Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


CapĂ­tulo 37
Reencontros




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/810920/chapter/37

 Seus pulsos e calcanhares doíam; os pés e mãos começaram a comichar novamente. Os soldados a pegaram por ambos os braços e a levaram até o salão de Correrrio.

O salão era moderadamente pequeno, mas maior que o dos portões da lua, embora muito menor do que a sala do trono de Porto Real e o grande salão de Highgarden.

Margaery foi largada de forma rude pelos seus algozes, chegando a cair de joelhos quando estes a largaram. Sor Albar, que durante todo o trajeto havia se debatido debilmente contra os soldados que o levaram para dentro, foi empurrado pelos cavaleiros e caiu no chão, e demorou um pouco para se aprumar, pois os grilhões o retardavam.

Aquele homem era um inĂştil. Se tivesse tido pulso o bastante, eles ainda estariam no Vale, em algum castelo nobre bem protegido e guarnecido.

Sansa entrou logo depois, com Myranda, Mya, Jeyne e Sor Ronnel logo atrás dela. Havia outros também — um rapaz de cabelos escuros, nariz adunco e de pernas compridas, uma moça com cabelos loiros trançados com pérolas e trajando um manto de baleia, uma moça de cabelos escuros que também estavam trançados com pérolas e usando um belo vestido pesado de veludo azul marinho com renda de prata.

Havia visto um rapagão com Ysilla Royce, de cabelos ruivos e usando um gibão de prata com torres vermelhas, e Margaery imaginou ser marido dela. Um rapaz feio foi para o lado de Sansa, e ficou perto de Sor Ronnel Waynwood — como ambos usavam roupas verdes com o símbolo de uma roda de carroça quebrada, Margaery deduziu que aquele poderia ser o sobrinho de Sor Ronnel, e herdeiro de Ferrobles.

Sem dúvidas, o rosto que mais prendeu a atenção de Margaery, foi o de uma mulher jovem, com não mais de 20 anos, mais alta que muitos cavaleiros, e com cabelos e olhos vermelhos como brasa, em um tom antinatural, combinando com o vestido e o rubi vermelho que usava.

Melisandre…

Sansa sentou-se no cadeirão coberto de um belo dossel azul. Margaery reparou no rosto da moça: ainda se parecia com a jovem que conhecera em Porto Real, mas muito mais madura, com os seios tendo crescido, assim como as pernas, tornando-a até maior em altura do que Margaery. Seus cabelos de cobre estavam bem mais espessos e brilhantes, tal qual a sua pele. E, como não havia passado por qualquer parto, seu corpo curvilíneo não havia engordado.

Mas, sem dúvidas, o que mais havia mudado eram as expressões em seu rosto: havia um cansaço em seus olhos, e sua face exibia um semblante duro e cansado.

Margaery se perguntou: onde estavam os irmãos dela? Talvez Jon e a rainha estivessem na batalha, mas eles teriam levado Arya com eles? De qualquer forma, Bran e Rickon ainda deveriam estar por ali…

Um silĂŞncio se instalou por um tempo. Todos os semblantes no salĂŁo no salĂŁo olhavam para Margaery; alguns duros, e outros, com raiva. Apenas o crepitar de uma fogueira no meio do salĂŁo era ouvido, com a lenha sendo consumida pelas chamas.

Finalmente, Sansa quebrou o silĂŞncio:

— Tenho ouvido muitas coisas interessantes sobre você, Milady Margaery. — Olhou para Sor Albar, de forma incisiva. — Assim como você, Sor Albar. É triste que um cavaleiro tão nobre desceu tão baixo…

Sor Albar estava com o rosto vermelho. Um lado de seu rosto estava com sangue seco, causado pelo golpe que levara na cabeça.

Vendo o rosto colérico do homem, Margaery percebeu que ele estava prestes a falar o que não deveria — o que não seria um problema, mas Margaery poderia acabar sendo envolvida naquelas palavras.

— Você não pode me julgar, princesa — declarou Sor Albar. — Você é quem se entrega a uma ditadora sanguinária de Essos, e espera que eu e tantos outros aceitemos? — Escarrou e cuspiu uma gosma nojenta e verde no chão do salão. — Isto é para você e o reinado de seu irmão e a sua puta!

Margaery viu Sansa fechar uma das mãos em um punho e se controlar para não transparecer o ódio que sentia com aquilo, respirando fundo e apertando os lábios.

— Você deveria tomar cuidado com suas palavras, milorde — Sansa avisou. — Você bateu em sua própria irmã e conspirou contra a nobreza!

