Ars Olins, estado de guerra escrita por MT


Capítulo 5
Capítulo 2.5° — Uma Barbe rosa socando um cara de meia idade, pondo-o no porta malas do carro e dirigindo até o edifício subterrâneo de cargas




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Ars Olins - imperium ignis




O teria matado se fosse um outro qualquer, alguém que não é cidadão de Marte.  Mas o jogara no porta-malas após o seguir até o banheiro, socar-lhe o queixo e assistí-lo cair inconsciente. Dirigiu por meia hora até a placa de aço na retaguarda da colina e chão. Com uma ligação a Virgulino, teve-a sendo retraída para trás e revelando uma ladeira inclinada para baixo que dava acesso às instalações subterrâneas. Desceu pela rampa e colocou o carro na segunda vaga da esquerda no sentido da porta do complexo até a rua. Desceu do veículo, abriu o porta malas e jogou o sujeito sobre o ombro. 

O nome dele era Vilmar Carvalho, um bolsona hipócrita que trabalhava no Jornal Nacional. Pesava noventa quilos, era careca e as pernas de bode viam-se escondidas atrás de calças e sapatos específicos para sátiros. 

Ars andou a passos firmes até a porta de ferro com dispositivo de leitura biométrica na lateral. Pousou a mão no leitor, a passagem foi liberada. Dois soldados de Marte bateram continência e um deles se ofereceu para levar o jornalista. Ars o entregou e disse para jogá-lo em um aposento qualquer que não houvesse sido pego. O militar assentiu e caminhou ao lado dela no corredor que levava reto a ramificação para direções opostas. Ars foi a direita, o sujeito carregando Vilmar a outra.

Posso quase ver as caras que irão me receber, os ´´avisei`` e ´´ferrou com tudo`` pendendo nas testas franzidas e lábios tensos. ´´Ir lá fora é um erro`` tinha sido uma longa conversa que circundara de ´´ser reconhecida`` a ´´há vários repórteres`` e então de novo. E como a maldita arrogante que sou achei que trajes rosas e dar adeus a anos de crescimento capilar seriam um disfarce suficiente. Fez uma careta. Talvez eu devesse arranjar uma maquiagem e pôr-me no aspecto de palhaça para combinar com o papel que fiz. Jogou a jaqueta para longe e a fez entrar em combustão. Odeio essa maldita cor. Abriu a porta dupla que levava ao auditório e encarou os rostos sentados na arquibancada. O maldito mordomo, o maldito puxa saco, o maldito Chique Chique e o três vezes maldito Ludmilo

— Querida, eu falei, não falei? Eu disse que não era boa ideia, mas a gata pôs na mesa e mandou medir e… — Ludmilo soltou um risinho. — Não é aquele grande, não é mesmo?

Ah, vai se foder, seu arrombado. Foi ao estrado onde fica a pequena mesa do palestrante e se pôs atrás dela. 

— Devo aos senhores uma desculpa. Meu ´´ir comer um frango bem preparado ao ar livre`` quase nos custou o estratagema do ´´os mortos não empunham armas``. Irei humildemente retirar uma porcentagem do meu salário para dividi-la com vocês, cujos conselhos não fui capaz de apreciar antes que fosse tarde. 

— Beleza — Chique Chique. — Mas num trouxe nem um belisco para a gente? 

Vai tomar nesse seu cu. Desceu do palanque e sentou ao lado do mordomo na poltrona dos espectadores.

— Alguma novidade nessas duas horas?

O velho tinha três telas holográficas à sua frente.

— Nada digno de nota, senhorita. Os agentes de outros países identificados continuam sendo os três unioculares de Ozymandias, o trio de esfinges de Qin Shi Huang, os sete calahomens de Cubatão e o divino pastor do Éden. Este último permanece na mira de Rosilda e Valéria, mas conhecendo-o não acho que qualquer tentativa de capturá-lo será menos que caótica.

Então eu deveria ir lá e fazer da minha volta ao status de viva a porra de um épico ao matar um autoproclamado deus. Ou pelo menos dar uns socos naquela carinha de pirralho cheio de si do Adão.  

— Alguma ideia do porquê ele está aqui?

— No registro do aeroporto consta que veio a lazer. Já estava aqui desde antes do dia da explosão e gravações dele constam em pontos turísticos como a praça sob o monte Artorius onde fica a embaixada. 

  Que seja

— Alguma novidade no status dos submarinos?

— O enviado ao país de Babel acabou sendo parado por forças Atlantis, o que seguia a Ozymandias pelo oeste bateu contra uma ilha que não constava no mapa… — Chique.

