Pior do que o mal escrita por The Bringer of Rain


Capítulo 4
Capítulo 4




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Ogata, observou Mei Mei se dirigir para área do leilão. Os olhos inexpressivos alternaram entre ela e o sujeito do bar de antes. Sem fazer contato visual, ela ocupou o lugar ao lado dele numa mesa mais ao fundo de onde podiam ter uma visão ampla dos envolvidos.

— Precisa de ajuda com seu amigo?

Mei Mei tocou sua coxa ao se sentar, deixando um rastro de mistério, enquanto preparava uma resposta que pairava entre flerte e deboche.

— Você me ajudaria se eu pedisse? Que cavalheiro... - provocou ela.

Suas palavras deixaram um gosto de ambiguidade no ar. O timing, porém, era curto, pois o leilão estava prestes a começar.

A atmosfera do bar se transformou quando o leilão começou, a elegância e a etiqueta enchiam o salão tanto quanto a conta bancária dos ali presentes. Figurões da elite empresarial levantavam seus cartões de lances com graça, enquanto os itens eram apresentados de forma bastante instigante com diversos detalhes sobre eles sendo expostos. Peças de arte, joias e antiguidades passavam sob o olhar atento da audiência, cada lance ecoando em um murmúrio cortês.

Contudo, quando um quadro de Martial Raysse, notavelmente moderno para o ambiente, foi colocado à vista, tanto Li Wei Long quanto Robert Thompson permaneceram se interessar. Fizeram lances despachando os interessados e duelaram de forma justa aumentando o valor em dinheiro.

A obra parecia destoar do restante da coleção, uma pitada de contemporaneidade em meio a antiguidades valiosas. E foi levada pelo americano pelo montante considerável de cem mil dólares. Talvez fosse moderna demais para os padrões chineses...

Ogata e Mei Mei adotaram uma abordagem discreta, fazendo lances mínimos apenas para despistar os curiosos. O silêncio entre eles falava mais do que palavras, indicando uma compreensão mútua de que algo mais estava em jogo do que simples transações comerciais.

Mei Mei aproximou o rosto do homem ao seu lado. A quem olhasse por fora, era bastante convincente que era uma espécie de carinho ou mesmo um beijo entre eles. Desde que se encontraram pareciam agir como um casal para serem mais convincentes. O contato físico, porém, resumiu-se a um sutil toque da mão feminina no ombro do homem à medida que projetava seu rosto e corpo na direção dele.

— Há um feiticeiro junto do chinês, e ele já me notou também. - seu cabelo cobriu seu rosto, impedindo que curiosos vissem.

O sussurro fez Ogata vasculhar todos os acompanhantes de Wei Long. Calculou três seguranças que se vestiam e comportavam-se de forma padrão com seus óculos escuros e ternos baratos. O quarto chamou a atenção, diferente dos demais, ele vestia roupas formais orientais: um kimono negro e sandálias de madeira. Lembrou-se que o sujeito havia deixado a wakisashi na entrada, mas não sabia se era de fato sua arma ou puramente para enfeite.

— O homem de kimono. Você o conhece? - ele obviamente não conhecia.

— Não, mas ele não faz questão de reprimir ou esconder sua energia amaldiçoada. - ela reposicionou-se na cadeira, voltando a ficar de frente para o leilão. - Logo logo iremos conversar.

O leiloeiro anunciou a chegada de mais um item. Ele conduziu a apresentação de um rifle Berdan M1870 com entusiasmo notável, detalhando sua história e funcionamento.

— Temos aqui senhores platina no sistema de ignição, intricados detalhes do estoque e a precisão mecânica capazes de cativar os aficionados por armas de fogo! – e exibia determinadas partes da arma, claro que, usando luvas.

Algumas pessoas tiveram suas atenções laçadas como um bezerro. Ogata foi uma delas, ele e alguns outros magnatas se alertaram e uma disputa até então não presumida estava prestes a iniciar.

O leiloeiro pigarreou, satisfeito como um caçador vendo sua presa se aproximando da armadilha.

