Todolist escrita por AnaBorguin


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

ÚLTIMO CAPÍTULO! ISSO MESMO! LEIAM!  Agradecimentos finais:Gostaria de agradecer a todos que leram e comentaram na fic. São as Reviews que dão o poder pros autores continuarem, elas são muito importantes, de verdade. Obrigada a todas as loucas que ficaram me cobrando pelos capítulos xD pq eu sou um pouco preguiçosa e preciso de cobrança mesmo. Gostaria de pedir que se vc for publicar minha fic em outro lugar me avise e me dê os créditos. Sério, já tive problemas com isso =S Escrever é algo muito bom e ajuda muito na formação das pessoas, por tanto, escrevam também! E leiam! @_@ leiam MUITO! Ler é divino S2Sei que tô parecendo uma professora tiazinha dizendo isso, mas é a pura verdade! xDObrigada novamente, e até a próxima fic!



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6° Capítulo –

O que eu mais queria era acordar e descobrir que tudo não passava de um terrível pesadelo. Minha vida teria voltado para as minhas mãos. No entanto, eu não sabia aonde eu desejaria voltar. Talvez se acordasse eu esteja ao lado de Kath, esperando por mais um dia de rotina pesada. Hum... Acho que preferiria acordar com dez anos e a vida inteira pela frente. Ou talvez fosse melhor nem acordar. O problema é que a realidade estava ali. E por mais que eu quisesse ignorá-la, era impossível.

Ouvi vozes. Não consegui entender direito, e isto me obrigou a abrir os olhos, que se feriram com a luz vinda da cortina.

- Bom dia! – Bert disse entusiasmado, sentado em uma cadeira perto da cama. Ao seu lado estava Frank. As lembranças voltaram a minha cabeça e desejei muito não ter despertado.

Não respondi. Olhei para Frank, que estava sério e um pouco preocupado, eu diria.

- O que aconteceu? – perguntei, sentindo uma pontada na cabeça muito forte. – Como vim parar aqui? – pela primeira vez notei que estava no quarto de Frank. Em sua cama. Aquela cama...

- Você desmaiou – Frank respondeu sem emoção – O trouxemos pra cá. Quis chamar um médico, mas Bert disse que você sempre teve uma saúde respiratória fraca... - Concordei com a cabeça, mesmo sabendo que aquele desmaio nada tinha a ver com problemas respiratórios.

Na mesma hora me recordei de algo que havia esquecido. Bert ironizara quando eu citei Julian naquele dia, na casa de Gerard... Ele sabia. Divertia-se comigo. E agora toda essa história com o Frank e...

- Nós... – tentei dizer algo.

- Precisamos conversar. – Frank completou simplesmente, o rosto indecifrável.

- Okay! – Bert exclamou – Conversaremos!

- Robert... – Frank o chamou.

- Certo, entendi! – Bert levantou-se – Acho que o “nós” não me incluía. – Fingiu uma voz ofendida. – Tudo bem, tudo bem. Já estou indo. – e caminhou até a porta. – Melhoras, Mikey! – eu odiava muito aquele sorriso despreocupado dele.

Ficamos em silencio durante um bom tempo. Notei que o dia já estava claro. Passara a noite fora de casa. E Kath... Deus, Julian não era meu filho! Foi naquele momento que comecei a assimilar melhor as coisas. O silencio ficava pior e era minha obrigação começar aquela conversa.

- Você fodeu com Bert? – saiu da minha boca antes que eu pudesse evitar.

Frank abaixou os olhos como se confirmasse. Senti uma queimação estranha em meu interior

- E você, – seu olhar foi direcionado à mim. Havia muito cinismo nele – Michael Way? – fez questão de frisar meu sobrenome. Dei-me conta de que no período em que estive dormindo Bert e Frank talvez tivessem conversado muito. Muito mesmo.

Abaixei meus olhos como ele fez. O silencio voltou a nos incomodar.

- Conheci Bert em uma noite e o levei para trabalhar na empresa do meu pai. – engoli a seco ao notar as coincidências com nossa história – Mas, claramente, podemos ver que Bert não é o tipo de pessoa que leva um emprego a sério. – concordei internamente – Meu pai ficou furioso com as coisas que ele fazia, ou deixava de fazer, e também pelo fato de nós... – não completou. Eu já sabia o que iria dizer. – O caso é que ele o demitiu. Eu sabia da situação precária que Bert estava passando... Desde então ajudo ele e o cara com quem ele vive...

- Meu irmão. – disse sem emoção, lembrando de todas as vezes que Gerard disse estar sendo sustentado por “Um amigo do Bert”, e eu nem havia notado nada.

