Pior do que o mal escrita por The Bringer of Rain
Notas iniciais do capítulo
Esse capítulo ficou um pouco mais cansativo que os demais, espero que apreciem apesar de tudo. Precisei contextualizar algumas coisas.
O ambiente no Tokyo Rooftop Bar era carregado de sofisticação e o odor almiscarado misturado com o de uísque. A melodia suave do jazz no fundo envolvia o espaço à medida que a noite estava apenas começando. Uma porta de vidro se abriu, revelando um grupo de pessoas que adentrava o local, não estavam juntas, mas chegavam de forma constante. A maioria delas, porém, também não estavam sozinhas; cada indivíduo parecia trazer consigo uma aura de sigilo, acompanhados por seguranças discretos ou mulheres elegantes.
Ogata e Mei Mei, da mesa, observavam atentamente a entrada daquele grupo, seus olhares aguçados captavam cada detalhe.
— Quer outra bebida? - indagou o homem.
Suas mentes afiadas estavam em sintonia com o objetivo da missão imposta por Satoro Gojo. O convite para bebida era obviamente mais do que isso.
Ogata se levantou da cadeira e Mei-Mei o acompanhou, pareando seus passos para ficar lado a lado com ele.
Ogata, com seu terno impecável, deixou escapar um comentário sutil para Mei Mei:
— Parece que pelo menos um quinto do PIB mundial decidiu fazer uma visita a este bar.
— Dinheiro, poder e influência, todos reunidos sob um mesmo teto. É uma ótima oportunidade para investimentos. - com seu vestido preto que realçava sua elegância e sensualidade, respondeu com um sorriso enigmático.
Enquanto guiavam seus passos para o bar, ambos identificaram um indivíduo conhecido pela mídia. O homem de meia idade se destacava entre a multidão, talvez por ter seu rosto estampado nos veículos de comunicação ou por ter nome e foto divulgados por Gojo.
Os instintos da dupla se alertaram. O homem que acabara de entrar com seus diversos seguranças era Li Wei Long. Wei Long é CEO de uma renomada empresa de petróleo chinesa, SinoEnergy Dynamics Corporation, e seu rosto ficou estampado nos noticiários recentemente devido a um escândalo empresarial que abalou as estruturas da empresa que ainda comanda.
De alguma maneira não bem divulada, o conglomerado entrou em recuperação judicial, e Li Wei Long teve que enfrentar críticas intensas por sua gestão questionável. O escândalo não apenas levou a empresa a uma situação financeira delicada, mas também deixou os credores insatisfeitos, gerando desconfiança no mercado.
Enquanto Li Wei Long adentrava o bar, sua presença não passava despercebida. Os olhares se voltavam para ele, alguns reconhecendo o rosto marcado pelas polêmicas nos jornais. Ele se movia com uma certa altivez, apesar da controvérsia que o cercava. Ele parecia gostar das atenções.
— Pois não senhora. - o atendente aproximou-se da dupla enquanto limpava um copo.
— Outro Dry Martini. - ela sequer olhou o rapaz que tocava o bar enquanto pedia.
— E pro senhor?
— O mesmo que ela.
Wei Long em sua trajetória cumprimentou com apertos de mão firmes outros dois empresários chineses que o receberam no canto do salão. Esses homens eram do ramo de tecnologia, representando uma empresa líder em inovações eletrônicas e inteligência artificial na China. Mas após as cordiais saudações, ele seguiu em direção a uma mesa onde um empresário americano, Robert Thompson, o aguardava.
Thompson era dono de uma renomada empresa de produção de chips e microchips com sede nos Estados Unidos. Calvo e de terno branco, sua expressão não conservava a tensão da famigerada crise do silício que todos parecem dizer. Talvez não fosse para tanto.
Wei Long aproximou-se de Thompson com um aceno de cabeça respeitoso e estendeu a mão para um aperto de maneira formal.
