Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 7
vida 1: capítulo 3




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Sam ficou contente e triste quando entendeu o que acontecera. Viu quando Ashley abordou Dean e quando ela saiu, logo em seguida. Mais alguns minutos e é a vez de Dean sair, pedindo que lhe desse três horas antes de voltar para o motel. Somando 1 e 1.

O contente era por conta da esperança que tudo corresse bem e Dean estivesse feliz no dia seguinte.

O triste era por conta da quase certeza de que não seria assim.

Sabia que Dean podia ganhar a garota que quisesse. Ele sabia usar seu poder de sedução. O difícil era manter a garota. Às vezes, a garota até gostava do joguinho da troca de roupas no primeiro encontro, mas já achava menos engraçado na segunda vez. E aí, dificilmente pintava um terceiro encontro. Dean disfarçava a frustração com um sorriso cínico de quem não se importa, mas Sam sabia o quanto isso lhe doía.

Se acontecesse de Dean estar interessado numa garota e levar um fora ou um gelo, era certo que ele fosse pro bar mais barra pesada da cidade de mini-saia rosa. Era uma maneira de gritar pro mundo: MESMO VESTIDO DE MULHER, SOU MUITO MAIS MACHO QUE TODOS VOCÊS JUNTOS. QUEM VAI ME ENCARAR? Mas sempre havia alguém que pagava para ver. E, quando Dean estava esgotado da briga com os valentões, os covardes atacavam como hienas. Quantas vezes saiu ferido destas brigas. Os homens podiam ser mais perigosos que os monstros.

E o que ele, Sam, podia fazer para proteger o irmão de seu próprio comportamento autodestrutivo? Buscar mudá-lo ou aceitá-lo assim e junto aceitar a possibilidade de perdê-lo? Dean era a única família que lhe restara.

Poucas horas antes, Sam havia repetido para Dean que o aceitava como ele era e que respeitava suas opções. Sam se esforçava para que aquelas afirmações refletissem seus verdadeiros sentimentos. Mas a verdade é que tinha vergonha do irmão quando ele se mostrava como realmente era. Quando tirava a máscara e as roupas de caçador. Quando se mostrava na intimidade com as roupas que realmente gostava de usar. Ficava constrangido quando ele usava aquelas roupas, odiava quando estava com aqueles que escolhera como amigos.

Por mais que tentasse, Sam não entendia a compulsão que Dean tinha de vestir roupas femininas. Dean não era homossexual. Era assim tão difícil reprimir aquele desejo? Perdera o convívio com o irmão por causa daquela mania.

Sam se importava - muito mais que admitia - com o que os outros pensavam do comportamento do irmão. Não conseguia afastar a sensação de que todos, em todos os lugares, sabiam o segredo dos Winchester. Que os seguiam com olhares e risinhos. Os olhares e os risinhos podiam ser condescendentes ou maldosos. Mas estavam sempre lá. Sempre que Dean virava as costas. Sam gostaria de defender o irmão, dizer que nada daquilo era verdade. Mas era. Se não fosse com seu irmão, talvez ele mesmo acompanhasse o coro de risos.

Sam lembrou da primeira vez. Da vez em que Dean foi pego pelos colegas de ginásio com as unhas dos pés pintadas de vermelho. Foi no vestiário, quando todos trocavam de roupa para um jogo de football. O escândalo. As piadas. Os risos. Também ele, Sam, sofrera na pele as conseqüências. Odiou Dean por aquilo. A sorte é que nunca permaneciam muito tempo numa mesma cidade. Daquela vez, a estadia foi abreviada por conta do episódio. Sam ficou impressionado com o autocontrole do pai. Mas estava patente em seus olhos toda a decepção com o filho. Dean jurou que aquela fora a última vez. Jurou que ia mudar, que ia agir como qualquer garoto normal. Mas não foi a última. Foi só a primeira vez.

O amor que Sam tinha pelo irmão mais velho, seu herói de infância, ia sendo erodido a cada constrangimento que passava. Evitava contato físico com o irmão. Dean dava um sorriso triste e fingia que estava tudo bem. Mas ficava arrasado. Sam se culpava e depois culpava o irmão. Foi com alívio que recebeu a sugestão do pai de tentar a faculdade. O desejo de ir para onde ninguém conhecesse o irmão, e não o julgasse por tabela, fez que se esforçasse ao máximo. Conseguira.

Mas nada dura para sempre. Quando o irmão foi buscá-lo em Stanford, a primeira coisa que pensou foi que o pesadelo ia recomeçar. Mas achou que devia ao menos tentar. E ali estava ele: tentando reconstruir a relação com o irmão. Mas Dean não facilitava. Sam começava a achar que ele não ia mudar nunca.

Enquanto caminhava pela estrada voltando para o motel, Sam pensou no estranho comportamento de Dean antes de irem para o bar. Sam queria muito acreditar que tudo aquilo fosse mesmo uma brincadeira de mau gosto do Trickster.

Queria acreditar que, em algum outro lugar, existisse mesmo um Dean sexualmente realizado, com um irmão que não tivesse vergonha dele.


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Notas finais do capítulo

O autor não se responsabiliza por opiniões e preconceitos de seus personagens.