– Resumindo: somos os protagonistas de uma série de televisão chamada Supernatural, que está indo para a sua quarta temporada e que é gravada em Vancouver, Canadá. É onde estamos agora.

– Correto.

– Eu me chamo Jansen Robert Ackles e você se chama Jerod Trevor Padalecki. Engraçado, você não me parece um polaco.

– Os cabelos escuros vêm da minha mãe, Sharon. Meu pai, Gerald, é um polaco típico.

– Então eu tenho pais vivos, além de um irmão mais velho e uma irmã caçula.

– Isso. Pretende procurá-los?

– Se eles se chamassem John e Mary, talvez procurasse, se arranjasse coragem. Não vejo sentido em construir laços com Roger e Donna. Até agora não passei mais de três dias em cada realidade. O melhor a fazer é me manter afastado da família de Jansen.

– Dito assim, faz todo sentido.

– Jay, não sou de ver TV, portanto, o que vou dizer pode não significar nada. Mas a verdade é que nunca ouvi falar de Jansen Ackles ou de Jerod Padalecki na minha realidade. Talvez nenhum de vocês exista lá. Ou talvez não sejam atores.

– SUA realidade. Uma estranha realidade em que Dean e Sam Winchester existem de verdade. Uma realidade em que demônios e criaturas sobrenaturais são reais.

– Está me dizendo que não existem demônios e criaturas sobrenaturais aqui?

– Existem como lendas. Supernatural faz sucesso exatamente porque as pessoas conhecem as lendas. Não há necessidade de muita explicação.

– Então não é tão diferente assim da minha realidade. Lá as pessoas também vivem suas vidas acreditando que não existem demônios e criaturas sobrenaturais. Lá também são feitos filmes e séries de TV sobre criaturas que a gigantesca maioria acredita que existam apenas em lendas. Portanto, acredite em mim quando digo que as lendas daqui podem ser absolutamente reais.

– Então me diga: já encontrou uma bela sereia?

– Bem que gostaria enfrentar uma bela sereia para variar. Mas o normal é aparecerem wendigos, metamorfos, rougarous e outros bichos feios.

– Você ainda vai encontrar sua sereia. Mas tome cuidado para não ser levado pro fundo do mar.

– Estou vendo que não está acreditando em nada do que eu disse. Mas, não posso culpá-lo. É mesmo difícil de se acreditar.

– Acreditar que até ontem você era o Jansen e que hoje é o VERDADEIRO Dean Winchester?

– Eu sou o verdadeiro Dean Winchester. Pelo menos minha essência, minha alma. Estou sendo transportado de realidade em realidade pelo Trickster. Ao chegar a uma realidade, ocupo o corpo da minha versão daquela realidade.

– O episódio que acabamos de gravar, Mystery Spot, é com o Trickster. Lembra da minha fala? A que digo que ‘ele me fez ver você morrer centenas de vezes’. É um bom resumo do episódio.

– Vivi isso há alguns meses atrás, mas não me lembro de nenhumas das mortes. Sei apenas aquilo que meu irmão Sam me contou. E também que ele fez um acordo com o Trickster de que não iríamos atrás dele. Mas, menos de três meses depois, aconteceu de voltarmos a cruzar o caminho do desgraçado. Falei que não respeitaria o acordo e desafiei-o. Como resultado, agora sou um ator que interpreta Dean Winchester. E, antes disso, eu era um ghoul e Sam queria acabar comigo.

– O que mais?

Quando deixei aquela realidade, a que eu era um ghoul, Sam estava entre a vida e a morte, e não tinha nada que eu pudesse fazer por ele. Não sei como tudo terminou. Acho que nunca vou saber. O destino daquele Sam vai me assombrar pro resto da vida. Assim como o destino de Sam Harvelle.

Dean não sabia o porquê de estar contando os percalços por que passara em outras realidades para um cara que acabara de conhecer. Que por mais que parecesse com o Sam, não era ele. Até certo ponto, isso era bom. Em nenhum momento pensara em Jay como sendo Sam. Não encarava, portanto, o envolvimento entre Jan e Jay como algo incestuoso.

Estranho mesmo foi se dar conta que estava com a cabeça apoiada nas pernas de Jay e que este passava os dedos pelos seus cabelos, fazendo cafuné. Como isso acontecera? O que lembrava era de estar sentado no sofá e de Jay estar sentado na poltrona ao lado, com uma distância segura entre os dois.

Os instintos de Dean novamente dispararam. Alerta vermelho. Aquele sujeito era muito mais perigoso do que imaginara. Começava a entender como Jansen acabara dividindo a cama com Jay. O melhor que tinha a fazer era se mudar rápido para um hotel.

– Jay, estou cansado. Se me dá licença, vou para meu quarto.

– Claro, DEAN. Boa noite.

A primeira coisa que Dean fez ao entrar no quarto foi trancar a porta a chave. Há certas coisas com as quais não se pode arriscar. Foi até a janela. Fechada, afinal estava fazendo frio. Chegou a pensar em trocar a roupa de cama, mas acabou desistindo. Não encontrara nenhuma camisinha no chão. Talvez estivesse fantasiando. Talvez não houvesse nada entre eles afinal. Jay era carinhoso, talvez um pouco além da medida, mas talvez não passasse disso. Estava estranhando porque nunca tivera amigos. Talvez fosse mais normal do que imaginava.

Deitou. Há quanto tempo não deitava numa cama tão confortável? Pensou em Sam, no verdadeiro. Há quanto tempo estava desaparecido, jogado de realidade em realidade? Uma semana? Sam devia estar preocupado. E com razão. Tivera surpresas desagradáveis em todas as realidades por onde passara. Estava até estranhando o Trickster ainda não ter dado as caras nesta realidade. Devia estar aprontando alguma. Tinha até medo do que o esperava nesta vida.

A exaustão acabou prevalecendo e, logo, Dean estava mergulhado num sono profundo e sem sonhos. Profundo o bastante para não perceber a figura debruçada sobre ele, acariciando suavemente seus cabelos e beijando com carinho seu rosto.

– Dean Winchester, você logo vai ser meu. Totalmente meu. De corpo e alma.