Sor Albar franziu o cenho.

— Ousa me chamar de conspirado? — o imbecil indagou.

Margaery franziu o cenho vendo o vômito de balbuciações incoerentes e pueris que Sor Albar despeja, acreditando serem “argumentos”, indagando-se como ele podia ser tão imbecil? Era óbvio que aquilo apenas o levaria, na melhor das hipóteses, para uma cela escura, e, na pior, direto para o bloco do carrasco.

Sansa respondeu, deixando a raiva transparecer em sua voz:

— Você desobedeceu, tentou armar um motim e ainda agrediu a regente do Vale, sua própria irmã! — Continuou: — Tudo com o intuito de desobedecer às ordens da coroa; tudo isso, é um ato de alta traição! É digno até de decapitação!

Sor Albar bufou:

— Meu pai morreu, e você esperava que eu me abaixasse e beijasse a buceta grisalha da assassina dele? — exclamou.

Um suspiro exacerbado tomou conta no salĂŁo, todos estavam surpresos com as duras palavras de Sor Albar.

Mas haveria aqueles que concordariam com ele?, perguntou-se Margaery. Olhou para o rapaz feio ao lado de Sor Ronnel, e percebeu que ele apenas esquadrinhava o rosto de Albar, sem parecer estar chocado.

— Não permitirei tal afronta! — declarou Sansa, após observar os rosto daqueles no salão. — Você não falará da rainha desta forma, nem do governo de meu irmão, nem manchará o castelo de meu tio!

— Você acusa-me de traição, quando é você quem agiu como uma víbora e tramou por baixo do nariz de seu irmão! — Acenou com a cabeça para o lado, em direção a Margaery. — Agora quer entregar a pobre donzela à assassina de seus irmãos e pai?

Um murmúrio se seguiu e Sansa pareceu ficar exasperada com a situação. Margaery preferiu ficar quieta, evitando trazer problemas para si. Por sorte, seu estado enfraquecido e machucado já deveria ajudar a criar alguma empatia para si.

Havia outro também: um homem de nariz adunco e cabelos escuros, parecido com o rapagão que estava ao lado de Sansa. Ele acenou ante algumas palavras de Sor Albar.

Deixe que Sor Albar cause, no fim, ele poderá morrer por isso, mas eu obterei algum sucesso.

No fim das contas, talvez Albar Royce nĂŁo fosse assim tĂŁo inĂştil.

— O Vale lutou por você, princesa — continuava Sor Albar —, de-mo-lhe uma coroa, fomos para o Norte por você, e agora…

— Por Harrold — Corrigiu Sansa. — Não sou cega aos meus apoiadores, e, acredite Sor, não sou cega a dor que todos sentem pela guerra, mas a ameaça que enfrentamos é maior do que todos os nossos ressentimentos. — Apontou com as mãos pelo salão, apontado para alguns dos lordes e ladies presentes, e disse, com a voz altiva: — Sor Albar pode não tê-lo visto, mas quase todos neste salão presenciaram a ameaça de Euron Greyjoy; viram a morte que trouxe para este mesmo salão, e sei que não podem discordar de que este mal deve ser detido o quanto antes.

Margaery pode notar que Sansa parecia um pouco nervosa ao falar aquilo. Claro, Sor Albar atiçou o ódio de muitos, mas percebeu que a princesa Nortenha havia dito que nem todos haviam visto o caos de Euron. Provavelmente, ela imaginou que aqueles que não estavam no suposto caos seriam mais difíceis de convencer.

Franziu o cenho. Que tipo de mal Euron havia feito? Ele era apenas mais um homem de ferro insano; nem fazia sentido estar tĂŁo longe do mar.

 — A princesa tem razão — disse o rapagão ao lado de Ysilla, dando um passo à frente —, um massacre ocorreu neste salão há alguns dias, e todos nós vimos como trouxe morte para os nossos. — Apontou para o homem que Margaery havia visto concordar com as palavras de Sor Albar. — Você mesmo, Sor Brynden, não lembra-se de ter matado Lorde Marq Piper?

O homem que respondia por sor Brynden abaixou um pouco a cabeça e fez uma careta, como se a memória o deixasse com mal-estar.

— Foi um acidente…

O Redfort assentiu.

— Exato, mas o culpado é a magia negra de Euron. — Olhou para todos ao redor. — Bran Stark, aquele que parece que tudo vê, nos avisou e nós não acreditamos, mas, agora, nós devemos acreditar, devemos acreditar que os Starks são o melhor para nós agora. Devemos acreditar que Jon está certo em aliar-se a Daenerys, e que as visões do príncipe Bran estão certas. — Olhou e acenou com a cabeça em direção a princesa no cadeirão. — Assim sendo, como Jon decidiu que sua irmã é quem comanda até que ele volte, que Sansa dê o castigo que deva ser dado a Lorde Royce e Lady Margaery.

