Metalwillverso escrita por Metal_Will


Capítulo 4
Difamação (Casa dos Jogos)


Notas iniciais do capítulo

"Casa dos Jogos", sem sombra de dúvida, foi a história que mais me deu trabalho, mas foi a mais recompensadora.

Contava a história de Alan da Silva, um rapaz tímido, pobre e péssimo em jogos. Um dia, Alan salva a vida de um garoto aleatório evitando que ele seja atropelado, mas só descobre que o nome do menino é Max Demian. Anos depois, Alan está passando por uma dura crise financeira com um pai sofrendo de uma grave doença cardíaca e, após se inscrever em um estranho experimento que ofereceria um alto prêmio em dinheiro, Alan tira a sorte grande e é sorteado. O problema é que o tal experimento era uma competição de jogos de raciocínio. A esperança? Um dos participantes foi justamente o rapaz que ele salvou anos atrás e esse gênio dos jogos está disposto a retribuir a boa ação de Alan no passado!

Esse foi só o pano de fundo. O maior desafio foi desenvolver as regras dos jogos e as estratégias para deixar tudo mais emocionante. Realmente, foi uma história bem complexa, mas amei escrever tudo. Teve forte inspiração do mangá Liar Game e do romance Demian, de Herman Hesse. Leitores mais recentes talvez achem a história parecida com a série coreana Round 6 em alguns aspectos.

Nesse capítulo especial, vemos Alan vivendo sua vida após sua participação na Casa dos Jogos enfrentando mais um problema que apenas seu amigo gênio Max Demian pode resolver. Boa leitura!



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A vida é mesmo uma coisa complicada. Um dia você está muito bem, com tudo dando certo, mas outro dia as coisas já começam a dar errado. Eu, Alan da Silva, sou uma prova viva do quanto a vida é essa montanha-russa maluca. Até pouco tempo atrás eu era um pobretão que mal podia pagar as contas. Do nada, acabei sendo sorteado para participar de uma experiência muito esquisita com vários jogos e desafios em que só podia sair um vitorioso que levaria 10 milhões de reais para casa. Para alguém que precisava de grana para salvar a vida do próprio pai, era uma bênção dos céus. O problema é que eu sou uma negação em jogos. Nunca ganhei um único jogo na minha vida. Parecia tudo perdido, mas um dos participantes era um verdadeiro gênio e como anos atrás o ajudei a escapar de um atropelamento, ele se aliou a mim e foi vencendo os jogos um a um, exceto o penúltimo, onde ele perdeu por muito pouco. No fim, eu tive que jogar sozinho contra a outra finalista e, por incrível que pareça, consegui ganhar. Louco, não é?

De qualquer forma, ganhei o prêmio e divide com meu parceiro e outros amigos que também nos ajudaram. Com a grana, ajudei meu pai e abri uma lojinha de automativos. Tudo estava indo bem, até agora. É, até agora, quando as vendas estão só caindo.

—E aí, filho? - disse meu pai, chegando próximo ao balcão da loja - Algum cliente?

—Nada - falei, em tom triste - Cada dia está pior.

Meu pai suspirou, também olhando com um semblante triste.

—É muito esquisito. Do nada, nossa loja parou de receber clientes - lamentou ele - O que aconteceu?

—Não tenho ideia - falei - Mas, se continuar assim, vamos ter que passar o ponto.

—Temos um dinheiro guardado - falou ele - Mas seria muito triste fechar um negócio que estava indo tão bem.

—Pois é - falei - Acho que vou até fechar mais cedo hoje.

Nisso, um rosto conhecido aparece na loja.

—Bom dia - falou a pessoa. Eu não podia acreditar no que meus olhos viam.

—M-Max? - gaguejei, surpreso. Era ele. O amigo que não via há muito tempo. Max Demian. Mais do que isso, o amigo que me ajudou a vencer aquela bizarra Casa dos Jogos. Claro, encontrei com ele algumas vezes depois que a Casa terminou, mas ele tinha sumido por quase um ano e meio. Era uma grata surpresa vê-lo ali.

