Utopia escrita por dastysama


Capítulo 11
Capítulo 11 - Asas Caídas


Notas iniciais do capítulo

Se vocês quiserem dar mais emoção a esse capítulo, ouçam a música que está aí embaixo na fanfic. Eu a acho muito linda e tem todo aquele ar de mistério



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Incompatível, mas não importa

Porque alguém está para ouvir meu choro

Fale se você ouve

Você não é fácil de achar

 

É possível que o Sr. Amável

Já está na minha vida?

Bem na minha frente

Ou talvez você está disfarçado

 

Quem não anseia por alguém para abraçar

Que saiba como te amar sem que você ensine

Alguém me diga porquê eu estou sozinha

Se há uma alma gêmea para todo mundo

 

(Soulmate - Natasha Bedingfiel)

 

William não aguentava mais ficar esperando por Thomas e nem queria que aquela mulher voltasse, mesmo que estivesse trazendo uísque. Saiu daquela mesa rapidamente e começou a descer as escadas, em direção ao meio do salão, onde talvez pudesse localizar Thomas. Teve que desviar várias vezes de mulheres que tentavam seduzi-lo, algumas vezes ele fora até rude, mas era por que não aguentava mais aquela perseguição.

– Ah, aí está você! – William disse quando viu Thomas vindo em sua direção – Vamos embora daqui, esse lugar é insuportável para mim.

– Calma, você agora vai ficar feliz. Siga-me, prometo que não vai se arrepender – disse Thomas fazendo sinal com a cabeça para uma direção.

Mal humorado, William suspirou fundo e marchou ao lado de Thomas, de má vontade. Tiveram que atravessar o salão redondo, com piso de madeira feito simetricamente com desenhos. Como um apreciador da arte, William não conseguiu deixar esses detalhes para trás, pena que o lugar estava sendo usado de maneira errônea.

Os dois subiram no palco pelas escadas adjacentes do lado esquerdo e foram para trás da cortina púrpura e grossa que separava aqueles homens do show que as mulheres iriam fazer. Do outro lado havia várias mulheres se arrumando, correndo com penas e plumas para todos os lados ou dando as últimas retocadas na maquiagem.

– Esse é o seu amigo? – perguntou um cara que William nunca vira antes – Um Baumgärtner?

– Sim, ele mesmo. Por isso que um cara tão sério como ele, quer uma virgem essa noite. Pode vir, garota, não tenha medo. Ele não morde, ainda – Thomas disse dando uma piscadela para uma silhueta que estava olhando em um canto para os novos visitantes.

Uma garota saiu de lá, vestia um espartilho preto sobre uma camisola vermelha que acabava em babados no começo de suas coxas, e depois começava a meia-calça, bordada no começo com flores vermelhas e rendas negras. Para protegê-la do frio, um bolero preto, de mangas compridas de renda, enfeitado com plumas chamativas, sem contar os anéis e colares.

Por mais que ela estivesse vestida de maneira tão vulgar aos olhos de William, ele nunca havia visto uma garota tão bonita como ela. As outras mulheres podiam ser lindas, mas faltava algo nelas, não havia aquela aura pura que regia a garota, ela nunca fora tocada antes. Mas isso não instigou William a querer fazer algo com ela, ao contrário, ele se sentiria ruim por tirar algo tão importante dela apenas por dinheiro.

– Eu não posso – ele disse olhando para a garota – Ela é muito nova.

– Will, está louco? Não existe mulher mais velha e virgem por aqui! Essa é a única!

– Thomas! Eu não posso fazer isso, ela tem uma vida toda pela frente, não vou tirar a virgindade dela por um capricho meu!

– Eu... – ela disse com a voz embargada, tentando controlar a situação – Eu não me importo.

– Viu, Will? Ela quer também. Então pare de frescura e vai ter uma noite que preste, não aquelas que você perde, arrumando tudo na contabilidade, fazendo algo que não te dá prazer nenhum! – Thomas disse usando duplo sentido na frase e pegando o braço de William e de Johanna, os levando a um dos melhores quartos do local, que por acaso ele já tinha usado algumas vezes.

William tentou se esquivar, isso era uma afronta contra si mesmo, mas Thomas usou toda sua força para arrastá-lo ao quarto e quando o conseguiu o jogou longe. Colocou Johanna também no quarto, retirou a chave da fechadura e trancou pelo lado de fora, enquanto William se recompunha e Johanna sentia o medo tomar conta de seu coração, principalmente por que agora está trancada.

– Thomas! Eu vou te matar, seu desgraçado! – William disse batendo na porta com força – Se você não me deixar sair daqui, eu juro que te mato!

– Você vai me agradecer, Will – ele disse rindo do outro lado – Aproveite a sua noite, por que vai passá-la todinha aí dentro.

 Ele desistiu de esmurrar a porta, afinal não adiantaria nada mesmo. Virou-se e deu uma olhada no quarto, era grande e espaçoso, com uma cama enorme e bem arrumada, dando um aspecto mais organizado e menos nojento do William imaginava. Johanna estava parada em um canto, respirando com dificuldade, sem saber o que fazer ao certo, apenas olhando para o seu companheiro de quarto.