— Criada pelo especialista em armas de fogo e inventor americano Hiram Berdan em 1868, este modelo foi o padrão no exército russo de 1870 a 1891, quando foi substituída pela espingarda Mosin-Nagant. Foi amplamente utilizada na Rússia como arma de caça, e variantes esportivas, incluindo espingardas, foram produzidas até meados da década de 1930. Podemos começar? Noto alguns cavalheiros interessados, o lance inicial é de vinte e cinco...

As palavras foram interrompidas. Um homem sem terno, usando apenas camiseta lisa abaixo do paletó elevou seu cartão de lances com confiança.

— Trinta mil dólares! - declarou olhando com determinação para os outros interessados.

Um aparente colecionador americano de antiguidades, não hesitou:

— Trinta e cinco mil dólares! - respondeu encarando o primeiro, tinha uma expressão desafiadora.

Long observava atentamente, decidiu entrar na competição.

— Quarenta mil dólares. - anunciou com calma, sua voz reverberando pelo bar de maneira inconfundível.

Ogata, mantendo seu olhar focado no rifle, fez um lance contido. Não escapou da percepção de Mei Mei, pois no instante que a arma entrou em cena, o olhar sem expressão de seu acompanhante pareceu ganhar vida, como um stalker ao ver a pessoa que é seu foco.

— Sessenta mil dólares. - sua expressão séria não revelou muito, mas o lance mais alto que os anteriores exibia a determinação de compra.

Mei Mei, sorriu de forma provocativa:

— Não me parece uma barganha. - ela declarou.

O bar tornou-se eletricamente carregado pelo ar da competição. Os lances pelo rifle não subiram, ficando assim até a terceira batida do martelo. Os homens trocavam olhares afiados, cada um se analisando.

— Vendido ao senhor de terno na mesa dezessete por incríveis sessenta mil dólares! - anunciou. 

Ogata voltou a se sentar, adquirira o rifle modelo 1870 por um preço substancial em dólares. A tensão se esvaiu, como se tivessem aberto as porteiras de uma hidrelétrica. Ela jorrou pela sala enquanto diversos olhares eram trocados. O ar parecia estagnado ali dentro e, Mei Mei, sussurrou provocadoramente:

— Eu poderia ter te sugerido algum investimento mais condizente.

— Não é um investimento. É um modelo antigo de disparo único, mas não é ruim. - ele sorriu timidamente.

— Você pretende usá-lo?

— É um rifle excelente, mas um soldado comum teria dificuldade em causar um ferimento fatal em um alvo a 100 metros de distância. Mas coloque meu alvo a 300 metros, e eu colocarei uma bala na sua cabeça sem falhas.

Mei Mei riu de canto. Não aprovava ou desaprovava.

— Não importa a idade, garotos sempre gostam de brincar de armas.

A noite seguiu. A bala finalmente foi apresentada. Para a tristeza de muitos não era de fato a bala original. Era apenas um dos diversos projéteis usados na guerra russo-japonesa.

O murmúrio contido dos empresários ecoou pelas paredes adornadas quando o leiloeiro revelou este detalhes.

“Só um dos projéteis do conflito em Mudken.”; o pensamento estampado na cara de todos era um verdadeiro balde de água fria.

Wei Long e Robert Thompson, astutos e desapontados, trocam olhares que mostram a frustração de uma noite que prometia mais do que entregou. Comentaram em voz, considerando o evento uma perda de tempo.

— Restou a diversão. - comentou o americano.

— Não poderia concordar mais. – retrucou o chines.

Wei Long, impecável em seu terno, ajustou um botão, expressando insatisfação mascarada sob uma camada de compostura e se resumiu em concordar e forçar um sorriso. Ambos se despediram e ele pareceu iniciar seu trajeto até a saída.

O feiticeiro ao lado de Wei Long direcionou seu olhos para Mei Mei, como se tentasse desenterrar segredos em recantos mais obscuros. Era um olhar agressivo, opressor. A mulher não respondeu de igual maneira, sua réplica veio com o olhar de desdém.

Enquanto isso, a acompanhante de Wei Long os encarava de forma curiosa e até sedutora. Ela, envolta em elegância, se aproximou deles em seu trajeto, intencionalmente e de forma sugestiva. Não soltou um pio, mas os olhos falavam tão bem quanto palavras.


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