Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 41
vida 4 capítulo 12




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/81878/chapter/41

Quando o Impala entrou no estacionamento do Blue Mountains Motel, Dean sentiu uma horrível dor no peito. O quarto do segundo piso onde deixara Benjamim havia desabado. O motel como um todo tinha vindo abaixo. Lembrou do deus da luz dizendo que seu filho não estava a salvo. Que corria risco de vida. Saiu no carro, tentando ignorar a dor. Mas respirar estava difícil. A primeira das diversas lágrimas que se seguiriam escorreu pela sua face.

A chegada da pick-up de Kyle restituiu um pouco de esperança a Dean. Eram mais dois para ajudar no resgate. Owen e Kyle. KYLE. Justo ele. Vê-lo fazia Dean lembrar do que acontecera na outra realidade. Não fora um simples beijo. Puxara o corpo do rapaz contra o seu. Sentira o relevo do corpo de encontro ao seu. Sentira o calor do corpo. Seu cheiro. Pelo menos, ELE não lembrava. Mesmo assim se sentia extremamente constrangido com Kyle por perto. Como podia viver sabendo que tivera tal intimidade com um homem? Se viesse a ter o poder do deus da luz, a primeira coisa que faria seria INCINERAR o maldito Trickster.

O pequeno grupo se aproximou cautelosamente dos destroços do prédio. Esperavam escutar algo que lhes assegurasse que alguém escapara com vida do desabamento do prédio. Nada. Um silêncio mortal. O coração de Dean batia descompassado. A dor no peito persistia. Sentiu medo. NÃO PODIA MORRER. Não agora. Não até salvar o filho.

Quando deixara o Blue Mountains Motel na noite anterior, o filho estava chorando. E ele fora o responsável pelo filho chorar. Fora insensível. Menosprezara o garoto. Não o aceitava como ele era. Queria que fosse uma pessoa diferente. E agora a maior de todas as ironias: a salvação do mundo dependia que ELE - e somente ELE, DEAN - decretasse que ESSE filho, que ele nunca se esforçara em conhecer de verdade, deixasse de existir. Mas ele receberia um outro para pôr no lugar. Outro, que, quem sabe, seria exatamente como ele sempre desejou. Sentiu o coração se apertar de tanto remorso.

A única iluminação vinha da aurora boreal. As sombras dominavam o ambiente. Dean gritou o nome do filho. Nenhuma resposta. Gritou mais alto. Kyle e Owen fizeram coro. Silêncio. Mesmo sem retorno, começaram a retirar os destroços de onde deveria estar o quarto.

Dean agia no automático, forçando o corpo ao máximo, ignorando a dor no peito. Se surpreendeu quando viu que muitas outras pessoas estavam ajudando no resgate. Mark pedira auxílio nas redondezas e conseguira sensibilizar muitas pessoas a virem ajudar. Era difícil negar o que quer que fosse ao deus da luz.

Duas outras pessoas já haviam sido resgatadas, quando Benjamim foi localizado. O garoto sangrava na testa e estava inconsciente, mas o corpo não estava soterrado. Duas vigas que tombaram em cruz sustentavam a maior parte do peso dos destroços. O principal problema era a hipotermia. Benjamim ficara horas exposto às baixas temperaturas da noite do Oregon vestindo apenas as roupas de dormir.

Dean queria retirá-lo pessoalmente dos escombros, mas gordo como estava não tinha como alcançá-lo. Além disso, ele estava esgotado. Ele suava muito e seu coração batia acelerado. Foi Owen quem se arriscou sob as vigas e arrastou o garoto inconsciente para fora da estrutura destruída.

Esquecido, em meio aos escombros, o despertador digital do quarto 212, mesmo desconectado da rede de energia, marcava a hora exata: 04:22.

Dean abraça chorando o corpo desacordado do filho. Estava gelado e mal se sentia sua respiração. Mark se aproxima tomando cuidado para que não percebam que ele não era realmente sólido e simula pôr a mão na testa de Benjamim. A energia do deus solar realiza, mais uma vez, seu milagre e reverte a hipotermia de Ben.

O garoto não demora a recobrar a consciência, para alívio de Dean e de todo o pessoal que ajudara no resgate.   

- Me desculpa, filho. Eu fui um idiota. Quero que saiba que teu pai te ama. Exatamente como você é. Não te trocaria por nenhum outro.

Dean abraça com força o filho. Benjamim chora de felicidade abraçado ao pai. Esperara sua vida inteira para escutar aquelas palavras. Sente, então, o corpo do pai estremecer, e, em seguida, relaxar o abraço. Ben, sob forte emoção, não percebe imediatamente o que está acontecendo com o pai. Quando afrouxa o abraço, Dean desaba pesadamente no chão.

O esforço físico a que se impusera na última hora e a sobrecarga emocional de ter nas mãos o destino do filho foram excessivos para o homem de meia idade com a saúde já abalada. O coração de Dean não resistiu.

DEAN WINCHESTER ESTAVA MORTO.

Longe daqui, na costa da Islândia, o pequeno jato desacelera a medida que perde altitude. O jato em velocidade subsônica sobrevoa o mar a cerca de 10 m acima da superfície do mar. Até ali tudo transcorria conforme o piloto planejara. Ia iniciar os procedimentos de pouso no mar.

Então, acontece. O vulcanismo levanta o fundo do oceano, fazendo nascer uma nova ilha. O piloto vê, surpreso, uma grande rocha se erguer do mar na frente do jato.

O jato se choca com a rocha numa grande explosão. Eram 11:29, hora local. 4:29, hora de La Grande.

LISA, LOGAN E O PILOTO MORREM.

O ARCANJO PERDE SEU RECEPTÁCULO. E NÃO EXISTEM OUTROS A DISPOSIÇÃO.

O deus da escuridão se sente vingado. O arcanjo é agora energia não vinculada à matéria. Não vai conseguir se manter neste estado. Não nesta realidade. Em meio à dor, o deus da escuridão experimenta um momento de triunfo. Vulcões entram em erupção em quatro continentes. E um grande terremoto devasta Los Angeles.

A CONTAGEM REGRESSIVA PARA O FIM DA VIDA NA TERRA SE ACELERA.

O deus da luz sentiu as mortes quase simultâneas de Dean e de Logan.

A vida de Logan sempre fora exemplar. Ele morrera a serviço de um anjo do Senhor. Nunca houve dúvidas quanto ao seu destino final.

O destino de Dean não estava assim tão definido. Dean não morrera em combate e sua vida nesta realidade não o habilitava ao Valhala. Mesmo que o Valhala existisse nesta realidade, seus portões não se abririam para ele. Ele fora uma pessoa comum. Sua vida teve erros e acertos. Como os de todo mundo. Pesava contra ele a forma como sempre tratara o filho. Foram seus atos, em suas últimas horas de vida, que contaram no seu julgamento final. Dean se esforçara ao máximo para salvar a vida de estranhos desinteressadamente e aceitara o filho de todo coração em seu momento final. O Paraiso se abriu para receber sua alma.

A ALMA DE DEAN NÃO ESTAVA MAIS AO ALCANCE DO DEUS DA LUZ.

E COM ISSO, MORRIA A CHANCE DO MUNDO SER SALVO.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!