Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 121
Sete vidas epílogo vida 6 capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/81878/chapter/121

REALIDADE #6

[ UM ANO APÓS JEROD TER SE TORNADO UM CAÇADOR ]

– JEROD!

– Estou aqui, Clint. Estava preocupado, você teve uma febre muito alta. Delirou a noite inteira. Mais um pouco e eu não ia ter escolha. Ia precisar levar você para um hospital.

– Não precisava, Jay. Já estou bem. Eu sou forte. Você sabe. Era uma questão de tempo para que meu organismo reagisse ao veneno.

– As lendas dizem que não existe antídoto para o veneno do basilisco.

– Era uma simples cascavel. Logo eu estou 100% recuperado.

– E quando você ia me contar, Clint?

– Contar? Contar o quê?

– Como eu disse antes, você delirou a noite inteira. E, ardendo em febre, você falou coisas .. que nunca tinha me contado antes.

– Tipo?

– Tipo: ‘- Jay, não me deixa. Eu AMO você.’ Esse tipo de coisa. Repetiu muitas vezes.

– Jay, você não pode levar a sério uma besteira dita quando eu estava delirando.

– E os olhares. Acha que eu nunca percebi. E todas as vezes que você acariciou meus cabelos pensando que eu estava adormecido. Este tempo todo eu evitei encarar de frente o que estes gestos realmente significavam. Mas não dá mais para ignorar. Eu preciso saber.

Clint baixa o olhar. Não conseguia encarar Jerod.

– Acho que seria inútil tentar negar. É isso. Agora você sabe a verdade sobre os meus sentimentos. E agora que sabe, o que você pretende fazer?

Jay vê o medo estampado na cara do amigo. A pergunta o pegou de surpresa. Não tinha parado para pensar nas implicações que uma revelação como aquela certamente traria para a vida dos dois.

– Jay, você não vai me deixar sozinho, vai? Por favor, eu prometo me controlar.

Se ao menos fosse só isso. Mas, não. Sentia-se péssimo por fazer aquilo num momento em que Clint estava tão fragilizado. Mas era mais forte que ele. Precisava saber. Por mais difícil que fosse trazer o assunto à tona, Jerod sabia aquele era o momento dos dois colocarem tudo em pratos limpos.

– Quem é você de verdade, Clint? Eu acho que eu sempre soube, mesmo achando que era absolutamente impossível. Mas eu preciso ouvir de você. A verdade, Clint. O nome da sua mãe não é realmente Mary, é? Porque não foi esse o nome que você repetiu muitas vezes chamando por ela. Clint, qual é o verdadeiro nome da sua mãe?

– Donna.

– Donna .. Eastwood. Seria muita coincidência.

– Não. Donna .. Ackles.

– Então, é verdade? Clint Eastwood nunca existiu. Sempre foi Jansen Ackles.

– Desculpe, Jay. Eu queria contar. Queria muito. Mas eu tinha medo da sua reação. Medo que você não acreditasse em mim. Não acreditasse que aquele Jansen do vídeo não era eu. Aquele não era eu. Eu juro. Não fui eu quem matou a Sandy.

– Calma, Jansen. Eu já disse. Eu SEI que não foi você quem matou a Sandy. Jan, quem matou a Sandy ... fui EU.

– O quê?

– EU matei a Sandy. Eu não queria. Eu tentei resistir. Eu tentei com todas as minhas forças. Mas aquela voz ia corroendo minha vontade. Nublando minha mente. De repente, tudo que eu queria era agradar àquela mulher diabólica. Àquela .. sereia. Aquela voz me enfeitiçava. Eu não conseguia pensar. Ela mandou .. e eu obedeci. Eu estrangulei a mulher que amava. A mulher com quem eu ia me casar. Com quem eu sonhei ser feliz para sempre.

– Jay, é como você disse. Você estava enfeitiçado. Não foi culpa sua.

– Espero que a Sandy também pense assim. Onde quer que ela esteja.

– É difícil até imaginar o quanto você sofreu.

Jansen se aproxima de Jerod e o abraça. Jerod desiste de tentar segurar as lágrimas. Ainda não tinha chorado adequadamente a morte da mulher que amava. Chorou por ela e por si mesmo. Chorou pelos filhos que os dois sonharam ter e pelos planos que fizeram e que nunca se tornariam realidade.

