Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 81
vida 5 capítulo final




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Felizmente médicos sabiam separar o que era importante do que podia ser deixado para se pensar depois. Dean Milligan desaparecera no ar. Restara um homem nu baleado no abdômen precisando de socorro. Adam perdera muito sangue, mas os danos que sofrera nos órgãos internos podiam ser revertidos por cirurgia.

A cada minuto perdido, no entanto, suas chances de sobrevivência eram menores.

Quanto a Sam, era um milagre ainda estar vivo. Os danos aos órgãos internos foram severos e ele precisava de um transplante múltiplo. Perdera muito sangue e entrara em choque. Com o agravante de seu sangue não ser compatível com os disponíveis no banco de sangue do hospital. Sam tinha a tipagem O-, relativamente rara na população, e precisava de um doador também O-.

E havia um complicador. Os exames mostravam um anticorpo no sangue de Sam que os médicos não conseguiam identificar. Caso conseguissem, talvez o batizassem de fator sangue de demônio positivo. Os médicos não tinham como saber, mas era o sangue de demônio que estava mantendo Sam vivo contra todos os prognósticos.

O que costumava ser o mais problemático num caso como aquele, os órgãos para o transplante múltiplo, tinha sido resolvido de uma forma que ninguém da equipe médica esperava ou desejava. Muito mais que salvar o paciente, eles gostariam de ter com eles, ali, naquela sala, o Dr. Mark Lawson. Ninguém esperava que fosse essa a forma do Dr. Lawson salvar seu paciente. Mas ele sempre se manifestara a favor da doação de órgãos. Era uma forma de cumprir seu desejo. O Dr. Lawson também era O-, mais um sinal que o destino conspirara para aquele final.

Quando o resultado da tipagem sanguínea de Adam finalmente saiu, gerou alívio e preocupação. Ele era B-, e precisava de sangue O- ou B-. Havia sangue B- no hospital, mas apenas para uma transfusão de emergência. Não o necessário para uma cirurgia complicada. Mas era possível estabilizar sua situação por algumas horas, enquanto aguardavam doadores.

A demora em receber uma transfusão levara os sinais vitais de Sam a níveis inacreditavelmente baixos. Não foi surpresa para os médicos quando o aparelho de monitoramento a que Sam estava ligado começara a apitar freneticamente ou quando a linha que acompanhava o ritmo cardíaco ficou plana.

Eram 23:59, e o coração de Sam parara de bater. Ele estava tecnicamente morto.


Tessa entrou no hospital distrital às 23:58. Ela se perguntou se não teria sido mais fácil ter ficado ali de uma vez. Em menos de três horas, viera dezoito vezes. Dezoito almas. Humanas. Ghouls não eram responsabilidade dela.

Desta vez viera por Samuel Campbell Winchester, um velho conhecido seu. Mas alguma coisa a avisava que não sairia como o programado. Da primeira vez, também não saíra. Afinal, segundo o Livro do Destino, Samuel ainda tinha um papel a cumprir.

Tessa reduziu o passo quando viu o estranho casal olhando diretamente para ela e esboçando um sorriso.

– Parece que eu estava adivinhando.

– Minha doce menina. Contente em me ver?.

– O que a traz a este lado do mundo, Kälï, a negra, senhora da destruição?

– Tessa, você sabe que eu não sou de interferir, afinal também sou do ramo. Ajudei a escrever as regras. Detesto ter que quebrá-las. Mas estou inclinada a atender o pedido de um amigo. Ele sabe como ser IR-RI-TAN-TE-MEN-TE insistente. Sabe como é. Homens. Sempre inseguros. Às vezes, precisam de um agrado nosso.

– É ELE? ELE é esse amigo?

– Tessa, minha querida. Loki, um criado a seu dispor.

– Loki? Loki?? O nome que me vem à mente é outro, mas o epíteto de senhor das mentiras é apropriado.

– Tenho muitos nomes, mas Loki é o meu preferido.

– E, por mero acaso, o pedido diz respeito a Samuel Winchester?

– É só um adiamento. Algumas poucas horas. Não seria justo que ele morresse longe de Dean.

– Dean?

– Um visitante de um lugar distante. É por isso que você não o conhece. E, ouso dizer, que não vai chegar a conhecer. Mas, voltando ao que interessa, Tessa querida. Você não negaria um pedido da divina Kälï, negaria?

Tessa olha para o corpo de Samuel Winchester cercado de médicos e enfermeiros em polvorosa. Sabiam que aplicar uma injeção intracardíaca de adrenalina em quem tinha perdido tanto sangue era um procedimento de altíssimo risco. Mas, afinal, que outro recurso tinham à disposição? O que o paciente tinha a perder?

– Um adiamento. Deixo por sua conta, senhora da destruição. Afinal, temos que garantir que o Apocalipse aconteça. Não é mesmo, Loki?


A volta dos sinais vitais não pareceu ter intervenção sobrenatural. A equipe médica comemorava. Sam estivera morto por pouco mais de um minuto. Eram 00:01.

A equipe de TV encontrara o que precisava para prender a audiência, já alavancada pelos boatos desencontrados que corriam pela cidade. Um drama humano. Dois homens baleados lutando pela sobrevivência. Vítimas inocentes do cruel ataque terrorista que agora dependiam da solidariedade da população. A TV inicia uma campanha de doação de sangue, ressaltando que as vidas das duas vítimas em estado mais grave dependiam de sangue O- ou B-.

