Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 85
Vida 6 capítulo 4




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– Não precisava ter trancado a porta. Eu não ia agarrá-lo enquanto estivesse dormindo.

– Mas descobriu que a porta estava trancada.

– Você estava estranho. Fiquei preocupado. Só queria ter certeza que estava bem.

– Sou um caçador, não esqueça. Continuo vivo até hoje porque tomo minhas precauções mesmo quanto tudo parece seguro. Mas, agradeço sua preocupação. Estou ótimo.

– Então devo continuar chamando-o de Dean.

– Pode me chamar de Jansen se quiser. Vou tentar ser discreto. Então, o que o Jan faz num domingo de sol?

– Dorme até o meio-dia. Vê-lo assim bem humorado às 8:00 é a maior prova de que não é o Jan que está aqui na minha frente.

– Está se preparando para correr?

– Gosto de correr ouvindo música pela manhã. Quer me acompanhar e assim me convencer de vez que o corpo do Jan foi possuído por uma inteligência alienígena?

– Perde o amigo mas não perde a piada, né?

– Não é assim. Não arriscaria nossa amizade por nada, Jan. Você é muito importante pra mim.

– Se o seu objetivo era me deixar constrangido, parabéns. NÃO. CHEGA DE ABRAÇOS. Eu vou me vestir e a gente sai para correr.

– Vou preparar seu breakfast. Você costuma acordar faminto aos domingos.

Dean não era de correr por esporte. A rotina de caçadas era o bastante para mantê-lo em forma. Mas, já notara no espelho que Jansen estava negligenciando da forma física. Pelo que acabara de escutar, Jan não era mesmo chegado a exercícios. Já era ruim o suficiente que seu intérprete tivesse rosto de garota e que morasse com um homem. Associarem a imagem de Dean Winchester a uma barriguinha saliente já seria humilhação demais.

Estava tendo muita dificuldade de acompanhar o ritmo acelerado imposto por Jay. Jan estava ainda mais fora de forma do que imaginara. Seria engraçado deixar as dores musculares do dia seguinte para o atorzinho. Mas suspeitava que seria ele a mesmo senti-las. Estava ficando para trás. Parecia que Jay não ia facilitar as coisas para o namoradinho.

Talvez pudesse fazer alguma coisa para melhorar a imagem pública de Jan Ackles. O que será que os fãs da série pensavam desta proximidade dos protagonistas? Tinha todo o direito de zelar pela sua reputação e pela do irmão. Não ia deixar um atorzinho qualquer arrastar seu nome na lama.

Perdido em seus pensamentos, Dean se assustou até mais que o próprio Jay quando, do nada, este é atacado por um cachorro enfurecido.

Inexplicável o comportamento daquele labrador. Reparara no animal quando ainda estavam distantes. O bicho estava tranqüilo, brincando com duas crianças pequenas. Crianças de talvez cinco e três anos. A criança mais velha estava abraçada ao pescoço do cachorro e a mais nova se divertia puxando o cachorro pelo rabo. O cão suportava aquilo com a maior paciência do mundo. Parecia ser tudo o que se espera de um cachorro. De repente, a explosão. Foi só o bicho por os olhos em Jay para se pôr de pé e começar a latir de forma intimidadora.

Jay diminuíra o passo, se pondo na defensiva. Tinha até mudado de trajeto, seguindo pela calçada do outro lado da rua. Mesmo assim o bicho avançou furioso, com os dentes a mostra, rosnando. Dean se colocou entre Jay e o cão. Tinha experiência com criaturas bem mais perigosas. Não seria um labrador raivoso que o assustaria. E aí, o mais estranho. O cão não se mostrou agressivo com ele. Parou de latir, se aproximou desconfiado de Dean, o cheirou bastante e, finalmente, abanou o rabo amigavelmente. Quando Dean se agachou, o cachorro se aproximou fazendo festa e lambeu seu rosto todo.

O dono do cachorro, que vira a cena, veio na direção de Dean pedindo desculpas pelo comportamento do cão. Dean já estava começando a se afastar, quando uma frase o deixou intrigado.

– Ele só fica assim quando vê o seu amigo. Com qualquer outra pessoa é o cachorro mais amigável do mundo. É muito protetor com as crianças. Desculpe mais uma vez.

Emparelhou novamente com Jay. Continuaram a corrida como se nada tivesse acontecido. Mas Dean não pode deixar de notar que por onde quer que passassem cães começavam a latir.

Esperou voltarem para casa e recuperar o fôlego para abordar o assunto.

– Gosta de cachorros, Jay?

– Adoro. Eles é que não costumam gostar muito de mim. Não imagino o por quê.

