Siren escrita por llRize San


Capítulo 11
Sereias Ladras




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O sol nasceu esplêndido, espalhando calor e uma brisa suave que soprava do oceano. Rosé despertou, revigorada por uma noite serena ao embalo das ondas quebrando perto delas. Erguendo-se com um vigor renovado, dedicou-se a colher flores silvestres, movida pelo desejo de tecer uma nova coroa floral — um adorno perdido na tempestade da noite anterior. Jisoo, envolta na preguiça típica do amanhecer, observava com admiração enquanto Rosé, com destreza e graça, arranjava seus cabelos loiros, tão luminosos quanto a areia banhada pela luz do sol.

Depois de saborearem um café da manhã enriquecido com uma variedade de frutas tropicais, elas partiram rumo ao desconhecido, na esperança de encontrar vestimentas adequadas. Com o passar das horas, seguindo instintos quase esquecidos e o sutil guia dos aromas carregados pelo vento, Jisoo e Rosé alcançaram Sunnydale, um pequeno vilarejo que despontava como um oásis de civilização em meio à vastidão da floresta.

Cautelosas, elas se abrigaram na densa vegetação na borda do vilarejo, seus olhares curiosos capturando a essência da vida humana que se desenrolava diante delas. Observavam, fascinadas, a simplicidade do cotidiano dos vilarejos, onde cada gesto e tarefa parecia ser realizado com um senso de comunidade e alegria.

O ambiente acolhedor de Sunnydale era palpável, mesmo de longe, mas a prudência as aconselhava a aguardar a proteção do manto noturno para se aventurarem entre os humanos. O desejo de evitar um confronto desnecessário era forte; elas sentiam um respeito intrínseco pela paz e felicidade aparente dos habitantes, vendo-os não como adversários, mas como seres com os quais compartilhavam o mesmo mundo.

...

Sob a proteção da noite, com a lua apenas esboçando sua presença no céu, Jisoo e Rosé se moveram com uma delicadeza quase sobrenatural. Elas eram sombras vivas, avançando com passos leves e ágeis, suas formas mal tocando o chão, como se dançassem uma dança silenciosa entre as sombras.

Jisoo, com sua liderança nata, guiava o caminho, seus olhos atentos captando qualquer sinal de movimento ou ruído que pudesse denunciar sua presença. Rosé, seguindo logo atrás, complementava a cautela de Jisoo com uma atenção igualmente aguçada, ambas unidas por um entendimento tácito de que a discrição era sua melhor aliada naquela noite.

A pequena casa que encontraram parecia adormecida no silêncio da noite, os varais no quintal exibiam uma coleção de vestimentas que dançavam suavemente com a brisa. Ali estavam as peças que elas procuravam. Embora mais simples do que o elegante vestido de Jennie, havia uma beleza na simplicidade e funcionalidade dessas roupas que lhes atraía.

Com um olhar compartilhado que comunicava seu consenso, elas selecionaram os vestidos. Jisoo vestiu-se com o verde, que parecia capturar a essência da floresta. Rosé, por sua vez, escolheu um vestido rosa, adornado com padrões florais que pareciam ecoar a delicadeza e a beleza das flores que ela tanto adorava adornar em seus cabelos. Era um momento de transformação, não apenas na aparência, mas em sua essência, à medida que se adaptavam a esse novo mundo com a mesma graça e força que sempre as caracterizou.

Continuando sua jornada de exploração, Jisoo e Rosé se depararam com um estábulo que chamou imediatamente a sua atenção. A curiosidade as envolveu ao se depararem com uma criatura magnífica que nunca haviam visto antes: um cavalo. O animal exibia uma elegância e um porte que lhes causavam admiração. Movida por um misto de curiosidade e encanto, Jisoo avançou cautelosamente em direção ao animal. Ao perceber sua aproximação, o cavalo, que estava atado, lançou-lhe um olhar que rapidamente se transformou em pânico. Num gesto brusco, ele ergueu suas patas dianteiras e relinchou fortemente, num sinal claro de alerta e medo, provocando um caos ao derrubar objetos ao seu redor em uma tentativa desesperada de fuga, sentindo, talvez instintivamente, a natureza não humana das visitantes. O tumulto gerado pelo animal era ensurdecedor. Jisoo, em um esforço para acalmar o cavalo, tentou apaziguá-lo com gestos suaves, mas suas tentativas pareciam ineficazes diante do medo evidente do cavalo.