Depois de secar as lágrimas, e de ficar um longo tempo em silêncio, Jerod continuou:

– A sereia fez questão que eu tivesse consciência do que eu tinha feito a mando dela. Queria que eu sentisse dor, culpa, ódio. Eu tive vontade de morrer e mais vontade ainda de matá-la. Tudo isso junto. Eu sofri. Muito. Mas não por muito tempo. Ela voltou a me enfeitiçar. A dor e todos aqueles sentimentos se foram. Eu não tinha pensamentos próprios. Parecia que eu estava drogado. Não lembro de muita coisa. Sei que ela me trouxe de volta para os Estados Unidos. Para Los Angeles. Ela me fazia desejá-la. O certo era que eu a matasse e, ao invés disso, fazia amor com ela. Algum tempo depois apareceu um homem. Ele era jovem, sedutor e muito alto. Então, ele mudou de aparência na minha frente. Ele virou uma cópia exata de mim. Depois, ele me pediu para acompanhá-lo e eu simplesmente o segui. Sem reagir. Entramos no mar. E aí, ele voltou a mudar. Ele se tornou um homem-sereia. O termo certo é merman, mas, na época, eu não sabia. Ele me puxou para o fundo .. e eu me afoguei. Morri. E depois, não sei como, voltei. O resto você já sabe.

– Esse .. merman. Só pode ser o mesmo homem. Ele se apresentou no set como sendo você. Ninguém notou qualquer diferença. Quer dizer, eu estranhei que ele se mostrasse tão atencioso comigo. Desculpe dizer, Jay, mas você, com todos os seus sorrisos e abraços, vivia me dando cortes. Aí, sem mais nem menos, ele propôs que morássemos juntos. Eu mal acreditei. Era algo que eu queria muito. Eu quase explodi de felicidade. As pessoas estranharam, claro. Afinal, ele .. você .. tinha acabado de ficar noivo. Vivia dizendo o quanto estava apaixonado pela Sandy. Mas, eu simplesmente não quis estragar o momento fazendo conjecturas.

– Essas criaturas .. Elas manipulam a nossa vontade.

– Eu não acho que ele tenha me enfeitiçado. Não era necessário. Mesmo sabendo o que eu sei agora. Que ele não era realmente humano. Mesmo agora, eu não consigo pensar nele como um monstro. Como alguém capaz de fazer coisas tão terríveis. Ele parecia mesmo gostar de mim. E, enquanto durou, ele me fez feliz.

– Até aí, você ainda era o Jansen. E, de repente, não era mais. Como pode acontecer, Jansen? Como você virou outra pessoa? Com outra aparência, outra voz, outra atitude. Como você se transformou em Clint Eastwood?

– A verdade? Eu não sei. Eu não tenho explicação para as coisas que aconteceram comigo. Num momento eu estava em Vancouver, no meio de uma gravação. No momento seguinte, eu estava em Los Angeles e já não era mais eu mesmo. O que me aconteceu naquelas três semanas entre esses dois momentos, eu não lembro. Não lembro de nada. Mas, eu não tinha opção. Tinha que me adaptar à essa nova situação. Os primeiros meses foram terríveis, uma barra. Eu me sentia terrivelmente sozinho. Então, você voltou. E eu voltei a me sentir .. sei lá .. feliz. Por ter você de novo ao meu lado, Jay. Agora que sabe de tudo, você não vai me abandonar, vai?

Jay vê novamente o medo estampado na cara do amigo. Um medo sem sentido. Mais do que nunca, precisava de um amigo. Sim, ele via o outro como um amigo. Um grande e verdadeiro amigo. Daqueles raros, de quem não se pode abrir mão. Alguém que, como Chad, seria seu amigo até a morte. Alguém que - agora tinha certeza absoluta - poderia contar em qualquer ocasião. Jansen seria sempre importante na sua vida. E, naquele momento, precisava muito mais de um amigo do que de uma namorada.

– Não, Jansen, não vou. Também me sinto assim. Feliz de ter você aqui, comigo. Obrigado por continuar me amando, apesar de tudo. Me desculpe por não poder te amar da mesma maneira.

– Não importa, Jay. Basta ter você aqui comigo.

– Você ainda está com febre. Precisa descansar. Vou fazer uma sopa. Você vai tomar e, depois, o melhor é que você durma um pouco.

