Maya e os Mistérios de Castelobruxo escrita por Wesley Rego


Capítulo 8
Capítulo 8 - O boto




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Hugo abriu os olhos e notou que estava em um quarto deitado sobre uma cama bastante macia. Aos poucos sua visão foi ficando menos embaçada e tudo que havia ao seu redor ganhava mais forma. 

— Vai com calma garoto. Não pode ser arrastado a quilômetros por uma correnteza e esperar que tudo esteja em seu devido lugar. - disse uma voz estranha de um homem. 

O jovem bruxo tentou virar para olhar pro rosto dele mas sentiu uma forte dor no pescoço e sentiu que seu braço e sua perna esquerda estavam imobilizados por folhas e galhos. 

— O que aconteceu comigo? 

— Bom... Você quebrou o rádio e uma parte do fêmur. Mas eu já reposicionei, só precisa repousar até a calcificação dos ossos. - O homem empurrou uma velha xícara de chá nas mãos de Hugo - Beba isso. Vai ajudar a se recuperar. 

— Isso é Camomila. - disse Hugo reconhecendo o aroma. 

— Sim, mas não só isso. Misturei com outras ervas medicinais bastante raras que crescem no fundo do rio. A propósito, eu sou o João.

— Me chamo Hugo Santos. - Cumprimentou o garoto levando a xícara aos lábios. 

— E o que fazia fora da escola numa chuva como essas? Hugo. 

— Eu estava com alguns amigos... Espera aí! Eles estão bem? 

— Descanse primeiro. Falaremos sobre sua amiga depois. 

Hugo se desesperou. Sentiu um forte aperto em seu peito. Se esforçou para se levantar e sentiu muita dor. Nesse momento pensou o pior. 

— Acalma-se garoto. - João o segurou e o colocou de volta deitado na cama. 

— O que aconteceu? 

— A garota está bem! Só não está aqui! 

— A irmã do Juan. Onde ela está? 

— Acalma-se. Você precisa descansar. Não tem forças ainda pra se levantar. 

O garoto ficou muito agitado e relutante. Empurrou o homem que quase se desequilibrou. O homem sacou uma varinha e apontou para Hugo lançando um feitiço cor de rosa que o fez desmaiar. 

Algumas horas mais tarde Hugo despertou novamente. Sentia-se mais relaxado. Após perceber que estava sozinho no quarto se esforçou para levantar e caminhou lentamente até suas vestes que encontrou apoiado sobre uma cadeira. Conferiu se estavam secas e vestiu-se. Abriu a porta de madeira do quarto e se deparou com uma sala na qual havia uma grande abertura bem no meio da casa. Aproximou-se e viu o rio passando lá embaixo. A casa parecia que estava flutuando sobre o rio, balançava suavemente, Hugo se perguntou como aquela estrutura não foi derrubada com a tempestade. 

— Bom dia de novo - Disse o homem sentado numa cadeira no canto da sala, preparando um peixe - Estou preparando o almoço. Pelo que vejo você está melhor do que antes. 

Hugo pôde reparar o homem com mais detalhes. Ele parecia um mendingo, tinha barba e cabelo comprido e arrepiado, era bem magro e usava roupas velhas de pescador. Parecia ter uns cinquenta anos. 

— Como essa casa está inteira? Digo, depois dessa tempestade. 

— É como uma balsa. Ela flutua sobre o rio e está presa por cordas bastantes reforçadas. Eu mesmo as enfeiticei. Não importa a força da tempestade, elas conseguem segurar essa casa e não importa o quanto o volume do rio suba. A casa sobe junto com ele. 

— Então você é mesmo um bruxo. 

— Foi tão difícil descobrir? Reconheço sua escola e guardei sua varinha próximo as suas vestes. A erva que misturei ao seu chá tem propriedades mágicas. 

— E eu agradeço por isso. - o garoto saiu mancando e se sentou numa cadeira próximo ao anfitrião - Posso saber o que aconteceu com...