— Quem são vocês? — Perguntou um homem assustado, apontando um enorme garfo de feno para elas. Estranhou duas moças de beleza tão incomum andando naquele vilarejo tão tarde da madrugada.

— Só estamos de passagem — Respondeu Jisoo um pouco temerosa, era a primeira vez que falava com um humano. 

Nesse momento, uma moça se aproximou, encarando as duas. 

— São meus vestidos! — Disse a jovem. 

— O que está dizendo, minha filha? — Perguntou o homem para a moça. 

— Elas estão com os meus vestidos! 

— Nós só pegamos emprestado, e vamos devolver — Jisoo tentou explicar calmamente. 

— São saqueadoras! — Um outro homem disse logo atrás, aproximando-se. 

— É melhor que as prendam! — Disse uma senhora. 

Subitamente, Jisoo e Rosé se viram cercadas por uma multidão de moradores do vilarejo, cada um deles segurando candelabros que lançavam uma luz trêmula e fantasmagórica sobre o local. A aglomeração começou a se mover inquieta, murmurando entre si, criando uma atmosfera carregada de tensão. As duas, desorientadas, olhavam ao redor tentando compreender a razão da súbita convocação que as colocava no centro de uma atenção indesejada, sem saber como reagir diante do crescente alvoroço que se formava ao seu redor.

— Peço que me desculpem — Disse Jisoo erguendo a voz — Não temos o que vestir e só pegamos essas roupas emprestadas, vocês tem muitas. Não poderiam nos presentear com essas? 

A dona dos vestidos riu com desdém.

— É claro que não! Me devolva! — A moça se aproximou e empurrou Jisoo, que mesmo assim permaneceu imóvel. Rosé se encolhia de medo atrás dela — Esse cheiro… — A moça farejou o ar perto — Vocês estão fedendo a peixe! 

Os aldeões começaram a conectar os pontos, deixando-os boquiabertos e permeados por uma mistura de surpresa e temor. Eles trocavam olhares entre si, sussurrando teorias, enquanto observavam as estranhas visitantes com uma curiosidade tingida de cautela. A atmosfera se carregava de uma tensão palpável, à medida que a comunidade tentava decifrar a natureza daquelas duas mulheres misteriosas que haviam surgido em sua tranquila rotina.

— São sereias — Disse dono do estábulo com a voz trêmula, apontando a lança contra Jisoo.

— SEREIAS? — Os moradores gritaram em uníssono, desesperados. 

— ELAS VIERAM NOS DEVORAR!

— VIERAM PARA COMER NOSSOS FILHOS!

O pânico se espalhou rapidamente entre os moradores, manifestando-se em gritos de terror e gestos de defesa desesperados. Alguns se aglomeravam, buscando refúgio em suas casas, enquanto outros, munidos de ferramentas rudimentares, assumiam uma postura defensiva, apontando para Jisoo e Rosé como se fossem uma ameaça iminente. O caos reinava na vila, com a população confusa e alarmada diante da presença das duas estranhas.

— Não vamos fazer nada disso… — Jisoo tentou conversar — Nós vamos embora e não faremos nada de mal a vocês.

Assim como é comum entre os humanos, o medo do desconhecido impulsionou os habitantes a reagir de maneira equivocada. Armados com tochas ardentes e lanças finamente afiadas, coagiram Jisoo e Rosé a se deslocarem para o centro do vilarejo. Jisoo, repleta de relutância em causar dano, reconhecia que eles não eram intrinsecamente maus; apenas careciam de entendimento. Ela tentou incessantemente dialogar, buscando apaziguar o tumulto. Contudo, suas tentativas eram em vão, pois os moradores, firmes em sua ignorância, tapavam os ouvidos, acusando-as de serem bruxas oceânicas cujas vozes portavam maldições insidiosas.

Conduzidas ao coração do vilarejo, Jisoo e Rosé foram atadas uma de costas para a outra em torno de um poste central, erguido sobre um pequeno altar. O olhar dos aldeões alternava entre medo e ódio, apesar de Jisoo e Rosé jamais terem feito mal algum contra eles. Em um ato de alarmante hostilidade, os aldeões acumularam feno aos pés das duas, uma preparação cujo propósito lhes era estranhamente incógnito até o momento em que o primeiro fogo foi aceso. O terror se apoderou delas; Rosé, tomada pelo pânico, não conseguiu conter as lágrimas nem os gritos desesperados, à medida que o calor voraz começava a lamber seus pés descalços.