– Jay, será que você podia deitar aqui ao meu lado? Só hoje?

– JAN!

– Só hoje.

– Tá bom. Só hoje.

Jerod aproximou seu corpo do de Jansen, o envolveu em seus braços e acariciou seus cabelos. Seu gesto não tinha nenhuma conotação sexual. Queria apenas afastar o medo irracional que se apossara do amigo. Era suficientemente bem resolvido para não se deixar perturbar pela proximidade do corpo do homem que o desejava. Mais do que nunca, sentiu que estava realmente ligado a Jansen. Tinham apenas um ao outro e agora não havia mais segredos entre eles.

.

.

– Jay, porque não vai logo atrás de alguma garota. Há dias que você está assim, irritadiço. Subindo pelas paredes. Explodindo por qualquer coisa.

– Sempre que eu faço isso, é você quem fica .. como é que você disse mesmo? .. ah! .. irritadiço .. e não é só no dia seguinte, é por quase uma semana inteira. E aí, por mais que eu não queira, eu me sinto mal, porque algo que eu fiz acabou machucando você .. e não é isso que eu quero .. não é isso que você merece.

– Bobagem, vai logo de uma vez. Não precisa se preocupar comigo. Eu já estou mais que acostumado. Depois, prefiro ter você amanhã aqui todo sorridente ao meu lado. Já estou farto de ver você de cara amarrada. À noite, a gente sai e toma umas cervejas juntos. Está esperando o quê? Vai logo. Encontre uma bem gostosa e divirta-se.

Jerod fica indeciso por bem menos tempo que Jansen gostaria e, então, muda completamente de ânimo. Jansen percebe que ele está se controlando para não exibir, na sua frente, um sorriso bobo de orelha a orelha no rosto. Mas é impossível para Jansen não escutar ele cantarolando baixinho, feliz, enquanto toma um banho rápido, se barbeia e escova os dentes.

O sorriso também está ali, bem visível, enquanto ele veste uma muda nova de roupa, coloca um quase nada de perfume e se ajeita em frente ao espelho. Ao pegar as chaves do Tundra e sair, dando somente um tchau, Jerod já nem se preocupa em disfarçar que tinha grandes expectativas para aquela noite.

Ao escutar a porta se fechando, Jansen, que estava sentado na borda da cama, deixa o corpo tombar para trás e fica, por um longo tempo, imóvel, olhos fixos no teto, como se fosse encontrar ali as respostas para a cilada em que caíra. Não existe nada pior do que amar e não ser correspondido.

Não estava magoado com Jay. Sabia que não tinha esse direito. Ficava genuinamente feliz quando via que Jay deixara o trauma da morte de Sandy para trás e voltara a ser aquele cara expansivo e sorridente do passado. O Jay por quem se apaixonara à primeira vista.

Mas, para ser honesto, tinha também que reconhecer que não ficava nem um pouco feliz quando constatava na prática que o cara expansivo e sorridente voltara a ser um ímã para as desclassificadas que circulavam nos barezinhos de má fama que eles agora freqüentavam. E, do nada, um sobressalto. Ficou de repente preocupado com a possibilidade de Jay não ter levado camisinhas. Não, ele não seria tão irresponsável.

Naquele momento, o que Jansen mais queria era estar com alguém que fosse só seu. Voltou a pensar com carinho na criatura que se passara por Jared. Afastou rápido a lembrança. Aquilo não era certo. Jay não podia nem suspeitar que ele ainda alimentava algum sentimento pela criatura que o matara.

Pensou em Kyle Hayden, o rapaz que conhecera no primeiro caso que investigara junto com Jay. Tinham sido flagrados aos beijos no vestiário do estádio pelo melhor amigo do cara, um tal de Owen. Acabara saindo na porrada com o cara e levara um soco que o derrubara. Se ainda lutasse tão mal quanto lutava na ocasião, já estaria morto há muito tempo. Kyle. Se tivesse investido nele talvez as coisas não estivessem como estavam.

