Maya e os Mistérios de Castelobruxo escrita por Wesley Rego


Capítulo 1
Capítulo 1 - O Guardião das Ruínas


Notas iniciais do capítulo

A lenda sobre a existência de uma escola de magia e bruxaria se espalhou pelo continente. Um grupo de exploradores tentam encontrar o templo em busca de tesouros lendários.



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O sol ainda estava nascendo quando um pequeno grupo de pessoas cruzava a floresta amazônica. Esse grupo era formado por caçadores e pesquisadores de lendas locais. Estavam na expedição pela floresta fazia mais de quinze dias em busca das Ruínas de um templo antigo do qual muito ouviram falar na região. 

— Acredito que estamos chegando perto - disse Alberto estudando o mapa enquanto seguia pela trilha - De acordo com esse mapa, logo após subirmos essa colina, iremos avistar o rio. De lá serão apenas mais algumas horas de caminhada até às Ruínas do templo dourado. 

— Eu não ficaria tão animado se fosse o senhor. - comentou José enquanto cortava o mato a sua frente com o facão - as Caiporas devem estar nos vigiando. Duvido muito que nos deixe chegar perto desse seu templo. 

Alberto olhou para Sara, sua assistente de campo que segurou o riso com um olhar perplexo. Olhou em volta e após analisar bem a floresta ao seu redor voltou a atenção para o mapa. 

— Caiporas? Do Folclore? - perguntou Sara cobrindo a boca com as mãos - vocês nativos acreditam que elas existam? 

— Ah! Sim senhora! - responde José olhando para o topo das árvores enquanto continuava abrindo caminho pela mata - Elas não gostam quando estranhos invadem as matas delas. E dizem que próximo a esse rio, que o Doutor falou aí, é onde existem muitas delas. 

— Você já viu uma? - perguntou Sara risonha. 

— Não senhora. Elas não costumam mostrar as caras para nós. Apenas pregam peças. Imitam o som de outros bichos para nos assustar, quebram galhos, roubam nossa água para nós sentir sede, destroem nossas barracas. 

— Eu ouvi falar que essa região tem muitas onças, mas não ouvi nada sobre Caiporas. - comentou Sara. 

— Sara, não dê ouvidos a essas lendas nativas - falou Alberto um pouco irritado - O povo indígena dessas regiões inventaram essas lendas para assustar e espantar caçadores e invasores de suas terras. Mula sem cabeça, Caiporas e curupiras não passam de invenções. 

— Não são invenções! Esses seres são reais. Eles protegem a floresta e não gostam de pessoas. Para eles somos invasores. - protestou José. 

— Chega disso! Você está sendo pago para nos guiar até o templo. Não estamos interessados em lendas folclóricas. 

O grupo chegou no topo da colina no começo da tarde. De lá podiam ver a vasta floresta que se estendia até aonde os olhos podiam ver. Vários relevos no horizonte e alguns rios que cruzavam a selva como serpentes. Não demorou muito para Alberto identificar o rio que segue em direção ao templo. 

— É aquele! - afirmou Alberto apontando para o rio - Agora vamos descer a colina. 

A descida foi mais complicada e perigosa do que os exploradores poderiam imaginar. Eles eram cinco. Alberto, o explorador, sua assistente, Sara, o guia e caçador, José e mais dois caçadores ajudantes de José, que carregavam a maioria das malas e também algumas armas de fogo. Durante a descida, Sara escorregou e se bateu com uma árvore, machucando a perna. O acidente não foi grave, mas a deixou lenta, o que obrigou o grupo a andar mais devagar. Em certo momento um dos ajudantes de José deixou uma mala abrir e o grupo teve que ficar alguns minutos catando roupas e aparelhos que se espalharam pela colina. A essa altura da floresta, os sinais dos celulares não funcionavam e a bússolas giravam sem parar. Apenas o mapa que Alberto carregava e os conhecimentos do velho José podiam guiar o grupo pela mata. Ao chegarem ao rio decidiram levantar acampamento, já que a noite se aproximava. Armaram suas barracas e acenderam uma fogueira. Passado algumas horas desde que se acomodaram. A fogueira apagou como a chama de uma vela assoprada por alguém. 

— Eita diacho! - gritou José. 

