Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 161
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 30




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INFERNO

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A sessão de tortura fora a mais terrível que sofrera até então. Alastair era um mestre em seu ofício. Sabia trabalhar cada terminação nervosa para obter uma nota diferente de dor. A dor existia em milhares de acordes diferentes. Agudas como as nascidas de uma ponta de agulha. Graves como as proporcionadas por uma batida de martelo. Adam podia sentir cada nota de dor como se fosse a única, mas elas formavam uma sinfonia alucinante e delirante que se estendia por todo seu corpo.

Tempo é sempre relativo. Estava a quanto tempo no Inferno? Quinhentos anos? Mil anos? Mais? Jamais acreditaria se lhe dissessem que no plano material faltava um dia para completar cinco semanas. Que a sessão de tortura que lhe pareceu durar todo um mês correspondeu a apenas dois minutos no mundo real.

Mas, enfim, a sessão terminara ou ele assim o imaginava. Alastair largara os instrumentos sujos de sangue e de fragmentos de carne, da sua carne, e saíra.

Ao escutar a porta se fechar, Adam começou a tremer descontroladamente e a chorar baixinho.

Adam sentia que estava no seu limite. Que começavam a aparecer trincas em sua determinação de resistir. Por um momento, pensara em implorar para que parasse. Ridículo. Patético. Existe algo mais inútil que pedir clemência a um demônio?

Queria que o maldito furasse seus tímpanos para que não escutasse, pela milionésima vez, a proposta para que pedisse para que Sam tomasse seu lugar na mesa de torturas.

Queria que o maldito arrancasse sua língua, furasse seus olhos, cortasse seus membros. Qualquer coisa que o impedisse de aceitar a proposta.

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INFERNO

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– Não é todo dia que alguém entra aqui por vontade própria. Muito menos, quem ainda esta VIVO.

– Eu ainda estou vivo?

– Em algum lugar no plano material existe um corpo vivo. Essa ligação não está quebrada. Portanto, tecnicamente, você permanece vivo.

– Eu fui atravessado por dezenas de flechas. Senti o sangue esvaindo. Depois, .. aquelas .. coisas .. em cima de mim. Bebendo meu sangue. Arrancando pedaços de carne do meu corpo. As criaturas me devoraram ainda .. vivo.

– Sangue? Carne? Corpo? Escuta só o que você está falando. Nós não temos nada disso. Ninguém aqui tem.

– E agora eu estou ..?

– Integro novamente. Melhor do que quando entrou aqui. Pronto pra outra.

– Como é possível? Sempre escutei que a morte no Inferno é a morte definitiva. A total extinção da alma.

– Talvez seja. Não há como saber, porque nunca ninguém morreu aqui.

– Mas o que contam do Cérbero destroçar almas?

– Cérbero? Talvez seja verdade no Hades. Não sei. Nunca fui lá. Mas não é assim que funciona aqui. Se fosse, já pensou como seria simples escapar do castigo eterno. Era só morrer novamente e se extinguir. O Inferno seria o caminho mais rápido para o Nirvana. Nem ia ser preciso reencarnar milhões de vezes.

– As pessoas reencarnam? Humanos, quero dizer.

– Os que acreditam em Céu e Inferno, não. Por outro lado, ninguém que realmente acredita em karma e reencarnação apareceu por aqui. Portanto, eu estou inclinado a considerar que algumas pessoas realmente reencarnam.

– O que exatamente aconteceu comigo? Se eu fui devorado, como é possível que eu esteja aqui agora?

– Já disse: ninguém morre no Inferno. Como você acreditava que a dor extrema o lançaria na inconsciência, assim foi. Ao ficar desacordado, sem sua mente lembrando-se dos ferimentos feitos ao seu corpo espiritual, ele foi totalmente reconstituído. E aqui está você.

– Vivo.

– Você é uma criatura interessante. Parece humano, mais é algo mais. Seu .. cheiro é diferente.

– Espero que isso seja um elogio.

– Uma semi-divindade potencialmente imortal. Acertei? O que faz aqui?

– Aqui? Onde é aqui? Onde eu estou?

– No Inferno, onde mais? Mais especificamente na nossa divisão européia, subseção grega.

– Subseção grega?

– Cada povo pensa no Inferno de um jeito. Questões históricas. Sincretismo com outras crenças. Então, setorizamos para respondermos a essas diferenças. As pessoas, quando chegam, têm que reconhecer onde estão. Eu bato ponto atualmente na divisão América do Norte. Canadá e Estados Unidos, apenas. O México está fora. Mas, trabalhei um tempo na divisão Europa Ocidental. Afinal, eu sou europeu. Escocês. Tenho meus contatos aqui e eles me avisam quando algo interessante aparece. Casos como o seu.

– Porque está me contando tudo isso?

– Você segue crenças antigas. Portanto, muita coisa aqui não podia afetá-lo. Mas, uma vez que conheça e acredite nas regras da casa, as coisas mudam de figura.

