Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 20
vida 3 capítulo 3




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Kyle Hayden saíra do banho e estava se vestindo. Tinha combinado se encontrar com Owen e Mark para baterem papo e tomarem umas cervejas. O programa de sempre nos dias de treino. Mas antes tinha que passar para pegar a Ashley, que insistira em ir junto.

Já não agüentava mais ter que manter o namoro com a Ashley. Até o som da voz dela o deixava irritado. E pra quê tudo isso?

Tá, ele sabia muito bem o porquê. La Grande era uma cidade pequena. Ele era o capitão do time principal de football da Eastern Oregon University. Era assediado por todas as garotas do campus. E não só pelas do campus. TINHA que ter uma namorada. Além disso, era mais fácil driblar uma do que fugir de centenas. Centenas talvez fosse exagero. Mas não seriam poucas. E algumas não seriam tão burras quanto a Ashley.

Por outro lado, também não dava para continuar como estava. Não podia ficar inventando uma desculpa esfarrapada atrás da outra, desmarcando encontros em cima da hora, enchendo a cara para poder encarar uma noite de sexo com própria namorada. Tinha que ter uma saída.

Para piorar a situação, era um local. Nascera em La Grande. Seu pai era o delegado de polícia da cidade. Conhecido e respeitado por todos. Não podia envergonhar o pai e o avô. Não podia confessar que era gay.

Não, precisava se formar logo e ir para bem longe de La Grande. Para outro estado. São Francisco, Nova York, até mesmo Miami. Precisava ser ele mesmo. E só podia ser ele mesmo longe dali.

O pior de tudo é que era apaixonado por Owen. Fazia de tudo para não dar bandeira, mas até a Ashley, tapada como era, já percebera. Era cada vez mais difícil se controlar o tempo todo. Jogavam football juntos, trocavam de roupa no mesmo vestiário, dormiam no mesmo quarto quando o jogo era em outra cidade. Só não tomavam banho juntos porque fazia todo tipo de malabarismo para que isso não acontecesse. Sabia que o que sentia ficaria visível para todos.

Transar com a Ashley não estava sendo o suficiente: não era relaxante e, principalmente, não era satisfatório. Extravasava a agressividade no jogo. Vai ver que era por isso que era o melhor jogador do time. Tensão sexual reprimida.

Não tinha coragem de se declarar para Owen. Não ia agüentar ser rejeitado por ele. Tê-lo por perto, mesmo que só como amigo, era o que era possível. Teria que bastar.

Quem mais, então?

Não podia ser alguém da cidade. Todos conheciam sua família.

Não podia ser alguém do campus. Era um ícone. Seria exibido como um troféu por qualquer dos estudantes assumidamente gays. Todos ficariam sabendo.

Não podia se insinuar para alguém que não fosse ou não assumisse ser gay. Um erro de avaliação e podia virar um escândalo. Não suportaria ser alvo de comentários maldosos. Sabia como os colegas de time se referiam aos gays.

Tinha que ser um estranho, alguém que estivesse apenas de passagem pela cidade.

Sabia que seria pedir demais, mas gostaria que esse alguém tivesse olhos verdes .. como Owen.

 

Dean sentiu os olhares sobre si quando entrou no barzinho. Claro, era sempre assim em cidades pequenas. Era rapidamente identificado como um forasteiro. Muitos homens, a maioria parecendo ser universitário. Dois ou três grupinhos com a jaqueta com o EOU, da Eastern Oregon University.

Já o barzinho não parecia ter nada de especial. Era igual a milhares de outros que freqüentara. Barulhento e esfumaçado. Mas sabia que era mais que isso.

Déjà vu.

Parou alguns segundos para olhar a parede com os alvos de jogo de dardos. Veio a sua mente a imagem de um homem moreno alto. Sua barba por fazer. Seus olhos negros, o encarando. Olhos apaixonados. NÃO. NÃO PODIA ESTAR ACONTECENDO. Ficara excitado só de pensar no homem. Maldito Trickster. O que Sam dissera, de, nesta realidade, ele ser gay e esconder de todos, começava a se tornar a sua nova realidade.

Calma, Dean. Não viera ao bar para buscar companhia para a noite. Menos ainda, companhia masculina. Viera para pensar nos próximos passos que daria. Ia enlouquecer se ficasse mais um minuto que fosse naquele quarto de motel. Queria manter distância de Sam. Daqueles olhos totalmente negros. Queria ver o pai. A única notícia boa no meio de toda aquela loucura era saber que estava vivo.

Sentara de frente para um dos grupinhos de universitários. Os rapazes pareciam .. interessantes. Eram três rapazes e uma garota. A garota era linda, mas parecia completamente deslocada no grupo. Posta de lado. Ainda era o velho Dean o suficiente para reconhecer os sinais. Estava insatisfeita com o namorado, que, por acaso, era o mais interessante do grupo. Também, o papo não podia ser mais masculino. Estavam falando de suas jogadas no treino de football.

Sabia que podia, no momento que quisesse, levar aquela garota para a cama. Se forçou a pensar na garota nua. Olhou demoradamente para cada detalhe daquele corpo. Imaginou-se tocando na garota. Mas, nada. Não se sentia nem um pouco excitado.

O pior é que passou a mensagem errada para a garota. Viu que ela passou a dar sinais de encorajamento. Droga. Tudo o que não queria era se meter numa briga de bar com o namorado e os amigos da garota. Claro que sabia que podia dar conta fácil dos três. Mas, e aí? Levava a garota para a cama? Decididamente não era isso que queria.

Resolveu tentar arranjar alguma grana na mesa de sinuca. Estava a quase nenhum e assim podia se manter longe de encrencas. Longe da cadeia. Estremeceu só de se imaginar preso naquela cidade.

Dean passou um tempo analisando o jogo dos possíveis concorrentes enquanto aguardava liberarem uma mesa para jogar, o que, finalmente, acontecera.

- Quero jogar. Alguém se candidata? Dean pergunta, olhando em volta e abrindo um sorriso.

- Eu, aqui. Prazer. Meu nome é Kyle.

Kyle estende a mão para Dean e, olhos nos olhos, os dois homens estendem o cumprimento alguns segundos a mais que o necessário. Ao perceberem, recolhem as mãos, mas novamente se olham nos olhos e sorriem.

Owen e Ashley observam com surpresa a cena, olhando com atenção as expressões ora de um, ora do outro.

Mark observa, preocupado, as reações não apenas de Kyle e Dean, mas também as de Owen e Ashley.

 

Nem Dean nem Kyle perceberam que todos notaram que pintara um clima entre eles.


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