Ofereci uma caneca de café a Sasuke, que a aceitou com um meio sorriso. Sentei-me a sua frente, deixando a minha caneca próxima de mim e apoiei os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos. Sasuke bebericou o café, esperando que eu tomasse a iniciativa. Seus olhos negros me estudavam sobremaneira, como se trabalhassem para descobrir o que eu escondia. Tomei fôlego e iniciei minha triste história.

Naquele sábado à tarde, eu decidi fazer uma surpresa para Naruto, que a partir desse momento ganhou o status de ex—namorado. Não havíamos combinado nada, pois de acordo com o loiro, ele precisaria estudar para as próximas provas. Como não nos veríamos, comecei a tomar conta das minhas próprias tarefas. Eu sabia que aquela era a minha semana de limpar e organizar o apê. Iniciei pelo meu quarto, guardando as roupas jogadas de qualquer maneira sobre a cama e os livros e papeis da faculdade que estavam em cima da minha mesa de estudos. Ao encarar as minhas anotações e os livros abertos sobre a mesa, eu entendia Naruto, de certa forma, pois cursar Direito também não era um mar de rosas. Ademais, mesmo sem estar cursando Administração, ofereci a minha ajuda no que fosse preciso. Eu nunca gostei de números, mas estava disposta a ajudar Naruto naquelas contas complicadas.

Quando terminei meus afazeres, o relógio marcava quase 18:00 horas. O cômodo mais demorado foi meu quarto. Diferente de meu primo Neji – que dividia o apê comigo -, eu nunca fui um exemplo de pessoa organizada. Após tomar um banho demorado, me enrolei na toalha que estava estendida no box e fui até meu quarto para que pudesse me secar direito e vestir minhas peças íntimas e uma roupa para sair. Pensei mais uma vez em Naruto e no que poderíamos fazer, levando em consideração que ele havia passado a tarde inteira estudando. Escolhei assistir a um filme no Shopping da cidade, seria bom distrair a mente com outra coisa que não fossem números. Uma vez pronta e me certificando que havia pegado as chaves de casa e a minha bolsa, chamei um carro por aplicativo para me levar até o apê de Naruto. Enquanto esperava pelo carro, verifiquei se não estava esquecendo nada na bolsa. Durante o caminho, liguei para o celular de Naruto, mas só dava caixa postal.

Chegando ao apartamento, paguei a corrida ao motorista via PIX e sai do carro. Caminhei tranquila até o portão do prédio e aproveitei para entrar junto com uma jovem que vinha com sacolas de compras nas mãos. Perguntei se poderia ajudá-la com o peso, levando em consideração a sua expressão de cansaço. Peguei algumas sacolas entre os dedos e juntas caminhamos até a portaria. Esperamos o elevador em silêncio. Eu não sou do tipo que puxa conversa com pessoas que não conheço, então preferi ficar na minha. Com a chegada do elevador ao térreo, abri a porta para que pudéssemos entrar. Por coincidência, ela e Naruto moravam no 5º andar. Nos despedimos com um aceno e fui até a porta de Naruto. Estava prestes a bater a campainha quando retirei que uma fresta da porta estava aberta. Mas é mesmo muito disperso. Depois é assaltado e não sabe por quê.

O apartamento estava em silêncio. Um silêncio quase incomodo. Fechei a porta e caminhei sem fazer barulho até o quarto que Naruto usava como escritório. Observei sobre a mesa de estudos alguns livros abertos, além de um caderno e canetas espalhadas. O próximo cômodo a ser vasculhado era seu quarto. Talvez ele estivesse descansando um pouco, afinal. Ao abrir a porta, me deparei com Naruto dormindo com uma mulher até então desconhecida. Me aproximando um pouco mais, percebi se trata de Haruno Sakura, sua “amiga”. Tive uma súbita vontade de acordar os dois com um balde água bem gelada. Aquela cena era o retrato da traição de Naruto. Agora me bastava saber há quanto tempo Naruto vinha me enganando. Batendo as mãos bem alto, vi Naruto abrir os olhos e me encarar assustado. Sakura apenas escondeu um pedaço dos seios com a coberta, como se estar ali fosse algo completamente natural.

— Hina... – Disse meu nome se remexendo na cama, como se fosse sair dali. Sakura o segurou pelo pulso e me encarou com um sorriso vitorioso.