—Há quanto tempo - disse ele, sorrindo, com o mesmo cabelo comprido e roupas discretas de sempre - Bom ver que ainda está na mesma loja.

—Por onde você andou? - perguntei.

—Ah, estive viajando pelo exterior por um tempo - falou ele - No mais, só administrando uns negócios à distância. Voltei faz poucos dias. E aqui? Como vão as coisas?

Eu e meu pai nos entreolhamos. Contei para Max o que estava acontecendo e como nosso negócio já estava perto de fechar as portas.

—Isso é estranho - falou Max, com a mão no queixo - Vendas não caem assim, do nada.

—Infelizmente, é o que está havendo - falei - Olha. Aqui está nosso livro-caixa.

Max olhou os valores rapidamente e logo tinha uma impressão.

—Sem chance - disse ele - As vendas estavam indo perfeitamente bem até duas semanas atrás e despencaram sem explicação nenhuma. Alguma coisa está errada.

—Mas o quê? - perguntei.

—A sua loja tem algum site ou endereço na Internet? - perguntou ele.

—Temos só uma página simples nas redes sociais - respondi.

Max olhou nossa página e não encontrou nada de anormal.

—Esse é o seu único ambiente virtual? Hoje em dia é muito importante uma empresa ter recursos de rede - explicou ele.

—Estamos pensando em investir mais nisso - falei - Mas somos apenas uma lojinha de bairro. A maioria dos nossos clientes são daqui mesmo.

—Vejamos...

Max pediu para usar nosso computador e acessou a Internet. Após alguns cliques e visitas, ele não demorou para encontrar algo de diferente.

—Aqui - disse ele, apontando para a tela do computador - O nome da loja de vocês tem várias citações no Twitter.

—Twitter? - estranhei.

—É um site em que as pessoas postam textos curtos para o mundo todo - explicou Max - Tem várias postagens falando mal da sua loja.

—Por quê? - perguntei - O que fizemos de errado?

—Pelo que estou vendo aqui, estão dizendo que seus produtos apresentam defeitos e peças faltando - falou Max, apontando para as postagens. Eu não podia acreditar naquilo. Todos os nossos produtos tinha garantia e nunca tivemos qualquer problema com defeito. De onde tiraram isso?

—Isso é um absurdo! - falei - Nós damos garantia, temos fornecedores confiáveis. Além disso, ninguém veio reclamar de defeito aqui com a gente. De onde tiraram isso?

Max voltou algumas postagens e parecia ter encontrado a fonte de tudo.

—Essa pessoa - disse ele, apontando para a tela - É a dona da postagem mais antiga. Você conhece?

A foto era de uma moça chamada Rafaela que devia ter por volta de seus 22 anos. Era uma jovem de aparência mediana, parecia de classe média baixa e postava sobre assuntos diversos. Ao olhar melhor, comecei a me lembrar dela.

—Acho que sei quem é - comentei - Essa menina veio aqui outro dia, mas não levou nada.

—Mesmo? - disse Max, com um sorriso no rosto - Interessante. A data que ela postou isso foi há duas semanas atrás. Bate com o período em que as vendas começaram a cair, não?

Olhando para os números, era verdade. Batia mesmo.

—Matamos a charada - falou Max - Essa pessoa está espalhando propaganda falsa da sua loja.

—Mas por que ela faria isso? - perguntei, desolado.

—Vejamos - Max fuçou mais um pouco no perfil dela, procurou outras redes e não demorou muito para encontrar uma resposta - Ah, aqui.

—O que tem?

—Você conhece a Varicar? - perguntou ele.

"Varicar"? Ah, sim. Era uma loja de automotivos que não ficava muito longe dali. Não era tão próxima para gerar tanta concorrência, mas certamente éramos concorrentes.

—É a Varicar aqui perto? - indaguei.