Um pequeno sussurrar e meneios de cabeça, em concordância com as palavras do Redfort, e, logo, o silêncio voltou.

Sansa assentiu em agradecimento ao homem que falou em sua defesa e voltou a fitar Sor Albar.

— Eu esperava que demonstrasse algum arrependimento, Sor Albar. — Sua voz era dura e fria, apesar de ainda conter alguma suavidade. — Mas vejo que errei… Claro, a culpa é minha por esperar tanto de alguém que agride a própria irmã. — Balançou a cabeça, decepcionada. — Você não merece uma cela de conforto condizente com seu nascimento e título.

 A princesa gesticulou com a mão para os guardas, que foram rápidos em entender e obedecer, pegando Sor Albar pelos braços e o obrigando a se erguer.

— Levem-no para uma cela ao lado de meu marido — ordenou Sansa. — Ambos fiquem esquecidos na escuridão até que os reis tomem sua decisão.

Sor Albar se remexeu, puxando os braços, tentando se soltar dos soldados, mas um deles deu-lhe um murro com uma mão coberta por elos de metal, e acabou por derrubar Albar, que cuspiu sangue. Ele teria caído no chão, não fossem os guardas que o agarravam.

Os soldados o levaram para fora e, tĂŁo logo ele foi, todos os olhos voltaram-se para Margaery.

Ainda tenho sangue nobre, lembrou-se. Seu nascimento era de maior estirpe que o de Sor Albar.

Sua garganta estava seca. Ela tentou engolir saliva, mas nem isso era capaz de umedecĂŞ-la.

Melisandre sussurrou algo no ouvido de Sansa, que ouvia com atenção as palavras da sacerdotisa.

Ao ver aquilo, Margaery se perguntou se a Stark também teria virado adepta da fé vermelha. Enquanto estava na carruagem, Margaery viu algumas pessoas cultuando as fogueiras, onde pessoas trajando vestes vermelhas estavam cantando músicas antigas e proferindo palavras em outras línguas. 

  Quando a Mulher Vermelha afastou-se de Sansa, ambas fixaram o olhar em Margaery.

A princesa sorriu e disse com toda a suavidade que sua voz poderia ter:

— E você, Milady? — indagou Sansa. Franziu o cenho, fazendo uma expressão de confusão. — Me sinto curiosa, Margaery, eu não fui uma boa amiga para você?

Margaery tremeu um pouco, com medo daquela pergunta. Sabia bem o que Sansa queria dizer.

Margaery assentiu, passou a língua, também um tanto seca, pelos lábios ressecados, e falou:

— S-sim, princesa… Eu apenas…

— E Myranda foi uma boa anfitriã? — indagou.

— S-sim, princesa, mas…

— Então por qual motivo você tentou prender a Regente do Vale e minhas outras amigas, Milady? Não confia em mim e nos meus companheiros? Nem mesmo após eu avisar-lhe dos perigos de Joffrey e, mesmo após você me abandonar e esquecer toda a nossa suposta amizade quando me obrigaram a casar com o anão Lannister, e que você e a sua avó me usaram para matar Joffrey, me fazendo ser culpada de regicídio e sem defesa, eu ainda me arrisquei a salvar você da corte de Porto Real? Nem mesmo após este gesto, que me fez ir contra o meu irmão, você não tem confiança em mim?

Silêncio. Ninguém falou nada, nem Margaery, nem os lordes. Apenas o crepitar do fogo fazia algum som.

— Princesa Sansa — disse Margaery, após conseguir achar alguma força restante dentro de si —, não era em você que não confiava; era…

— Daenerys? — deduziu Sansa, falando o óbvio. — Ora, eu posso entender o seu desespero, Milady, mas será que, por acaso, não imaginou o terror que traria para o Vale caso conseguisse fazê-lo voltar-se contra ela? Ou não pensou neles? — Sua voz tinha um tom de inocência, mas era óbvio que Sansa era tudo menos isso.

Margaery encolheu-se um pouco com as indagações. Sansa sabia como deveria estar desesperada, mas, se sabia mesmo, escondia muito bem.

— Mila… Princesa — corrigiu-se —, deve imaginar o desespero de uma moça como eu estava sentindo… e ainda sinto! — Tossiu, limpando a garganta, e continuou: — Daenerys matou meu pai, assim como matou meu irmão, Garlan.

