Insensível. escrita por hikcchi


Capítulo 4
Capítulo 04.




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Naquela sala reinava um profundo silêncio. Nem um único som foi proferido por eles, embora todos desejassem se apoiar mutuamente. Em um canto, Takao permitia que as lágrimas contidas escorressem por seu rosto. Midorima queria auxiliá-lo, mas também estava frustrado, seus olhos ardiam. Talvez chorar não fosse tão terrível quanto ele imaginava.

Batidas à porta foram ouvidas. Todos olharam, mas ninguém teve disposição para abri-la. Shintaro já suspeitava de quem se tratava e apenas suspirou. Quando o treinador finalmente abriu, uma garota, claramente magoada pela perda, pôde ser vista.

— Olá. Peço desculpa por aparecer assim, mas… — Murmurou, percebendo as palavras sumirem lentamente.

— Imagino que esse não seja o momento ideal para… — Masaaki começou a dizer, mas foi interrompido.

— Está tudo bem, técnico. — O craque da equipe comunicou. — Venha, Huryome. — Levantou-se e saiu da sala, esperando que ela o seguisse.

Antes de ir com Midorima, ela olhou para o time da Shutoku e tentou reconfortá-los, todavia, foi incapaz. Unicamente acenou com a cabeça e seguiu com o maior.

Ao chegarem ao corredor principal, ele parou em frente à máquina de bebidas, embora o nó em sua garganta pudesse dificultar engolir o líquido.

— Midorima, eu sinto muito…

— Sente pelo quê? — Ele respondeu imediatamente.

— Pela derrota no jogo… Eu…

— Seja honesta, você lamenta mais pela derrota da minha equipe ou por não alcançar o seu objetivo?

Ela o encarou, surpresa, e permaneceu em silêncio em seguida.

― Desde o início, quando ofereceu ajuda, eu sabia que sua torcida não era exatamente para o time. ― Sua mão direita ajustava os óculos no rosto. — Você desejava que a sua ajuda fosse o suficiente e, somente com ela, significaria algo para você, caso ganhássemos.

— Midor-

— Não importa. Creio que a sensação da perda esteja latejando mais em você do que em mim.

Era verdade. Aquela sensação doía excessivamente.

— Perdoe-me, Shintaro… — A voz trêmula denunciou o choro confinado na garganta. — Acabei colocando as minhas convicções acima das suas e de seus colegas, mas isso não significa que eu não acreditei em você.

Ele a olhou.

— Eu não teria oferecido minha ajuda se não estivesse confiante na sua capacidade de vencer, especialmente considerando que você não concordaria no início, o que se confirmou. — Suspirou. — Acompanhei um jogo anterior que o seu time participou antes de estar presente pessoalmente.

— Então, você já havia planejado isso. Você sabia que eu enfrentaria o Akashi. — Disse ele com um semblante sério.

— Sim, eu sabia. No entanto, confiar na Shutoku não foi um plano elaborado, foi arriscar no desconhecido, considerando especialmente o pouco conhecimento que eu tinha sobre o time. — Seus olhos azuis miravam-no. — Foi, de fato, uma aposta, mas, mesmo que tenha apostado em mim, apostei ainda mais no vínculo que você estabeleceu com seus colegas. Eu acreditei, sinceramente, em todos vocês.

Midorima ponderou sobre o assunto. De certa forma, ela ampliou sua compreensão sobre seus amigos. Nesse momento, ele notou que podia confiar neles, especialmente em Takao, que o acompanhou durante o teste da nova habilidade.

— Espero que possa me perdoar. — Disse Hikari, com a cabeça baixa. — Fui egoísta, admito. Não era minha intenção te deixar irritado, não é meu estilo agir assim e fui infeliz em minhas decisões.

— Deixe isso para lá, Huryome. — Observou a feição da menor. — A derrota caiu tanto para você quanto para mim. Estamos quites. — Bebericou do suco. — Não há nada para ser perdoado, afinal.

— Obrigada, Shin. — Enxugou os olhos úmidos com as costas das mãos, logo depois exibindo um suave sorriso.

— Não use esse apelido, sabe o que penso sobre isso. — Descartou a lata vazia no lixo. — Agora voltarei para o meu time. Preciso estar com eles, o campeonato ainda não acabou.

