Coloquei meu casaquinho de frio, dei adeus pra Kathy e desci até o estacionamento.

Estava esperando sentada na porta do bloco P quando ouvi um carro vindo em minha direção, me surpreendi por ser ele, será que iríamos sair? Como faríamos isso? Ele devia estar bem louco mesmo pra tentar passar pelos vigilantes. Ele parou do lado do bloco e abaixou o vidro.

- Entra logo no carro Ash, se me pegam a essa hora dirigindo e sem autorização vão me suspender. - ele disse fazendo um gesto com a mão pra que eu me apressasse.

Eu simplesmente levantei e entrei no carro, fiquei olhando para a cara dele que nem uma idiota. Eu sabia que teria de dizer alguma coisa, quebrar o silencio e começar a falar afinal nós saímos para conversar, não foi?!

- E aí Du?! – eu disse quando já estávamos perto da guarita.

- Fiquei preocupado que você não viesse. – ele deu um meio sorriso. - parecia que eu não tinha mais chances com você. - ele falou acariciando meu rosto com uma das mãos enquanto a outra estava no volante.

- Como vamos passar pela portaria?- eu disse me esquivando do rumo que a conversa estava tomando.

- Eu vou inventar uma história aqui e podemos ir sem problemas- ele falou piscando pra mim.

- Ir onde? Que história?- Ah não, eu não iria deixar ele me meter em problemas.

- Calma ta tudo bem amor... – ahh droga, de novo acariciando meu rosto, isso dificulta pra mim.

Paramos em frente à portaria e o vigilante perguntou aonde iríamos no horário de aula.

- Estamos autorizados pelo diretor Math á ir ao ensaio de casamento de meus pais hoje à noite, acabei de passar por lá e ele disse que eu poderia passar aqui que não haveria problema algum. – Edu disse de forma bem convincente, belo mentiroso u.u

- Tudo bem então, boa festa para os dois- o vigilante disse abrindo a cancela para que passássemos.

Fiquei me segurando pra não começar a rir descontroladamente ali mesmo, mas não dava para esconder o sorriso em meu rosto, parecíamos dois fugitivos, dois impostores... isso é excitante.

- Você queria saber aonde vamos, não é?- ele perguntou

- S-sim- gaguejei

- Estou te levando na casa de meus pais para que conversemos melhor lá.

- Seus pais autorizaram?- já esperava por uma piadinha do tipo “eles estão no ensaio do casamento”, mas ele foi curto e grosso.

- Não estão lá.

-Ah, é que eu pensei que talvez eles não fossem gostar de ter dois fugitivos da escola na casa deles. – eu disse sem acreditar na piada boba que tinha acabado de fazer.

- Não mesmo...

O caminho foi silencioso, e a cada minuto passado tinha uma tentativa fracassada minha de começar a conversa. Eu reclamava “que demora”, e ele só concordava com a cabeça.

Eu já estava cansada de tantas voltas quando ele parou em frente à garagem de uma enorme mansão em Newark.

Newark era a maior cidade daqui em Nova Jersey e aqui só morava pessoas ricas e famosas.

- Que casa linda Du, você nunca me trouxe aqui antes. – eu falei totalmente admirada pela beleza da mansão dele, perfeita.

- Confesso, sou culpado - foi tudo o que disse dando um risinho cínico e abrindo a porta do carona pra que eu saísse.

Entramos na sua casa e eu vi o quão bonito era dentro também e ele nem me deu oportunidade de ver muito, levou-me até seu quarto e disse que eu podia ficar a vontade que ele iria pegar alguma coisa pra bebermos.

Quando voltou com nosso suco pediu que eu começasse a falar o que eu queria. Fiquei repassando as frases na minha cabeça quando decidi abrir o jogo, afinal ele não iria esperar a vida toda.

- Du, quando você diz que me ama, eu juro que tento acreditar, e eu queria apagar o passado, mas as feridas que você deixou foram tão profundas, que por mais que eu tente, eu não consigo esquecer- expliquei de forma simples e sincera tudo o que sentia.

- Ash, olhe pra mim... – ele pôs as mãos no meu rosto e o levantou de forma que nosso olhar se encontrou e voltou a falar - eu nunca amei ninguém como eu te amo, e eu sei que fiz muitas burradas, mas peço que me desculp.

-Edu eu passei por maus bocados quando fui pega pela Profª Tiffany no bloco F com você, e me ferrei quando saímos de madrugada pra ir ao Mc’ Donald’s, mas sempre valeu muito à pena porque eu tinha você como apoio. Mas quando te peguei com a Paola na cama, tudo isso quase fugiu de mim, eu quase esqueci de você! Depois vi a Bianca se insinuando e você nada fazendo em relação a aquilo, então fiquei decidida a desistir de você, parece que a cada dia que passa nós estamos mais perto do fim – eu disse sem mais controlar as lagrimas e soluços.

Ele parecia estar imerso em seus pensamentos, pois não disse nada por muito tempo, se não fosse pelas vezes em que via limpar o rosto com a manga da blusa pensaria que ele havia desmaiado ali mesmo.

-Você tem razão em tudo o que disse, mas quando você me pegou com a Paola na cama você a denunciou, e ela foi expulsa por estar em dos blocos masculinos. - e antes que eu pudesse falar qualquer coisa ele continuou- Isso também não foi legal Ash.

- Você queria que eu fizesse o que? Queria que eu tivesse dito que ela podia continuar transando com meu namorado e que eu iria sair pra deixar vocês a sós?- esperei a resposta dele, mas ao ver que ele não tinha o que responder continuei. - Edu, eu sinto muito ela ter sido expulsa, deve ser horrível pra você perder sua prostituta!- eu disse e sai do quarto.

Não fazia idéia de como sair daquela casa, estava escuro e eu nada enxergava, só pensava em como iria embora, porque eu não tinha dinheiro pra ônibus nenhum. Mas eu iria andando se fosse o necessário para não ter de ir com ele.

- Ash, meu... A gente tem que se resolver, onde você ta?- me assustei com a voz dele, ele parecia estar bem perto. Sai correndo na direção contraria, pisei em falso e sai rolando escada a baixo.

-Ash?- ouvi a voz do Du bem longe e depois chegando cada vez mais perto, pensei que estava delirando, mas logo ele teve um ataque histérico e eu vi quem é que estava com problemas- Ash? Você caiu da escada, você ta bem?

- Tá doendo um pouco, acho melhor você pegar gelo no pra mim.

- Eu vou pegar sim, mas eu tenho que te botar no sofá antes- ele disse me segurando pela cintura e me levando até o sofá.

- Acho que quebrei o braço, ta doendo demais.

- Eu vou te levar pro hospital, mas o que diabos eu vou falar pro diretor?- ele gritou da cozinha. Fiquei quieta sem saber que sugestão dar, quando dei por mim estava caindo no sono, não se por estar cansada ou pela queda, eu simplesmente não tinha mais forças pra responder- Ash? Nossa não dorme não. Acho que não pode, quer dizer, você bateu com a cabeça, não é perigoso?

Não ouvi mais nada depois disso, sabia que ele deve ter ficado desesperado por eu ter dormido assim do nada, sabia que seriamos castigados por termos cabulado aula, mas a dor no meu braço era mais desesperadora que isso.

Estava pronta para abrir os olhos, quando comecei a ouvir uma conversa.