Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 82
Vida 6 capítulo 1




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– Sam, deixa o laptop aí quietinho e vamos. Amanhã a gente trata disso. Eu quero ver gente viva. Dois banhos e parece que ainda estou cheirando a túmulo.

Sam olha para um pequeno despertador na mesa de cabeceira entre as duas camas de solteiro do quarto de motel. Exatamente 21:03.

– Dean, não dá pra deixar para amanhã? Tenho até medo de pensar no que o Trickster vai aprontar. Ele vai vir com tudo pra cima de você. A gente precisa ter um plano de ação pronto.

– SAM! Graças a Deus, tudo voltou ao normal. Nós finalmente voltamos para nossa própria realidade. Eu sou eu mesmo. Você é você mesmo. Tudo voltou ao normal.

– CORTA! Jan, o texto não é esse. Você tinha que dizer: ‘- Deixa ele vir com tudo. Vai ter pela frente Dean Winchester.’

Dean se vira e dá de cara com pelo menos uma dezena de pessoas. Só então percebe que o que parecia um quarto de motel era, na verdade, um cenário de gravação .. do quê? Um filme?

A surpresa é tão grande que Dean permanece paralisado, olhando boquiaberto para aquele bando de gente, mesmo quando a toalha se solta da sua cintura e cai a seus pés, deixando-o nu em pelo no meio do set.

Os segundos passam e ele ali, sem ação, com a mente em branco, hipnotizado pelas luzes fortes. Nem mesmo os risos constrangidos e as primeiras piadinhas, que quebraram o silêncio sepulcral que se formara, faziam que Dean fizesse o que se esperava dele. Que pegasse a toalha no chão e se cobrisse. Sua nudez já estava deixando todos ali constrangidos.

Dean, o rosto em fogo, sente uma imensa gratidão por quem quer que tenha tomado a iniciativa de enrolar a toalha caída novamente em torno de sua cintura. Sam, é claro. Quem mais?

– Jan, não é pra ficar aí se exibindo para todo mundo. E, completando baixinho, próximo ao ouvido do homem nu, num tom malicioso: - Antes, você só se mostrava assim para mim.

Dean, sem acreditar no que acabara de escutar, se volta para Sam e percebe que, embora bastante parecido com o irmão quando visto de relance, os traços daquele homem não eram exatamente os mesmos do seu Sam. Principalmente o sorriso. Sam raramente sorria e quando o fazia tinha um sorriso triste, sofrido. Aquele homem tinha um sorriso luminoso. Parecia irradiar felicidade. Começou a se sentir incomodado com a forma como ele o olhava.

A cara que fez quando foi agarrado pelo homem risonho num abraço de tirar o fôlego fez com que todos no set caíssem na gargalhada. O sujeito o agarrara pela cintura e pelo pescoço e o puxara contra si, numa intimidade inimaginável. Nem ao irmão permitia esse grau de intimidade. O sujeito estava brincando com fogo. Começava a considerar seriamente arrancar o sorriso luminoso da cara daquele sujeito abusado com um murro.

Alguém da equipe de filmagem puxara uma salva de palmas, logo acompanhada por todos. Mas não durou muito. Em segundos, já era história antiga. Cada um voltando a se ocupar de sua atividade e todos se preparando para a retomada da gravação. Foi tudo tão súbito que Dean estranha ao se dar conta que não era mais o centro das atenções. Até mesmo o senhor-sorriso-luminoso o libertara do embaraçoso abraço e retornara para a posição que estava antes, como se concentrado na tela do laptop.

– Mais uma vez. É a última cena de hoje. Jan, atenção ao texto. 1. 2. 3. AÇÃO.

– Dean, não dá pra deixar para amanhã? Tenho até medo de pensar no que o Trickster vai aprontar. Ele vai vir com tudo pra cima de você.

– ?!?!

– CORTA! Jan, o que está acontecendo com você. Esqueceu o texto?

Não tinha terminado. Estava em alguma outra realidade maluca. Uma em que Dean Winchester era um personagem de cinema. Ele, aparentemente, era o ator que interpretava a vida de Dean Winchester como se fosse apenas uma história de ficção.

Ignorando os gritos do diretor e os cochichos da equipe de gravação, Dean vai em direção ao espelho do banheiro cenográfico. Como suspeitava, o tal Jan também não era idêntico ao verdadeiro Dean Winchester, embora guardassem semelhanças no conjunto. Jan tinha os traços mais harmoniosos, uma beleza quase feminina. Tinha a pele perfeita, sem nenhuma cicatriz. As mãos sem calos, bem cuidadas. As unhas sem graxa. A tatuagem era de henna. É, aquele homem podia ser qualquer coisa, menos um caçador.

Por mais que estivesse acostumado a escutar elogios, Dean sabia que não era excepcionalmente bonito. Sabia que muito do que as mulheres traduziam por beleza vinha da sua atitude, da autoconfiança que exibia e até das suas cicatrizes. Mas, principalmente, da sua masculinidade e da sua pegada. Ele tinha uma beleza bruta, um rosto de homem. Músculos naturais.

O que estava vendo no espelho era só um rosto bonitinho que nunca imporia respeito na comunidade de caçadores. Nem podia chamar aquilo de músculos de academia. Podia apostar que Jan era preguiçoso neste quesito. Se este seu novo eu agradaria às mulheres ainda precisava descobrir. Mas torcia para que sim.

