Entre desafios e conquistas escrita por Pinkie Bye


Capítulo 4
Noite de filmes


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! ♥ Olha nós aí de novo kkkkkkk
Desejo a todos um ótimo domingo e uma boa leitura ♥



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ENID CORREU ATÉ A PORTA e o abraçou com força, assim que ouviu a campainha ser tocada.

— Fico tão feliz que esteja se recuperando bem. — Ela admitiu, o abraçando com mais força.

— Sim, mas desse jeito eu não consigo respirar. — disse ofegante. Ela se afastou, envergonhada. — Então, pronto para uma maratona de filmes de terror?

— Nasci pronto. — garantiu, erguendo a sacola com milho de pipoca e caramelo nas mãos.

— Venha — Ela pegou sua sacola e o guiou até o seu quarto. — Vou colocar o milho na pipoqueira, já venho com o refrigerante. Se sinta em casa.

Darren concordou e sentou-se na cama box, que se localizava no centro do quarto. Coberta com uma colcha fofa e macia, parecia uma nuvem. Pelúcias de todas as formas e tamanhos estavam espalhadas pela cama, cada uma com sua própria história e memória. Havia ursos de pelúcia, coelhos, gatos, e até mesmo um unicórnio, todos parecendo tão macios e convidativos para serem abraçados.

As paredes eram pintadas em um tom suave de rosa, como algodão doce.

No canto do quarto, havia um pôster emoldurado da Taylor Swift, a luz do sol da tarde transluzia a cortina branca e iluminava o sorriso radiante da cantora. CDs de suas eras estavam organizados meticulosamente em uma prateleira próxima, em ordem de lançamento, cada capa brilhando e bem cuidada.

Um puff macio e confortável estava posicionado estrategicamente perto da estante. Ao lado, um cantinho de estudos bem organizado se destacava. Um notebook moderno repousava sobre a mesa, ao lado de uma televisão de tela plana. Livros de romance e ficção, os mais comentados no TikTok, estavam organizados por cor em sua estante.

— Voltei. — Ela anunciou, carregando de maneira desajeitada os dois potes de pipoca e o refrigerante; colocou, com a ajuda de Darren, na bandeja e sentaram-se lado a lado. — Quer? — O ofereceu um copo. Darren negou. — Então, vamos assistir algo com invasão alienígena?

Darren a olhou sério.

— É brincadeira!

— Eu sei. Vamos começar com Rua do Medo? Em homenagem ao 4º filme que anunciaram? — Darren sugeriu.

— É uma boa. Podemos começar pelo 2?

— Pelo 2? — Riu. — Por quê?

— Porque eu sou apaixonada pela Sadie Sink!

— Nossa!

— É verdade, já maratonei Stranger Things várias vezes só por causa dela. Ela é maravilhosa, a Emily Rudd também.

— Tudo que você quiser, madame. — disse, colocando “Rua do Medo: 1978” para rodar.

Enid pegou sua coberta e cobriu suas pernas e as do amigo. Enquanto Ziggy — a personagem de Sadie Sink — corria pelos arredores do acampamento, sendo perseguida pelos valentões, na TV, Enid descansou sua cabeça no ombro de Darren.

— Então... não sabia que você gostava de ruivas... — Ele comentou, comendo pipoca.

— Sério?

— Não me lembro da Sabrina Schmidt ser ruiva, ela era loira, se não me engano.

— Gosto de pessoas num geral. A que mais me chamar atenção, me ganha — Deu de ombros. — Não sei se você sabe, mas eu sou pansexual. Por favor, não me julgue.

Darren a olhou sério e piscou os olhos, irônico.

— Nunca te julgaria, esqueceu que eu sou alguém trans?

— Transboy, não é?

— Na verdade, atualmente, me considero como não-binário, um demiboy, que gosta de usar pronomes masculinos.

Enid, que prendia o ar, o soltou de uma vez.

— Ufa! Por um momento achei que estava errando seus pronomes esse tempo todo.

— De boa, mesmo se estivesse, não tinha como você saber. Sabe, desde que assumi que não era mais uma garota, você e minha irmã foram quem mais me apoiaram e derem suporte. Por isso, confio em você com a minha vida. Mas...

— Mas...?

— Você sabe... por qual motivo o Vance me bateria? Ele sabe que eu sou trans?

— Nunca contaria a ninguém. — O encarou nos olhos. — Eu jamais contaria isso pra ninguém, eu juro. Eu te amo, nunca faria nada que te machucasse.

— Eu sei, mas é que, desde que nos mudamos de Jump City para Gotham, apenas você e minha família sabem de minha transição. Por isso, fiquei com medo dele estar sendo babaca comigo por causa disso.

— Tipo, tem a ver com jornada descobrimento, mas não a sua e sim dele.

— Como assim?

— É... promete não contar pra ninguém?

— Morre aqui. — Pausou o filme.

— Ok. Não sei se você tá por dentro. Tá correndo um rumor na escola de que... Vance é gay ou bi. Ele beijou um garoto, não sabemos quem, no laboratório. Suspeito que seja o Morgan, mas não é nada confirmado. E tudo indica que ele gostou, afinal isso aconteceu mais de uma vez e chegaram até a fotografar. A Brenda me enviou mês passado.

Enid pegou seu celular com a capa customizada com fotos da era Speak Now da Taylor Swift. Mostrou-lhe, era Vance, ele estava com o uniforme e com os braços no pescoço de alguém. Era um homem, alto, magro e de longos cabelos pretos. Pelos trejeitos e os trajes, era muito semelhante a Morgan Voight.