Sansa assentiu, lentamente.

— Mas, diga-me, Margaery — pediu Sansa —, não teriam sido as forças de Aegon?

Margaery franziu o cenho, não conseguindo esconder a irritação que teve ao sentir aquilo.

— Dá no mesmo — respondeu, murmurando as palavras com um ar de escárnio.

— Ah, é mesmo? Tem certeza disso?

Margaery sentiu vontade de estrangular aquela mocréia do Norte, mas se segurou. Sentiu sua boca tremer de ódio. Agarrou a corrente que a prendia, apertando o ferro escuro com ódio.

— Que eu saiba — continuou Sansa —, as forças de Aegon mataram Mace Tyrell muito antes de Daenerys chegar em Westeros, não?

Alguns rostos arquearam as sobrancelhas, surpresos com a atitude da princesa em defender a rainha.

— Garlan…

— Morreu pelas mãos traiçoeiras de um Florent, pelo que ouvi, não?

Margaery se viu obrigada a assentir.

— Sim, mas…

— E acredito que talvez Garlan tivesse sido preso, caso fosse pego? — ela indagou. — Afinal, nenhum mal foi feito a você e suas primas.

As mãos de Margaery apertaram mais ainda os grilhões, imaginando ser a garganta de Sansa.

— Provavelmente — Margaery se viu obrigada a responder.

Sansa acenou com a cabeça ao ouvir a confirmação.

— Certo, certo… Bem, Lady Margaery, eu imagino que saiba que seu irmão mais velho aliou-se ao Aegon?

Margaery fez que sim com a cabeça, enojada por pensar na imagem de Willas abaixando a cabeça para Aegon. Aquilo, para ela, era a maior das traições.

— E sobre o casamento de Aegon com a princesa e o suposto assassinato de Cersei? — indagou Sansa. — Ficou a saber, imagino?

A última parte fez a Lady soltar os grilhões e esbugalhar os olhos. Sabia sobre o casamento de Arianne, mas não fazia ideia de que Cersei havia partido.

Não fosse o caos em sua vida, Margaery poderia estar radiante naquele momento. Dançar, eufórica.

— Não, eu… Não fazia ideia…

Sansa assentiu.

— Imaginei — disse. — Eu também acabei de descobrir. — Deu de ombros. — Bem, espero que a morte daquela mulher possa trazer-lhe um pouco de felicidade. Acho que, apesar de tudo, você merece esse um unguento em seu coração.

Em teoria, ela sentiu que realmente deveria ficar feliz com a morte da ex-sogra. Devia estar em júbilo ao pensar que ela finalmente encontrara o destino que merecia…

Mas não sentiu isso. Sentiu que ainda faltavam coisas — muitas coisas — para deixá-la feliz.

— E minha mãe? — indagou Margaery. — E minha avó? Minhas primas! Teve notícias delas? 

Sansa balançou a cabeça, mostrando que não sabia de nada.

— Tudo o que sei já deve fazer um tempo… — A princesa parou de falar. 

Margaery imaginou que talvez Sansa escondesse algo dela; mas não sabia o quê. Talvez o motivo de não ter mais informações? Afinal, pelo que Margaery sabia, Petyr Baelish apoiava a causa de Sansa, e ele se provara um desgraçado cheio de truques; certamente deveria saber sobre as coisas da Capital.

E entĂŁo percebeu: Petyr Baelish nĂŁo estava em nenhum lugar. Olhou em volta, mas nĂŁo viu seu rosto.

— Bem, Milady — disse Sansa, fazendo Margaery voltar-se para ela —, você tem sido uma grande dor de cabeça para minhas colegas…

Margaery ficou pesarosa, com medo de que Sansa a levasse para as celas negras do local. Respirou fundo e sentiu-se prender o ar, involuntariamente.

— Mas — continuou Sansa —, visto que você já teve seus infortúnios, e que seu futuro ainda é sombrio, em memória aos nossos tempos de companhia, deixarei-lhe em uma cela que sirva como cômodo.

Aliviada, expelindo o ar que estava preso em seus pulmões, Margaery suspirou. Assentiu.

— Muito obrigada, princesa — respondeu Margaery, sentindo-se cansada. Seus pulsos e calcanhares doíam, mas, graças aos deuses, isso agora teria fim.

Sansa fez um gesto com a mão. Logo, Margaery sentiu dois homens brutos a pegarem pelos braços, machucando-a e obrigando-a a levantar-se. Eles a viraram, de forma rude.

