Utopia escrita por dastysama


Capítulo 36
Capítulo 36 - O Lago de Sangue




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Isso era apenas superstição. Era o que Bill pensava sem parar na sua cabeça, enquanto voltava para o carro e dava uma olhada na árvore genealógica da família novamente. Ele anotou vários nomes em um bloquinho de notas que a bibliotecária lhe emprestara, só queria apenas confirmar que a velhinha estava errada.

Mas o que não saía de sua cabeça era que Biene era realmente descendente dos Baumgärtner, por isso a tamanha semelhança dela com Meredith Gottwald e com Lisbeth. Isso também explicava o problema que os pais dela tiveram com Eleazar, ou o pai ou a mãe de Biene era filho dele e com certeza não gostou nada de saber que o pai era um mulherengo traidor.

Outra coisa que era digna de atenção era o motivo de não ter quase nenhuma informação sobre os Baumgärtner, com certeza Eleazar havia escondido todas as provas, mas Biene e Bill haviam conseguido achar todos os livros no mausoléu. Talvez por ter vivido quando jovem na mansão ele conhecia todos os segredos dela mais do que ninguém.

Com o bloquinho cheio de nomes nas mãos, Bill começou a procurar sobre eles no computador, mas só conseguiu descobrir um pouco sobre os últimos nomes da árvore genealógica e nenhum deles parecia ter morrido de forma trágica. Infelizmente ele havia deixado todos os livros na mansão, então foi até a bibliotecária novamente.

– Você tem jornais antigos? Principalmente algo em relação aos Baumgärtner? – Bill perguntou.

– Por que quer desenterrar esse passado, querido? Esqueça dele – ela disse calmamente, voltando a tricotar o que parecia ser sapatinhos de bebê.

– Olha, você pode acreditar ou não, mas estou vivendo por um tempo na mansão dos Baumgärtner e tem coisas estranhas acontecendo comigo. Há alguma coisa do passado lá que precisa ser descoberta, eu estou desesperado para descobrir o que é e preciso de ajuda – Bill disse batendo as duas mãos na mesa fazendo tanto a velhinha quanto os alunos na mesa de estudo assustarem – Você tem os jornais ou não?

A secretária engoliu seco e segurou a cruz que pendia em seu pescoço, pelo visto ela era mais supersticiosa do que aparentava. Ela chamou Bill até os fundos da biblioteca, atravessando várias estantes cheias de livros velhos. Em uma das paredes, meio escondido, havia uma porta de madeira escura, a velhinha tirou uma chave do bolso do cardigã e abriu a porta.

– Ninguém pode entrar aqui, nós temos algumas notícias sobre os Baumgärtner, mas Eleazar decidiu que era melhor esconder tudo. Ele tem medo de que algo aconteça com o filho dele ou com a neta. Graças aos céus que ela não está aqui agora, Eleazar me mataria caso a colocasse no meio de tudo isso.

– Tudo bem, apenas me mostre às notícias – Bill disse, adentrando a sala escura e cheirando a mofo.

A velhinha puxou uma corrente e a uma lâmpada iluminou o pequeno aposento cheio de pastas pretas e papéis jogados. Havia outras tralhas pelo local, mas nada que realmente interessasse já que os olhos de Bill pairaram sobre as pastas pretas. A mulher pegou as pastas e colocou no colo dele.

– Aqui está tudo que você precisa, dê uma folheada rápida aqui mesmo. Dou-te alguns minutos, logo volto e tranco essa porta para não ser aberta mais, entendeu? Não se demore.

Bill nem esperou a velhinha sair e começou a folhear a pasta que estava cheio de jornais plastificados para que não estragassem com o tempo. As notícias falavam um bocado sobre os Baumgärtner, a maioria era sobre os homens que entraram para a política ou que se tornaram barões, marqueses, viscondes e duques. Por enquanto não havia nada de trágico, até que chegou a uma notícia que datava 15 de Abril de 1924.

“Jorunn Baumgärtner, de apenas sete anos, morreu afogada no lago local durante o piquenique anual da família Baumgärtner. Ninguém percebeu seu sumiço durante a festa, só ao seu término que os seus irmãos a encontraram no lago já sem vida”.

– Ah, não – Bill engoliu seco – Ela também morreu afogada.

Não demorou a outra série de nomes aparecerem. Rosemarie Baumgärtner, em 4 de Novembro de 1945, foi morta pela amante do marido no lago da cidade. Isolda Baumgärtner, em 27 de Junho de 1986, caiu do barco de pesca do pai e bateu a cabeça nas pedras submersas do lago. Emilie Baumgärtner, em 12 de Março de 1991, recebeu um tiro de um homem que amava, mas não era correspondido e caiu no lago para morrer afogada e ensanguentada. Todas eram mulheres. Todas descendentes dos Baumgärtner. Todas as mulheres da árvore genealógica morreram a partir de 1863.