— E não é a primeira vez que a intimidade do Vance vaza dessa maneira. Lembra quando ele enviou nudes para a Angelica Ramirez e ela espalhou pra todo mundo?

— Nem me lembre desse trauma.

— Era feia e torta — Ela concluiu, e riu.

— Para! — gritou, rindo, batendo de leve em seu ombro.

— E pelo que deduzo — Enid continuou, depois que as risadas cessaram. —, ele não gostou nada, nada de ser retirado do armário dessa maneira. Isso explicaria porque ele esmurrou a cara de um cara veterano quando mencionou esse fato, no recreio.

— Eu realmente sou alienado, não fiquei sabendo de nada disso dele beijando um cara. Eu realmente estudo na mesma escola que vocês?

Ambos riram.

— E o povo anda dizendo que ele só demonstrou interesse em mim para esconder e mentir para si mesmo. Enfim, ele só não se assume por causa do pai. É bem triste, para ser sincera.

— Nem me fale. Quanto mais mentimos sobre quem somos, mas nos machucamos.

— Eu, Enid, acredito que ele só bateu em você para se provar machão pros amigos escrotos. Sabe, “ei cara, tua mina tá conversando com outro homem, faça alguma coisa” e foi aí que deixaram os músculos dos braços falarem mais alto que o cérebro.

— Esses são o pior tipo.

— Mas isso não justifica, é óbvio! O que ele fez com você foi covardia, se eu soubesse que te traria tantos problemas...

— Tudo bem, você não tem culpa, não tenho raiva.

— Uma pena você não ter conseguido ir na festa, mas podemos deixar pra próxima.

— Foi divertido?

— E como! Edgar até passou vergonha, ficou de cueca na frente de todo mundo e dançou “Gangnam Style” com uma estátua de gelo. Ele realmente é fraco pra álcool.

— Imagino, que vergonha. Você ficou sabendo que vai ter um baile de inverno no próximo mês.

— Sim.

— Poderíamos ir juntos, para compensar a minha ausência na sua festa, se você quiser, é claro...

— Eu quero!

— Ótimo — Sorriu.

— Vai ser uma noite incrível!

— Tenho certeza disso.

Assistiram “Rua do Medo: 1978” e depois deram play em “Pearl”, apesar de ser um prequel, aquele filme era tão bom quanto o seu antecessor, “X”, e a interpretação de Mia Goth era digna de meia-hora de palmas. Haviam muitas reflexões nas entrelinhas, como a busca de um sonho e a aceitação de ser um fracasso, de ser vítima de um sistema e nunca conseguir chegar ao estrelato, como apenas 1% das pessoas conseguem. Eram muitos fatores que impediam Pearl de ganhar uma estrela na calçada da fama de Hollywood, como a falta de oportunidades em 1918 e o cenário de guerra, mas obviamente, as atitudes dela não eram justificáveis.

— Gostou do filme? — Enid perguntou quando o filme acabou.

— Gostei sim. Ele tem várias camadas.

Acredita que assistimos esse filme no clube de teatro e o Vance e os amigos dele odiaram?

— Por quê?

— Disseram que não viram nada demais, apenas uma garota “fingindo ser psicopata”. Até a Stacy não gostou.

— Ela tem alguma personalidade além de ser uma Smurfette daquele grupo?

— Como você é mal! — Enid riu. — O Vance realmente não tem bom gosto. Ele espalhou pra escola que o filme da Barbie era “feminista demais” e “anti-homem”, pois desmerecia o valor do homem na sociedade.

— Que masculidade frágil. — Darren balançou a cabeça.

— Realmente.

— Voltando ao filme, acho que o fracasso deve mesmo ser capaz de enlouquecer alguém. Deve ser horrível ver outras pessoas conquistando objetivos iguais aos seus, enquanto você está preso por causa de limitações externas. Digo, não do nível da Pearl, de sair matando todo mundo, na verdade, mais ou menos, tem pessoas que são capazes de matar por seus objetivos e por causa da inveja.

— Adoro como você sempre consegue ver além. Você tem algum sonho que almeja muito realizar?

— Sempre quis montar uma banda indie. Mostrar ao mundo meu talento com a bateria.

— Uau! O meu é ser uma cantora tão boa quanto...

Ouviram uma buzina. Foram até a janela. Era Garfield que havia acabado de estacionar sua scooter branca. Retirou o capacete e o deixou embaixo do braço, acenou para eles da calçada. Darren olhou para Enid.

— Tenho que ir. Te vejo amanhã na escola? — Darren foi até a sala e pegou seu capacete azul da estante.

— Claro. Boa sorte na prova de amanhã.

— Igualmente! — Ele pegou sua jaqueta e fechou a porta atrás de si.

Garfield cumprimentou Darren com um sorriso largo.

— Se divertiu?

Darren, que deu uma última olhada em Enid, que estava debruçada na janela e acenando, respondeu:

— Você nem imagina!


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Notas finais do capítulo

Esses dois são muito amorzinhos, né? ♥

Olá, amores! ♥
Escrevi esse capítulo com o maior cuidado. Como puderam ver, Darren é uma pessoa trans, do aspectro nao-binário. Por mais que eu também seja uma pessoa não-binária (e também pansexual), tomei o maior cuidado para fugir de possíveis estereótipos e abordar o assunto da maneira mais responsável possível.
Aviso desde já que comentários transfóbicos não serão permitidos.
E é isso, até mais! ♥



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