— Levem-na para uma saleta adequada — ouviu Sansa dizer, enquanto Margaery era levada para fora do salão pelos homens usando librés com as cores dos Tullys, tropeçando nos próprios pés.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

A prisão não era das piores — sem dúvidas era melhor que a maioria dos quartos que Margaery havia tido.

Havia uma latrina, um penico, um latre moderadamente grande e de palha seca, um genuflexório, duas cadeiras simples de vime e uma mesa com uma jarra de vinho e algumas taças de estanho. No canto do aposento, também havia uma pequena banheira de madeira.

A lareira era pequena, mas já estava acesa, com lenha queimando.

Margaery sentou-se perto da lareira e colocou a jarra de vinho na frente das labaredas, para esquentar a bebida.

Seus pulsos e calcanhares ainda doíam, pois os elos de ferro impediam a boa circulação de seu corpo, fazendo-a sentir comichões e cãibras horríveis. Nem quando estava sentada, com uma almofada nas costas, sentia-se melhor.

Suspirou, sentindo-se cansada. NĂŁo sentia vontade de fazer muita coisa por agora. Olhou as chamas queimarem a lenha, de forma introspectiva, sem realmente perceber o que estava vendo.

Ouviu uma batida na porta.

— Entre… — disse Margaery, imaginando que não era um servo, pois eles deveriam entrar sem avisar.

A porta se abriu, revelando Lady Ysilla Royce.

Margaery sorriu ao vĂŞ-la. Imaginou que aquilo aconteceria.

— Por favor — disse ela —, sente-se.

A mulher assentiu, parecendo tĂ­mida. Sentou-se na outra cadeira de vime ao lado de Margaery.

— Eu… Eu queria agradecer por Milady não revelar nada para Sansa.

Margaery assentiu, ainda forçando o sorriso. Ah, aquela moça era realmente uma gazela medrosa. Esticou o braço e pegou a jarra pela alça de metal. Gesticulou com ela, em direção a esposa de Redfort, oferecendo bebida para ela, sem falas.

Ysilla recusou a oferta e Margaery encheu uma taça para si mesma. Após tomar um gole suave, sentindo o calor reconfortante da bebida, Margaery voltou-se para Ysilla.

— Não tenho nenhum contra sua pessoa, milady — mentiu. Ainda lembrava-se de como aquele covarde a deixou ser presa.

Ysilla assentiu.

— O pai e o irmão mais velho de meu marido estão mortos — revelou ela.

Margaery arqueou as sobrancelhas, surpresa — e feliz — com aquilo.

— Ah, é? Achei que eles haviam partido para a batalha em Harrenhal.

Ysilla fez que não com um meneio da cabeça.

— Ele e alguns outros lordes permaneceram por aqui — explicou —, pois, após tantas mortes importantes… — ela parou, achando que aquilo já era o bastante para o completo entendimento.

Margaery assentiu. Pelo que ouviu, muitos haviam morrido nestes Ăşltimos tempos.

— E como está seu marido? — indagou, curiosa.

Ysilla se encolheu.

— Myranda e Mya contaram para ele sobre eu quase ter ajudado você — ela revelou, enrubescida. —  Ele ficou muito furioso comigo, e pediu para não contarem a princesa Sansa. — Abaixou o olhar e olhou para as mãos unidas por cima do colo, como uma criança. — Mychel falou que, como meu marido, não revelaria nada, mas que não sente nada por mim além de asco…

Margaery assentiu, analisando bem aquela informação. Ah, aquelas tolinhas! Haviam acabado de entregar um peão para Margaery de bandeja! (Um peão supérfluo, é claro, mas ainda era melhor do que nada.)

Agora, pelo que ela podia imaginar, Mychel estaria agora conversando com as moças, ou, talvez, até recomeçando um caso com Mya — este último seria ainda melhor, ainda mais que ele não poderiam esconder tal caso, se é que sequer tentaria.

Margaery pousou a taça na mesa e pousou uma mão acalentadora no ombro da moça.

— Imagino que está se sentindo sozinha — falou Margaery. — Alguém sabe que você está aqui? Imagino que não passou pelo guarda sozinha.

Ysilla deu um olhar nervoso para a porta. Sim, aquilo devia estar sendo ouvido pelo soldado na porta. Margaery deu um suspiro, ainda cansada, pensando que aquilo tudo poderia ser uma farsa, ou que, de qualquer forma, mesmo que fosse real, a moça não teria nada para falar agora.

Sorriu e disse:

— Bem, sempre que quiser companhia, sabe onde eu estou.