— Desejo boa sorte nos próximos jogos. O time da Shutoku é realmente incrível.

— Você não vai ficar para ver o desfecho da competição?

— Não. Acredito que já sei como será. Não quero presenciar o Akashi se gabando por mais uma vitória. — Ela respirou profundamente. — Voltarei para a minha cidade ainda hoje.

O esverdeado a olhou. Possivelmente ela não estava preparada o bastante para encarar o ex capitão da Teiko.

— Até algum dia, Shintaro. — Despediu-se.

— Espere, Hikari. — Chamou, demonstrando hesitação. — Acredito que deveria assistir ao jogo da Kaijo contra a Seirin antes de ir.

— Por quê?

— Talvez ainda haja alguém que possa te ajudar.

 

 

* * * * * *

 

 

Quando o sino tocou, marcando o intervalo, os dois times tiveram a chance de descansar por alguns minutos. O jogo estava empatado no final do segundo quarto.

Enquanto assistia à partida, Huryome notou que Kise Ryota e Kuroko Tetsuya estavam no banco e se questionou se estavam sendo poupados. Ela resolveu ficar por ali e tentar entender o que Shintaro estava indicando.

À medida que o jogo avançava, o último quarto chegou tão rápido quanto a exaustão da torcedora. Mesmo empolgada, Hikari ainda não havia descoberto qual era o motivo especial ao qual o jogador destaque da Shutoku havia se referido. Prestes a sair, ela viu o placar marcando 62 para a Kaijo e 77 para a Seirin, quando duas substituições foram solicitadas: aos quatro minutos finais, Tetsuya e Ryota entrariam.

Na quadra, o número 10 da Seirin, Kagami, e o número 7 da Kaijo, Kise, encaravam-se intensamente com um objetivo comum: a vitória. Ambos observavam atentamente os movimentos um do outro, buscando identificar as melhores estratégias tanto para atacar quanto para se defender.

E foi então que, surpreendentemente, Kise fez Kagami cair, reproduzindo o mesmo movimento que o capitão da Rakuzan.

 O quê!? — Hikari admirou-se. — Mal consegui ver, mas tenho certeza de que foi um quebra-tornozelo. Se ele executou realmente o movimento do Akashi então ele aprimorou a habilidade de imitação. Nesse caso, nada pode detê-lo agora.

Kagami agiu com rapidez, enquanto Kuroko, ao perceber a situação, se preparou para agir: ele entregou a bola com toda a força em um dos seus passes característicos. No entanto, antes que a jogada se concretizasse, Kise interferiu, utilizando a sólida defesa de Murasakibara.

O pedido de tempo da Seirin foi concedido. Era o que eles precisavam: descansar, discutir estratégias, tentar algo a mais antes de… Perderem.

— A Seirin deu o seu melhor. — Ela olhou para os outros jogadores e parou seu olhar no ex-membro da Geração dos Milagres. — Tetsuya, por um momento, pensei que… Não, estava enganada.

Aquilo era suficiente. Hikari certamente entendeu o que Midorima disse. Ela não precisava presenciar o desfecho, pois já sabia a quem recorrer, no entanto, a dúvida ainda pairava sobre sua mente. Por quê? A resposta desejada ainda não surgira?

Ela apenas se ergueu, buscando tempo para considerar a situação. No entanto, nos momentos finais, ela parou. Kuroko estava marcando Kise diretamente.

— É a nossa última chance! — Bradou o capitão da Seirin. — Deem tudo de si!

— Sim! — Respondeu o time, determinado a vencer.

Ambos continuaram frente a frente, até que Kise Ryota recebeu a bola. Kuroko avançou, tentando interceptá-la. O loiro se afastou, porém, Kagami estava agora em sua frente. Mesmo assim, Kise não se abalou, parecendo saber o que fazer: ao realizar um quebra tornozelo e deixar o número dez no chão, direcionou-se à cesta, passando pela marcação.

Mas algo aparentava diferença. Parecia que Ryota estava sendo estudado. Hikari olhou para o jovem de cabelos azul-claros. Ela sabia que era uma façanha dele.