“Não vou matá-la, o inferno não merece mais uma pessoa como você. Espero que você apodreça aqui mesmo, que a própria vida a amaldiçoe e que todas as suas malditas descendentes sofram da mesma maneira que você”.

– Maldições são de mentira, isso não existe – Bill disse, tentando assegurar a si mesmo – Não é possível que seja verdade.

 

– Não cometa mais erros do que já cometeu, Senhor Baumgärtner – o padre disse, indo atrás daquele homem impetuoso – Vocês todos cometerem um terrível erro, mataram uma jovem e levou seu próprio filho para a cova!

– Ele não vai para a cova – disse o Senhor Baumgärtner, indo antes de dois dos seus empregados que carregavam o corpo de William que estava envolvido em panos – Aquele maldito não merece entrar no nosso mausoléu, não merece nem um pedaço de terra! Ele desonrou nossa família, jogou fora tudo que eu dei a ele. Foram anos de dedicação! E o ingrato prefere fugir com uma meretriz. Prefiro-o morto a um fugitivo com o nome sujo.

– O senhor não pode fazer isso, não permito! Ele merece ir para uma cova. O pobre rapaz estava apaixonado pela jovem, ela não era uma meretriz, trabalhava até para minha igreja.

Mas o homem não escutava, o padre descia pela grama com extrema dificuldade por causa da idade e de batina que era um pouco mais comprida do que deveria ser. Por mais que ficasse falando da bíblia e sobre o céu e o inferno, o Senhor Baumgärtner não ouviu. Só pararam de caminhar quando chegaram ao lago.

– Podem jogá-lo, deixe que afunde e sirva de comida aos peixes – comandou o Senhor Baumgärtner para o seus empregados.

– O que? – exclamou o padre – Não pode fazer isso! É contra a lei da igreja! O senhor quer ir para o inferno?

– Se você não se calar padre, vai conhecer o inferno mais rápido que eu – o homem retrucou, mostrando a arma dentro do seu casaco – O filho é meu e faço o que bem entender.

Os empregados não esperaram também para descobrir como o inferno é, jogaram o corpo na parte mais funda do lago que afundou por causa das pedras que estavam dentro do pano. O padre sentiu a cor sumir do seu rosto enquanto via o corpo sumir nas profundezas escuras, rogou algumas preces em sua cabeça pela alma do rapaz.

– Espero que fique em paz – sussurrou.

Ninguém percebeu quando o Senhor Baumgärtner foi embora, com lágrimas descendo o seu rosto enrugado. A carta que mandar para Heinrich vir para a Aach fora encaminhada, ele cuidaria dos negócios da família e se casaria com Meredith Gottwald. O primogênito iria acabar com todas as memórias do outro filho, o favorito. Na manhã seguinte, os empregados encontraram o corpo do Senhor Baumgärtner, morto de tanta tristeza e decepção, com uma expressão de susto cravada nos sulcos da pele, como se tivesse visto um fantasma.

 

– Ei, você! – disse a bibliotecária, não sabendo se o chamava de rapaz ou moça, já que a aparência dele era tão exótica a ponto de esconder de que sexo era – Está dormindo?

Bill não estava dormindo, apenas estava preso naqueles flashes que apareceram diante dos seus olhos. Quando recobrou a consciência, percebeu que não estava mais nas margens do lago e sim de volta ao pequeno cômodo, com a bibliotecária o chacoalhando.

– Você está passando mal? – ela perguntou – De repente ficou pálido.

– Não... eu...

Meu sonho sempre foi poder nadar nele, mas como faz muito frio, acho que nunca vou poder fazer isso. Pelo menos, algum dia eu posso tentar navegar nele com algum barco. Um cara daqui está construindo um de madeira para mim, em breve vai estar pronto e vou poder ficar navegando sempre que eu quiser”.

– Ah, droga! – Bill exclamou se levantando rapidamente, jogando a pasta de lado e atravessando os corredores cheios de estantes – Biene! Maldita ideia essa a sua!


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Notas finais do capítulo

Gente, não estranhem se eu demorar a postar, como eu disse não estou tendo muito tempo para escrever, mas continuarei atualizando, só espero que tenham um pouco de paciência se eu demorar muito. No meu twitter @dastysama, se quiserem seguir para saber quando atualizo, tudo bem. Mas não precisam seguir, não estou fazendo propaganda ASHUSHAUUASHHASU. Vcs tbm podem me perguntar qualquer coisa por lá ou pelo e-mail do nyah