A Serva dos Deuses escrita por Sorima


Capítulo 3
Tudo é questão de ponto de vista


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Noah fechou a janela enquanto se afastavam da mulher que ostentava um sorriso confiante enquanto os observava partir. Do ponto de vista do homem, aquela mulher, Abi, lhe gerava calafrios; mesmo que não parecesse querer mata-lo não lhe passava nenhuma confiança.

Ela não lhe devia nada, nem tinha jurado lealdade a ele, sequer estava trabalhando para ele por dinheiro; não havia nenhum motivo para mantê-la por perto com a guarda alta, como sempre fazia. A imagem do corpo dentro do saco de lixo voltou a sua mente fazendo-o franzir a testa, ele não tinha sentido nenhum cheiro de sangue e do que conseguiu ver não tinha nenhum ferimento visível.

Contudo, para ele estava claro que o sujeito estava morto, ele tinha visto mais corpos na vida do que gostaria. E aquela tatuagem na bochecha era familiar: aquele homem era um assassino de um grupo em específico que trabalhava naquele país. Noah deu uma risadinha abafada, quem seria o sujeito que tinha gastado tanto dinheiro para apagar sua existência?

— Senhor, quem era aquela mulher? – Vera chamou sua atenção hesitante enquanto entravam em uma rodovia movimentada.

Aquela era uma boa pergunta.

— Quero que você mande uma mensagem para Ray, quero que ele descubra para mim quem é aquela mulher, ela disse que se chamava Abi.

— Sim, senhor – Vera respondeu prontamente.

Não era surpreendente que aquela Abi tivesse atraído a atenção de seu chefe, já que mesmo de dentro do carro Vera se sentisse inquieta de olhar a estranha, a simples presença dela chegava a ser ameaçadora. Vera olhou pelos retrovisores para ver se poderia fazer a próxima curva antes de apertar suas mãos no volante.

Passou a língua sobre os lábios para umedece-los e virou o volante. Virou mais algumas curvas seguindo na direção da empresa de Noah e então circulou o quarteirão mais de uma vez para confirmar suas suspeitas. Que bom que notou aquele movimento suspeito antes de virar na direção do seu real destino, pensou aliviada.

— Senhor... – avisou.

— Quantos?

— Três carros pretos e três motos – Vera enumerou franzindo a testa para a moto que os seguia de uma distância maior com somente o piloto.

— Você tem... – Noah olhou para o relógio de pulso – cerca de dez minutos para despista-los.

— Segure-se firme – Vera alertou antes de afundar o pé no acelerador fazendo os pneus queimarem no asfalto deixando os perseguidores rapidamente para trás.

A aceleração inesperada conseguiu pegá-los de surpresa dando vantagem o suficiente por algum tempo, mas não tardaram a voltar a aparecer no retrovisor. Duas das motos se destacavam a frente na perseguição se aproximando cada vez mais, Vera sabia que as duas motos logo os alcançariam, tinham uma potência muito maior do que do carro que usavam e os pilotos eram muito habilidosos ziguezagueando entre os carros.

Vera deu um sorriso animado, a adrenalina era algo maravilhoso, por isso que ela gostava de ser piloto de fuga, e aquele seria um desafio e tanto. Conhecendo aquela área da cidade com a palma da mão, Vera costurava entre os carros sem nenhuma hesitação seguindo rapidamente para a região mais agitada da cidade.

O principal centro cultural da região contava com muitas casas de show e entretenimento, como parques de diversão e shoppings, além de uma multidão avassaladora de pedestres que era eficazmente alertada para sair do caminho enquanto Vera buzinava ininterruptamente sem diminuir a velocidade. Para seu prazer e alivio, a multidão entendia rapidamente e ninguém sofreu qualquer tipo de acidente.

Isso não impediu que as motos conseguissem se aproximar mais, mas ao menos as deixou um pouco mais lentas. Virando agilmente para passar pelo estacionamento de um parque de diversões, Vera levou o carro até o máximo de aceleração e quebrou a cerca simples de madeira que impedia os carros de saírem sem pagar.

Vera soltou um risinho de satisfação quando não encontrou nenhum obstáculo a sua frente e inclinou o corpo para frente em expectativa, era agora que ela iria enrola-los sem que percebessem. Discretamente, Noah soltou um pequeno suspiro do banco de trás e apertou um pouco mais seu cinto de segurança.

Sem diminuir a velocidade, a piloto de fuga começou a fazer diversas curvas, algumas vezes circulando os quarteirões e mudando bruscamente de direção. De alguma forma ela conseguia manter seus perseguidores a uma distância exata durante a perseguição; sem deixa-los se aproximar ou perde-los de vista.

— Vera, nossos 10 minutos terminaram – Noah falou olhando o relógio – não temos tempo para você continuar brincando.

Fazendo um biquinho, a secretária assentiu. Era uma pena, mas teria que encerrar seu jogo de gato e rato. Virou o volante entrando em uma rodovia que os levaria para fora do centro da cidade em direção ao porto. Não demorou muito para o tráfego de carros diminuir e consequentemente os perseguidores estavam conseguindo se aproximar, as motos vinham mais rápido.

— Senhor, as motos vão conseguir nos alcançar antes de chegarmos nos galpões.

— Eu percebi – falou retirando o cinto e pegando uma pistola de debaixo do banco – você cuida dos carros quando chegarmos no porto.

Fez uma base estável com as pernas no banco e os braços sobre a tampa do porta-malas e mirou pelo vidro fume do carro na moto mais próxima. O som de estouro e vidro quebrando encheu o carro e logo em seguida o piloto perdeu o controle da moto quando o pneu da frente estourou os fazendo derrapar no asfalto. Porém, sua bala não foi a única a atravessar o vidro, três outros buracos indicavam que seus perseguidores já haviam aberto fogo contra eles.

O vidro o tinha protegido da mira dos perseguidores, mas era melhor acabar com aquilo logo. O piloto da outra moto estava avançando em um ziguezague irregular na direção deles, uma estratégia esperta de evitar as balas. Noah sorriu, eles não eram idiotas, mas o tinham subestimado. Mirou cuidadosamente a parte desprotegida do pescoço do passageiro que carregava armas automáticas nas duas mãos.

Sua respiração contava os segundos e as mãos firmaram a mira, no espaço entre uma respiração e outra ele atirou assustando o piloto quando a ausência do parceiro deixou a moto mais leve. Ele acelerou sacando uma pistola do coldre da cintura e disparando contra o vidro, finalmente o tirando do caminho para poder mirar no alvo, mal o colocou na mira sentiu o corpo ser empurrado para trás e o sangue encher sua garganta, sufocando-o.

— Vamos precisar de trocar o vidro de trás – Noah avisou sua secretária.

— Sim, senhor. Isso é estranho... – acrescentou vendo que somente os carros tentavam acompanha-los. 

— O que? – Noah perguntou mantendo o olhar sobre os perseguidores.

— No início da perseguição eu tinha contado três motos... – aquilo a deixava inquieta – Estamos chegando no porto.


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