Utopia escrita por dastysama


Capítulo 4
Capítulo 4 - Um Símbolo em Relevo


Notas iniciais do capítulo

Sou daquelas que não aguenta e tem que postar todos os capítulos de uma vez, então aproveitem Principalmente por que vou viajar e se o 3G permitir, tentarei postar mais rápido.



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Eles haviam dado uma geral na casa inteira, havia luz elétrica na casa e saneamento também que segundo Biene foram instalados no começo desse século. A garota havia explicado tudo sobre o local, era incrível como alguém pudesse gravar tantas datas e tantos acontecimentos. Por fim cada um escolheu seu quarto no segundo andar – foi difícil já que devia haver no mínimo uns cinquenta quartos –, perto do banheiro e também das escadas caso precisassem descer para beber algo.

Já era quase seis da tarde e Biene já havia ido embora, ela prometeu a Gustav que voltariam outros dias, mas que hoje estaria ocupada já que tinha que planejar a aula de amanhã. Cada um foi para o seu quarto para descansar já que a viagem fora longa demais, mas todos decidiram abrir o quarto da janela para ver o tal Sol poente que tanto falavam. As colinas verdes salpicadas com um pouco de orvalho por causa da temperatura que caía estavam brilhando abaixo de um Sol enorme pela metade. Ao longe também se via um rio, comprido, cortando o verde, se escondendo um pouco entre as árvores.

Bill deixou a janela aberta enquanto deitou-se em sua cama, que cheirava um pouco de mofo, mas nada que o impedisse de dormir ali. Amanhã ele pediria a Biene para trazer lençóis novos, isso seria ótimo já que o atual parecia meio amarelado. Ele se virou e olhou para o quarto, era um dos maiores quartos que tinha, só não pegou o de casal, por que Tom já havia pegado antes. O quarto tinha um guarda-roupa enorme de madeira, mas que também precisava ser tão lustrada quanto a cama de dossel gigante, sem as cortinas.

Tudo parecia ser tão cativante que era impossível fechar os olhos, todos os detalhes do lugar deixavam qualquer outro hotel que Bill visitara no chinelo. Então ele decidiu virar de lado e ter um último vislumbre dos raios de sol que fazia todo o cômodo brilhar. Fechou os olhos e mais do que rapidamente apagou.

 

Ele estava andando por uma rua, ela era de pedra, mas em certos lugares se via a terra que já tratava de tirar qualquer coisa não natural de sua superfície. O cara com suas calças pretas, uma camisa bem passada abaixo de um terno preto caríssimo ia direto a uma das carruagens que estava estacionada. Com ajuda do cocheiro ele subiu na carruagem e se sentou perto da janela, pensativo.

Seus olhos de um castanho chamativo pareciam estar carrancudos, como se ele falasse com sigo mesmo e não estivesse nada feliz. Pegava uma mecha de seus cabelos compridos e enrolava nos dedos longos, onde se via um anel em ouro com um brasão.

– Para onde Senhor Baumgärtner? – perguntou o cocheiro que cheirava a feno e a fumo, isso deixava as narinas dele irritadas.

– Você sabe, Oscar – disse ele com uma voz mal humorada e com tanta insolência que poderia encher um copo com veneno – Contabilidade. Isso é a minha vida, ou acha que posso escapar dela?

– Sim, senhor – disse ele sem questionar nem responder a pergunta. Não valia a pena.

O cocheiro estalou o arreio e os cavalos começaram a trota, a carruagem passava balançando pelas pedras da estrada e William Baumgärtner ficava mais mal humorado, ainda mais quando passaram na frente daquela casa estúpida. O tal Verführung&Wollust (Tentação&Volúpia) era um Cabaré maldito, que todos os homens daquela cidade não paravam de falar e que na opinião de William poderia continuar fechado igual estava agora, afinal aquelas meretrizes eram noturnas. Ele sentia nojo ao saber que mulheres se vendiam naquele lugar, usando roupas que mostravam seu corpo, as tornando um reles brinquedo que rapidamente perderá o uso.

A carruagem parou bem em frente a uma enorme casa, com fachada de madeira lustrosa onde se via um painel dourado escrito Buchhaltung (Contabilidade). William desceu, sem esperar ajuda do cocheiro e partiu para dentro do local sem se importar com mais nada, apenas em tirar uma garrafinha metálica do terno e beber um gole de uísque antes de começar mais um dia de trabalho. As pessoas olhavam para ele com receio por onde passava, todas elas percebiam que ele estava zangado e nenhuma queria se atrever a deixá-lo pior. Sabiam que podia significar sem trabalho.

William virou à direita e entrou numa ampla sala, com uma mesa de mogno, um sofá com estofado ricamente bordado, um armário grandioso e outra mesa menor, onde um cara de cabelos loiro curto, usando óculos de aro redondo, vestido em roupas de segunda mão meio surradas.

– Bom dia, Schmidt – disse William tirando o terno de seda e colocando em um cabide – Espero que já terminou de ver as tarifas que eu mandei.