—Pelo endereço, é sim - disse Max - Sem dúvida, ela deve ter espalhados essas notícias para tirar seus clientes.

—Que jogo sujo! - reclamei - Por que eles apenas não vendem honestamente?

—Você lembra de tudo que passamos, não lembra? - comentou Max - As pessoas podem jogar muito sujo para alcançar os próprios interesses.

—Vou tirar satisfação na Varicar agora mesmo e...

Max Demian segurou meu braço.

—Muita calma - disse ele - Quando se lida com esse tipo de gente, o melhor é pensar bem no que fazer.

Alguns dias depois (sim, dias), Max e eu finalmente fomos até a Varicar bem cedo. Ele pediu para que eu usasse um disfarce simples, com óculos escuros e bigode falso. Ele, como não era da região, foi como estava. Entramos na Varicar, uma loja de automotivos de bairro parecida com a nossa, mas bem mais suja, diga-se de passagem.

—Bom dia - falou Max.

—Opa. Bom dia - Rafaela era a atendente. Do lado dela, tinha um cara gordo, tomando um café e lendo um jornal.

—Estamos com um problema no nosso motor, então precisamos dessa peça aqui - disse Max, mostrando uma peça de automóvel relativamente difícil de encontrar, com um defeito bem visível nos encaixes.

—Ah, essa é difícil de achar - falou a garota - Vou dar uma procurada aqui.

Max e eu apenas aguardamos silenciosamente. Ela trouxe a peça, ele pagou pelo produto e fomos embora. Não estava entendendo nada.

—O que fizemos demais? - perguntei - Só compramos a peça. No que isso vai nos ajudar?

—Calma. Vamos voltar lá daqui a pouco - disse Demian, com um sorriso confiante.

—O que exatamente você está planejando?

—Na hora certa você vai saber.

E foi o que fizemos. Depois do almoço, voltamos à loja e Max, mesmo mantendo a calma, falou em tom sério.

—Com licença - disse ele - Viemos aqui hoje cedo.

—Sim? - disse Rafaela, toda sorridente.

—Gostaríamos de trocar aquela peça - disse ele - Ela...veio com defeito. Não encaixa no meu carro e deveria encaixar.

Rafaela fez uma expressão séria.

—Mesmo? Bem, é só nos entregar a notinha que trocamos assim que possível. Essa peça é difícil de achar, sabe? O senhor vai ter que esperar nosso fornecedor trazer de novo.

—Se é assim, tudo bem, mas...ah, acho que descobri o problema - disse Max.

—Como?

Max mostrou sua peça original e comparou com a vendida. Enquanto a original possuía um relevo com o número de fabricação, a peça vendida não possuía.

—O problema é esse. A peça que vocês venderam é falsa.

Rafaela gelou. O cara gordo que estava sentado ali se levantou na mesma hora.

—Oi, amigo. O que aconteceu? - disse ele para Max, enquanto coçava a cabeça.

—Ah, mano - falou Rafaela - Ele está dizendo que vendemos uma peça falsificada.

—Impossível - disse ele - Todos os nossos fornecedores são confiáveis.

—Eu entendo bem de produção de peças - disse Max - Sem dúvida, é uma falsificação. Não tem como negar. Acho que não seria uma boa propaganda para essa loja ficar conhecida como vendedora de produtos automotivos falsificados. Se der um problema no carro de alguém, o processo em cima de vocês será absurdo.

—Calma, não precisamos chegar nesse ponto - falou ele - Escuta, amigo. Podemos compensar isso de algum jeito, não podemos?

—Não sei - falou Max - Talvez fosse melhor comprar na loja do bairro da frente. Ouvi falar bem deles.

—Ah, a lojinha do Alansonso? - riu o gordo - Não sei onde você está acompanhando as notícias. Eles estão com a ficha toda suja! Ninguém compra mais lá.

Estava com raiva, mas não podia estragar o disfarce ainda. Demian continuou.