— A garota. - interrompeu o homem jogando restos do peixe no rio - Sim, ela está no fundo do rio, há uns dez quilômetros daqui. 

O coração de Hugo gelou novamente e o garoto sentiu vontade de vomitar. Sua pele ficou mais pálida e seus olhos preenchidos com lágrimas. 

— Ela não está morta. Se é o que pensou. 

— Como não? Você disse que ela está no fundo do rio. Como alguém pode está debaixo da água e continuar viva. 

— Ela está enfeitiçada. Em estado vegetativo. Adormecida. Guardada como um troféu de Yara. 

Os olhos de Hugo se arregalaram. Conhecia muitas histórias da floresta ao redor da escola e esse nome era familiar. Já leu muitos livros que falava a respeito da criatura Yara. 

— Yara? É uma sereia não é?

— Sim. Uma sereiana muito bonita e gananciosa. Tentei negociar para que ela deixasse a garota sob meus cuidados. Mas gostou demais da menina e recusou minha oferta. 

— Não podemos deixar que ela fique com Joana. Tem que haver um jeito. - Hugo ficou novamente agitado - você a conhece não é mesmo? Sabe de algo que ela queira? Algo que poderia trocar pela Joana? 

O homem abaixou a cabeça e tornou a dá atenção ao peixe, separando o filé. Hugo ficou impaciente e sacou sua varinha. 

— Qual o propósito disso? Está tentando me ameaçar garoto? Depois de eu salvar sua vida? 

— Conte-me como salvar a menina. Me diga como posso convencer a Yara a liberta-la. 

— Você são grandes amigos não é mesmo? - perguntou o homem com um sorriso no rosto. 

— Não. Não somos amigos na verdade. Mas ela é irmã de alguém que conheço e não é certo deixa-la para morrer. 

— Yara não pretende mata-la, não é de seu feitio. Mas também não pretende liberta-la. A menos que...

— A menos que o que? Fala! - gritou Hugo ainda apontando a varinha para o anfitrião. 

— Acho que tive uma ideia. Você parece ser um garoto bastante corajoso a pesar da idade. 

— Qual sua ideia? 

— Irei leva-lo até o território de Yara. Apenas preciso que confie em mim e siga meu plano. 

— Não confio em você. Como posso confiar em alguém que abandonou uma menina inocente. 

— Expelliarmus! - com um movimento brusco e veloz, João sacou sua varinha lançando um feitiço que fez a varinha de Hugo rodopiar no ar até cair no rio - Eu já lhe disse que não foi assim. E agora presta atenção! Existe uma chance de salvar sua amiga, colega, crush ou seja lá o que a menina significa pra você. Mas terá que fazer o que eu disser e sem questionar. Caso contrário boa sorte em tentar encontrar sua amiga sozinho nesse rio traiçoeiro. Entendido? 

Hugo ficou paralisado e tudo que conseguiu fazer foi acenar com a cabeça. Presenciou um homem que parecia inofensivo e desajeitado se transformar em um bruxo bastante intimidador. 

— Agora vamos, precisamos ajeitar o bote - disse João guardando sua varinha. 

João guiou o garoto até o bote amarrado ao lado da casa flutuante sobre o rio. O garoto subiu no bote em silêncio e assustado, mas percebeu que não havia remos. 

— Como faremos esse bote navegar? - perguntou o garoto confuso. 

João saltou para dentro do rio. Houve uma movimentação brusca na água e logo em seguida um boto cor de rosa saltou da superfície. Hugo ficou surpreso, era a primeira vez que via um boto. O animal nadou para próximo do bote e agarrou a corda com a boca. Depois começou a nadar pela superfície do rio arrastando o bote. Hugo demorou a entender que o boto se tratava do próprio bruxo João e lembrou-se da história que lera uma vez no livro As lendas mágicas brasileiras, onde mencionava a história de um boto cor de rosa que podia se transformar em um homem. 

 

 


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