Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 22
vida 3 capítulo 5




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Quando deixou o motel Blue Mountains na noite anterior, Sam seguiu na direção a La Grande, caminhando pela margem da rodovia. Caminhar sozinho, à noite, o acalmava e lhe dava a chance de ordenar seus pensamentos que estavam confusos com a estranha amnésia de Dean.

- Droga. Estraguei tudo de novo.

Sentia um estranho prazer em atormentar Dean. Em tirá-lo de sua zona de conforto. Em descontar em Dean tudo o que sofrera. Sabia, no entanto, do risco que isso envolvia. Vivia testando seus limites e, um dia, podia empurrá-lo para uma situação que rompesse de vez o fino fio que ainda os unia. Talvez, inconscientemente, fosse essa mesmo a sua intenção. Tirar definitivamente Dean de sua vida. Para o bem dele mesmo.

A forma mais fácil era provocá-lo a respeito de sua sexualidade. Sabia desde sempre que Dean era gay. Antes mesmo de Dean ter se dado conta disso. Mas, mesmo insinuando o contrário, tinha certeza que o amor que Dean tinha por ele não tinha natureza sexual. Dean realmente o via como um irmão ou mesmo como um filho. Tinham sido muito ligados no passado. Verdadeiros irmãos. Quando eram uma família. Quando Mary era viva.

Aconteceu no dia de seu aniversário de 14 anos. Acordara indisposto e febril. Mary ficara preocupada já que nunca adoecera antes e decidiu não ir trabalhar aquele dia para cuidar dele. John seguiu para a oficina e Dean foi para a escola. Ainda parecia um dia como qualquer outro.

À medida que as horas passavam, a sensação de mal estar só aumentava. A febre também aumentava e logo já estava com mais de 40 graus. Mary, preocupada, ligara para John pedindo que trouxesse o carro para que juntos o levassem a um hospital. Foi quando começou a dor. Sentiu uma dor muito forte no peito, como se estivesse sendo rasgado por dentro. Gritou de dor. Um grito pavoroso, que atraiu Mary, que estava na cozinha preparando um chá, e também John, que acabara de estacionar na frente da casa.

Foi quando aconteceu pela primeira vez a transformação. Seus olhos ficaram completamente negros. Ao se ver no espelho do quarto com os olhos escurecidos, se apavorou e correu ao encontro de Mary. Mary, que estava quase no topo da escada, se assustou com sua aparência e deu um passo atrás. Mary se desequilibrou. Ao ver que ela ia cair escada abaixo, Sam estendeu os braços para tentar segurá-la. John, vendo a cena da porta de entrada, pensou tê-lo visto empurrando Mary do alto da escada. Ela caiu e quebrou o pescoço. Uma nova pontada fez com que desse um segundo grito de dor. John o chamou de aberração e não deixou que se explicasse. Avançou como um louco contra ele. Se tivesse conseguido pegá-lo, o teria matado.

Fugiu. Queria se afastar o mais rápido possível daquela casa, mas a dor o obrigava a parar a cada instante. Algumas pessoas se aproximavam para socorrer o garoto que se contorcia de dor, mas, ao verem seus olhos escuros, fugiam gritando e atraindo a atenção de cada vez mais gente para ele.

Começaram a persegui-lo. Tivera muita sorte de encontrar um velho galpão abandonado para se esconder. Viu como medo das pessoas podia rapidamente se transformar em violência.

Dean o encontraria no dia seguinte. Nunca o vira tão triste e abatido. Dean olhou sem medo para seus olhos escurecidos. Não perguntou nada. Deixou um saco com mantimentos e algum dinheiro e foi embora. Sem dizer uma palavra.

A reação de Dean fez Sam perder a esperança de poder explicar o que realmente acontecera e de ser novamente acolhido pela sua família adotiva.

E essa possibilidade morreria de vez no dia seguinte, com a visita de Robert Singer a John Winchester.

Robert era um caçador veterano que acompanhara desde o início a história de Will Harvelle. Convenceu John que o garoto assustado que criara era um demônio perigoso, que precisava ser exterminado. Robert Singer alimentou o ódio de John Winchester e o treinou para ser o implacável caçador de uma única presa: o garoto-demônio Samuel Harvelle. Depois, manipulou a obsessão apocalíptica de Gordon Walker e também o atiçou contra Sam. Os três transformaram a vida do garoto num inferno por anos seguidos.

Ninguém podia culpar Sam por odiar tanto aquele homem.

 

Sam e Dean só voltariam a se ver anos depois. Quando Dean, que também se tornara caçador, foi a Stanford atrás de Jessica.

E, se Sam causara a morte de Mary, Dean lhe tirara Jessica.

 

Viu quando o Impala passou, levando Dean para o bar Hot Machine. Deu meia volta, em direção ao Blue Mountains Motel. Quando Dean voltou, já o encontrou dormindo.

 

Acordou cedo. Dean estava profundamente adormecido. Envolvia com a mão o amuleto de prata, como se confiasse que ele lhe garantia proteção. Sam sorriu. Como Dean era ingênuo. Como se esse ou qualquer outro amuleto pudesse protegê-lo se realmente desejasse matá-lo durante o sono.

Dean chorou a morte da mãe, mas sempre se recusou a acreditar que Sam a tenha matado intencionalmente. Era a única pessoa com quem ainda podia contar. O único que sempre estivera a seu lado. E o amava por isso. Nunca teria coragem de feri-lo.

Vivia repetindo que um dia mataria Dean, mas a verdade é que, se fosse necessário, morreria por ele.

 

 

- Era inevitável que acontecesse, Sam.

- Quem está aí?

- Eu, Sam.

- Trickster. Então o que o Dean estava dizendo sobre você estar novamente brincando com nossas vidas era verdade.

- É. Tudo que ele disse é verdade. É como se VOCÊ estivesse aqui desde sempre e ELE acabasse de chegar. Mas isso não é um sonho. Essa é realmente a única realidade para vocês dois agora. A única que você conhece. A que Dean conhece é bem diferente, e ele ainda tem a ilusão de que pode mudar essa realidade. Vai descobrir que não pode.

- O que você quer?

- Eu vim avisá-lo, Sam. Dean ligou para o pai. Ele já sabe que você matou a mãe dele. John está a caminho. Está vindo matar você.

- Dean não contaria para John onde estamos.

- Não se engane, Sam. O sangue fala mais alto. O Dean de ontem não é o mesmo Dean da sua infância e nem mesmo o Dean de uma semana atrás. Para ele, você é um estranho com as feições do verdadeiro irmão que está em algum outro lugar. É apenas o demônio que matou a mãe dele. E, agindo como agiu ontem, você finalmente convenceu o Dean que é realmente a ameaça que o pai dele disse que você era. Está sozinho, Sam. Está perdido. Não pode contar com Dean para nada. Principalmente agora, que Dean está apaixonado por outro.

- Apaixonado?

- Pelo belo capitão do time principal de football da Eastern Oregon University. Era inevitável que mais dia, menos dia, ele se cansasse de você. Hoje, você é apenas um estorvo para ele. Logo, ele vai vê-lo somente como CAÇA.

O Trickster desaparece, deixando Sam mergulhado em pensamentos sombrios.

Então Dean estava apaixonado. A hora finalmente chegara. Dean ia descobrir o que ele sentiu quando viu Jessica ser morta na sua frente. Era bom que John estivesse a caminho. Resolveria de vez a questão com ele. Seu pai. Esse seu namoradinho. Quem mais se colocasse no seu caminho.

Era sua vez de ensinar a Dean tudo sobre amor e perda.


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