Maya e os Mistérios de Castelobruxo escrita por Wesley Rego


Capítulo 7
Capítulo 7 - Noite Tempestuosa




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Uma forte chuva atingiu a floresta do silêncio. Na beira do rio, o jovem Juan havia construído um frágil abrigo, feito com madeira e galhos, e tentava desesperadamente mante-lo firme diante as fortes rajadas de vento. 

O volume do rio havia aumentado bruscamente assim como a força da correnteza. A única iluminação notável naquela noite era a luz emitida pela ponta de sua varinha, que gerava uma claridade suficiente para iluminar o pequeno abrigo e algumas árvores próximas. 

Já fazia mais de meia hora que Maya havia seguido o rio pela floresta e mandado o jovem Juan aguarda-la naquele local. O bruxo argentino estava completamente molhado pela chuva, sentia muito frio, fome e preocupação, pois até o momento não tinha notícias de sua jovem irmã que havia sido levada pela correnteza. 

— Mina Jô - lamentava consigo mesmo - espero que esteja bien. Por suerte la Maya irá encontra-la. 

Passado mais alguns minutos, Juan ouviu o som de galhos se partindo e notou que algo se mexia na mata escura. Apontou sua varinha para o local para os arbustos e aumentou o brilho de luz que emitia. Uma onça havia saltado da mata e vinha caminhando lentamente em direção ao jovem bruxo, molhada e exausta. 

— Maya - o bruxo correu em direção ao animal e ao se aproximar a onça se tornou uma jovem índia - Venha, eu te ajudo. - disse Juan apoiando o braço da garota em seu ombro e levando-a até o abrigo. 

Assim que chegou ao abrigo, a jovem índia percebeu que a estrutura não iria aguentar a força do vento. 

— Wingardium Leviosa - girou e sacudiu a varinha para levitar troncos, galhos, lama e pedras. Em seguida utilizou feitiços de transfiguração para modifica-los em estruturas de construção. Os posicionou de uma forma mais reforçada e utilizou outros feitiços para fixa-los entre si. 

Juan ficou espantado ao ver o ridículo abrigo que havia construído se transformar em uma simples, porém bem feita e organizada, cabana de madeira e pedra. 

Ambos se abrigaram no interior da cabana onde Juan, tentando parecer mais útil, reestruturou uma nova fogueira na sala principal e a acendeu, utilizando magia. 

A chuva estava bastante intensa e os ventos cada vez mais fortes, contudo, os jovens bruxos se sentiam mais seguros e também mais preocupados agora que Maya havia retornado sem Hugo e Joana. 

— A culpa foi minha. - lamentou Maya. A garota tinha uma aparência tristonha e parecia extremamente exausta. 

— Non foi culpa sua - consolou Juan se aproximando da garota - mina hermana és forte e creio que seu amigo também. Com certeza eles conseguiram escapar do rio antes que a chuva piorasse. 

— Mas e se não escaparam? Eu nunca vi o rio tão agressivo e perigoso. Eu cresci nessas matas. Sou acostumada ao clima daqui e ainda sim tive dificuldades em me aventurar por essa tempestade. Oh! pobres crianças. - As lágrimas escorriam como rios pelos rosto da jovem índia - talvez nunca tenham entrado nessa floresta antes. 

— Escuta - disse Juan apoiando as mãos sobres os ombros da garota - non vai adiantar ficar pensando nisso agora. Vamos ser racionais. Você precisa dormir e quando a tempestade passar iremos procura-los e acha-los. 

— Não vou conseguir dormir. Não consigo parar de pensar no que aconteceu. Me sinto tão culpada. Não deveria ter trazido o Hugo até aqui. 

— Sendo assim, culpe a mim. Eu trouxe mina hermana sem ao menos avisa-los. Mesmo sabendo que ela é um pouco estabanada. 

— Eu não sabia que você tinha uma irmã. E de qualquer forma tudo isso aconteceu devido a minha obsessão em descobrir os mistérios que envolvem essa maldito papel e esta varinha. 

— Varinha? 

Maya percebeu que não havia contado a Juan sobre a varinha que foi encontrada junto com o papel. 

— Sim. Eu não encontrei apenas o papel naquele dia. Havia também essa varinha - disse tirando a varinha das vestes ainda molhadas e entregando ao colega. 

— Mas porque uno trouxa estaria usando una varinha? - perguntou o garoto avaliando a varinha com os olhos. 

— É uma das respostas que buscamos também. 

— Ton Estranho. Foi essa varinha que usou na aula de Defesa contra as artes das trevas?

Maya corou e acenou com a cabeça. Temeu que Juan houvesse se aproximado dela apenas porque a achava uma bruxa poderosa. Mas o garoto não demonstrou sinais de desapontamento. 

— Ah. É mesmo! - o garoto levantou-se em um pulo - Porque não usa a folha guia para encontrar Joana e Hugo? 

— Eu pensei nisso. Mas a folha está encharcada e mesmo que não tivesse, a tempestade está forte demais. Eu segui o rio o mais distante que pude e fiquei exausta. 