A equipe médica estava mobilizada nos procedimentos preparatórios para duas cirurgias, ambas delicadíssimas e de resultado incerto. A sala de cirurgia logo estaria pronta. O problema da falta de sangue começava a ser resolvido. Os primeiros doadores foram funcionários, enfermeiros e parentes de pacientes internados. E chegava gente a todo minuto. O ataque ao hospital sensibilizara toda a região.

Eram 03:54 quando Adam foi levado à sala de cirurgia. O pragmatismo recomendava usar o recurso escasso em quem tinha mais chance de sobreviver. Mas, bem antes disso, Sam recebera a primeira transfusão. No momento, estava com a pressão estabilizada, após receber a terceira transfusão. Mas ainda não havia uma reserva segura de sangue para tentarem uma cirurgia. Era alta madrugada. Novos doadores, só quando amanhecesse.

.

Dean suava frio enquanto esperava a resposta da recepcionista. Depois de intermináveis minutos, ela finalmente obtivera notícias atualizadas do estado dos dois pacientes baleados. Apenas um fora operado até aquele momento. A operação durara quase três horas e fora um sucesso. A equipe médica acreditava que o paciente sobreviveria. Qual dos dois? O hospital não tinha registro da identidade de nenhum dos dois homens. O outro homem ainda estava vivo, mas seu estado era desesperador e suas chances eram mínimas. Ela não tinha outros detalhes.

Dean, visivelmente atordoado, começa a afastar da recepção, sem escutar a recepcionista chamando-o. Estava decidido a subir de qualquer maneira, enfrentar quem fosse preciso. Precisava descobrir qual dos irmãos corria perigo. Precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa. Enlouqueceria se ficasse ali parado, aguardando notícias. A recepcionista, vendo seu estado, vai até ele e pergunta se ele não podia doar sangue. Estavam precisando de sangue O-.

A informação atinge Dean como um soco no estômago. O seu Sammy era O-. Não sabia qual o tipo sanguíneo de Adam. O Adam que conhecera tinha outra mãe e só o conhecera depois de morto. Ele, Dean, era B-. O homem que ele se tornara vivera numa época em que tipos sanguíneos não eram conhecidos. Ele não podia obter a informação das memórias de Iάσων.

– Claro. Sou voluntário. Todo o sangue que precisarem. Vou aonde?

.

Dean sente um segundo soco no estômago quando olha para o enfermeiro que se aproxima para coletar seu sangue. O Trickster em pessoa, com o habitual sorrisinho cínico.

– Envelheceu com classe, Dean. O que faz aqui? Esqueceu não pode ser um doador? A aparência humana não muda o fato de você ser um ghoul. Sam precisa de sangue HUMANO.

– Eu PODIA ter me tornado humano. Eu TERIA me tornado humano se não fosse a sua interferência. Eu tinha o maldito Livro nas mãos. Eu me tornara capaz de ler corretamente o encanto após devorar aquele coração. Já tinha testado e o encanto dera certo. O ghoul que matou Mark Levine é agora 100% humano. Você me tirou de lá. Levei horas para voltar e, quando eu cheguei, o lugar estava vazio. Não fosse isso, agora eu seria humano. Eu poderia fazer alguma coisa pelo Sam.

– Se a bruxa soubesse da oportunidade única que teve nas mãos. Matar os dois únicos descendentes vivos de Iάσων. Sim, o tessálio é um ascendente direto de Sam e de Adam. Daí a sua atual semelhança com Adam. Como Sam e Adam, Iάσων é um receptáculo. Sua alma teria ficado presa no corpo de Iάσων. Você ficaria preso para sempre nesta realidade.

– Se isso salvasse a vida de Sam, teria valido a pena.

– E todos os grandes planos que tenho para você? As novas e empolgantes vidas que o esperam? E o muito que tem a aprender nestas vidas?

– Isso não vai ter fim nunca? Pretende me torturar para sempre? E o que é um receptáculo?

– Paciência. Uma vida por vez. Você vai descobrir o que é ser um receptáculo muito em breve.

– Me fez passar por isso tudo só para que eu testemunhasse impotente a morte de Sam?

– Você não vai testemunhar a morte dele.

Eram 09:02, horário oficial de La Grande. Neste momento, o marcador digital do pequeno despertador na mesa de cabeceira do quarto do Blue Mountains Motel começa a acelerar, só se detendo quando marca 21:02.

– Por favor. Faço qualquer coisa para ter o Sam vivo.

– É tarde demais para isso, Dean. E também pode dar adeus ao amuleto em seu bolso.

Ao escutar aquilo, Dean enfia a mão no bolso, buscando desesperadamente o objeto que fora condicionado a acreditar ser sua única chance de ter de volta sua vida normal. Seus dedos queimam ao fazerem contato com a prata.

– Você é mesmo muito tolo, Dean. Adeus! Nos veremos em sua próxima vida.

09:03.

– Alô, Iάσων. Sei que entendeu tudo o que eu disse para o Dean. Teve acesso a seus sentimentos e memórias. É sua chance de começar sua nova vida fazendo algo certo. Não desperdice essa segunda chance. Tome esse papel. Leia em voz alta. Eu menti. Ainda não é tarde demais para o Sam.


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Notas finais do capítulo

15.03.2011