—Mesmo? E tem alguma prova disso?

—Tá todo mundo falando - insistiu o dono da loja - É só olhar nas redes. Você não tem Twitter?

Rafaela abriu o Twitter no computador do balcão e mostrou as postagens falando mal da minha loja.

—Viu? - disse ela - Aquela loja sim está com uma fama ruim.

—Posso ver? - disse Demian.

Rafaela permitiu e, assim que ele acessou o computador, passou pelas postagens, perguntou o seguinte:

—Engraçado - falou ele - Todo mundo está falando, mas ninguém postou uma única foto do problema da peça.

Rafaela e o irmão se entreolharam.

—Já aqui, o problema está bem claro - disse ele - Aliás, eu já tirei uma foto, incluindo a nota, para não ter erro.

—E aliás - agora fui eu que entrei na conversa - Não foi você que fez a primeira postagem? Estava olhando o Twitter e vi que a postagem mais antiga é a sua.

Rafaela começou a ficar mais nervosa.

—Por acaso, quem comprou a peça defeituosa nessa loja...foi você? - perguntou Max - Então você deve ter alguma foto provando, não tem?

—N-não, eu...

—E se não tem, por que não tirou uma? Se os donos de lá quiserem processar vocês, eles podem - falou Max.

—O quê? Mano, você não falou disso quando falou para eu postar aquela mensagem e...

—Sua burra!

Era bem claro. O irmão dela que havia armado tudo.

—Alguma coisa errada? - perguntou Max - Será que a peça não estava com defeito no fim das contas?

—Tá, tá bom. A gente tá desesperado - disse o cara - Nossa loja tá no vermelho e aquele cara estava roubando todos os nossos clientes. Espalhamos isso para ver se as coisas melhoravam, entendeu? A gente te devolve o dinheiro, pode ser?

—Antes, por que não pedem desculpas para o dono daquela loja? - falou Demian - Ele está bem aqui.

Tirei o disfarce e me revelei. Os dois ficaram assustados.

—Putz, é o Alan da loja do bairro vizinho - falou Rafaela.

—Cara, a gente...

—Eu sei. Ouvi tudo - falei - Olha, eu não quero quebrar o negócio de vocês. Só quero trabalhar no meu negócio em paz. Não tenho culpa das coisas estarem indo bem.

—Por que ser tão bonzinho, Alan? - disse Demian - Você pode processar os dois por difamação. E eu posso processar vocês por vender uma peça falsificada. Ou...vocês podem desmentir tudo na Internet e devolver o dinheiro que eu até esqueço essa história.

Os irmãos se entreolharam e viram que não tinham muita escolha.

—Tá, a gente desmente tudo.

E foi o que aconteceu. Poucos dias, os boatos foram desmentidos e nossa loja voltou a receber clientes como antes. Graças à ideia de Max Demian! Mas, calma, ainda não explicamos tudo, não é? Ao voltarmos para casa depois de termos resolvido o problema com a Varicar, perguntei para Demian.

—Mas como você sabia que a peça deles era falsificada? - perguntei.

—Simples - disse Demian - Eu sabia que aquela peça era rara e a entrega é demorada. Então, hackeei o sistema deles e agendei uma entrega dessa peça. Só que enviei uma cópia falsificada. Eles são tão amadores que nem repararam. O resto foi fácil.

—Caramba - falei - Isso não foi meio...desonesto?

Demian apenas riu.

—Sim, certamente - confirmou Max - Mas com esse tipo de gente, não adianta jogar limpo.

—De qualquer forma, obrigado - falei - É a segunda vez que você me salva.

—Não é nada, meu amigo - disse ele - Afinal, eu te devo a minha vida.

Sorrimos e voltamos para casa. Posso até ter ganhado milhões na Casa dos Jogos, mas ter Max Demian como amigo é uma vitória maior que qualquer prêmio em dinheiro.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, vamos rever nossa gangue maluquinha em This is my Gang!. Até lá! :)



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