Siren escrita por llRize San


Capítulo 18
A principal atração




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Rosé se vestia para o número, cada movimento calculado para evitar a ira de Rym e proteger Dahyun. A ameaça constante sobre a menina funcionava como uma corrente invisível que ele usava para manter Rosé na linha. Ela ajustava cuidadosamente a peça colorida e brilhante que cobria seu tórax, um traje que, apesar de sua beleza superficial, representava sua prisão.

O veneno que Rym administrava regularmente para suprimir suas habilidades mágicas deixava seu corpo fraco e dolorido, transformando cada ato da performance em um teste de resistência e dor. Rosé sabia que não podia falhar, não quando a segurança de Dahyun estava em jogo.

Ela adicionou alguns apetrechos chamativos nos cabelos, cumprindo a exigência de Rym de que ela deveria estar deslumbrante para a plateia. 

— Você é a atração principal, precisa estar bonita — Ele frequentemente lembrava, com um tom que destilava tanto o fascínio quanto o controle que ele desejava exercer sobre ela.

Ao se olhar no espelho antes de entrar no picadeiro, Rosé via mais do que sua própria imagem refletida; ela via uma lutadora disposta a suportar qualquer coisa para salvar a si mesma e a Dahyun. 

Ao anoitecer, Rosé encontrava-se dentro de um grande aquário, o centro da atenção no meio da enorme tenda circense, as listras vermelhas e brancas balançando suavemente ao vento da noite. Ela podia ouvir as vozes do público do lado de fora, repletas de expectativa e excitação, discutindo sobre a raridade de ver uma sereia verdadeira e o alto preço que haviam pago por essa experiência. As palavras deles pesavam sobre ela como chumbo, lembrando-a de sua realidade como uma mera atração.

Rym se aproximou do aquário, suas instruções cortantes quebrando o breve silêncio pré-show. 

— Prepare-se, as cortinas logo se abrirão — Disse ele com um tom de urgência, ajustando seu próprio traje colorido e a maquiagem exagerada que o fazia parecer mais um palhaço sinistro.

As luzes se atenuaram e a multidão se acalmou quando Rym subiu ao palco. Ele anunciou o início do espetáculo com uma voz estrondosa que ressoava por todo o espaço.

— Senhoras e senhores, preparem-se para testemunhar uma das maiores maravilhas do nosso mundo!

Rosé respirou fundo, tentando acalmar os nervos e o medo que lhe enchiam o peito. Ela sabia que cada movimento seu seria observado e julgado, cada gesto analisado por olhares curiosos e muitas vezes desprovidos de empatia. Enquanto as cortinas se abriam lentamente, revelando sua figura etérea e majestosa submersa na água, Rosé mergulhou em uma performance que era ao mesmo tempo uma exibição de sua beleza natural e um ato de resistência silenciosa. Ela nadava com graça e elegância, cada onda de sua cauda pintada de escamas brilhantes era um lembrete do mundo mágico do qual fora arrancada.

Aplausos irromperam da multidão, mas para Rosé, cada palma que se batia era um eco vazio. Sua mente estava focada em Dahyun e na esperança de uma fuga, mesmo enquanto sorria e encantava a audiência. Ela sabia que cada momento naquele aquário era uma contagem regressiva para um futuro incerto, mas ela estava determinada a fazer desse show uma ponte para sua liberdade e a de Dahyun.

Rosé se projetou de forma espetacular até o fundo do seu aquário, ganhando o impulso necessário para executar um salto impressionante. Ela emergiu da água, girando no ar em um mortal elegante antes de mergulhar novamente, causando uma onda de aplausos e admiração. O público estava em êxtase, completamente arrebatado pela graça e beleza de suas manobras aquáticas.

Do lado de fora do aquário, Rym observava, um sorriso ganancioso estampado no rosto ao testemunhar o estrondoso sucesso de Rosé. Para ele, cada salto e cada aplauso representavam nada mais do que cifrões, uma mina de ouro viva e esplêndida.