– Se eu morasse numa casa como esta ... Melhor dizendo, se eu, Dean Winchester, morasse numa casa como esta, ia querer ter um cachorro ou dois.

– Mais uma diferença entre Dean Winchester e Jan Ackles. Jan não gosta de cães.

Jay foi para a cozinha preparar o almoço, enquanto Dean subiu para tomar uma ducha. Detestava se sentir pegajoso de suor. Não entendeu de onde viera esse último pensamento. Desde quando tinhas essas frescuras? Banho era um luxo nas espeluncas que frequentava. Será que estava começando a incorporar as características psicológicas de Jan Ackles? Estremeceu com a possibilidade de em pouco tempo estar se agarrando com Jay entre aquelas quatro paredes. Gostaria de acreditar que era uma impossibilidade, mas a lembrança de Kyle no vestiário ainda estava vívida na sua memória.

Ao sair de banho, enquanto enxugava os cabelos, ia acompanhando com os olhos os objetos espalhados pelo quarto. CD’s, muitos DVD’s, uns poucos livros, laptop, vários porta-retratos. Se aproximou para olhar mais de perto. Um casal mais velho, com certeza os pais de Jansen. A família reunida, pais e irmãos. Um Jansen bem jovem abraçado à irmã, na época uma menininha. Aparentemente, Jansen era bastante ligado à família. Dean gostou de saber deste lado do homem cujo corpo estava ocupando. Teve medo que Jansen fosse apenas um idiota egocêntrico deslumbrado com fama e dinheiro.

Mas, uma foto mais que todas contava algo importante sobre Jansen. E também sobre Jay. A foto do garoto Jansen, sorrindo, abraçado a seus dois cães.

.

– Pra mim? Um presente?

– Liguei pro Clif e pedi que comprasse no shopping. Espero que goste.

O largo sorriso que Jay fez ao ver a caixa em cima da mesa, bem como a alegria quase infantil que mostrou ao desfazer o grande laço que a envolvia, morreram quando ele abriu a tampa da caixa de papelão. A caixa apresentava furos para respiração, mas estavam bem disfarçados pelo design da logomarca da pet shop e pela fita larga. Jay deu um pulo para trás quando Dean retirou cuidadosamente da caixa um filhotinho de pastor alemão e o estendeu em sua direção, com um sorriso.

Não menos surpreso ficou Dean, quando viu o filhote se debatendo, desesperado, tentando a todo custo se libertar de suas mãos. Sentiu o coraçãozinho do filhote batendo acelerado e descompassado quando o trouxe de encontro a seu peito, tentando acalmá-lo. O filhotinho tremia descontroladamente e, então, ficou completamente imóvel. Preocupado em tentar reanimar o cãozinho, Dean não viu o olhar satisfeito de Jay e o sorriso maldoso que dirigiu para o animalzinho morto.

Sim, o pobre animalzinho estava morto. Morrera de medo.

O olhar de perplexidade de Dean é dirigido, então, para Jay. Dean estava usando sua experiência de caçador para analisar a estranha reação do novo amigo. Vira mesmo o rosto de Jay mudar naquela fração de segundo em percebeu o que havia um cãozinho na caixa?

Os olhos frios do caçador encaram olhos que mostravam uma tristeza quase infinita. Jay parecia arrasado com a morte do cãozinho. Ele nunca escondera que era um cara emotivo. Como, então, duvidar da sinceridade daqueles olhos? Como ficar indiferente a eles? Dean começa a se sentir péssimo por ser o responsável por causar aquela decepção, aquela dor, a um sujeito tão legal quanto o Jay. Sua desconfiança inicial lhe parecia agora tão .. absurda.

– Jan, não fica assim. Você não podia prever uma coisa dessas. Eu estou feliz por você ter tomado a iniciativa de me dar um presente. Não importa o que aconteceu. Valeu a intenção. Ele era uma gracinha.

– Ainda não entendo. Quando o segurei na caixa, dava para sentir que estava tranqüilo, que estava bem. Não consigo imaginar o que aconteceu.

– Eles são muito frágeis nessa idade. Pode ter nascido com algum problema, sabe-se lá.

– Pode ser.

– Jan, promete que não vai trazer nenhum outro. É sempre assim com animais de estimação. A gente se apega e. quando menos se espera, eles se vão.

– Tudo bem, Jay. Como você preferir.

Jay abraça Dean, que, ainda muito abalado, se sente reconfortado de poder descansar a cabeça nos ombros do amigo. Se Dean pudesse ver a expressão de Jay naquele momento, teria certeza absoluta que Jay Padalecki não era o cara legal que fingia ser.


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Notas finais do capítulo

02.04.2011