Ysilla voltou a olhá-la, com aqueles olhos cinzentos, e, após uns instantes em silêncio, disse:

— Certo… Obrigada pela sua atenção, milady.

— Disponha — disse Margaery, ainda sorrindo, enquanto a jovem Royce se levantava da cadeira.

— Vou deixá-la descansar agora — disse Ysilla. Acenou com a cabeça. — Até, Milady.

Margaery assentiu e deixou a moça partir.

Megera inútil, ralhou-a. Aquela moça era facilmente uma covarde fútil, mas, com sorte, a futilidade dela poderia ser útil… Tudo dependia de como o marido dela a trataria daqui para frente — e, dado o que tinha ouvido, o vento estava a seu favor.

Após terminar de beber, Margaery pensou em levantar-se em puxar a corda e tocar o sino, chamando os servos, para que eles tirassem a roupa imunda dela e preparassem a banheira para ela. Estava suja, há semanas — senão meses — sem banho. A roupa ainda era a mesma que usara quando fora presa no Forte Vermelho.

Antes que fizesse aquilo, porém, enquanto se levantava, a porta se abriu e uma serva entrou, deixando um prato com mingau para ela. Deixou os talheres ao lado do prato.

 — Não quero comer nada por agora — avisou —, mas eu gostaria…

A serva saiu, apressada, sem olhar para trás.

— Ei! Eu…

Antes que terminasse de falar, a serva saiu, fechando a porta atrás de si.

— Ora, que disparate! — disse, irritada.

Olhou para o prato. Aquilo nĂŁo era mingau, era papa para pobre.

Mas, enquanto observava o prato, percebeu um pequeno pedaço de papel amassado ao lado da tigela de madeira.

NĂŁo iria cair naquele jogo de novo.

Pegou a carta e estava prestes a jogar no fogo…

… Mas, curiosa, ela desamassou o papel, e leu. Era um garrancho feio, escrito com carvão num pedaço de papel rasgado.

Você ainda tem alguns amigos, Vossa Graça.

— Baelish.

Arqueou as sobrancelhas, surpresa que Petyr Baelish escrevera o prĂłprio nome na carta.

Só podia ser uma armadilha… Mas, lembrou, Petyr não estava no salão. Seria uma forma de enganá-la? Talvez por isso Sansa tenha lhe dado informações e depois parado. Afinal, a princesa podia querer que ela percebesse a falta de Baelish.

Ou estaria pensando demais?

Voltando a ver a pobreza do material da carta, imaginou que Petyr talvez estivesse mesmo com problemas: o papel rasgado, a escrita apressada…

Balançou a cabeça. Mesmo que aquilo fosse verdade, Petyr não estava mais nas graças de Sansa, e dificilmente poderia fazer algo para Margaery naquele estado.

Amassou e jogou o papel na lareira, vendo o fogo o consumir, fazendo a bola irregular se contorcer, enegrecer, diminuir e finalmente sumir nas chamas.

Ao ver aquilo, Margaery lembrou-se de que seu destino estava nas mãos da rainha dragão… E que aquele pedacinho de papel era seu possível futuro.

 

X O X O X O X X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Sansa estava em seus aposentos, com Myranda e Sor Ronnel sentados de frente a ela, com apenas uma pequena mesa entre eles, e Jeyne sentada ao seu lado. (Lorde Mychel e Mya estavam em outro cĂ´modo, a sĂłs, apĂłs tanto tempo.)

Wylla serviu um pouco de vinho para eles, um belo hipocraz aquecido. Sua trança havia perdido totalmente o verde, pois não havia mais como comprar tinta para tingí-la, e, agora, o louro de seu cabelo era visível. A dama usava um belo manto de baleia.

— O que aquela sacerdotisa havia lhe dito, Sansa? — Myranda indagou, sentindo-se livre para falar livremente com a antiga colega.

— Disse que eu deveria matar Margaery — revelou Sansa. — Que ela era perigosa demais para viver.

Myranda pegou uma taça com o vinho e sorveu um pouco.

— Bem, eu estaria tentada a concordar — Randa disse rispidamente, parecendo irritada.

— Margaery está trancada agora, Randa — retrucou Sor Ronnel. — Deixe-a para lá, Milady.

Myranda apenas bebericou um pouco mais da bebida.

— O que acontecerá com Margaery? — indagou Jeyne. A amiga da princesa usava um cachecol pesado de lã cinza, cobrindo seu rosto até onde deveria estar o nariz, para esconder a falta deste, tirando apenas para um gole rápido de hipocraz.