No entanto, entre os rostos extasiados da plateia, uma figura se destacava pela imobilidade e silêncio. Vestido com um longo manto negro, um espectador enigmático permanecia sentado, a cabeça coberta por um capuz que lançava sombras sobre suas feições, ocultando sua expressão. Seus olhos não desgrudavam de Rosé, observando cada movimento com uma intensidade que não compartilhava do entusiasmo geral.

Quando o espetáculo chegou ao fim, após uma exaustiva hora de saltos e acrobacias, Rosé sentiu um alívio profundo ao ver as cortinas se fecharem. Exausta, permitiu-se flutuar na superfície da água, ouvindo o burburinho da multidão se dispersando, ainda vibrando com a performance que haviam presenciado. Seu corpo doía intensamente; o que quer que Rym estivesse administrando para inibir suas capacidades mágicas estava, sem dúvidas, consumindo suas forças físicas também. 

— Foi um belo show! — Rym apareceu segurando uma bolsinha de couro, seus olhos brilhavam radiantes com a cor dourada das moedas em suas mãos. 

— Tudo isso por dinheiro? Como pode ser tão baixo? Se eu tivesse meus poderes…

— Não ia fazer nada! Sou precavido e por isso estou tomando o devido cuidado para que não tenha seus poderes. Agora preciso que descanse e se alimente, preciso cuidar da minha atração principal, afinal de contas você agora é minha fonte de ouro.

Após o espetáculo, Rym ordenou que seus capangas levassem Rosé de volta à sua prisão. O aquário foi esvaziado, permitindo que Rosé voltasse à sua forma humana. Com pouca cerimônia, os homens lhe entregaram seu vestido rosa florido, desgastado pelo tempo e pelo uso, e a instruíram a vesti-lo. Uma vez vestida, foi escoltada de volta à sua cela, onde suas mãos e pés foram novamente acorrentados ao chão frio.

Rym apareceu na porta da cela com um sorriso cruel, despejando no chão pedaços de carne crua. O desdém em seus olhos era palpável enquanto observava Rosé devorar a comida. A fome que sentia era tão intensa que a sujeira da carne não a incomodava; ela consumia cada pedaço como se fosse um banquete.

Quando a urgência da fome foi saciada, Rosé se recostou contra o chão frio e duro da cela, sua atenção desviada para a pequena janela que lhe oferecia uma visão da lua cheia, um globo prateado e luminoso que iluminava a noite. Lá fora, o mundo parecia tranquilo e distante, um cruel contraste com a escuridão de sua prisão. Questionamentos sobre sua liberdade e o reencontro com Jisoo e suas amigas turvavam sua mente. A tristeza a ameaçava, tentando arrancar-lhe lágrimas, mas Rosé as reprimia com determinação. Agora não era momento para lágrimas. Precisava ser forte.

Rosé ouviu passos se aproximando, uma presença que quebrava a monotonia sombria de sua cela. Surpresa, virou-se na direção do som, seus olhos encontrando uma figura envolta em um manto negro, seu rosto escondido sob o capuz. Intrigada e um tanto assustada, Rosé observou a figura se aproximar das grades de sua prisão. Então, como se uma luz tênue penetrasse nas trevas de sua cela, Rosé reconheceu a pessoa diante dela. Um misto de choque e alegria a dominou quando as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Era Jisoo.

— Vim te buscar, meu amor — Jisoo sussurrou — Vou te tirar daqui. 

Jisoo, com a determinação estampada em seu rosto, segurava firme uma espada que havia conseguido ao longo de sua busca desesperada por Rosé. Com habilidade e precisão, ela posicionou a lâmina contra a corrente que trancava a grade da cela e desferiu um golpe forte e decisivo. O metal cedeu sob a força do ataque, quebrando-se com um ruído que ecoou pelo corredor silencioso.

Sem perder um segundo, depois de libertar Rosé das correntes, Jisoo jogou a espada de lado e correu para os braços de Rosé. As duas se abraçaram intensamente, os soluços de alívio e alegria se misturando. Lágrimas corriam livremente pelo rosto de ambas, cada uma sentindo o peso das emoções que haviam guardado durante o tempo de separação.

