ANIMI ET CORPORIS

Parte III

Meu corpo é uma lâmina,

Que perfura os caminhos da minha imaginação,

E me mantém atada, com pés presos ao chão.

Minha mente é um escudo,

Que me protege dos pensamentos,

Que vagueiam até eles, e iludem e enganam meus sentimentos.

Minha alma é um pincel,

Que grifa minha existência em uma velha flâmula,

Das cores que esqueci, tremeluzindo branda.

Onde eu me encontro agora?

Eles ainda espiam os meus passos?

Por que fui deixá-los?

De onde eles estão agora,

Será que irão me perdoar por abandoná-los?

Escutem-me com atenção...

Pois já sei que os arrependimentos são vãos.

Eu parti para ter uma vida,

E não perecer nessa agonia,

Que a doença consumiu de vocês.

Faz sentido então?

Desejar viver longe da sina de morte que os perseguia,

E procurar por algo além da minha fúnebre sina?

Se nossa mãe pereceu com vocês,

Agora, então, seria a minha vez?

Qual a vida que eu escolhi?

E qual eu consegui seguir?

Vocês dois são fantasmas na minha consciência,

Os sinto enquanto eu perseguia vida,

Estamos sempre atados, umbilical, pela minha inocência.

Meu corpo se arrepende,

Das escolhas que minha mente fez,

Pois sinto-me sozinha, como o destino me repreende.

Minha mente se adoece,

Por ter peregrinado há tão longe de vocês,

E à ruína finalmente chega a minha vez.

Minhas mãos tem uma chave,

De uma porta que só posso abrir uma vez,

Que dor é essa que a falta de vocês me fez?

Parece a lua sobre a Terra e o sol,

O apocalipse da minha alma em crise:

Surge no eclipse.

~Gabriel.