Sam e Dean estavam de volta ao Blue Mountains Motel, às margens da interestadual 84.

O caso que estavam investigando tinha começado estranho e quanto mais se aprofundavam no caso mais estranho ele parecia.

Começara como um caso de fantasma vingativo. Um homem passa a ver, em todos os lugares, uma menina que morrera atropelada um mês antes. Transtornado, atravessa a estrada, é atropelado e morre. O motorista que o atropelou é inocentado no julgamento, graças ao depoimento de testemunhas.

Três dias depois, o carro que o atropelador estava dirigindo perde a direção numa reta, muda de faixa e se choca de frente com um carro cujo motorista era o pai da menina morta. O pai da menina tem morte instantânea. O motorista atropelador não sofre um arranhão.

Novo julgamento e o motorista é novamente inocentado. A perícia atesta falha mecânica do veículo, que perdera os freios. E também presença de óleo na pista, em função de um outro acidente, este sem vítimas, que acontecera horas antes. O carro tinha passado por manutenção um mês antes, o que comprovava que não houve negligência do motorista quanto à manutenção do veículo.

As investigações comprovaram que a menina sofria abusos sexuais freqüentes do pai e que morrera fugindo de mais uma investida dele. O motorista que atropelou a menina fugiu sem prestar socorro, sem ao menos parar. Esse motorista era o homem que morreria atropelado um mês depois.

A coincidência do mesmo homem ter causado em situações diversas a morte dos dois responsáveis diretos pela tragédia da menininha e a ironia do atropelador atropelado chamou a atenção da imprensa e trouxe os irmãos Winchester à cidadezinha de La Grande, Oregon.

Não havia relatos de novos aparecimentos do fantasma da menina, mas os Winchester acharam melhor garantir isso, queimando os ossos.

A idéia era pegar a estrada em seguida, mas investigando jornais locais Sam encontrou outras estranhas coincidências em La Grande e em cidades próximas.

caso #1:

Uma violenta tempestade, que espantou os meteorologistas pela rapidez com que se formou e pela extensão, surpreendentemente causou poucos danos.

Uma casa, localizada num ponto valorizado da cidade de Pendleton, foi incendiada por raio, e outra, a setenta quilômetros da primeira, construída numa encosta das Blue Mountains, foi soterrada num desbarrancamento.

Por coincidência, ambas pertenciam a um gerente de banco responsável pela execução de hipotecas e aconteceu no dia seguinte a ele autorizar a retomada dos imóveis de 8 famílias latinas.

O gerente morreu no incêndio.

caso #2:

Uma professora moralista, que fizera uma campanha e acabara suspendendo um casalzinho de namorados por um rápido beijo em sala de aula, teve um vídeo caseiro divulgado na internet onde aparecia em cenas quentes com um ex-aluno que, embora não fosse menor de idade, era dez anos mais novo que ela.

O filme mostrava a cena de diferentes ângulos, como num filme pornográfico, e não poderia ser feito sem que ela e o rapaz soubessem que estavam sendo filmado, o que ambos negaram.

A professora tentou suicídio com tranqüilizantes

caso #3:

Um comerciante local que estava sendo investigado por receptação de cargas roubadas teve o armazém onde guardava as mercadorias completamente destruído por um tornado.

As mercadorias foram espalhadas por uma ampla área e saqueadas antes da chegada da polícia.

Uma caixa com uma TV LED, que se supõem ter sido levantada pelo tornado, caiu diretamente sobre a cabeça do comerciante, matando-o.

caso #4:

Um ladrão invade uma joalheria de Baker City à noite, desliga o sofisticado sistema de segurança do lugar, faz a limpa completa e, na fuga, deixa um rastro de jóias que conduz um segundo ladrão direto para o hotel onde estava escondido.

O segundo ladrão usa de violência e abandona o local deixando o primeiro ladrão desacordado e ferido. Horas depois, esse segundo ladrão é preso num galpão abandonado porque, mais uma vez, havia uma trilha de jóias.

Acabou preso por roubo e agressão.

- Que acha disso, Dean? Meras coincidências?

- No caso da professora e do ladrão é até possível pensar que alguém tenha armado para dar uma lição a eles. Mas usar uma tempestade e um tornado está fora do alcance da maioria. Precisaria ser alguém mais de cima.

- Dean, sabe o que eu acho mais estranho na história da menininha? O homem que atropelou o atropelador e se envolveu no acidente que matou o pai estuprador foi julgado duas vezes em júri popular. O caso atraiu a atenção da mídia nacional pelas coincidências bizarras e não há uma única foto do tal homem em lugar nenhum.

- Hum.

- E sabe o que mais. Enquanto você queimava os ossos da menina, eu falei com pessoas ligadas de alguma forma ao caso e que viram de perto o tal homem. Quando pedi que descrevessem sua aparência, as pessoas descobriam que não se lembravam.

- Qual é mesmo o nome do homem?

- Não lembro. Dean, eu NÃO LEMBRO.

- Tudo bem, Sam. O nome está nas anotações.

- Dean, nós investigamos a fundo esse caso. Não é possível que ambos tenhamos esquecido algo tão importante como o nome do atropelador.

- Tá, já entendi. Olha nas anotações e lê o nome em voz alta.

- Reynard Coyote.

- Repete o nome, Sam.

- ?

- Também não lembro.

- Muito estranho.

- Não, Sam. Não é nada estranho. É o Trickster.

- O Trickster. Só pode.

- Ele está me devendo. Vai ser um prazer acabar com aquele sorrisinho.

- Pera aí, Dean. Não podemos ir atrás do Trickster. Nós fizemos um acordo. Prometemos que não iríamos atrás dele.

- Você prometeu. Eu não prometi nada. O FDP me matou centenas de vezes na sua frente. Eu nem sei o que faria se visse você morrer uma única vez, o que dirá mais de cem. Só isso já justificava matar o bastardo cem vezes.

- É isso aí. Eu vi. Eu lembro. Você não. Cada uma das vezes que ele deu reboot, as suas memórias apagaram. Você não lembra de nenhuma destas mortes. Ele torturou a mim, não a você. E eu não quero passar por isso novamente. Vamos embora daqui.

Sam abraça Dean apertado.

- Vamos embora, Dean.

- Sam, não podemos ir embora. Ele está matando pessoas.

- Nenhuma inocente.

- Não importa. Não cabe a ele julgar. Ele não é Deus.

- Não sei. Tem poderes de um.

- Ele pode até ser um deus. Mas não é o meu Deus. E nós vamos fazê-lo parar.

- Como?

- Nós vamos descobrir uma maneira.