Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 158
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 27




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LOS ANGELES

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– O quê que um texano de San Antonio quer fazer no meio do oceano?

– Antes, me explica você porque uma californiana de San Jose morre de medo do mar?

– Não é medo e você sabe. É que, só de pensar em pisar num barco, eu já fico enjoada.

– Engravidar também dá enjôo e eu não vou deixar você usar isso como desculpa para não me fazer o feliz papai de cinco garotos. Um time completo de hóquei no gelo.

– Hóquei no gelo? Isso é quase sinônimo de Canadá. Significa que está mesmo levando a sério essa história de Vancouver.

– Significa apenas que achei que termos onze filhos para formar um time de football meio exagerado.

– Meio? Cinco já é um exagero total. Dois e estamos conversados. Está de bom tamanho.

– Uma moreninha baixinha e fofinha como a mãe e morenaço forte e, se possível, mais alto ainda que o pai, para arrasar o coração da mulherada.

– Não posso acreditar no que acabei de ouvir. Se tivermos um filho, eu vou educá-lo para que ele respeite as mulheres. Não para que as use e jogue fora na manhã seguinte.

– Quem falou em usar e jogar fora? Eu alguma vez agi assim com você?

– Comigo, não. Ainda não. E com suas ex? Porque eu sei que foram muitas. Confessa! Não! Não diga nada! Não quero saber!

– Não vamos perder tempo brigando, vamos?

– Não, claro não. Agora, sério. Você está mesmo considerando a possibilidade de se mudar para Vancouver?

– Por enquanto, é só um teste. O único que pintou até agora. Sabe como é difícil. Eu tenho que me mexer se quiser me manter na profissão. Já fui informado que meu contrato não vai ser renovado para a próxima temporada. Mas, sabe de uma coisa? Eu até gostei que fosse assim. Já estava de saco cheio deste seriado água com açúcar. Muito mulherzinha pro meu gosto. Esse outro seriado, o que vai ser filmado em Vancouver, tem uma temática mais masculina. Ação e terror light. Tem mais a ver comigo.

– Terror LIGHT? É assim que está na sinopse?

– Mais ou menos. O light é por minha conta. Mas, quanto a Vancouver, por que não? Dizem que a cidade é muito legal. É minha chance de ser protagonista, de ganhar melhor. E aí, podemos pensar em casar.

– JT, isso é maneira de pedir uma garota em casamento?

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CRETA

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Hércules apertou com tanta força o braço da poltrona do avião que o partiu em diversos pedaços, chamando a atenção dos outros passageiros e ganhando um olhar de reprovação da comissária de bordo.

– Droga! Essas porcarias de plástico são mesmo muito frágeis.

O avião mais uma vez perdeu sustentação, assustando todos a bordo. Um bagageiro abriu e uma maleta de mão caiu, fazendo uma garota dar um grito assustado. Grito esse logo acompanhado de outros. O mais calmo ali parecia justamente o senhor inglês em cuja cabeça a maleta caiu.

O avião entrara numa zona de forte turbulência, que parecia piorar à medida que se aproximavam da ilha. Começara pouco depois de o piloto informar que iniciariam os procedimentos para aterrissagem em Creta em dez minutos. Mas, isso fora há mais de vinte minutos atrás.

O piloto já contatara a torre e obtivera autorização para mudar a rota para Atenas, quando os ventos amainaram o suficiente para fazer o piloto voltar atrás e retomar o plano de vôo original.

– Senhores passageiros, em minutos pousaremos no aeroporto internacional Nikos Kazantzakis, da bela ilha de Creta. Por favor, mantenham os cintos de segurança afivelados e os encostos de suas poltronas na posição vertical. O tempo está instável, com fortes rajadas de vento. A temperatura local é de 22oC.

Hércules, visivelmente tenso, pressiona as costas contra o encosto da poltrona, que quebra, fazendo que ele ficasse com o tronco reclinado quase na horizontal, sendo xingado pelo passageiro do banco de trás, um italiano daqueles que só podia ser descrito como folclórico.

– Calma, Hércules. Meus irmãos vão garantir nossa descida em segurança.

– Quando você falou com eles? Como?

– Não se preocupe, vamos pousar em segurança. Eu garanto.

Calaïs teve vontade de rir da cara de pânico que Hércules não conseguia disfarçar. E ele não era o único. Mesmo as comissárias de bordo, treinadas para controlar situações de pânico, estavam assustadas. E com bons motivos. Mas, foi só o avião pousar em segurança, para Hércules recuperar a pose e colocar banca.

Um jovem zéfiro rodeou Calaïs, soprando no seu ouvido, enquanto ele descia a escada para entrar num dos ônibus que os levaria até o terminal de desembarque.

– Sabia que não podia ser uma tempestade natural. O zéfiro falou que está acontecendo uma batalha no Monte Ida. Anjos estão envolvidos. Muita coincidência, não acha?

– Eu pego as bagagens e sigo para lá de taxi.

– Esquece as bagagens, Hércules. Meu irmão está em perigo. Qualquer minuto é importante.

– Está louco. Não podemos abandonar as malas. Não nestes tempos de paranóia com terrorismo, num avião que quase caiu. Eles iam nos identificar pelas bagagens. Isso nos traria problemas na volta para os Estados Unidos. Vai na frente. Eu vou em seguida.

– Me dê cobertura.

Os passageiros que desceram primeiro andavam em passo rápido em direção ao ônibus. Estavam de costas para ele. O ônibus obstruía a visão de quem estava no terminal. Calaïs busca uma posição que o corpo de Hércules obstruísse a visão de quem vinha atrás.

Calaïs desvanece e segue para o Monte Ida como uma rajada de vento. Pediu a Deus para que chegasse a tempo. Sim, a Deus. Calaïs há muito se convertera ao catolicismo.

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LOS ANGELES

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– Não sei o que ainda estou fazendo aqui.

– Está me olhando assim por quê? Eu não estou prendendo vocês aqui.

– Sabe que não tenho U$ 2.000 para a passagem. E que também não tenho passaporte.

– Pois é. Mesmo que eu emprestasse o dinheiro, você ainda assim não poderia embarcar. Portanto, o melhor que tem a fazer é ficar aqui aguardando notícias.

– Essa hora, eles já desembarcaram em Creta. Eu é que devia estar lá. É o meu irmão que está no Inferno.

– Eles vão conseguir tirá-lo de lá. Não confia no Jasão? Ele é seu antepassado.

– Não exatamente. Ou esqueceu que ele já foi o ghoul sanguinário que matou um garoto extraordinário, Dean Milligan, e toda a sua família. Ele é esse ghoul, é esse garoto, é o misterioso homem vindo de outra realidade que se dizia meu irmão e do Adam. E é o Jasão das lendas e da tragédia Medeia, um homem de caráter dúbio. Eu não sei quem ele realmente é. Eu confiaria mais se soubesse que ele é Dean Milligan. E confiaria muito mais ainda se soubesse que ele é Dean Winchester.

O que Sam ainda não sabe é que a passagem pelo Flegetonte apagou para sempre os traços de personalidade do ghoul, de Dean Milligan e de Dean Winchester que persistiam na psique de Jasão. Não sabe que ele voltou a ser apenas o Jasão do mito.


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Notas finais do capítulo

14.07.2012