Os outros membros do grupo se olharam assustados. Já estava no início da noite e com a fogueira apagando tão subitamente tudo ficou um breu. Por sorte, Alberto carregava um isqueiro e usou para tentar acender a fogueira novamente. Alguns minutos depois as chamas estavam brilhando outra vez, e a luz que emitia iluminava o grupo e as barracas. 

— Cadê meu cantil? - perguntou Sara olhando para José. Acreditando que fosse ele quem tivesse pego. - Vamos! Quem pegou meu cantil?

— O meu também sumiu. - comentou um dos caçadores - E também minha marmita que estava aqui. 

José foi o primeiro a se apavorar. Levantou-se trêmulo e olhou ao redor em busca de pistas. 

— São e...e...elas. E...elas estão aqui! - disse aos tremores. 

— Vamos voltar para colina! - berrou um dos caçadores assustado. O outro concordou. 

Alberto continuava em silêncio. E olhava atento em todas as direções em busca de algo. Não havia sinais de medo em seus olhos. Sara estava assustada e ao mesmo tempo irritada, pois acreditava que tudo não passava de uma brincadeira. Poucos minutos depois, estalos nos galhos das árvores foram ouvidos e sons de animais ferozes ecoaram do outro lado do rio. 

Os caçadores sacaram suas armas e olharam para direção de onde vinham os sons. Alberto sacou um objeto misterioso de seu bolso, embrulhado em um pedaço de papel. 

— Quietos! - sussurrou para os caçadores enquanto ia até uma pedra próximo a beirada do rio - guardem as armas! 

Colocou o objeto misterioso sobre a pedra e tirou o embrulho. Mesmo de longe os caçadores e a assistente reconheceram o objeto. Era um cachimbo de madeira. Após colocar o cachimbo sobre a pedra, Alberto de afastou e voltou para o grupo. Os sons de animais raivosos cessou e os galhos pararam de estalar poucos minutos depois. 

— O que você fez? - perguntou Sara. 

— Ele deu um fumo para as Caiporas! - respondeu um dos caçadores surpresos. 

Ninguém ficou mais surpreso do que Sara, que havia sido aconselhada pelo próprio Alberto a não acreditar nas lendas locais. 

— Você só pode estar brincando. - olhou para a pedra e notou que o cachimbo havia desaparecido - que tipo de truque foi esse? Alberto? 

— Os barulhos pararam. Apenas vão dormir! - Ordenou Alberto sério e voltando a se concentrar no mapa. 

Todos ficaram surpresos e curiosos para saber o que havia acabado de acontecer. As Caiporas eram reais? Porque o barulho parou após Alberto colocar o cachimbo na pedra? Para onde fora o cachimbo? Alberto acredita nas lendas locais? Ele sabe de algo que os outros não sabem? Embora todos do grupo estivessem com as mesmas dúvidas, ninguem teve coragem de perguntar coisa alguma e decidiram ir para suas barracas em silêncio. 

O grupo levantou cedo na manhã seguinte e seguiram o rio pelo caminho que Alberto conduzia ao lado de José, que voltara a abrir caminho pela mata utilizando seu facão. Passaram a manhã inteira caminhando pela mata e quase não se falaram. O silêncio foi rompido após José notar pegadas humanas seguindo para o interior da mata. 

— Vejam! Alguém esteve aqui. - apontou para as pegadas. Mas Alberto as ignorou e continuou seguindo. - Veja senhor! Alguém foi pra lá. Uma pessoa. Talvez o templo esteja naquela direção. 

— Aquela direção te levará para uma armadilha. Apenas esqueça essa pegadas e vamos continuar seguindo o rio. - disse Alberto evitando olhar para as pegadas. 

 Mais uma vez o grupo ficou surpreso e curioso. Todos queriam seguir as pegadas e se perguntavam o porque que Alberto falou que seria uma armadilha. Afinal o que ele sabe? Como líder da expedição todos os respeitam. Afinal estão sendo pagos para estarem ali. Portanto, preferiam não perguntar. 

— Acho que sei o que eram aquelas pegadas. - sussurrou um caçador para o outro - era o curupira. 

— Do que você tá falando homem? - questionou o outro caçador. 

— Você não percebe? Ele tem os pés virado pra trás. Então não era um homem que saiu do rio e foi pra mata, foi o curupira que veio em direção ao rio. Ele deve está nos vigiando. 

— Que bobagem Homem! Deixa de loucura e presta atenção na trilha. Tem muito bicho perigoso perto desse rio capaz de nos engolir inteiro. Jacarés, sucuris. Eu não quero ser engolido por um animal desses. 

