Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 134
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 3




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KARYA, TESSÁLIA

Zetes desvaneceu e voltou a se condensar novamente com a aparência de Chad Murray no outro extremo da câmara.

– Como pode? Atacou-os da forma mais vil e traiçoeira. Seus antigos amigos. Maldito seja, bruxo!

– Menos drama, garoto-vento. Eu e eles nunca fomos realmente amigos. Mas ainda que fôssemos .. Eu estava morrendo. Eu morreria aqui, sozinho, em poucas horas, se vocês não aparecessem. Mas eu sabia que viriam. Sempre soube. Vi esse momento acontecer, mais real que a própria realidade, muito tempo atrás. No dia em que subi pela primeira vez a bordo da nave Argo. No momento em que apertei pela primeira vez a mão de Autólico, eu soube que um dia, muitos milênios depois, uma versão muito envelhecida de mim mesmo roubaria do príncipe dos ladrões uma fortuna do bem mais precioso que existe no universo: tempo de vida.

– Eles estão ..

– Bem. Eles estão bem, não se preocupe. O que são uns poucos milênios para quem é praticamente imortal? Seus amigos ainda vão me agradecer por eu realizar o maior desejo deles.

– E poderia me dizer qual seria esse desejo?

– Envelhecer. Ambos estavam cansados da eterna juventude. Você envelheceu o equivalente humano a uma década nestes três milênios. Não é mais um garoto, não pensa como um. Eles não. Não envelheceram um dia sequer. E continuariam para sempre as mesmas crianças irresponsáveis que conhecemos no passado. O tempo permitiu que acumulassem conhecimento, mas não fez com que ganhassem maturidade. A eterna juventude tem um preço terrível. O desenvolvimento psicológico e emocional deles estava parado e eles ainda esperariam uma eternidade até que conhecessem as alegrias e angústias da vida adulta.

– E você os ajudou roubando suas vidas?

– Eu tive muito tempo para refinar esse feitiço. Ele tirou de cada um apenas o suficiente para que finalmente alcançassem a idade física e emocional que intimamente queriam ter. Em alguns minutos eles vão acordar e vão querer me matar pelo mal que pensam que lhes fiz. Mas acredite que quis lhes dar um presente por me permitirem caminhar como um jovem mais uma vez e, desta vez, cumprir aquele que é meu verdadeiro destino.

Idmon ergue os braços acima da cabeça e faz um movimento com as mãos e desaparece. Zetes corre até os amigos, ainda desacordados.

Era como Idmon dissera. Eufemo e Autólico estavam mais velhos, mas, para os padrões do mundo moderno, ainda seriam considerados jovens. Eufemo agora parecia ter trinta e poucos anos e a maturidade ressaltara em muito a sua beleza. Ele com certeza faria ainda mais sucesso com as mulheres, se é que isso fosse possível. Já Autólico parecia ter quase quarenta e se tornara de fato o homem que há muito fingia ser com a ajuda de magia.

.

.

GRAND CANYON, EUA

[UMA SEMANA DEPOIS]

Jasão, Zetes, Eufemo e Autólico estavam reunidos em torno de uma grande mesa de reunião no salão que servia de escritório para Hefestion Palemon em sua mansão do Grand Canyon. Esperavam a volta do anfitrião que saíra para atender a uma ligação da Casa Branca sobre um dos projetos do Departamento de Defesa do qual era consultor.

– Assumo a responsabilidade pelas perdas que sofreram. Eu não devia ter insistido para trazer Idmon para o grupo.

– Fiquei furioso quando descobri que fui roubado. Roubado do que ele mesmo definiu como o 'bem mais precioso no universo'. Orgulho profissional ferido, eu acho. E também a vergonha disso ter acontecido na frente de vocês, os únicos que sabem quem eu realmente sou. Os poucos amigos verdadeiros que me restaram. Mas, Idmon disse a verdade. Eu não agüentava mais ser um adolescente. Eu sabia que a necessidade obsessiva de ter tudo somente para mim, de querer tudo o que vejo, de não aceitar ser contrariado e de querer mostrar que sou sempre o mais esperto eram reações infantis, mas não conseguia mudar a minha forma de agir.

Autólico faz uma longa pausa antes de continuar.

– Quando voltei para Las Vegas, a primeira coisa que fiz foi sentar na minha cadeira e olhar ao redor. Aquela sala, aquele lugar, aquelas pessoas. Eram as mesmas, quem estava diferente era eu. Eu sentia que estava profundamente mudado, mesmo que ninguém mais tivesse notado qualquer diferença. Tirar de quem já não tem quase nada não me pareceu mais tão divertido. A imensa quantidade de coisas e de dinheiro que acumulei não me pareciam mais ser tão importantes.