— E o sonar não avisou dela? — Ars, sobrancelhas tensionando sobre os olhos e o calor que emitia aumentando ligeiramente.

— Klaúdio pensou que o sistema tinha bugado…

Maldito idiota.

— Avise-o para mostrar bons resultados na infiltração a Ozymandias ou perderá metade dos espólios de guerra dados a ele na hora da divisão. Os demais? — de olhos fechados, o estômago contraido sob a vontade de simplesmente queimar o elfo até o tornar em cinzas. De derreter a face rechonchuda de Chique Chique.

— Os três que foram ao Éden estão posicionados, os rumo ao Ozymandias levarão três dias, pelo sul, dois para ao que segue ao leste e um para o norte. A divisão disfarçada de turista já chegou lá, mas  aparentemente todos os grandes países mantêm uma segurança muito melhor do que Gales. O que foi feito a Erwin Smith não vai rolar de novo. 

Não importa. A segurança vai ter que lidar conosco enquanto estivermos infestando suas ruas. Cada disparo que acertar um dos meus levará dois civis deles junto. Ozymandias é um país com fronteiras demarcadas por sete montanhas, o mar não é a melhor aproximação nem de longe, mas os ares são muito vigiados e ´´Ars Olins está construindo foguetes`` fará com os rostos mais comumente virem para cimaTudo está indo bastante bem

É de dar arrepios

— Deseja ouvir o relatório da divisão de relações externas, comandante Ars? — Ludmilo, se aproximando pela fileira de trás dos assentos e pondo-se naquele diretamente a retaguarda dela.

—  Algo sobre mim ou uma Barbe rosa socando um cara de meia idade, pondo-o no porta malas do carro e dirigindo até o edifício subterrâneo de cargas de Cardiff?

— Seria uma matéria divertida, se me permite a ousadia do comentário.

— Não. Há algo digno de nota?

— Nada diferente. Mas Nic, Adão, Yui Mei e vários líderes de países menores gravaram uma homenagem a sua doce pessoal e mandaram condolências ao rei e sua família. Seria rude da parte deles recusar um convite a comparecer no seu funeral.

Ars não sabia se ria ou tensionava o rosto, erguia-se do assento e socava Ludmilo por sugerir que as coisas acabariam de forma tão anticlimática quanto um assassinato num enterro. Eu preciso ir a campo, esmagar crânios contra paredes e ouvir o ruído de armas sendo descarregadas em desgraçados aos prantos. Essa guerra não pode acabar antes disso.

— Nem todos vão comprar a minha morte. A questão é quem devemos atacar primeiro? Em quem gastar o elemento surpresa? Alguma ideia, velhote?

— Receio que minha opinião conserve-se a mesma da primeira discussão. Observar, em especial a Ozymandias cujo tamanho continental o torna um problema complicado de se adentrar até o centro.

— Já eu, tenho que levar as doze províncias à tona mais uma vez. Elas atuam separadamente quanto a suas políticas e economia, mas ao fim do dia todas respondem a Wukong, a maior força bélica individual depois de Erwin Smith. Não seria sensato tratar aquele macaco levianamente e focar só nas superpotências da geopolítica —  Ludmilo.

Os dedos de Ars tamborilavam nos braços da poltrona. Tinha esperança de que a resposta fosse diferente.

— Atacaremos quem abrir a guarda ou pelo menos quem não a intensificou. Começaremos observando as confirmações de presença no meu enterro e nos posicionamos para atacá-las com base nos relatos dos agentes infiltrados em terra. Meu irmão já fez os convites?

— Ainda não. Mas deve acontecer ainda hoje. 

— Quanto ao grupo terrorista?

— Ah, essa é a área da Valesca, mas a última notícia é que houve uma complicação quanto a eles assumirem a explosão, então ela levou uma equipe para resolver — Chique.

Merda, se eu tivesse ficado, podia ter ido com ela.  Encarou a anã com cabelo blackpower de soslaio.

— Já que citou ´´área``, era Pérircles a me manter informada da posição das tropas. O que houve?

— A questão do atracamento na ilha. Ele foi responder um pedido de auxílio. Parece que o trio da manutenção foi morto por nativos. Ele me pediu para checar o posicionamento no lugar dele.

Oh, ótimo, outra aventura que perdi para comer a droga de um frango. Fechou os olhos. Todo o planejamento já havia sido feito. Mas repassá-lo e examiná-lo e questioná-lo quando se há um momento para isso me faz relaxar

— Alfred, café.

— Irei informar ao senhor Nao para trazê-lo.

Ótimo.

Silêncio. 

Som de respirações. 

Ruído de movimentos nos assentos.

Ars abriu os olhos. Preciso me mexer. Pôs-se de pé.

