A surpresa e a desconfiança atravessaram o rosto de Noah Kristein quando este se virou de súbito para encara-la, estudando-a dos pés à cabeça. Ela uma jaqueta de couro, blusa de gola alta e calças escuras para vestir, além de botas pretas de salto e cano alto. Seu irmão o tinha ameaçado com os experimentos ilegais que ocorriam nos laboratórios secretos da família, e então parecia ter uma assassina surgindo às suas costas. Ele não seria morto tão facilmente.

— Quem te enviou? – Noah cuspiu as palavras olhando-a com desprezo.

A mulher arqueou uma sobrancelha e levou uma mão a cintura, um sorriso brincando nos lábios.

— Que homem ativo! Você deve comer muitas bananas para estar tão em forma assim – comentou despreocupada.

Noah franziu a testa, mas não relaxou.

— Você não sabia? Níveis baixos de potássio causam câimbras, paralisia e ritmos cardíacos anormais, mas você parece saudável como um touro – explicou o que achava ser óbvio.

O olhar do homem se tornou mortal, cada vez mais desconfiado. Parecia considera-la uma ameaça a sua vida.

— Vou perguntar uma última vez: quem te enviou? – repetiu entredentes.

O carro preto parou a alguns metros de onde estavam e a mulher de dentro dele, Vera, observava-os atenta. A estranha soltou um suspiro.

— Vim encontra-lo sob orientação da minha deusa. Meu nome é Abi, é um prazer conhece-lo, senhor Noah Kristein – respondeu em uma curta reverência.

— Deusa... – Noah repetiu com um riso debochado – Qual dos meus parentes que te mandou aqui? Alguma das minhas tias? Ou quem sabe alguma das minhas primas? Alguém tão endeusado é difícil de achar fora da família... – uma ideia fez seus olhos se estreitarem - Uma possível nora?

Em nenhum momento ele relaxou, seus olhos não perdiam nenhum movimento, por menores que fossem. Abi sorriu diante daquelas possibilidades fajutas.

— Com certeza nenhuma das suas parentas chega aos pés da deusa que sirvo. Além disso, ela não quer o seu mau, ela quer ver o seu plano dar certo – Noah franziu a testa.

— E por que está aqui? – perguntou sério.

— Vim ter certeza de que realizará seu intento tirando o lixo do seu caminho – indicou uns sacos de lixo que estavam amontoados ali perto.

Kristein refletiu sobre o que ela tinha dito antes de caminhar até os sacos, que propositalmente foram deixados mal fechados, e espiar lá dentro. Seus olhos não mostraram nenhuma emoção enquanto seus lábios se tornaram uma linha fina.

— Aparentemente alguém estava com pressa para lhe tirar do caminho está noite, já enviaram um assassino em seu encalço – Abi continuou com a voz suave, observando-o.

Uma névoa saiu por entre seus lábios enquanto ele soltava o ar e voltava a avalia-la com menos agressividade, mas também sem nenhum calor. Terminou a avaliação fitando seus olhos enquanto ela lhe sorria amigavelmente, enfim meneou a cabeça e lhe virou as costas indo em direção ao carro. O sorriso da mulher se alargou:

— Confia tanto em mim a ponto de me mostrar as costas? – perguntou.

— Se me quisesse morto já teria me matado – falou sem se virar.

— E se eu gostar de brincar com a minha presa? – continuou começando a segui-lo silenciosamente.

— Então, eu dançaria com você – disse abrindo a porta do carro e entrando. Ele fechou a porta e abriu o vidro para concluir sua ilusão - E você poderia ter uma segunda rodada com o homem do saco, embora eu duvide que ele realmente tenha dançado com você.

A um sinal de Noah, Vera deu a partida no carro e se distanciou deixando Abi em um misto de diversão e contentamento. Talvez não fosse tão entediante ser a babá de um mortal.