– Já eu senti que tinha mudado pela forma como olhei para o povo de Santorini ao voltar para a ilha. Sempre gostei de todo mundo, mas nunca me senti responsável por ninguém. Eu tinha minha vida e eles tinham as deles. Ríamos juntos, brindávamos e nos divertíamos. E só. Alguns deles são meus filhos, outros são meus netos ou bisnetos e eu sempre os vi apenas como companheiros de farra que um dia casam, se acomodam e você deixa de procurar. Que você cumprimenta por hábito, ou pelas boas lembranças do passado, mas sabe que fazem parte apenas do seu passado, não do seu presente e muito menos do seu futuro. E as filhas de mulheres que amei e magoei que eu sabia que mais dia menos dia acabaria levando para a cama e depois magoando, num ciclo interminável. Filhas minhas que nunca tiveram um pai que as protegesse de um homem como eu, a quem só o desejo importa.

– Uau! Vocês realmente mudaram. Não reconheço mais meus velhos amigos.

– Nem nós a você, Zetes. Há quanto tempo deixou de brincar de quem sopra mais forte com seu irmão? De quem derruba mais árvores, de quem destrói mais casas?

– Muito tempo. Sei lá, perdeu a graça.

– Pois é. Há muito tempo que você não pode fazer as coisas porque ‘tem as suas responsabilidades’. Gravações a que não pode faltar. Teste de elenco importante. Preciso dizer mais?

– Para mim - e acho que para você também, Autólico - essa última semana foi mais perturbadora que tudo que me aconteceu nestes últimos três mil anos. Jasão volta e, em uma semana, tudo vira de cabeça para baixo.

– Acho que vocês todos precisavam de um pouco de juízo nestas cabeças.

– E, então, comandante? Você nos convocou e aqui estamos nós. O que quer de nós, Jasão?

– Tem a ver com quem me tornei. Por uma estranha ironia, meu corpo foi duplicado por uma criatura demoníaca que estava possuída pela alma de um homem vindo de outra realidade. As memórias e as motivações deste homem agora fazem parte de mim. Esse homem sempre teve como prioridade a proteção do irmão mais novo, que por absurda coincidência é meu descendente direto. Também eu, em meus últimos anos de vida, me vi obcecado em proteger os filhos que tive fora do casamento, ameaçados pela vingança de Μηδεια. Esse sentimento, que persiste em mim, me faz pedir a ajuda de vocês.

– Nós todos aqui avisamos você que Μηδεια era louca e que o melhor era nunca ter se envolvido com ela.

– Eu estava enfeitiçado. Lembram de quando a vimos pela primeira vez. A jovem e exótica princesa de um país no fim do mundo. Lembram de como ela era linda e misteriosa? E depois, quando a conheci melhor, ela se mostrou uma garota atrevida e determinada, completamente diferente de qualquer mulher que eu já tivesse conhecido. Pouco mais que uma menina e já conhecia todos os truques que uma mulher usa para enlouquecer um homem. Eu enlouqueci. Estava louco de paixão. Por um tempo, foi bom. Foi muito bom. Depois, .. vocês sabem o que aconteceu.

– Vamos esquecer a louca da sua ex. E como essa história termina?

– Existe um segundo descendente meu, irmão do primeiro. É ele que foi levado para o Inferno. Os dois irmãos eram muito ligados. Como Κάστωρ e Πολυδεύκης.

– Se são como Κάστωρ e Πολυδεύκης e um morreu, eu não deixaria o outro sozinho.

– Não se preocupem quanto a isso. Já pedi ao Necker que fique de olho nele.

– Quem é Necker?

– Palemon, só você para não saber que o Necker é o namoradinho do Zetes. Eles já estão juntos há mais de duzentos anos.

– Já disse e repeti que ele não é meu namorado. Somos apenas amigos.

– Zetes, conosco você não precisa fingir. Ninguém aqui vai queimar seu filme. Se depender de nós, você vai continuar a posar de garanhão nas matérias das revistas de fofocas.

– Zetes, me diz aqui, confia mesmo no Necker junto deste outro cara.

– Acabaram com a zoação? O Necker nem queria se meter nesta história. Eu tive que insistir muito.

– Pessoal, acabou. Deixem o Zetes em paz. E é a vida do Sam, meu descendente, que está em jogo. O Zetes confia no tal Necker para a tarefa e isso para mim é o suficiente. Mais ainda ele tendo as habilidades que tem. Resolvido isso, a questão é: como chegamos no Inferno? Alguém aqui sabe onde fica a entrada?

– Nossos antigos companheiros Teseu e Hércules foram ao Tártaro e voltaram. Teseu está morto, mas Hércules conhece o caminho.

– Eu não quero o Hércules neste grupo. Se ele entrar, eu tô fora.

– Zetes, faz muito tempo. O Hércules seria um ótimo reforço. E ele sabe o caminho

– Eu também conheço o caminho.

– Idmon, você? O que faz aqui?


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Notas finais do capítulo

28.01.2012
Fica mais fácil imaginar um personagem quando ele tem um rosto.
Estou dando para o Eufemo trintão a aparência do Matt Cohen e, como um quarentão baby-face parece trintão, podemos pensar no Autólico como o Chris Hemsworth.