— Tem razon. - o garoto desanimou e sentou-se novamente ao lado da colega - Ah! E sua amiga caipora? Ela pode nos ajudar. 

— Já tentei chama-la também, mas ela não respondeu. Está aborrecida. E Tuka é bastante orgulhosa. 

Juan desanimou-se e entendeu que o melhor a fazer no momento era esperar a tempestade passar. Estavam literalmente presos e sozinhos, e o pior de tudo, carregavam um terrível peso de culpa e preocupação. Hugo e Joana podem está mortos nesse momento e eles não podem fazer nada a não ser esperar. 

" Quando a noite chegar e eu estou a pensar

Ouço sons que ecoam sob a luz do luar.

Onde tudo que vejo, solidão e o desejo 

Não habitam no mesmo lugar."

— Que música é essa? - perguntou Maya. 

— Ah. Mina madre costumava cantar pra mim e Joana. Ajuda o sono a chegar. 

—Então continue. 

Juan acenou com a cabeça e assim continuou a canção até que ambos enfim dormiram aconchegados um no outro. 

Quando amanheceu, a intensa claridade batendo no rosto fez Juan despertar. Não demorou pra que ele percebesse que não estava mais na companhia de Maya. Ao sair da pequena e improvisada cabana, admirou o belo e tranquilo dia, bastante diferente da noite passada. O sol brilhava mais forte do que nunca, pássaros cantavam, a floresta estava verde e algumas árvores estavam repletas de frutos, mas nem tudo estava tão belo assim. Havia também um certo rastro de destruição nas margens do rio, pedaços de madeira e galhos quebrados e umedecidos, lama e alguns peixes mortos estavam espalhados no chão, porém, o rio agora estava calmo e corria suavemente. 

O jovem bruxo olhou para todas as direções e não encontrou nenhum sinal da amiga indígena. Gritou por seu nome que ecoou pela floresta, mas não houve resposta. Imaginou que talvez a amiga tivesse retomado sua busca por Hugo e Joana, mas porque não o acordou para que fosse com ela? Será que talvez por saber se transformar em um felino veloz e ter mais experiência nas matas a jovem bruxa tivesse considerado melhor ir sozinha? 

A preocupação voltou a tomar conta do coração de Juan, e se sua irmã estivesse morta ou sofrendo nesse momento? Tentou manter o controle e o pensamento positivo. Sem dúvida Maya vai conseguir encontra-los e com fé ambos estarão bem. 

Juan sentia muita fome e viu várias árvores com frutos que pareciam bastante apetitosos. Encontrou uma árvore com belas frutas vermelhas e roxas. Juan conhecia bem aquelas frutas, eram jambos. 

— Accio! - ordenou apontando a varinha para a árvore que inclinou fazendo com que vários frutos se soltassem dos galhos voando em sua direção. 

Assim que agarrou o primeiro jambo levou-o rapidamente a boca e comeu vorazmente, como um animal faminto que acabara de conseguir seu primeiro alimento há dias. Quando se abaixou para pegar mais frutos caídos avistou uma pegada, marcada na terra. Reconheceu imediatamente, era uma pegada de um grande felino.

— Maya deve ter ido nessa direção - sussurrou seguindo a pegada pra dentro da mata. 

Caminhou por alguns minutos mata a dentro. Teve muita dificuldade em passar pelo matagal intenso e lugares que haviam muitos galhos caídos, não estava acostumado a explorar áreas selvagens já que foi criado nas proximidades das regiões urbanas de Buenos Aires. 

Quando percebeu que havia perdido o rastro da amiga, o jovem bruxo decidiu tentar escalar uma árvore. A árvore que teve mais facilidade de subir foi um pé de cajueiro. Seu tronco era mais fino e bifurcado o que permitiu Juan escalar e se equilibrar, contudo, a árvore não era muito alta o que limitou sua visibilidade. 

Entretanto, embora só conseguisse ver árvores e vegetação densa, o jovem bruxo argentino conseguiu escutar um som similar ao emitido por grandes felinos, seguido por sons de disparos. Desceu da árvore o mais rápido que pode, quase caindo, e correu na direção de onde ouvira os disparos. 

O terreno inclinou-se para cima e ao alcançar o topo da colina Juan teve uma visão clara do que parecia ser um acampamento. Haviam barracas de lona armadas sobre uma pequena área aberta forrada por uma vegetação rasteira. Caixas, restos de fogueiras apagadas, troncos deitados e arrumados como bancos e uma dúzia de homens vestidos com roupas esfarrapadas e usando chapéus de palha. 

— Caçadores trouxas. - sussurrou para si mesmo. 

Havia também uma grande jaula próxima a uma barraca e dentro dela uma onça jovem e feroz. Juan se espantou ao ver o animal preso e reconheceu que se tratava de sua amiga. Passou as próximas horas do dia vendo o animal irritado arranhando as barras com suas garras sem causar dano ao material onde estava preso. Haviam muitos homens pelo acampamento, então o jovem bruxo decidiu que seria melhor esperar escurecer para tentar libertar a amiga. E assim ele encontrou um lugar bem escondido entre os arbustos e esperou. 

 

 

 

 

 


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