Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 139
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 8




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LOS ANGELES

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– Dormiu bem?

– Bem até demais. Nenhum maldito pesadelo. Agora .. podia me dizer quem é você e o que eu estou fazendo aqui?

– Você estava se afogando. Eu tirei você do mar e, como não sei onde mora, te trouxe para o meu apartamento.

– Minhas roupas?

– Estavam molhadas. Eu as tirei para que não encharcassem a cama. Sem falar da areia. Você tinha areia da cabeça aos pés.

– Mas agora eu não estou ..

– Foi preciso te dar um banho ou teria areia na casa toda. Normal, não precisa ficar constrangido.

– Como você .. ?

– Você é bem pesado, mas sou um homem forte.

– Essa cueca e essa camiseta?

– São minhas.

– E há quanto tempo eu estou aqui?

– Foi na sexta de manhã. Estamos na tarde do quarto dia.

– Eu dormi por quatro dias inteiros?

– Você teve febre no primeiro dia e estava agitado. Eu chamei um médico e ele administrou um sedativo.

– Um sossega-leão, você quer dizer. Eu fiquei apagado por quatro dias.

– Não exatamente. Você acordava e logo voltava a dormir. Você devia estar muito cansado. Ou muito estressado. Eu fiz você beber água de coco para se reidratar e te ajudei a ir ao banheiro algumas vezes. Você ..

– Não preciso ficar constrangido, já sei. Um estranho me ajuda a ir ao banheiro e eu não preciso ficar constrangido.

– Bobagem, não foi nenhum sacrifício. Eu sou bissexual. Estou acostumado a ver homens nus.

Sam arregala os olhos e fica vermelho, mas não diz nada. Não queria ser indelicado com o homem que, ao final de contas, salvara sua vida e estava cuidando dele. Dele, um homem que não tinha mais ninguém no mundo.

– Eu lembro de ter entrado no mar. Não lembro o porquê de fazê-lo, nem de como cheguei ali. Eu acordei de manhã me sentindo mal e sai para tomar café. Entrei numa lanchonete e, a partir daí, eu não lembro direito o que aconteceu. No mar, eu pensei ter visto meu irmão. Meu irmão Adam .. que morreu .. há uma semana. Duas agora, eu creio.

– Sinto muito. Mesmo. Você não estava pensando ..

– Não. Não estava pensando em me matar. A água estava muito fria. Acho que fiquei com câimbras. Lembro de afundar e de ver ..

– De ver .. o quê?

– Nada. Nessas horas, a mente da gente prega peças.

– Você deve estar com fome. Vou preparar um breakfast reforçado no estilo americano para você.

– Notei que tem um ligeiro sotaque.

– Sou alemão, mas vivi um tempo na Itália e, mais recentemente, em Paris.

– Eu estava desacordado quando você me tirou da água?

– Estava. Você bebeu muita água. Eu tive que fazer respiração boca a boca.

– Respiração .. boca a boca.

– Mais de uma vez. Foi difícil trazer você de volta.

– Uau! Bem, obrigado .. por me salvar.

– Foi um prazer enorme .. salvá-lo.

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– Bem, é melhor eu ir indo. Já dei trabalho demais.

– Sam, você contou que está sozinho num quarto de hotel vagabundo. Porque não fecha a conta e traz suas coisas para cá? Você fica aqui por um tempo, como meu hóspede.

– Não, isso não teria o menor cabimento. Eu agradeço o que fez por mim, mas tem algo importante que eu não podia ter adiado tanto. ‘Tirar Adam do Inferno’, completou em pensamento.

– Sam VOCÊ VAI FECHAR A CONTA E VAI TRAZER SUAS COISAS PARA CÁ, ONDE VAI PODER DESCANSAR E FICAR SEGURO.

– Tem certeza que quer que eu fique aqui por uns dias? Não tem problema pra você?

– Claro que não, Sam. Vai ser ótimo ter você por aqui.