— Chae, confie em mim — Jisoo suspirou —, vamos acabar com isso sem precisar ferir ninguém, não somos monstros. Já sabe o que fazer? 

— Sim — No ápice do desespero, Rosé, entre soluços e lágrimas, lembrou-se subitamente do imenso poder que tinha. Embora suas habilidades fossem atenuadas longe do domínio aquático, sua essência mágica ainda pulsava com força suficiente para ser decisiva naquele momento crítico. A urgência da situação aguçou sua memória, trazendo à tona a capacidade que temporariamente lhe escapara da mente, um recurso vital para libertá-las do terrível destino que as aguardava.

Jisoo, com os olhos fechados e uma concentração profunda, captou a essência de cada partícula de água nas proximidades. Sentiu a energia vital que fluía dentro dela, uma conexão tão íntima que transcendia a compreensão. Sob seu comando silencioso, a água começou a responder, movendo-se com propósito. Do rio, dos recipientes nas casas, dos poços e reservatórios, a água convergiu em uma dança espetacular, obedecendo ao chamado invisível de Jisoo. Formou-se uma corrente fluida e elegante, deslizando pelo ar, tecendo seu caminho em direção a elas com uma precisão milimétrica. Era um espetáculo de harmonia e poder, a água unindo-se a seu comando em defesa de sua liberdade.

A presença da nuvem de água flutuante sobre Jisoo e Rosé, e sua subsequente transformação em uma chuva suave e apagadora de chamas, semeou uma onda de choque entre os moradores. A atmosfera, anteriormente carregada de medo e hostilidade, agora se tingia de assombro. Mas foi a ação de Rosé que mudou definitivamente o curso daquela noite.

Enquanto a chuva criada por Jisoo lavava as chamas e o medo, Rosé entoou uma melodia de uma beleza etérea. Sua voz, embora suave e baixa, carregava uma força invisível que se espalhava por toda a vila, envolvendo cada coração em sua doçura. Era como se a própria essência da calma e da paz se tecesse em notas musicais, emanando dela. A melodia, mais encantadora do que o mais belo canto dos pássaros ao amanhecer, penetrava na alma de cada ouvinte. Sob seu efeito, a agitação e o pânico que haviam se apoderado dos moradores se dissiparam como neblina ao sol. Eles permaneciam imóveis, suas mentes arrebatadas por um transe pacífico, como se uma antiga magia os envolvesse e os transportasse para um mundo onde apenas a beleza e a harmonia reinassem.

Após assegurar que a chuva criada havia eliminado toda ameaça das chamas, Jisoo agiu rapidamente, liberando primeiro a si mesma e, em seguida, com mãos ágeis, desatou as amarras de Rosé. Enquanto isso, Rosé, com sua voz permeada de uma magia sutil e poderosa, continuava a tecer sua canção no ar, entrelaçando cada palavra com um encantamento que pacificava e dominava. Seu canto não era apenas um bálsamo para as almas atormentadas, mas também um laço invisível que moldava a vontade daqueles que a ouviam.

Conforme a canção se aproximava do fim, Rosé, com uma maestria inata, teceu um último encanto em suas notas, uma instrução suave mas irrefutável para que todos os moradores, um a um, se entregassem ao sono. Como se uma onda de tranquilidade os varresse, os aldeões, um após o outro, caíram em um sono profundo, suas feições suavizadas pela paz que agora os envolvia. Nenhum se opôs, nenhum resistiu; a música tinha o poder de acalmar a tempestade de medo e confusão que antes reinava.

Liberadas e não mais ameaçadas, Jisoo e Rosé aproveitaram o manto de silêncio que agora cobria a aldeia. Movendo-se com cuidado para não perturbar o sono encantado dos moradores, elas fizeram seu caminho de volta à segurança da floresta, deixando para trás um vilarejo inteiro adormecido. Aqueles aldeões tiveram uma demonstração de que mesmo frente ao medo e ao desconhecido, a compaixão e a compreensão podem prevalecer.


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Notas finais do capítulo

Pegar emprestado sem prazo de devolução, né Jisoo? Rsrsrs



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