Talvez devesse sair também. Quem sabe não arranjava alguém legal .. como Kyle. Mas, para quê se iludir? Nunca ia passar de uma transa ocasional. Uma única noite. Eles nunca ficavam muito tempo em lugar nenhum. Depois, estava preso à imagem de machão que criara para Clint Eastwood. Não podia se passar por um agente durão do FBI de dia e sair à noite caçando homens em bares. E nunca frequentavam esse tipo de bar. Jerod sempre se apressava em sugerir que fossem no tipo de bar que um sujeito é capaz de apanhar só por abraçar um amigo. O novo Jerod era assim. Dava-se por satisfeito com mulheres e bebidas baratas.

Mas, o pior de tudo era sua crença irracional de que se Jay o visse com alguém, nunca lhe daria uma chance. Caíra mesmo numa grande cilada.



ALGUNS ANOS DEPOIS

– Porque isso, Jerod? Porque remexer a ferida? Nós não pertencemos mais a esse mundo de faz-de-conta. A maior prova são as minhas mãos. Está vendo? Cheia de calos. Lembra que antes eu sempre passava hidratante nas mãos antes de dormir?

– Não. Quem poderia lembrar disso era o outro, o falso Jerod, o monstro que você amava.

– Desculpe, Jay. Falei sem pensar. Mas, não gosto quando você fala assim, me acusando. Eu não sabia. Depois, faz muito tempo.

– A criatura me matou. A parceira dele me obrigou a matar a Sandy. Não é algo que se esqueça. Não peça para que eu mostre qualquer simpatia por nenhum dos dois. Ao que me consta, eram igualmente monstros. Mas, voltando ao assunto. Eu ia gostar de rever o pessoal. Eles foram importantes na minha vida. E essa é a última temporada. O pessoal vai se dispersar e aí mesmo que nunca mais vamos ver ninguém.

– Nova Iorque, então. Merecemos mesmo uns dias de folga.

.

– Está vendo ali? É o Rick Speight Jr. Quanto tempo? Cinco anos? Ele não mudou nada.

– Está vindo para cá. Disfarça.

– Ele não está vindo nesta direção para falar com a gente. Para todos os efeitos, ele não nos conhece. Esqueceu que somos outras pessoas agora?

No entanto, Rick pára na frente dos dois, abre os braços como que os convidando para um abraço e exclama alto, para quem quisesse escutar:

– Rapazes! Que bom ver os dois aqui!

–??

– Está falando com a gente? Sabe quem nós somos?

– Claro. Jansen e Jerod. Faz algum tempo, mas não tanto quanto estão pensando. Não cinco anos como o Jenny acabou de dizer. O que é? Não precisam fazer essas caras. Acho que a ficha de vocês ainda não caiu. Ainda não se deram conta de quem eu sou na verdade.

Trickster?

– Claro, o Trickster, quem mais? Acho que vocês fingem não me reconhecer só para me irritar. Mas, como eu podia não reconhecê-los, rapazes? Jansen, fui eu quem fez você ganhar a aparência do verdadeiro Dean Winchester. Jerod, fui eu quem ressuscitou você. E também fui eu quem fez que ninguém mais pudesse reconhecê-lo. A não ser o Jenny, aqui.

– Bastardo FDP. A troco de que você ferrou com a nossa vida desse jeito?

– Calma, Jansen. Não foi minha culpa que o Jerod acabasse morto em Venice Beach. Muito menos, que você resolvesse dormir agarradinho com o monstro que o matou. Você devia me agradecer por eu trazer o seu grande amor de volta. Fiz isso para que você não ficasse sozinho. E, você Jerod, devia me agradecer por não ser mais um fantasma desorientado e carente com medo do escuro.

– E porque nos contar isso só agora? Porque não contou antes. Perdi a conta de quantas vezes você já apareceu para infernizar nossas vidas nestes cinco anos. Cada vez com uma aparência diferente. Está sempre nos surpreendendo. E a surpresa nunca é agradável.

– Eu não posso mais reaparecer. Não depois de tudo o que pensam que eu fiz. Mas, o Jerod podia ter retomado a vida dele. Podia estar ali, dando autógrafos, cercado de fãs. Não dormindo em motéis baratos e tendo de seu somente o conteúdo de uma mala.

– E todas as vidas que vocês salvaram nestes últimos cincos anos? Nada disso conta? As vidas que foram poupadas a cada monstro que mataram? Rapazes, vocês superaram minhas melhores expectativas. Tornaram-se verdadeiros caçadores. Eu estou orgulhoso de vocês.