Sansa deu de ombros.

— Creio que Daenerys será esperta; apenas a deixará como está. Ainda temos uma refém valiosa, e, além do mais, caso Willas morra… — deixou o resto por dizer.

Todos assentiram, um tanto desconfortáveis. Sansa sabia que ninguém ali estava de acordo com se ajoelhar para Daenerys, mas todos eram mais espertos que o estúpido e bruto Sor Albar.

Mudando de assunto, Sansa fitou Myranda e disse:

— Quero que saiba que, quando a guerra acabar, farei todo o possível para que você tenha como reconstruir os Portões da Lua.

Randa assentiu, embora nĂŁo parecesse muito confiante.

— Assim espero, Sansa, mas o reino não está nada bom. Na verdade, os reinos. — Deu de ombros. — Infelizmente, os Portões da Lua deverão esperar.

Sor Ronnel e Sansa fitaram Randa, surpresos com o que esta havia dito.

— Não pode estar falando sério! — exclamou Sor Ronnel.

Myranda assentiu.

— É a verdade, Sor, o Vale inteiro está afundado em caos, não temos como reconstruir um castelo daqueles, se nem mesmo os portos de Vila Gaivota estão em bom estado? O comércio precisa andar para que o resto ande também! E, agora que os castelos estão, em sua maioria, abandonados… — Se calou, olhando de soslaio para a princesa Stark.

Sansa suspirou e acenou com a cabeça.

— Entendo as dúvidas, Randa… Eu mesma nunca quis sair do Norte. Mas Jon e Daenerys…

Myranda fez que entendia com um aceno da cabeça.

— Eu sei, eu sei… — a moça disse. Suspirou. — Pelo que ouvi de Sor Mychel… De Lorde Mychel, no caso… Aconteceram coisas bem…

— Complicadas? — Sugeriu a Stark, com um meio sorriso.

— Bem, isso explica os gigantes e mamutes em vigia — disse Ronnel, mas Sansa não sabia se ele estava brincando para aliviar ou se estava mesmo em choque com toda aquela situação.

— Os gigantes não parecem como nas canções… — murmurou Jeyne Poole.

— Acho que poucas coisas são — respondeu Sansa.

Uma batida foi ouvida na porta e todos se viraram na direção do som.

— Quem é? — indagou Sansa.

— É Alleras, Milady — respondeu o rapagão do outro lado da porta.

Randa deu um risinho, reconhecendo o sotaque, e virou-se para encarar Sansa. 

— É aquele dornês que vi no Salão? — perguntou, parecendo divertida, sem reparar no olhar franzido e carrancudo que Sor Ronnel lhe dirigia. — Uuh, deixe que entre, princesa! Deixe que entre!

Sansa balançou a cabeça e sorriu diante o divertimento da amiga. Algumas coisas nunca mudavam.

— Entre, Alleras! — gritou Sansa.

Alys Mormont grunhiu.

— Princesa…

Sansa a silenciou com um gesto da mĂŁo.

— Não gosto daquele dornês… — cochichou Lady Wynafryd.

— Pois eu o acho lindo! — respondeu Wylla.

— Você acha mesmo? — indagou Hos, parecendo abalado com aquilo.

Antes que mais alguma coisa pudesse ser dita, Alleras abriu a porta e entrou a passos largos. Era um rapagão bem bonito, com olhar feminino e uma face masculina. De fato, muitos poderiam dizer que os dorneses não tinham a verdadeira “beleza westerosi”, mas o Esfinge claramente deixaria muitos galantes cavaleiros desbotados diante de sua beleza escura.

O Esfinge parou alguns metros diante de Sansa e seu séquito. Quando se empertigou, olhou nervoso para os outros, visualizando-os 

— Princesa, eu… Poderia falar com você, a sós?

— O que tiver que falar com a princesa, dornês — grunhiu Lady Mormont —, você fará na frente de todos.

Alleras nĂŁo se abalou.

— É algo que um dos meistres me mandou dizer.

— E por qual motivo o próprio meistre não veio dizer em pessoa? — indagou Sansa, curiosa.

Novamente, o rapaz fez uma expressĂŁo aflita.

Vendo que poderia ser algo sério, Sansa pediu para que todos os deixassem — exceto Lady Alys.

Quando todos foram embora, com apenas a Princesa, o Esfinge e a guerreira Mormont sobrando, o rapagĂŁo falou:

— Deve saber que um dos meistres foi inspecionar um dos acampamentos… — Começou ele a dizer.