Tinha um amuleto em torno do pescoço, embora diferente de todos que já tinha visto. Apertou com força e com a esperança de que um dia ele o levasse de volta para casa.

Jerod viu quando o diretor se levantou com cara de poucos amigos e seguiu na direção de Jan. Correu para interceptá-lo no caminho. Também não estava entendendo o que estava acontecendo com Jansen, mas sabia como lidar com ele.

– Calma. Deixa que eu falo com ele, McG. A sós.

– Jan, o que está acontecendo?

– Sam, ou seja lá como você se chame, eu não espero que acredite, mas eu sou o verdadeiro Dean Winchester. Não um ator interpretando Dean Winchester. Dean Winchester. O verdadeiro.

– Jan, eu sei que você não usa drogas. Então, que papo de maluco é esse? Você sabe muito bem que estamos gravando direto desde 10:00 da manhã. Só tivemos uma parada rápida para um lanche. Eu estou faminto. Está todo mundo cansado. Está todo mundo querendo voltar para casa. Hoje é sábado. Amanhã não tem gravação. Vamos fechar essa cena. É a última do dia. São só mais cinco falas minhas e cinco falas suas. Por favor, você consegue Jan.

– Sam, ..

– Jay.

– O quê?

– Jay. Você costuma me chamar de Jay.

– Jay?

– Tá bom. Se quer me chamar de Sam, tudo bem. Mas vamos terminar a cena. Em casa a gente conversa. Ok?

Dean abre a boca para rebater, mas acaba desistindo de argumentar quando Jay o encara com aquele olhar .. não encontrava uma palavra boa o bastante para defini-lo .. suplicante.

– Tudo bem, McG. Ele já está legal. Vamos voltar a gravar.

'- FDP manipulador. Não acredito que conseguiu me calar com um único olhar chantagista.’

– Jan, vamos repassar o texto?

– Não precisa. Só me passa o roteiro para eu dar uma lida.

Dean não consegue acreditar no que estava lendo. Já fazia vários dias, mas, até onde lembrava, os últimos parágrafos do roteiro que tinha em mãos reproduziam palavra a palavra a conversa que tivera com o irmão logo após o encontro em o Trickster personificara Sam. ‘Ele pode até ser um deus. Mas não é o meu Deus.’ Tinha certeza que as palavras que usara eram exatamente estas.

– Tudo bem, Jan?

– Tudo. O Trickster não vai derrubar.

E para si mesmo: ‘- Calma, Dean. Você consegue. Não é tão diferente de interpretar um agente do FBI para um policial. Na verdade, é muito mais fácil. Afinal, você conhece o personagem melhor que ninguém. É só ser você mesmo. E se errar, pode repetir quantas vezes forem necessárias. Na vida real, se não for convincente, se arrisca a cinco anos em prisão federal. Aqui, no máximo, leva um esporro do diretor. E você já disse estas falas antes. E com o ódio que está sentindo do Trickster ...’

– Tudo certo, Jan?

– Estou pronto.

– Vamos lá, então. 3. 2. 1. AÇÃO.

– Dean, não dá pra deixar para amanhã? Tenho até medo de pensar no que o Trickster vai aprontar. Ele vai vir com tudo pra cima de você.

– Deixa ele vir com tudo. Vai ter pela frente Dean Winchester.

– Ele pode ser perigoso. Esqueceu que ele me fez ver você morrer centenas de vezes. Vamos embora, Dean.

– Sam, não podemos ir embora. Ele está matando pessoas.

– Nenhuma inocente.

– Não importa. Não cabe a ele julgar. Ele não é Deus.

– Não sei. Tem poderes de um.

– Ele pode até ser um deus. Mas não é o meu Deus. E nós vamos fazê-lo parar.

– Como?

– Nós vamos descobrir uma maneira.

– CORTA!. Perfeito, Jan. Passou muita emoção na cena. Quem escuta, acredita que você quer mesmo pular no pescoço do Trickster e esganá-lo.

A equipe começava a se dispersar. As luzes começavam a ser apagadas. Para surpresa de Dean, muitos vieram cumprimentá-lo pela interpretação. Não conseguiu evitar um grande sorriso de satisfação. Sentia-se também mais forte depois repetir em voz alta aquele diálogo. Era a reafirmação de uma promessa. Tinha garantido a Sam, o seu Sam, que pararia o Trickster. E, mais do nunca, estava decidido a fazê-lo.

Deu-se conta que ainda estava vestindo apenas uma toalha molhada. Começava a sentir frio. Estava distraído, pensando no que faria a seguir, quando um grosso roupão é pousado sobre seus ombros. Ia se virar para agradecer a gentileza quando é agarrado firme pelo pulso, virado de frente e envolvido num apertado abraço.

– Não brinca assim, Jan. Sabe o quanto gosto e me preocupo com você.

Dean já estava com os punhos fechados, pronto para acertar um murro na boca do estômago do sujeito mais insuportavelmente inconveniente que já conhecera, quando foi desarmado por aquelas palavras. Lembrou da horrível solidão do Dean-ghoul e se sentiu agradecido de ter encontrado alguém que se preocupava genuinamente por ele. E, a princípio sem jeito, mas depois sem falsos pudores, correspondeu ao abraço do novo grande amigo.


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Notas finais do capítulo

24.03.2011
Por conta do regulamento Nyah temos Jansen e Jerod, nomes semelhantes que existem em inglês.
Jensen Ackles e Jared Padalecki SÃO personagens do episódio 6x15 de Supernatural (The French Mistake).