– Está querendo dizer que nos empurrou para essa vida desgraçada para que salvássemos vidas? Com os poderes que tem, você mesmo poderia tê-los salvo. Vai agora nos dizer que fez tudo isso porque é muito bonzinho?

– Você deve achar que somos seus brinquedinhos. Você passa quase todo o seu tempo brincando com nossas vidas. Como da vez que prendeu o Jerod no mundo do videogame Castlevania e prendeu a mim em Doom. E repetiu a dose no ano passado, quando enviou nós dois para o mundo de Resident Evil. Acha que foi divertido?

– Eu fiz o que fiz por causa disso!

O Trickster estala os dedos e Jansen e Jerod se vêem em meio a uma cena de pesadelo. Zumbis encurralam uma jovem mãe, com um garotinho no colo, contra um muro. Jerod fecha os olhos quando um zumbi arranca a criança dos braços da mãe, bate a cabeça da criança contra o muro, esmagando-a e se agacha para devorar o cérebro que ficara à mostra. Jansen é contido pelo Trickster quando tenta esboçar uma reação. Os gritos da mãe, inicialmente de horror, logo se tornam pavorosos gritos de dor, mas que não duram mais que um minuto. Ela é abandonada, caída. Mas, logo se levantaria, mesmo sem um braço, com o crânio destroçado e sem carne em grande parte do pescoço e do ombro, completamente esquecida que um dia teve um filho. Uma criança da qual não restou praticamente nada.

Ao verem zumbis caminhando em sua direção, os dois se preparam para fugir, mas são parados pelo Trickster. O Trickster tenta acalmá-los explicando que aquilo é uma visão do futuro e que eles não estão fisicamente ali. São apenas observadores. Os zumbis não podem vê-los.

Mas isso não altera em nada a sensação de horror que os invade ao verem um carro ser cercado por um grupo de cerca de dez zumbis. Os vidros são partidos a murros e o motorista, um rapaz de não mais de vinte anos, é arrancado de dentro e tem o corpo desmembrado. Os zumbis se dispersam, cada um levando um naco para devorar. Por todos os lados, gritos. Cada um mais pavoroso que o outro. Barulho de buzinas, de freadas, de vidros sendo quebrados. Uma mulher se atira de uma janela próxima. Um homem tenta manter os zumbis afastados com fogo. Até que um dos zumbis, com o corpo em chamas, se lança sobre o homem e o abraça. O grito que o homem solta é o mais assustador que já tinham escutado.

– Isso aqui é a realidade. Não é outro mundo de videogame. Aqui é um bairro residencial de Nova Jersey, setenta e duas horas no futuro. Mas poderia ser em qualquer um dos cinqüenta outros lugares onde a epidemia zumbi também vai se manifestar. E, dentro de uma semana, cenas como esta poderão estar acontecendo não importa o lugar do mundo onde vocês estejam.

Um novo estalar de dedos e eles se vêem de volta no salão de convenções.

– E o quê você espera de nós? Acha mesmo que nós dois, sozinhos, vamos conseguir dar conta de milhões de zumbis?

– Não, a missão de vocês é impedir que isso chegue a acontecer. Tudo o que vocês viveram nestes últimos cinco anos teve esse único objetivo. Salvar o mundo. Um homem foi aprisionado e teve o corpo literalmente transformado em uma fábrica do vírus que provoca a epidemia zumbi. Um outro, gêmeo do primeiro, tem em seu sangue a cura para o mal. Vocês precisam abortar a operação antes que os demônios tenham sucesso em exterminar a raça humana.

– Quer que trabalhemos para você?

– Não. Quero que salvem todos os que estão aqui neste salão. Quero que salvem suas próprias famílias. Quero que salvem a vocês mesmos. Quero que salvem o mundo inteiro. E, Jansen, você sabia que tem um filho? Um garotinho lindo, agora com pouco mais de quatro anos. Quero que salvem ele também.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

02.11.2011
Para entenderem o porque do Trickster falar de um gêmeo de Mark Lawson é preciso seguir com a leitura.
Jansen e Jerod presenciam a epidemia já fazendo vítimas 72 horas depois, o que significa que o primeiro caso se manifestou algum tempo antes. Digamos que algumas poucas horas, no máximo 6. O tempo de incubação da doença é de 18 horas. Jansen e Jerod tem, portanto, menos de 48 horas para impedirem a praga zumbi seja liberada no mundo.