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INFERNO

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Adam estava sendo acuado por toda uma horda de pequenos demônios na direção de um poço. Dezenas de monstrinhos de menos de 1 metro, armados com lanças pontudas de usavam para feri-lo sempre que podiam. Conseguira armar-se com duas daquelas lanças que arrancara do próprio corpo e as usava para mantê-los minimamente afastados. Mas não se passava um minuto sequer sem que sofresse outra dolorosa estocada. Às vezes, era transpassado por uma ou até mais de uma lança. Queria de estar vivo só para poder morrer.

Quando caiu, se sentiu sendo rasgado. Havia ganchos engastados nas paredes de pedra. Ele ficava um tempo pendurado neles até que pele e músculos se rasgassem e ele caísse mais alguns metros na direção de mais ganchos. Os monstrinhos ajudavam jogando pedras lá de cima. Tantas que era surpreendente que o poço não tivesse aterrado. As pedras forçavam a carne a cravar mais profundamente no metal. Mais e mais, até que a carne cedesse. E ele caísse. Novamente. E novamente. E novamente. Quanto se está vivo, o organismo tenta proteger o cérebro da dor, fazendo que o indivíduo mergulhe na inconsciência. Mas essa benção é só para quem está vivo.

Adam se surpreendeu quando a chuva de pedras se interrompeu. Já quando todo seu corpo foi envolvido por um banho de óleo fervente, a surpresa não foi tão grande.

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MONTE IDA, ILHA DE CRETA

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– Tem certeza que é aqui, Idmon? A caverna Idaion foi onde o menino Zeus cresceu escondido dos olhos do pai, Cronos. Já atraía visitantes em nossa era e dá para ver que hoje é um ponto turístico bastante movimentado. O lugar deve ter sido estudado por espeleólogos e arqueólogos por séculos. Não acha que se a entrada para o Hades fosse aqui já teria sido descoberta?

– Uma pergunta tão sem sentido só poderia ser feita por um mortal. Como você imagina que seja a entrada para o reino dos mortos? Um gigantesco portão, com Cérbero na entrada? Um caminho longo e sinuoso que avança por quilômetros no interior da montanha? Que avança até chegar ao tal gigantesco portão, com Cérbero na entrada?

– Não sei. Talvez. Porque não?

– É uma entrada para ser usada pelos espectros dos mortos, não por pessoas vivas. Não pode detectada pelos sentidos dos seres vivos nem pela ciência dos homens.

– E como fazemos para entrar?

– O portal está sempre aberto para os mortos. Para os vivos, é preciso uma preparação. Mas, vamos esperar pelos outros. Estarão aqui em nove minutos. Eles .. AHHHHHHHHHHHHHHHH

– Idmon!

– O que houve? Você está bem?

– Hécate. Minha senhora me lembra que, quando Inferno reclama uma alma, uma alma lhe é devida.

– O que isso significa?

– Que para resgatar o homem que está no Inferno, um de nós deverá tomar o seu lugar. Um de nós não sairá vivo do Inferno.

– Qual de nós?

– Não consigo ver com clareza. A imagem não se estabiliza. Vejo apenas ondulações. Possibilidades. Nossas ações aqui estão mudando o que estava determinado de uma maneira que ainda não está definida. O futuro começa a ser reescrito e não apenas por nós. O quadro muda a todo instante, menos num aspecto. Uma decisão de Jasão determinará o novo futuro. Não só o nosso como o do mundo inteiro.


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Notas finais do capítulo

21.02.2012
As referências ao lugar onde os gregos acreditavam ser o Hades eram muito vagas
A caverna (Antron em grego) Idaion é onde Zeus teria passado a infância. Essa associação com o Hades é contribuição minha.
Quem tiver curiosidade sobre a caverna veja:
http://www.youtube.com/watch?v=3vL6T_bHsJc&feature=player_embedded