Levantei as mãos em protesto. Tirei de meu dedo a nossa alinha de compromisso e deixei em cima da cômoda de roupas do loiro.

— Você pode dar à pessoa certa agora.

Aconteceu alguma coisa?
Me diz como é que você tá
Cê sabe que eu tô sempre aqui
Se precisar desabafar
Meu ombro é todo seu quando quiser chorar

Não quis ouvir mais nada. Dei as costas ao “novo casal”. Não iria sair correndo como uma garotinha, mantive a posse até sair dali e dar o sinal para o primeiro táxi. Já dentro do veículo, me permiti derramar lágrimas silenciosas. Como eu fui idiota. Naruto não deveria estar mantendo aquele caso há pouco tempo. Ainda me lembrava do olhar de Sakura, como se tivesse me vencido em algum jogo. Ela que fique com o prêmio, pois sobre Naruto nada mais me interessa. Enquanto chorava meu planto, meus dedos abriram a bolsa em busca do celular. Mandei uma mensagem para Sasuke perguntando se poderia ir até minha casa. Eu precisava desabafar com alguém ou simplesmente perderia cabeça.

Por um minuto, eu queria me esquecer de como havia conhecido Naruto. Estava com alguns colegas de minha sala em um dos mais conhecidos barzinhos de Konoha. Como era sexta-feira, quando o último horário de aula havia terminado, decidimos tomar uma cerveja ali perto. Seria bom que aliviar a tensão dos trabalhos e das últimas provas daquela semana sem fim. Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de sair, mas naquela noite eu abriria uma exceção. Após um tempinho que estávamos por ali, senti uma cutucada na costela. Parei de beber e vi que quem chamava minha atenção era Miya. Seus lábios pintados de carmim estampavam um sorriso sacana.

— Você está chamando a atenção, Hina. – Comentou Miya apontando discretamente para um grupo de homens um pouco mais afastados de nossa mesa.

Olhei de soslaio para o grupo que Miya havia citado. Dentre os rapazes, um havia chamado minha atenção. O encarei por alguns segundos, mas o suficiente para que ele notasse que estava sendo observado. Quando nossos olhares se cruzaram, Naruto levantou o copo e acenou com a cabeça. Imitei seu gesto, sentindo as bochechas ruborizarem. Ficamos assim mais algum tempo, apenas trocando olhares, quando o vi se aproximar. Continuei em meu lugar enquanto meus colegas soltavam risinhos e brincadeiras. Fiquei aliviada por Naruto ter tomado a dianteira, pois eu sou tímida demais para isso. Ele se ofereceu para pagar um drink para mim e me convidou para conversar em sua mesa. Agradeci o drink e aceitei seu convite. Sai de perto de meus colegas e Naruto me levou até sua mesa. Enquanto conversávamos sobre os mais diversos assuntos, eu percebia dois olhares verdes-esmeraldas sobre nós. Comentei com Naruto sobre esse pequeno incomodo. Ele então falou sobre Sakura, ocultando sobre o relacionamento colorido deles.

Eu viria a descobrir mais tarde sobre esse fato, contudo, nesse meio tempo, Naruto já havia ganhado minha confiança. Além do que, eu me garantia e sabia do meu valor. Eu ignorava os comentários maldosos da rosada sobre mim ou seus olhares de puro ódio todas as vezes que Naruto demonstrava afeto por mim em público. Quando eu confrontava Naruto, ele afirmava não sentir mais nada por Sakura, sendo que eu era a única que havia conquistado seu coração. Como eu fui idiota, mil vezes idiota! Enquanto relatava todo o ocorrido, eu percebi Sasuke se remexer na cadeira, vez ou outra pegando a alça da sua caneca. Sua expressão demonstrava a revolta pelo que Naruto fizera comigo.

— Ele é um traidor, Sasuke. – Disse observando que meu café já deveria estar até frio, levando em consideração que não havia dado um gole até aquele momento. – Eu o odeio.

— Ele não sabe a mulher incrível que perdeu. – Disse o Uchiha. – Sei que está triste, Hyuuga. Contudo, há algo bom nisso tudo.

— Como assim, Sasuke? Do que está falando? – Questionei sem entender aonde o Uchiha queria chegar com aquilo.

— Agora eu tenho o caminho livre até você, Hinata.