Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 111
vida 6 epílogo capítulo 2




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Jensen já tinha levado quase tudo para o carro, um Toyota Tundra 2003. Precisava tocar sua vida. Não podia ficar preso ao passado. Chegara a hora de pegar a estrada e seguir em frente. Não tinha esperança de voltar a ver Jared. Ele próprio tinha insistido para que Jared fosse para San Antonio reencontrar os pais. Seria o primeiro passo do seu caminho de volta à normalidade. Ele merecia retomar sua vida e sua carreira. Com o tempo, acabaria encontrando alguém que lhe devolvesse o sorriso. Não iam faltar candidatas. Deu um longo suspiro conformado e fechou o porta-malas.

Ia entrar na cabine e dar a partida, quando vê Jared. Ele estava parado a cerca de vinte metros e olhava apreensivo para Jensen. Parecia hesitar entre se aproximar ou fugir correndo dali. A mochila com seus poucos pertences estava no chão, a seus pés. Ele parecia à beira de ataque de pânico.

'- De volta? Rápido assim? Alguma coisa deu muito errado.'

Jared ainda hesitou alguns segundos. Depois, avançou em passos lentos na direção do carro, cabisbaixo, parecendo envergonhado. Percebia-se o quanto estava constrangido.

– Está tudo bem, Jared? Não, estou vendo que não. Melhor subirmos para conversar. Ainda estou com as chaves do apartamento. Estava indo devolver, mas ..

– Eles não me reconheceram, Clint. Eles me escutavam falar e falar com uma expressão .. sei lá .. indecifrável e, ao final, parecia que não tinham escutado nada. E não foram só meus pais. A Megan também não me reconheceu. Nem o Josh. Nem mesmo os vizinhos que me viram crescer. Ninguém. Eu parei algumas pessoas na rua e perguntei se não me achavam parecido com o ator Jared Padalecki. Todas as pessoas que eu perguntei disseram que não, que não me achavam parecido. Ninguém disse que não sabia quem era o ator.

– Ah, Jared. Como você está se sentindo?

– Um fantasma. Um morto-vivo. Você pode escolher. Se bem que .. melhor morto-vivo, porque é isso que eu realmente sou, não é mesmo? Ou, quem sabe, nem vivo eu esteja. Talvez isso aqui seja o Inferno, e ainda não me dei conta. Eu liguei pro Chad. Ele sempre foi meu melhor amigo. Eu não precisava nem dizer oi ao telefone e ele já sabia que era eu pela respiração. Reconhecia no ato. Eu liguei, me identifiquei e ele bateu o telefone na minha cara, xingando. Deve ter achado que era um trote. As pessoas não me reconhecem nem mesmo pela voz. O que é que está acontecendo, Clint? Porque você é o ÚNICO a me reconhecer?

– Não sei, Jared, juro que não sei. Eu reconheço você. É fato. Não acho que você tenha mudado nada em relação a como era antes. Não consigo imaginar uma explicação para o que está acontecendo com você. ‘– Muito menos para o que aconteceu comigo.’

– Acho que isso resolve o meu dilema de me revelar ou não pro mundo. Eu chamo a televisão e digo que sou Jared Padalecki. Eu ia parecer um maluco me apresentando como um cara que todos acreditam estar morto. Um exibicionista buscando não quinze mas um único minuto de fama. Parece que eu estou me vendo falando e todos caindo na gargalhada. Em seguida, me chutam para fora. Porque ia parecer uma piada. Ninguém me acha nem remotamente parecido com o cara. Ou, não é nada disso? Eu é que sou um louco de pedra. É isso que eu sou, Clint? Eu sou um louco que acredita que voltou da morte e que antes fui um cara famoso? Ou é uma pegadinha? Se for, concordo que é engraçada. Mas nada das câmaras se revelarem. Quando acontece com os outros é a coisa mais engraçada do mundo. Quando acontece com a gente não tem graça nenhuma.

– Jay, não fica assim. Você está vivo. As coisas vão se ajeitar.

– Uma grande piada. O que parecia uma segunda chance, essa minha vida pós-morte, se revelou uma grande piada de mau gosto. Só mesmo rindo.

De repente, a gargalhada. Toda sua dor transformada em uma gargalhada assustadora. Insana. Perturbadora. E, então, igualmente sem aviso, Jared passa do riso histérico ao choro compulsivo. Jensen vai a ele e o abraça com força. Precisava fazê-lo sentir que não estava sozinho. Tinha a ele, Jensen, que o amava. Que sempre o amaria. Que aceitaria o sentimento que ele tinha a lhe oferecer.

Como doía vê-lo sofrer. Jensen sente a dor do amigo como se fosse ele próprio a vivê-la. Sabia como era aquela dor, aquele vazio. Ele próprio a sentira. De uma forma mais introspectiva, mais silenciosa. Mas, igualmente doída.

– Eu estou complemente só neste mundo, Clint. Não tenho mais ninguém. Perdi a Sandy, perdi a minha família, minha carreira, meus amigos. Até o Chad eu perdi. Estou me sentindo vazio. Eu deixei San Antonio, sem nenhuma idéia do que faria em seguida. Eu não sabia para onde ir. Acabei voltando. Mas .. VOCÊ também está de partida. Desculpe, Clint. Desculpe, por essa cena toda. Você não tem nada a ver com isso. O problema é meu. Eu vou saber me virar.

– O problema é seu, mas isso não significa que você precisa enfrentá-lo sozinho. Fez bem de ter vindo, Jay. Estamos juntos nesta.

– Um fantasma?

– O fantasma de uma menina que morreu atropelada. Assombrou um homem até que ele também foi atropelado.

– Deixa eu adivinhar: o homem atropelado foi o mesmo que atropelou a menina?

– Clichê, eu sei. Típico caso de fantasma vingativo. Mas, tem mais. A polícia descobriu que a menina foi atropelada enquanto fugia de um ataque sexual do próprio pai. E mais: pouco depois o pai morre num acidente de carro. E, numa suspeita coincidência, o motorista que atropelou e matou o motorista que fugiu sem prestar socorro foi o mesmo que causou o acidente que matou o pai molestador.

– E você está pensando em seguir para essa tal cidadezinha de nome estranho?

– La Grande, no Oregon. Sim. Você pode vir comigo, se quiser. E, então? Parceiros?

Jared olha para um ansioso Clint com uma serenidade impensável para quem teve o passado zerado e que precisa redefinir toda sua vida para alguma direção. Aquilo deveria ser motivo de extrema angústia, mas ele está sereno. Sente uma inexplicável certeza que, ao contrário do dissera antes, não está sozinho no mundo. Que, na verdade, reencontrou seu caminho. Que a vida que o espera é a que estava destinado a viver desde o começo.

– Parceiros!

– Aperto de mãos? Eu não mereço um abraço?

– Não é você que não queria viadagens?

– Isso quando éramos dois estranhos. Não há nada de errado em dois irmãos se abraçarem. E, de agora em diante, você é oficialmente meu irmãozinho caçula. Está aqui em seus novos documentos: Jared Eastwood, filho de John e Mary Eastwood.

– Não deixa de ser engraçado. Uma grande ironia. Depois de interpretar por anos um caçador na ficção, eu estou prestes a me tornar um caçador na vida real. E, veja que coincidência: como ele, eu também tenho um irmão mais velho ao meu lado.

Gabriel, invisível, sorri. Mais uma peça do grande quebra-cabeça encontrava seu lugar.

– É, Sr. Padalecki. Ou, seria Sr. Eastwood. O que é a vida humana, senão uma grande ironia?


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Notas finais do capítulo

05.08.2011