Frank pareceu pensar, e notei que pelo jeito como me olhava, já deveria saber dessa ligação minha com Bert.

- Road, Way... Quantos caminhos em um só Michael! – exclamou de repente me pegando de surpresa.

Fitei a colcha que me cobria, disfarçando. Aquela colcha vermelha me trazia lembranças tão boas...

- Por quê, Michael? – Frank indagou. Não havia mais cinismo em seu olhar. – Você sabia que mesmo que eu soubesse de tudo eu não ligaria! Mesmo que eu soubesse que você é casado, ou que tem um filho – engoli a seco. Não era meu filho – ou que você é considerado heterossexual por todos a sua volta... Mesmo com tudo isso eu continuaria com você! Então... por quê?

Ele não sabia, mas eu mesmo já havia me feito essa pergunta milhares de vezes. Conhecia Frank o suficiente pra saber que todos os meus segredos não atrapalhariam nossa relação, mas, mesmo assim, eu não queria que ele tomasse conhecimento de tudo. A pergunta voltou novamente a encher meus pensamentos e, por mais incrível que pareça, no meio de uma situação tão tensa quanto aquela, uma resposta finalmente me ocorreu.

- Eu não queria te envolver na minha vida. – respondi com toda sinceridade.

Olhou-me durante alguns segundos sem entender.

- Mas... Por quê? – estava suplicando. Parecia estar sofrendo alguma dor.

Era este o momento. Só havia uma resposta a ser dada, uma resposta que nunca fui obrigado a dar a ninguém. Eu poderia fingir que não havia escutado. Poderia mudar de assunto ou inventar uma nova mentira. Mas eu não podia. Não conseguia. Eu precisava falar.

- Frank... – comecei sem coragem. Sentei na beirada da cama, ficando de frente para ele.  – Eu preciso te contar algo... Eu... – parei. Seus olhos me impediam de continuar falando.

- Conte-me, Michael. – Frank me encorajou – Não importa o que seja. Conte-me.

Suspirei.

- Frank... – disse novamente – Eu... – me olhou impaciente, o rosto preocupado.

Alguma coisa me impedia de contar, sentia que se eu chegasse a dizer aquilo, automaticamente, se tornaria mais real. Comecei a sentir um estranho formigamento em meu rosto e uma enorme vontade de sair dali. Mas suspirei... – Eu... Estou morrendo, Frank. – e contei.

Não teve nenhuma reação. Continuou me olhando, como se ainda esperasse que eu dissesse alguma coisa. Parecia que estava fitando algum ponto através de mim, sem me notar de verdade.

- Eu tenho um tumor, Frank – continuei, o formigamento aumentando cada vez mais, agora acompanhado de um disparar no peito – Vou morrer.

Novamente silencio. A mesma expressão. Foi só depois de alguns minutos que esboçou seu primeiro sentimento.

- Você está mentindo. – concluiu. Estava incrédulo.

- Não... –  Suspirei – Fui ao médico e levei esta sentença  e...

- E quando você foi ao médico? – perguntou com um tom um tanto quanto acusador, como se estivesse prestes a me desmascarar. Ou talvez fosse apenas fingimento.

- Antes de te conhecer... Ninguém sabe disso... Só você. – Aquilo estava sendo mais difícil do que eu esperava

-Ah! Então você entra aqui, me inventa uma história absurda que descobriu que está para morrer e mesmo assim não contou nada para ninguém e ainda quer que eu acredite? – Sua voz estava beirando ao grito.

- É a verdade... – formigamento pior, batimentos mais acelerados, nó na garganta se formando – Não quis que ninguém soubesse... Não queria que sofressem por alguém que sequer vão sentir falta... Minha vida era um inferno, a morte me pareceu bem tentadora...

Frank parou. Seus olhos se chocaram contra os meus. Estava confuso, irado.

- E quanto tempo você tem, hein? Um ano? – Disse, cheio de incredulidade.

- Por hoje... – sussurrei baixo – Tenho pouco mais de um mês...

- E por que está me contando isso agora?! – Ignorou minha resposta, como se não quisesse ouvi-la. Gritava ainda mais.

- Porque eu descobri, Frank... – não conseguia falar direito, o nó em minha garganta estava tirando meu ar – Que a vida pode ser boa... Descobri que eu ainda estou vivo... Que eu poderia ser feliz. – estava tremendo – Eu descobri, Frank, que eu não quero morrer.

Era a mais pura verdade que eu já havia dito em toda minha vida. Pela primeira vez, desde que soube de meu destino, desejei com toda minha força poder viver. Pela primeira vez percebi que gostava de minha vida como ela estava agora. Percebi que eu precisava viver. Precisava viver com ele.