— Sr. Thompson, é um prazer encontrá-lo aqui. Não nos vemos desde Londres no ano passado. - disse ele, mantendo uma expressão neutra, apesar da turbulência recente nos negócios.
Thompson retribuiu o aperto de mão, observando atentamente o homem cujo rosto já se tornara familiar nos noticiários.
— O prazer é meu, Long. E estamos entre amigos, apenas Robert por favor. Espero que o leilão seja produtivo.
Os dois líderes empresariais tomaram seus lugares na mesa, imersos na atmosfera local. Notava-se que a estrutura para o leilão estava sendo finalizada. Havia um púlpito sobre o tablado e algumas vitrines móveis.
— Qual dos itens lhe interessa Robert? Não veio pelo Portinari, veio? Os italianos não deixarão que o leve.
— Imagino, entre alguns objetos, acho que todos vieram pela bala da Manchúria, não é?
— Então seremos rivais nesses lances.
A misteriosa bala que atraiu a atenção de Li Wei Long, Robert Thompson e outros empresários chineses e americanos remontava a um evento histórico nem tão distante dos tempos atuais. A bala era proveniente de um fuzil antigo, um Arisaka Type 30, fabricado no ano de 1897. Este fuzil foi uma peça rara e notável, utilizado por soldados japoneses durante a Guerra Russo-Japonesa.
A história desse projétil estava enraizado na história do antigo capitão japonês, Hiroshi Kurogane. Ele fora um herói condecorado, conhecido por suas habilidades táticas e coragem no campo de batalha. Contudo, sua morte havia sido envolta em mistério e especulações. Acredita-se que Hiroshi Kurogane tenha sido morto por um atirador habilidoso durante a guerra, e essa bala específica, uma relíquia daquela época, era a única pista tangível de sua morte.
Diversos colecionadores e endinheirados estavam interessados na bala, acreditando que poderia fornecer informações cruciais sobre os eventos que cercaram a morte do capitão Kurogane. Além disso, havia rumores de que a bala teria propriedades místicas, amplificando ainda mais a atração que ela exercia sobre aqueles presentes no Tokyo Rooftop Bar.
O encontro daqueles empresários no bar nunca foi para negócios, embora isso possa ocorrer em segundo plano. Cada um deles tinham ambições em possuir aquela espécie de relicário e conspiravam em meio ao luxo e à sofisticação da noite.
— Vou para área do leilão. - comentou Ogata deixando o copo ainda meio cheio.
— Nos encontramos lá, preciso fazer uma ligação.
Mei-Mei afastou-se um pouco, frente a enorme vidraça na janela, ela observava a cidade noturna até que sua atenção fosse atendida.
— Cheque o preço das ações da SinoEnergy Dynamics Corporation.
Ficou em silêncio por alguns segundos, sem saber que outro par de olhos a devorava por uma segunda vez.
— Somente isso? Compre metade do disponível assim que o mercado abrir. Pela manhã eu vou ser dona de trinta por cento dessa empresa.
A ligação se encerrou e com o leilão se aproximando do início ela logo voltou para lá. Seus passos foram interrompidos, porém, pelo mesmo ocidental de antes. Qual era seu nome mesmo? John? Malcolm?
O homem parecia ainda remoer a conversa de antes.
— Então estava acompanhada. O que ele tem que eu não tenho? Nossos ternos são da mesma marca, meu relógio é mais caro...
Ele não pôde interromper suas palavras. Mei-Mei diminuiu o espaço entre eles, esticando o braço para alçar o copo sobre o balcão. Bebeu do copo do homem, provando um uísque caro, e aguado. Ele deveria estar enrolando com aquilo desde que chegou.
— Existem tubarões e peixinhos neste mundo, John, e se você não sabe qual deles você é, então você não é um tubarão. E eu não nado com peixes de aquário. - não tinham absolutamente nada, mas ela achou divertido importunar aquele homem novamente.
Houve silêncio entre eles, e então o jazz também parou. O leilão estava para começar.
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