em meus cabelos, e sussurrou em meu ouvido – se você fizer direitinho o que eu quero...

-         O que você quer? – berrei – me responda, que eu faço!

-         Bom... – ele coçou o queixo, e sorriu – quero que volte a ser como era antes.

Arregalei os olhos. Aquilo era impossível. Totalmente impossível.

-         Não – respondi, fria.

-         Hm... – Lee levantou, e foi em direção a minha tv – que pena.

Colocou o cd em meu aparelho dvd, e sentou-se ao meu lado. Eu já sabia bem o que vinha a seguir.

Desmoronei em minha cama, pronta para a humilhação.