E antes que eu percebesse, o formigamento aumentou e uma lágrima rolou pelo meu rosto. Não me lembro de nunca antes ter chorado, muito menos por simples pena própria. Aquilo que eu mais odiei, que eu mais evitei, a piedade, agora nutria por mim mesmo.

As lágrimas caiam de meus olhos sem que pudesse evitar. Pelo embaço pude ver a silhueta de Frank se aproximar, me abraçando fortemente em seguida.

- Eu... – ele disse com uma voz fraca em meu ouvido – Amo você.

Me amava. Alguém no mundo me amava com sinceridade. Alguém por quem eu nutria o mesmo sentimento. Eu o amava. Foi digno de um sentimento que nunca cheguei de fato a demonstrar.

O abracei mais forte, grudando todo seu corpo no meu, precisando sentir o calor que ele exalava.

- Não quero morrer, Frank...- disse entre soluços infantis – Eu o amo e não quero te deixar.

Frank afrouxou o abraço, e segurou em meus ombros, me encarando. Tinha algo doentio em seu olhar.

- Você não vai morrer. – disse entre dentes – Você não vai morrer. – afirmou, me balançando levemente.

- Frank... Eu vou. – vê-lo estava acabando comigo.

- Não, Michael! – gritou me balançando ainda mais – eu sou rico. Ricos não morrem! – não estava acreditando que ele dizia aquilo - Meu pai já teve de tudo que você pode imaginar: infartos, derrame, tumores... e olhe ele aí! Firme e forte infelizmente! –Abriu um sorriso triste – Tem que haver um jeito!

- Frank.. – Não entendia, eu já havia me conformado, ele também deveria. Comecei a ficar cansado em ver as lágrimas continuando a rolar.

- Vamos sair por aí! Procurar os melhores especialistas! – me agitava mais, começando a machucar. – Eu não vou deixa você morrer! – gritou para mim me segurando com brutalidade.

O encarei assustado. Ele sorriu, largou meus braços e me abraçou chorando. Mais uma vez, aquelas lágrimas desconhecidas para mim, se ajuntaram em meus olhos.

- Eu prometo. – ele disse entre gemidos de dor. Eu queria dizer para que não me prometesse coisas impossíveis de se cumprir, mas preferi apenas abraçá-lo. Já era o suficiente.

---

Já era a tarde quando fui para casa naquele dia. Minha mãe veio até mim preocupada, assim que irrompi a porta. Engraçada aquela cena. Dr. Brooke, Bob, Kath com Julian adormecido em seu colo e até Gerard ainda estavam lá, sentados no sofá. Não haviam dormido naquela noite.

-Meu Deus! – Minha mãe me abraçou. Não me lembrava da ultima vez que havia me abraçado – Ficamos tão preocupados!

- Está tudo bem, Michael? – Edmund perguntou acentuando suas palavras, com um significado especial.

Não respondi, estava um pouco atordoado ainda. Bob se levantou e me deu tapinhas nas costas, como apoio. Gerard de mexeu um tanto inquieto, me lançando olhares que tentavam parecer despreocupados. Mas o estado de Kath me impressionava. Estava abraçada a Julian, evitando me olhar, a face brilhante de lágrimas.

Parecia que estava em um mundo surreal, onde as pessoas realmente se importavam comigo. Primeiramente, pedi para segurar Julian. Aquele Mikey do dia anterior havia sido capaz de esquecer de umas das coisas mais básicas quanto a criação de crianças: Laços consangüíneos não são o suficiente para se ganhar o amor de um filho. Assim como Gerard nunca sentiu-se como filho de meu pai, eu amava Julian com o maior dos amores paternais. O Mikey de ontem havia sido egoísta. Ele gemeu um pouco, sendo despertado. As bochechas grandes e rosadas, os olhos claros, o fino cabelo negro. Parecia tão evidente que é filho de Gerard, e mesmo assim meu amor não me fez enxergar isso por anos. Melhor assim. Adormeceu novamente e o deixei em sua cama.

Sem maiores dramas anunciei que estava indo embora. Ninguém me interrompeu enquanto eu dizia. Falei que viajaria com um “amigo” e que precisava desse tempo sozinho. Dr. Brooke entendeu o que eu queria dizer e não disse nada.

Fui até meu quarto arrumar minha mala sendo acompanhado de apelos desesperados de Kath.

- Não, Kath. Eu estou indo. – disse enquanto metia umas camisas na mala. – Mas... – a olhei. – Eu não estou fazendo isso por ódio a você... Desculpe-me pelas coisas que eu disse... Mas é que...

Ela me interrompeu com um beijo desesperado, segurando meu rosto entre as mãos. Retribui como pude e depois a afastei, focando meus olhos em seu rosto.