– Então, os outros .. Meus companheiros ..

– Então, existem outros como você aqui? Fale-me deles.

– Quem é você?

– Verdade. Que indelicadeza a minha. Estamos aqui conversando como velhos amigos e nem nos apresentamos. Prazer, Crowley.

– Eufemo, filho de Poseidon.

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IDAION ANTRON

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Calaïs tomou distância e correu na direção da entrada da caverna. E, enquanto corria, ia passando para a forma de tornado.

Lá fora ventava muito, mas não eram seus irmãos. Eles não eram loucos de se aproximarem de anjos. Os elementos em fúria respondiam a Kälï, como deusa da natureza que era. Kälï usava a natureza contra a legião celeste. No plano material, os anjos estavam sujeitos às leis da natureza. Os fortes ventos desestabilizavam seu vôo. A forte chuva os fustigava. A devastadora chuva de granizo derrubara alguns.

Eles eram muitos, mas não tantos quanto os clones do demônio Raktabija, nascido do sangue derramado do original. Cada gota do seu sangue que tocasse o chão fazia surgir um novo demônio, idêntico ao original em forma e poder. Inclusive o de gerar novas cópias de si mesmo. Kälï superara a inferioridade numérica avassaladora e matara todas as cópias, uma a uma, bebendo todo seu sangue.

Armada das espadas capturadas de Uriel e de Anna, Kälï não tardou a fazer vítimas. Os dezesseis anjos logo se tornaram doze. Agora, eram oito. Rafael ainda não participara ativamente da luta. Tentava descobrir o que Kälï tentava proteger na caverna, mas não conseguira quebrar as proteções místicas. O traidor Gabriel repartira com demônios os símbolos mais sagrados da fraternidade celeste. Nem Lúcifer jamais ousara a tanto.

Rafael não detectara Calaïs quando este entrara na caverna pouco antes na forma de aragem. Agora, era surpreendido com sua saída inesperada na forma de tornado.

Calaïs não se transformava em tornado há muito tempo. Desde que Zetes tomara as dores de Necker e o abandonara. E agora talvez jamais se reencontrassem. A única esperança era ambos sobreviverem às batalhas que estavam travando. Usou todo o seu sentimento pelo irmão para ganhar velocidade e formar um tornado devastador.

O tornado vivo segue na direção de cada anjo, capturando-os no turbilhão. Capturou seis, deixando os demais a cargo de Kälï. Então, arremete para cima, cada vez mais alto. A nuvem criada por Kälï se estendia até a estratosfera, onde o ar era extremamente rarefeito e atravessariam camadas onde a temperatura era negativa. Não tinha certeza, mas acreditava que os receptáculos humanos ainda precisassem respirar. Se fossem deixados nas camadas superiores da estratosfera, estariam em maus lençóis.

Os fortes ventos criados por Kälï forçaram os anjos a testarem diferentes estratégias de vôo. Os anjos sobreviventes eram justamente os que tiveram mais sucesso. Zauriel fecha as asas e as mantém coladas ao corpo. Com isso, embora preso ao vórtex, recupera sua capacidade de ação. Aponta a espada flamejante para o centro do vórtex. Ao mesmo tempo, usa a voz para gerar um estrondo sônico. Os demais seguem seu exemplo.

O aquecimento do ar rarefeito do centro do tornado perturba o delicado equilíbrio de pressões que permitia a existência do tornado. O vórtex se rompe, lançando os anjos para longe. Estavam atordoados, e precisariam de alguns minutos para se recuperar, mas estavam novamente livres.

Atordoado pelo som, Calaïs tem dificuldade crescente de se manter na forma de tornado. Sua essência se dispersa na atmosfera rarefeita da estratosfera, incapaz de preencher o vácuo. Seus pensamentos ficam mais e mais desconexos e ele mergulha na escuridão. Seu último pensamento coerente foi : 'Me perdoa, irmão. Eu falhei com você'.

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Rafael percebe que não tem mais tempo para sutilezas. Mais um irmão tombara pelas mãos de Kälï. Ela logo viria atrás dele. Precisava destruir o que quer que existisse na caverna. Aponta a espada e dispara, somando a sua própria energia à da espada. A montanha inteira estremece. Grandes pedras rolam das encostas do Monte Ida. Grandes rachaduras se formam no teto da caverna e diversos dos seus túneis desabam.

Hércules dá tudo de si numa corrida desesperada para atravessar a abertura da caverna antes que esta viesse abaixo. Foi ele entrar e a caverna inteira desabar.


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Notas finais do capítulo

12.08.2012
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O Nyah! baniu as fics de natureza padackles. Creio que é um golpe de morte para a comunidade Supernatural, já que algumas das mais talentosas escritoras tiveram fics deletadas e abandonaram o site. Algumas, como Ana Ackles e Drita, volta e meia prestigiavam Sete Vidas com reviews. Vão fazer falta.



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