Restavam apenas três segundos, e, em um rápido contra-ataque, Kagami recebeu a bola, já se aproximando da cesta. Interrompê-lo era uma tarefa impossível. Naquele momento, era como se fosse a esperança que tanto precisavam. No entanto, Kise ainda estava presente no jogo e alcançou Taiga tão rapidamente quanto ele saltou.

Parecia impossível. A menos que…

— Kagami! — Gritou Kuroko, logo atrás dele.

— Tetsuya!? — Huryome expressou surpresa.

Kagami não podia voltar no lance, mas ele rebateu a bola na tabela, fazendo-a chegar diretamente às mãos do número onze. Com um arremesso, utilizando uma nova habilidade que a garota ainda não presenciara, ele marcou o ponto.

Fim de jogo. Seirin saíra vitoriosa.

No fim, Kuroko foi recebido calorosamente por toda a equipe.

A garota observava, ainda atônita. As incertezas que surgiram em seu íntimo estavam se dissipando à medida que contemplava Kuroko, Kagami e o time Seirin na conclusão da partida.

A determinação deles os levou à vitória. E, além disso, Tetsuya encontrara, de fato, aliados para lutar ao seu lado. Um grupo que o acolheu da melhor forma possível. Não abandonariam ninguém, todos estavam em igualdade, unidos. Uma verdadeira família.

E, finalmente, ela compreendeu o que Midorima queria dizer.

 

 

* * * * * *

 

 

O salão de entrada do ginásio onde estavam ocorrendo as competições estava lotado. Os membros da equipe Seirin conversavam animadamente sobre a emocionante partida que haviam acabado de disputar. A vitória suada que alcançaram era motivo de celebração, sem dúvida.

— O que foi, Kuroko? — Tsuchida perguntou após notar o amigo olhando fixamente para as próprias mãos. — Você se machucou?

— Não. — Respondeu. — Eu estava tão focado em fazer passes que nem percebi que nunca tinha arremessado daquela maneira. Foi a minha primeira cesta, no último segundo do jogo.

— Você está certo! — Furihata concordou. — Fez um ótimo trabalho!

— Eu poderia até… Morrer de tanta felicidade. — Brincou Kuroko, revelando seu bom humor. Seus olhos brilhavam com a alegria, e o sorriso em seu rosto não desapareceria tão cedo.

— Nunca te vi tão feliz! E não morra! — Disse Kagami, encarando-o.

— Não é à toa que está tão animado. — Kiyoshi riu.

— Hoje você não foi imperceptível, mas sim o herói do dia. — Izuki complementou.

— Ei, ei! — Chamou a atenção, Hyuga, o capitão da Seirin. — Vamos com calma nas comemorações! A batalha ainda não foi vencida! — Mesmo tentando manter a seriedade, permitiu-se um sorriso satisfeito escapar. Até o líder não conseguia conter a emoção naquele momento.

Riko não deixou passar em branco e logo o repreendeu, dando-lhe um tapa na cabeça:

— Fiquem centrados! Ainda falta mais um jogo para alcançarmos o topo. Lembrem-se de que estamos representando a Kaijo e todas as outras equipes pelas quais passamos.

A equipe ainda tinha um desafio pela frente, enfrentariam a Rakuzan.

— Tetsuya.

Todos direcionaram seus olhares para a porta de entrada, de onde veio aquela voz procurando pelo rapaz de cabelo azul-claro.

— Hikari? — Kuroko murmurou, olhando-a.

 Hein? — Seus colegas o encararam. Será que Kuroko conhecia mais garotas do que todos eles juntos!?

— Ela novamente… — Exprimiu Kagami.

— Hein? — Foi a vez do ruivo ser encarado pelos companheiros. — Até você!?

Riko olhou-os com um olhar familiar, indicando que já sabiam o que aquilo significava. Logo ficaram em silêncio, temendo receber reprimendas da técnica, assim como aconteceu com Hyuga.

— Olá, Kagami, olá, pessoal da escola Seirin. — Ela os cumprimentou com um sorriso gentil e em seguida dirigiu seu olhar para o amigo. — Tetsuya, estou aqui para oferecer minha ajuda… — Após enunciar, ela hesitou por um momento e logo reformulou a frase. — Quer dizer, estou aqui para pedir a ajuda de vocês. Por favor, é minha última tentativa.


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