Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 75
vida 5 capítulo 24




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HOSPITAL DISTRITAL DE LA GRANDE, OREGON

 .

Os ghouls mantinham a estratégia de agir como um grupo. Pareciam não ter pressa. A ordem que receberam fora de não deixar ninguém sair vivo daquele hospital. Para garantir isso, precisavam continuar agindo de forma sistemática, como fizeram no segundo andar. Quarto a quarto, até matarem todos. Quando acabassem com o grupo que os estava enfrentando a bala, seguiriam para o terraço. Ninguém ia escapar.

Estavam reduzidos a oito, o que não era pouco, e ainda dispunham de 10 balas. Não que realmente precisassem de armas. Principalmente agora que os defensores do hospital perderam seu braço armado. John Robinson estava morto e Sam Winchester estava às portas da morte. Os sentidos aguçados dos ghouls eram mais precisos que equipamentos médicos. O homem que matara tantos ghouls não ia sobreviver.

A princípio, podia parecer que Sam Winchester tivera sorte de ser baleado num hospital. Em nenhum outro lugar encontraria assistência médica mais rápido. Mas o tiro que recebera no abdômen fizera um estrago grande em órgãos importantes e havia hemorragia interna e externa. O Dr. Lawson iniciara os procedimentos de emergência, mas Sam precisava ser operado. A sala de cirurgias ficava no segundo piso. A UTI não tinha os recursos para uma cirurgia com chances de sucesso. E ele sozinho não conseguiria.

O insuportável cheiro do desinfetante doméstico, indevidamente vendido como floral, se espalhara também pelo terceiro andar e incomodava defensores e atacantes do hospital. Não fora suficientemente forte para barrar a passagem dos ghouls, mas os desestimulava a voltar à forma de ghoul, que os tornava mais vulneráveis a odores fortes. Mas mantinham a superioridade física. Mesmo na forma humana eram mais fortes e mais ágeis que qualquer humano. Tinham superioridade numérica em relação aos defensores e superioridade no poder de fogo, embora este quesito estivesse para ser revertido com a chegada iminente do policial e do delegado.

O policial Levine deixara seu Chevy Silverado 2006 na delegacia e seguira com o delegado Hayden para o Hospital Distrital numa viatura da polícia. Ao parar em frente ao portão principal do hospital, viram as marcas da guerra que estava sendo travada lá dentro. A prova mais evidente eram os corpos de três ghouls mortos. Logo veriam outros. Muitos outros.

Ao entrar no saguão do hospital, pisando nos cacos de vidro temperado da parede espatifada, Hal Levine se sente transportado para uma outra batalha épica. Uma que acontecera há incontáveis eras, quando o mundo ainda era jovem e ele ainda era um deus. Usando seus dons, fustigava os odiados jötnars com vento e neve. Os gigantes revidavam lançando grandes pedras.

Ele não estava sozinho na batalha, mas se sentia como se estivesse só no Universo. Era como se sentira na ocasião da batalha original e era como se sentia agora. Era como se sentia desde que perdera o irmão. Sozinho num Universo hostil. Talvez ferindo os jötnars pudesse transferir parte da dor que não estava mais conseguindo suportar, talvez morrendo em batalha reencontrasse o irmão e a paz.

Os vidros das janelas laterais e da fachada quebrados deixavam circular de forma selvagem o vento frio da noite do Oregon pelo andar térreo, tornando vívida a ilusão. As paredes brancas do hospital e a luz fria das lâmpadas fluorescentes refletida nos cacos de vidro evocavam o estreito fundo de um despenhadeiro coberto de neve. Hal Levine se detém em frente à escada para o segundo piso. Acompanha com o olhar os degraus, vendo uma imensa montanha branca. E vê surgir no topo da montanha uma densa coluna de cinzas e fogo escorrendo da encosta. E entende qual era o seu verdadeiro destino.

Uma mão forte o segura pelo braço e o traz para a realidade. O delegado Hayden lhe lembra que precisavam ter cautela. Quando desciam do carro, escutaram quatro tiros. O número de ghouls mortos dentro e na saída do ambulatório era assustador. Quanto mais avançavam, mais ghouls mortos encontravam. John Robinson e Samuel Winchester haviam enfrentando um exército. O delegado tinha plena consciência do quadro depressivo que o policial Levine enfrentava e temia que se descontrolasse e partisse para um ataque suicida.

Um vidro de clorofórmio ajuda a reverter o jogo. Owen arremessa, com a categoria que fazia dele o principal arremessador do time de football da EOU, o vidro, com quase dois litros do produto, contra o teto, num ponto imediatamente acima do grupo de ghouls. O produto encharca dois dos ghouls que tinham a aparência de vigilantes mortos e respinga em outros três, um deles com a aparência de mulher. O efeito narcótico derruba imediatamente os três mais atingidos e faz cambalear os outros. Mesmos os que não foram diretamente molhados são envolvidos pelos vapores que escapam das poças do produto altamente volátil.

Um dos atingidos pelo clorofórmio rosna e avança em direção a Owen, mas cai estatelado no chão antes de alcançá-lo.

O outro recua e rola escada abaixo. Molhado pelo desinfetante acumulado na base da escada e entorpecido pelo clorofórmio, começa a arrancar as roupas impregnadas de produto irritante e, em desespero, tenta sair para respirar ar puro. Seria derrubado por um tiro do delegado Hayden antes de chegar no primeiro piso.

Os três ghouls ainda de pé estavam com os sentidos e a coordenação motora alterados pela ação do clorofórmio, mas isso não os tornava menos perigosos. O que estava armado, mira o Dr. Lawson, que tinha a atenção dividida entre os procedimentos para salvar Sam Winchester e a ameaça real de ter um tempo de vida ainda menor que o do seu paciente. O tiro passa a poucos centímetros da orelha direita do médico. O médico se afasta de Sam e recua à medida que o ghoul avança passo a passo em sua direção com a arma apontada para sua cabeça.

Os outros dois, ambos na forma de mulheres de meia idade, se voltam para Owen arreganhando sugestivamente os dentes.

Sam começa a ter espasmos que fazem todo seu corpo estremecer. Estava entrando em choque.

BANGALORE, ÍNDIA

– Eu já disse que não é nada ético revelar quando uma pessoa vai ou não morrer.

– Qual a graça de saber algo que ninguém mais sabe e não poder partilhar?

– Não é para ser engraçado. Morrer NÃO É engraçado. Menos ainda se souberem o que vão encontrar do outro lado.

– Qual é? Ninguém precisa ter medo do que vai encontrar do outro lado.

– O que você sabe do outro lado? Até onde eu sei, as portas do Valhalla NUNCA vão se abrir para você. É preciso morrer com HONRA no campo de batalha e você, Loki, é covarde e traiçoeiro.

– É bom saber que me conhece bem. Além disso, o Valhalla é para humanos e eu não me misturo com essa gentinha. Mas voltando à vaca fria .. quer dizer .. sei que vocês indianos têm uma sensibilidade toda especial em relação à mãe vaca .. e quanto ao fria, quis dizer morta e não frígida .. bem, me entendeu, não? Tá bom, tá bom, desculpe. Voltando ao começinho. Você PODE, não é mesmo?

– Posso. Mas NÃO VOU.

– Por mim.

– NÃO.

– Por favor.

– NÃO. Quem tiver que morrer, VAI MORRER. Eu não vou jeitinho nenhum.

– Droga! Porque toda deusa da morte tem que ser tão teimosa?


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Notas finais do capítulo

13.02.11