– Sim, senhor – ele disse pegando os papéis correspondentes e entregando para William – Passei a noite inteira fazendo isso.

– Ótimo, Schmidt – disse ele folheando e se sentando em sua mesa – Bom trabalho.

O sorriso no rosto de Gustaf Schmidt morreu rapidamente. Sim, era um ótimo trabalho, mas parecia que nada era suficiente. Ele era dedicado e responsável, fazia tudo que William pedia, mas nunca recebia nenhum aumento, principalmente quando precisava de tanto dinheiro. Ele precisava salvar sua irmã e parecia que nada estava do seu lado para ampará-lo. Na verdade não era nem questão de salvá-la, ambos precisavam pagar a hipoteca da casa, mas estava tão difícil.

– Senhor Baumgärtner – disse Gustaf tomando coragem, suas mãos tremiam, mas ele tentou ser o mais natural possível – Eu gostaria muito que o Senhor pudesse me dar um aumento, mesmo que seja por curto tempo, eu realmente preciso por...

– Já disse, Schmidt, não dá – ele disse rispidamente organizando as tarifas e pegando papéis na gaveta para – Você sabe que estamos com algumas dívidas a pagar por causa daquela fazenda que faliu. Agradeça por ainda estar aqui, muitas pessoas foram mandadas embora.

Gustaf afundou na cadeira, sentindo o peso do seu corpo dobrar. Engoliu seco e continuou a fazer umas contas enquanto seu coração parecia bater mais fraco. Seria mais uma noite que não saberia o que iria acontecer, com medo de que tudo desse errado. Às vezes sentia uma raiva imensa daquele cara que tinha tudo nas mãos e o tratava como se fosse um nada.

– É que eu estou precisando muito – disse Gustaf parando de fazer as contas – Você sabe... a cidade inteira está falando...

– Claro – disse ele com a voz insolente de sempre sem ao menos olhar para o colega de trabalho – Sua irmã, não é mesmo? Sinceramente, Schmidt, ela podia muito bem recusar, mas preferiu se submeter a um lixo.

As palavras dele o atingiram com impacto, ele pensou em se levantar e dar um soco na cara daquele hipócrita, mas isso pioraria as coisas. Ele era calmo, não ia perder a razão tão facilmente, então apenas respirou.

– Ela não teve escolha, era a única opção. Acha que eu iria deixá-la fazer isso dessa forma? Faria tudo por ela.

– Claro que faria, ela é de sua família. Mas se eu fosse você, não me preocuparia mais com isso, é uma desonra para você mesmo. Ter o nome Schmidt desonrado dessa forma, mesmo não tendo tanto poder, é terrível saber que estão tão mal falados por todos os cantos dessa cidade. Honre seu nome, Gustaf – ele disse lançando um olhar nada significativo, só com puro desdém – Se não, quem vai honrá-lo?

William abaixou a cabeça de novo e começou escrever alguma coisa mais importante do que continuar a dar atenção a Gustaf, enquanto este apertava o punho contra a mesa, fazendo os nós do seu dedo embranquecer. Mais uma vez ele não podia fazer nada. Então se afundo na cadeira de madeira dura e continuou a fazer seu trabalho, era o melhor que podia fazer no momento. Talvez a única coisa.

 

Bill Kaulitz abriu os olhos, estava em seu quarto, olhando para o dossel sem cortina onde a única coisa que havia acima era o teto branco com um lustre cheio de pedrinhas que tilintavam ao se encontrarem. Olhou para o lado e viu que a janela estava aberta e um frio cortante estava fazendo o lustre balançar.

Ele se levantou e foi até ela, fechou-a rapidamente já que o frio estava tomando conta do local. Já devia ser quase umas oito horas e ele nem arrumara as malas ainda, apenas ficou olhando o quarto novamente como se houvesse algo por lá, afinal ele se sentia estranho. Na verdade, ele teve sonhos tão estranhos, se lembrava de tudo como se fosse um ocorrido e não algo vago.

Tinha o Gustav no sonho, mas ao mesmo tempo não era ele. O mesmo valia para si mesmo, havia algo de estranho, ele não agia daquela forma, agia? Sentou-se na cama e passou a mão pela testa, ela estava molhada de suor apesar do frio que fazia. Ele decididamente precisava de um copo de água.

Abriu a porta e pelo visto, os outros também estavam dormindo nos seus devidos quartos já que um silêncio enorme se estabelecia na casa. Desceu as escadas ligando as luzes por onde passava, já que o lugar era grande demais para se andar no escuro. Na cozinha enorme, Bill procurou por um copo nos armários, achou alguns empoeirados e limpou-os antes de pegar uma garrafa na geladeira que por milagre alguém – provavelmente Gustav – havia deixado ali.

Então ele olhou para uma das maçanetas do armário. Era o brasão da família novamente. Baumgärtner. Isso fez flashes do sonho voltar novamente, tudo parecia tão real e assustador. Mas só deveria ser um sonho por causa de tudo que está acontecendo, é só um sonho. Nada mais do que isso.


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