— Eu te procurei tanto — Jisoo sussurrou, apertando Rosé contra si. O reencontro foi um momento de puro alívio e felicidade, um breve respiro na luta constante que enfrentavam —, achei que tinha te perdido. Me desculpe, Chae. Me desculpe por não ter te protegido. Foi culpa minha, eu não devia ter te deixado sozinha.

Rosé tocou em seu rosto e a beijou ternamente. 

— Não foi culpa sua, Chichu. Preciso me cuidar também. Você não pode ficar vinte e quatro horas por dia como minha guarda costas. Mas agora está tudo bem e nós finalmente estamos juntas de novo.

— Graças aos Deuses dos Mares. Venha, vamos, vou te tirar daqui — Jisoo percebia a urgência da situação. 

Quando Jisoo começou a se levantar, uma súbita picada aguda em seu pescoço a fez parar. Com uma mão trêmula, ela alcançou o local e retirou uma minúscula agulha que ali estava fincada. Imediatamente, sua visão começou a embaçar e suas pernas perderam a força, fazendo-a cair no chão frio da cela.

— JISOO? — Rosé arrastou-se até ela em pânico — Fale comigo, por favor!

Enquanto tentava reanimar Jisoo, Rosé lançou um olhar aflito para além das grades e viu Rym se aproximando, um sorriso sinistro nos lábios. Em uma de suas mãos, ele segurava um canudo longo, o instrumento que havia usado para disparar a agulha envenenada. Sua risada cruel ecoava pelo espaço confinado, enchendo o ambiente de crueldade enquanto ele se deleitava com o desespero diante dele.

— Vejo que trouxe uma amiga, isso significa dinheiro em dobro! 

— EU VOU TE MATAR, SEU DESGRAÇADO! — Rosé gritou com ódio. 

Rym desembainhou um chicote que pendia de seu cinto, lançando-o com força contra o chão. O estalo era aterrorizante, especialmente porque na ponta do chicote havia um gancho de ferro afiado. Cada movimento de Rym com o chicote enviava ondas de medo pelo ar; era evidente que um golpe daquela arma poderia ser não apenas doloroso, mas potencialmente fatal se atingisse a pele.

— Maldita aberração, como ousa falar assim comigo? Vou te dar uma lição para aprender a respeitar seu dono!

Rosé, antecipando a dor do golpe iminente, fechou os olhos com força, seu coração batendo descompassado no peito. O silêncio tenso foi quebrado não pelo estalar do chicote, mas pelo som de algo se movendo rapidamente pelo ar. Quando finalmente se atreveu a abrir os olhos, o que viu a deixou sem fôlego.

Rym estava paralisado, seu braço erguido congelado no ar. Um cipó, entrelaçado com raízes robustas, envolvia firmemente seu pulso, impedindo qualquer movimento. As raízes pareciam ter brotado do próprio chão da tenda, crescendo com uma força e velocidade sobrenaturais para capturar o braço de Rym. Ele lutava para se libertar, seu rosto contorcido em uma expressão de surpresa e fúria.

— Vejo que precisam de ajuda — Disse uma voz desconhecida.

Adentrando a cela com uma presença que equilibrava graça e autoridade, um homem alto se aproximou. Suas características eram distintamente élficas — orelhas pontudas, pele alva, e cabelos loiros longos que caíam graciosamente sobre um tórax musculoso e parcialmente descoberto. As mechas sedosas de seus cabelos pareciam quase acariciar seu peitoral definido. Ele vestia calças verdes adornadas com folhas, sugerindo sua origem como um dos elfos da floresta, criaturas sobre as quais Rosé ouvira Jennie falar com admiração e curiosidade.

Seu sorriso era gentil, mas sua postura era de alguém acostumado a ser ouvido e respeitado, deixando Rosé dividida entre o alívio e a cautela. Ela o observava, tentando discernir suas intenções. A confusão era evidente em seus olhos — não estava claro se ele havia chegado como um salvador ou se era mais um perigo em sua já perigosa jornada.


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Notas finais do capítulo

Quem será esse elfo?



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