- Será melhor assim. – sorri, limpando suas lágrimas – Cuide de Julian por mim, afinal, ele é nosso filho... e saiba que não me arrependo de nenhum dia sequer que passei com vocês.

- Ta. – respondeu entre soluços.

Peguei minha mala e fui até a sala. Abracei minha mãe assim que a vi. Estendia-me um pote com alguma sobra do jantar de ontem.

-Se sentir fome... Essa viagem pode ser longa. – disse em meu ouvido enquanto eu a abraçava.

- Desculpe por tudo o que eu fiz a você, mãe. – eu precisava dizer aquilo.

- Por que, filho? Só não demora porá voltar, ta? – e me soltou. Consegui enxergar um vestígio do antigo “amor de mãe” que um dia ela já nutrira por mim.

Bob me puxou para um abraço apertado.

- Cuide-se, amigo. – disse rapidamente em seu jeito costumeiro, um pouco envergonhado.

Edmund me estendeu a mão. Mas eu coloquei meus braços em volta de seu corpo.

- Obrigado, Doutor. Obrigado por tudo. – eu disse enquanto sentia que ele começaria a chorar. Era o único que sabia o que minha viagem realmente significaria. – Serei eternamente grato se me prometer nunca se afastar dessa família. – sorri e ele concordou com um movimento de cabeça, enquanto tentava esconder as lágrimas.

Gerard me fitou por algum tempo. Eu também lhe lancei o mesmo olhar. Meu herói, meu rival. O cara responsável por grandes desgraças de minha vida. Meu irmão.

- Michael. – ele disse de repente, os olhos abaixados – Desculpe-me. – Acho que não era ilusão: Gerard Way realmente estava se desculpando. – Mesmo que eu ache que nunca irá me desculpar... mas... Desculpe-me. – repetiu.

E contra todo o meu orgulho eu acenei com a cabeça.

- Não se preocupe. Eu deveria ter entendido o seu lado... Pelo menos uma vez...

Ele sorriu e me puxou para perto, afogando sua cabeça no vão de meu pescoço.

- Te amo, irmãzinho. – disse um pouco malicioso de mais pra uma cena de despedida. Certo, aquele era o Gerard. O Gerard de sempre.

Afastei-me e apanhei a mala. Caminhei até a porta e olhei para trás novamente. Kath, mamãe, Gerard, Edmund e Bob olhavam-me silenciosos. Aquilo era uma despedida. Apenas sorri e fui, o carro de Frank já estacionado em frente à velha casa.

- Você está bem? – perguntou enquanto eu entrava com olhos muito perdidos.

- Não. – respondi sinceramente.

---

Assim começou a nossa aventura. Poderia reclamar da rotina de aeroportos que tive, mas ele estava ao meu lado e tudo parecia bem mais fácil. Foi com ele que visitei as frias ruas de Londres e os cafés de Paris pela primeira vez. Foi com ele que me vi freqüentando todo e qualquer consultório médico, fazendo todos os exames possíveis.

Foi com ele também que comecei a sentir dores cada vez maiores. Dores que os analgésicos não encobriam. E foi nos braços dele que desmaiei quando estava em Roma. Ele está sempre comigo, ao lado de minha cama aqui no Egito, nossa última parada. Fica me observado escrever por horas mesmo eu dizendo que demoraria até contar toda a história. Bom, mas agora eu mal consigo escrever, as dores me impedem de segurar o lápis e passo a maior parte do dia dormindo.

É incrível como ele não desiste nunca. Só esta semana três médicos e mais dois curandeiros me visitaram neste quarto. Eu gostaria de dizer que ele não precisa se desgastar assim, mas agora as palavras já não saem mais da minha boca.

Isto é triste, porque eu gostaria de lhe falar tantas coisas. Eu gostaria de dizer que o amo. Que amo Kath e meu filho. E minha mãe e Gerard. Dr. Brooke, Bob e até mesmo Bert. Gostaria de dizer que ele me ensinou a amar todas essas pessoas. Dizer que fez os últimos seis meses serem os mais felizes de minha vida. Mas eu não consigo. Minha boca só solta gemidos sem sentido. E meus pensamentos começam a não ter sentido também.

Está cada vez mais difícil terminar de escrever isso, mas eu preciso. Kath tem que ler. E todos os outros. Aquela foi a última vez que os vi e eles precisam saber da verdade... E estou com saudades das bochechas rosadas de Julian, ou dos lábios bem feitos de Katherin e das bobagens que minha mãe fala.

Mas nada faz muito sentido agora. Porque eu sinto meus batimentos ficarem cada vez mais fracos. E estou perdendo a força na mão. E imagino o que esteja acontecendo. Acho que isto se chama morrer.

Fim. 


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