Terapia de sangue escrita por Carmen Rey
Notas iniciais do capítulo
28 de junho de 2022
Ela se acovarda.
As luzes se apagam. As cortinas fecham.
Quando ela rasteja no chão, rangendo com o impacto da pele com todas as feridas, ela está descalça. A mulher mais feia, pavorosa, hórrida, líquida e opaca de todo mundo, quando se arrasta pelo chão feito um pano sujo e pesado carregado por um vento fraco, não usa nada. Está nua. Seu corpo gordo e imundo carrega vermes como carregaria um filho se essa fosse outra vida, porque nessa ela já não é capaz de reproduzir mais. Ela se esforça para conseguir limpar o resto do seu vômito no chão. Nem mesmo o ato de vomitar é capaz de emaciá-la. Os vermes, que agora habitam a sua arte visceral, fazem parte da rotina de compulsão. Vai e volta. Ela já não anda mais. Roubaram-lhe as botas, caras. Ela já não possui mais máscaras para enganar aquela imagem amorfa. Foi jogada às traças. Por todos, mas principalmente por si mesma. A mulher mais feia do mundo foi a primeira a desistir de si.
Então ela tira as botas.
As luzes se apagam. As cortinas fecham.
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