Após várias horas seguindo pelas margens do rio, o grupo entrou em uma região de mata seguindo para o leste. Mais algumas horas de caminhada e Alberto foi o primeiro a ver rochas antigas e fragmentos do que parecia um muro. O grupo ficou ansioso e apressou os passos até finalmente encontrarem um lugar em ruínas que parecia um templo bastante antigo e abandonado.

— É aqui. Esse é o templo dourado. - disse Alberto com brilho nos olhos. 

— Esse lugar está desolado. - comentou José não vendo nada de especial no lugar. Apenas um monte de pedras em uma ruína muito antiga e desagradável. 

Sara também não ficou muito surpresa. Tudo que via era o que restou de uma construção antiga que agora estava tomada pela mata. Alberto fez sinal para que um dos caçadores lhe entregasse uma mochila velha. Tirou um objeto da mochila que parecia uma agenda e também um outro objeto muito fino e embrulhado. Ao desembrulhar o objeto todos viram que parecia um pedaço de madeira antigo como uma varinha. Após folhear as páginas da agenda, Alberto leu alguma palavra estranha enquanto estendia a varinha para o alto. Mas nada aconteceu. Ele leu em voz alta várias outras palavras e tudo continuava exatamente igual. 

— Vamos sair daqui - sussurrou um dos caçadores. Os outros o olharam assustados tentando entender o que estava acontecendo - Isso é bruxaria. Ele está fazendo bruxaria. 

Mas as ruínas permaneciam do jeito que estavam e nada além das palavras desesperadas do Alberto podiam ser ouvidas. Impaciente Sara tomou a frente. 

— O que o senhor está tentando fazer? O senhor me trouxe aqui em busca de riquezas e descobertas, mas tudo que tem aqui são ruínas de um templo comum que mais parece uma construção abandonada. Que tipo de loucura está fazendo com essa coisa em suas mãos? E que palavras estranhas são essas que está lendo? 

— Você não entende o que estou tentando fazer! - gritou Alberto furioso - Existe algo aqui que seus olhos comuns não conseguem ver. E apenas uma dessas palavras que tenho aqui é capaz de revelar. 

O som de galhos se partindo voltaram a ser ouvidos pelo grupo e uma sensação de que estavam sendo observados. Os caçadores sentiram calafrios e Sara se sentiu apavorada. Alberto também foi atingido pela presença estranha no ar mas não se abalou. Os caçadores olharam para a mesma direção, assustados, eles gritaram e correram em direção ao rio. Sara olhou para a mesma direção mas ficou paralisada. Pela primeira vez, Alberto arregalou os olhos, pois agora estava vendo algo real. Em cima do muro das Ruínas, fitando os viajantes com um olhar feroz, estava uma gigantesca onça pintada, expondo seus caninos afiados e espumando como se tivesse faminta. 

Alberto sacou sua pistola e atirou contra o animal, mas o tiro atingiu uma parte do muro de pedra. A onça havia saltado para o mato e desaparecido de vista, mas Alberto sabia que ela ainda estava por ali, prestes a ataca-lo de surpresa. Alberto sentiu um puxão pelo braço e por pouco não atirou em Sara. 

— Me solta! O que você tá fazendo? - gritava Alberto enquanto era puxado por Sara em direção ao rio. - não vamos embora agora! 

A onça saltou da mata e correu atrás dos dois. Sara e Alberto sabiam que não conseguiriam correr mais que o animal. Alberto começou a disparar vários tiros em direção a onça que se escondia na mata sempre que percebia os disparos. Porém sua determinação  em perseguir os invasores era incontestável. 

A onça estava prestes a alcançar os casal quando eles caíram de uma ribanceira e rolaram morro abaixo até cair no rio. A correnteza os arrastou para longe e a onça desistiu da perseguição se dando por vencida. 

Alguns minutos depois os humanos conseguiriam alcançar a outra margem do rio, em um ponto quilômetros depois da localização onde estavam. 

— Que diabos! Anos de busca e estudo para encontrar aquele lugar. - reclamou Alberto furioso. 

— O que era aquilo? Aquela onça deveria ter se assustado com os disparos da arma. Mas parecia determinada em nos pegar. Nunca vi uma onça se comportar assim. - comentou Sara molhada, cansada e apavorada. 

— Aquilo não era uma onça comum. Era o guardião das Ruínas. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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