Dirigiu-se a saída, depois a sala a esquerda e trinta e três metros do auditório. A maior parte das instalações era feita de pedra talhada por magia em um preparativo para receber a comitiva de Marte e alguns membros de Gales que, supostamente, aos olhos da mídia pairavam na área destruída sob a explosão. Três membros do parlamento, treze soldados e um garçom. Existiam trinta e três aposentos, dois auditórios, uma sala de exercícios, de tiro, centro médico, oficina de implementação e manutenção de partes mecânicas, cozinha e o armazém que já possuía antes de todos esses. Uma passagem ao mar estava sendo preparada.

Ars puxou Araújo do meio de seus agachamentos para o centro do ringue. 

— Valendo meu edifício na capital — ela, tom frio, pondo luvas de dezesseis onzas. — Se perder, os banheiros serão sua tarefa. 

Araújo soltou um lamento e pediu a Josimaria para pegar proteção.

— Não use luvas.

— Tem certeza? Minha mãozinha é pesada. 

Ars o encarou firmemente, ele desviou o olhar e pegou só o capacete trazido por Josimaria. Ambos os braços do sujeito haviam sido substituídos por versões mecânicas feitas com fibra de um aço especial que permitia flexibilidade inumana sem perder em resistência para sua forma comum.

Araújo saiu do ringue em uma maca, inconsciente e com o nariz afundado para dentro do rosto após três minutos. Também quebrei três costelas de sua esquerda e duas da direita. As luvas de Ars tinham estourado. Eu não devia ter feito isso

Os olhos dos demais presentes no cômodo estavam nela. Os murmúrios zuniam. 

Eles estão se perguntando porquê eu fiz isso. Se eles podem acabar sendo os próximos. Se havia algo a fazer para evitar esse destino. Ou ao menos é o que acho

— Sinto muito — disse em voz alta. — Eu acabei me excedendo. Peço desculpas a todos e irei pedi-las a Araújo assim que ele estiver de pé.

Deixou o aposento, atravessando por um corredor de homens e mulheres a fitando, alguns murmurando, até chegar ao de pedra. 

 

Ars Olins - aos treze anos

 

— Ars, por que atacou seu coleguinha? 

O rosto da garota estava tensionado e os braços cruzados.

— Ele não é meu colega! — respondeu, fitando os olhos da psicóloga.

— Entendo. E qual o motivo do ataque?

A mulher era alta, usava um jaleco branco fechado e óculos de lente redonda. Fedia a alho. Odeio alho. Ela tomou um gole do chá verde e devolveu a xícara à mesa.

— Eu não devia estar lá.

— Na escola? — a médica.

Os punhos de Ars cerraram e a cabeça acenou curta e positivamente. ´´Onde deveria estar?`` quase podia ouvir saindo daqueles lábios pintados de violeta, passeando sob o hálito de alho e chá. Eu não quero lembrar. Eu não quero pensar nisso. Não solte mais uma palavra ou eu vou

 Ela falou.

O nome da psicóloga era Marluci dos Santos, filha de um neurocientista e uma padeira. Tinha trinta e três anos, morava sozinha em um apartamento e alimentava três gatos. Seus vizinhos a cumprimentavam ao passar por ela, também tomavam chá às três para conversar e costumavam presentear-se com pedaços de comida que haviam preparado em excesso. Marluci era ativa no bar com Karaoke, detendo o recorde de maior quantidade de músicas bregas tocadas em sequência e sendo reconhecida como a chifruda do duzentos e vinte um B(número de seu apartamento) por conta da história da esposa a traindo com um entregador de pizza. Ela adorava violino, correr na praça que ficava a três quilômetros de sua casa e assistir séries policiais.

Antares fez questão que Ars soubesse. A mostrara fotos, vídeos e a levara no funeral da mulher. 

— Você matou uma pessoa — ele disse, o tom austero e os olhos fixos lápide. 

Ars pediu desculpas ao irmão por ter derretido a cabeça de Marluci. Prometeu que não faria de novo e falou que estava arrependida.

— Está mesmo arrependida? 

Não. Essa mulher não é com o que deveria estar preocupada ou o motivo por sentir qualquer pesar, então não o fazia. Mas também não conseguia se forçar a lembrar ou pensar no que realmente acreditava dever.

Disse isso ao irmão. 

— Não faça algo assim outra vez. — foi a última coisa que Antares comentou sobre o assunto. 

O caso foi acobertado e para a mídia e a família de Marluci foi contado que um ladrão, três dias depois do ocorrido morto por um policial ao comando de Antares, havia feito aquilo a jovem médica.


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Notas finais do capítulo

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