– Você não precisa fazer isso – William disse a analisando, percebia o desconforto dela e como não estava preparada para viver uma vida noturna igual à de suas companheiras de trabalho – Não vou obrigá-la a nada.

– Não estou sendo obrigada, eu preciso fazer isso – ela disse com determinação, levantando o rosto e mostrando aqueles imensos olhos cinzentos.

– Vai vender seu corpo por vontade própria? – ele perguntou com desdém na voz. Ele não perdoava ninguém, um cruel.

– Você não entende por que é um Baumgärtner, é rico, tem tudo que sempre quis e não tem tantos problemas quanto nós. Acha que nós nos divertimos ao sermos usada por vocês? Claro que não, aprendemos a fingir com o tempo, aprendemos a aceitar esse trabalho e sonhamos com seu término. Pode ser vulgar eu falar que só faço isso por dinheiro, mas é a verdade! – ela disse em fúria, quase a ponto de chorar, mas segurando as lágrimas com uma força tamanha – Eu preciso de dinheiro, não é só por mim isso, tem mais pessoas em jogo. E seu amigo prometeu dez vezes mais do que geralmente pagam, isso é o bastante para mim.

Todo o ódio que William sentia por estar preso em um quarto com aquela meretriz, foi se esvaindo. Ela era apenas uma garota, alguém tentando ajudar a própria família, sendo adulta antes mesmo de ter aprendido a crescer e estava falando de forma mais justa que ele. Era a vida dela, e não era direito ficar questionando os princípios dela, quando os objetivos dela são mais importante do que os objetivos dele. Ele era filho do dono de uma contabilidade, ela estava entrando na prostituição e ele nem sabia de que família ela era. Não podia ser pessoas mais opostas do que essas?

– Não vou fazer sexo com você – ele disse por fim, mais calmo, se afastando dela e dando uma olhada melhor no quarto – Mas você vai receber seu dinheiro.

– Vou receber por nada? Isso não é um pouco injusto?

– Injustiça seria você fazer algo – ele disse notando uma garrafa de vinho em uma mesa, então pegou uma das taças e a encheu abundantemente – Mas em troca você poderia conversar comigo, afinal o que vou ficar fazendo a noite inteira?

Johanna continuou a fitá-lo, sem sair do seu lugar. Ele era decididamente estranho, um homem recusando sexo era o mesmo que uma planta recusar luz, mas se existiam plantas que podiam viver em cavernas, por que ele não poderia viver sem esse pecado? William levou a taça de vinho aos lábios e bebeu avidamente, depois se deixou sentar na cama, notando que ela não era de má qualidade.

– Vai ficar aí parada? – perguntou ele tomando outro gole de vinho – Sente-se em outro lugar, há uma poltrona ali, ou se preferir, a cama. Prometo que não vou tocar em você, sem sua permissão.

Ela acenou em confirmação e foi até a poltrona, a puxando um pouco mais perto dele, mas longe o bastante também. Johanna ainda não sabia se ele era de confiança, afinal ele falava com tanto desdém na voz, que podia se confundir com sarcasmo, além de ela ter a impressão de que se ele mordesse a própria língua, iria morrer com o próprio veneno.

– Assim está bem melhor – ele disse tirando os sapatos e se deitando melhor na cama – Acho que nos apresentamos de má maneira, me chamou William, me chame do que quiser. E você? Como se chama?

– Johanna – ela disse hesitando um pouco – meu sobrenome não importa muito no momento.

– Tudo bem, chega de famílias por um dia. Mas nunca se esqueça de honrá-la acima de tudo, afinal, como descendente você é a base de uma pirâmide invertida que necessita de força e dedicação para continuar a crescer.

– Sim, família é importante, mas não da maneira que você diz. Não é questão de honrar ela, mas fazer tudo que é necessário por ela. Sei que não estou trazendo nenhum pouco de honra, mas pelo menos estou a ajudando e isso já me deixa feliz – ela disse sorrindo para ele com simplicidade.

William não sabia o que estava acontecendo, mas sentiu um arrepio percorrer seu corpo quando ela disse aquilo. Se fosse qualquer outra pessoa falando isso, ele teria achado um ultraje e teria discutido até o fim, para mostrar que sua opinião era a que estava certa. Mas parecia que seria tolice discutir com Johanna, principalmente da maneira que ela falava, como se não importasse a opinião dele, desde que tudo estivesse bem para ela e para os outros.

Ele não sabia se era o vinho que estava deixando sua mente um pouco mais lenta, mas mesmo assim ele não brigou, nem foi rude, apenas falou quase a noite inteira com ela. Para uma meretriz, Johanna era inteligente e parecia saber de mais coisas que as outras mulheres sabiam. Só parou de falar, quando ela adormeceu na poltrona. Uma boneca vestida de forma indevida.

Então ele a pegou nos braços e colocou devidamente na cama, tomando cuidado para não acordá-la. Deitou ao seu lado, tentando manter o maior espaço possível entre os dois e foi fechando os olhos, sem antes guardar na memória: havia um anjo dormindo ao seu lado. Um anjo bem no meio do fogo do inferno.


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