Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 136
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 5




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Sam abre lentamente aos olhos maldizendo a luz do sol que entrava pela persiana levantada. Levou as duas mãos à cabeça, que parecia que ia explodir a qualquer momento. Então veio a sensação do estômago estar se contorcendo. Engoliu em seco, tentando evitar que o conteúdo do estômago chegasse à boca. Mas foi só o tempo de levantar a tampa do vaso sanitário. Depois de finalmente esvaziar o estômago até do que não tinha posto ali, deixou-se ficar por lá mesmo. Deitado no chão frio do banheiro apenas de camiseta e cueca.

Estava se sentindo péssimo, como nunca antes em toda a sua vida. Teve momentos em que chegou a pensar que fosse morrer. Mas é claro que isso não aconteceu. Afinal, ninguém morre de um simples porre. Bem, tem gente que toma um porre e morre atropelado ou se mete a dirigir e sofre um desastre fatal de carro. Ele não teve essa sorte. Quem manda se embriagar dentro de um quarto de hotel?

E simples certamente não era a palavra certa. Foi um SENHOR porre. O maior da sua vida. Um porre homérico de quase uma semana. Precisava calar as vozes. Precisava parar os pesadelos. Era beber até entrar em coma alcoólico ou dar um tiro na cabeça. Pelo jeito, o desejo de morrer não era tão forte quanto imaginara.

Devia saber que mais cedo ou mais tarde o estoque de bebidas terminaria. Pensou ter comprado bebida suficiente para um mês. Acabara com toda ela em .. o quê? Uma semana? Menos? Droga, não fazia idéia de quanto tempo tinha se passado. Não sabia quanto tempo mais até curar aquela maldita ressaca. Não sabia quanto tempo até as vozes voltarem. Até voltar a ser obrigado a afogar novamente as vozes com álcool.

Um bom tempo se passou antes que ele finalmente se levantasse. Ainda não estava se sentindo bem. Tonteira, enjôo, fome, sede, cabeça latejando. Tudo junto. Lavou a boca e em seguida o rosto, sem coragem de erguer a cabeça e encarar o espelho. A lembrança de Adam sorrindo passou pela sua mente, mas ele afastou a imagem. Já estava se sentindo suficientemente mal. Sentiu a boca seca e o estômago roncar de fome. Fez uma careta ao apertar o estômago vazio. Mas o pior era o vazio em sua alma. A sensação de estar sozinho no mundo. A sensação de que não havia ninguém em nenhum lugar que se importasse se ele estava vivo ou não. Jasão? Este não dava as caras há uma semana. Devia estar se divertindo com alguma vadia. Não podia mesmo contar com ele.

Melhor assim.

Por mais que desejasse morrer, há formas e formas de se matar. A pior de todas era com certeza tomar um porre, acordar com ressaca e ser torturado até morte por um estômago vazio. Decidiu ir a uma lanchonete e tomar um café. Depois pensaria em outra forma menos dolorosa de se matar.

Sam já tinha tomado uma caneca grande de café e dois waffles com geléia, e estava aguardando a atendente trazer mais dois, quando notou um cara alto encostado no balcão olhando ostensivamente para ele. Primeiro, fingiu que não tinha notado os olhares, mas parecia que o sujeito, além de inconveniente, era também persistente. A vontade de ir lá e quebrar a cara do sujeito era grande, mas preferiu ser civilizado e simplesmente sair da lanchonete. Afinal, não podia sair por aí batendo em tudo que é gay que olhasse com interesse para ele.

Constatou com surpresa e irritação que o sujeito o estava acompanhando à distância. Lembrou ser esse um bom motivo para odiar Los Angeles. Parou e ficou aguardando para ver até onde ia a ousadia do sujeito. Não acreditou quando o homem ao passar por ele, o encarou por alguns segundos, sorriu e falou com uma voz ao mesmo tempo rouca e melodiosa.

– Vem comigo.

De onde estavam, podia ver a cerca de 100 m dali a majestosa estrutura do píer de Venice Beach. O dia estava bonito, com o céu muito azul e sem nuvens. Apesar do sol, soprava um vento frio e havia poucas pessoas na praia. O homem seguiu na direção da praia, e, ao pisar na areia, tirou o tênis de corrida e as meias e os abandonou ali mesmo. Sem olhar para trás e sem diminuir o passo, continuou caminhando pela faixa de areia em direção do mar.

Sam não acreditou quando se viu seguindo o homem como ele havia sugerido. Menos ainda quando se abaixou e recolheu o tênis e as meias largados na areia pelo estranho. E quando se deu conta que em nenhum momento deixara de acompanhar com o olhar o homem que se afastava. A irritação que sentira minutos antes desaparecera, assim como a dor de cabeça e o mal-estar. Quando retomou a caminhada, seguindo as pegadas do outro, sentia-se apenas curioso e com uma vaga sensação de encantamento.

Sam parou um pouco antes da linha de areia molhada. O homem tinha entrado no mar e estava depois da linha de arrebentação. Largou o tênis e as meias ao lado do short, da camiseta e do MP4 que o outro deixara para trás. Apesar da distância e do outro não ter gritado, escutou claramente quando ele disse:

– Não precisa ter medo. Venha! Entre no mar.

Sam sabia nadar, mas entrara poucas vezes no mar e já fazia muito tempo que o fizera. Um pensamento ensaiou formar-se em sua mente, mas ele o descartou antes que tomasse forma. A consciência de que algo estava muito errado e de que ele estava em perigo. O homem acenou para Sam como se fossem grandes amigos, incentivando-o a entrar no mar. Ele sorria e parecia verdadeiramente feliz. Aquela felicidade parecia contagiante e Sam sorriu só de ver o sorriso do homem. Sorriu ao ver o sorriso de .. Adam.

Eram novamente garotos e seu irmão o estava chamando. Não havia o que temer. Adam o protegeria. Adam sempre o protegeria. Com ele, estaria seguro.

Tirou as botas e as meias, depois a jaqueta e a camiseta e se lançou no mar. Enfrentou as ondas, ignorando o frio da água. Mergulhou, furando a onda e nadou na direção ao irmão que sorria à distância. Seu corpo estremeceu de frio, mas ele não se intimidou.

Por mais que Sam se esforçasse e aumentasse o ritmo das braçadas, não conseguia se aproximar de Adam. Estava fraco. Tinha se alimentado mal na semana anterior. A água estava ainda mais fria longe da arrebentação. Não demorou para se sentir cansado. Olhou em torno e já não via Adam. Olhou para trás e constatou que estava a uma distância considerável da praia. Decidiu voltar, mas sentiu os braços e as pernas dormentes. Recomeçou com as braçadas, mas parecia não sair do lugar.

Ao afundar, pensou ver um homem-peixe vindo em sua direção.

.

.

– Está tudo bem. Já cuidei de Sam Winchester. Pode ficar descansado. Ele não vai mais causar problemas.


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Notas finais do capítulo

09.02.2012