— Sim, sim, estou a par disto, Alleras — ela o respondeu. Era comum que os meistres fossem ver o que ocorria nos imensos acampamentos, para ver se os soldados e o povo comum estavam com algum problema.

— Bem, este estava indo ver um grupo, não muito longe das muralhas, que estavam reclamando de, hãã, bem… eles disseram que estavam com problemas intestinais.

Sansa assentiu, franzindo o cenho.

— Princesa, o meistre não veio, pois ele mesmo não achou seguro voltar.

Sansa inicialmente ficou confusa, franzindo mais o rosto…

E entĂŁo entendeu, arqueando as sobrancelhas e soltando um suspiro horrorizado.

— Fluxo Sangrento… — Disse, apavorada.

Alleras assentiu, enquanto Sansa sentia um frio na espinha.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

— Que acha que aquele dornês quer? — indagou Sor Ronnel, enquanto se dirigiam aos novos aposentos de Randa.

Esta deu de ombros para ele.

— Não sei — respondeu.

Jeyne não estava com eles, a moça havia dito que iria visitar as cozinhas, antes de voltar para os cômodos de Sansa (as duas iriam dividir o quarto.)

Ao entrar em seu novo cômodo, Myranda o achou modesto demais, mas melhor do que os dos Portões Sangrento.

— Imagino que Mya vai dividir espaço comigo — comentou, esquadrinhando o local. — Bem, se é que não vai dividir o quarto com Mychel… Apesar que ele ainda tem a companhia da esposa, então…

— Randa… — disse Sor Ronnel, atravessando a soleira e fechando a porta atrás deles.

Myranda virou-se para encará-lo.

— Sim, Sor?

Sor Ronnel se aproximou dela.

— Com Sor Albar preso, com quem ficam os Portões da Lua? — indagou.

— Ah, nossa, é verdade… Andei tão afobada, nem questionei… — Balançou a cabeça. — Não importa, nem tem como aquilo ser chamado de castelo, de qualquer forma.

Sor Ronnel assentiu, fitando-a.

Estranhando os modos do rapaz, Myranda o fitou de volta, apertando os olhos.

— Que quer, Sor?

— Fazer-lhe companhia.

— E por que? Não deve rever seu sobrinho? E sua… Ah! Desculpe, Sor! Eu esqueci…

Sor Ronnel assentiu, parecendo abatido.

— Tudo bem, Myranda — Ele respondeu, dando um meio sorriso triste, mas este não durou. — Meu único consolo, é que minha mãe morreu pacificamente na cama, diferente de meu irmão…

 Sor Ronnel balançou a cabeça e apertou os olhos, e Randa percebeu que ele lutava contra as lágrimas.

— Ah, Randa, eu sinto-me tão solitário! — ele exclamou, deixando dor na voz ser audível. — Não creio que simplesmente não verei mais nenhum deles; nem que terei de ajoelhar perante a assassina de um deles!

— Oh — Ela o envolveu em um abraço. Sor Ronnel retribuiu o gesto, passando os braços pelas costas dela.

Quando Sor Ronnel se afastou, ele disse, com a voz embargada:

— Lamento, Milady — ele se desculpou. — Eu estou aqui, chorando pela morte de minha mã e de meu irmão, sendo que você, além de perder o pai e o castelo, ainda teve Albar…

— Oh, deixe disto! — Botou o rosto dele entre as mãos. — Eu já sabia de meu pai há tempos, você veio saber de sua mãe hoje… — Balançou a cabeça. — Lamento tanto, Sor…

— Eu também lamento. Deveria ter-lhe acompanhado até o Forte Vermelho, se eu tivesse ido, Sor Albar nunca…

—... Meu irmão sempre teve seus problemas comigo — Randa o interrompeu. — Assim como meu falecido pai. — Deu de ombros. — Eu já imaginava que ambos não gostavam de mim, mas, mesmo assim, nunca imaginei que Albar seria capaz de fazer o que fez.

Sor Ronnel afastou uma mecha do cabelo escuro dela. Ambos estavam próximos um do outro, se olhando nos olhos, e sentindo o calor da respiração de cada um.

— Eu devia ter matado-o pelo que ele fez! — disse Sor Ronnel, ao ver os olhos de Myranda ficarem marejados.

Randa deu um sorriso fraco.

— Não seja tolo, Sor — disse ela —, os deuses sabem que meu irmão não é o único a me criticar; a grande maioria me despreza, mesmo que gostem de minhas festas. — Deu de ombros novamente.

Sor Ronnel tomou seu rosto rechonchudo em suas mĂŁos.

— Que os outros os levem, então — ele disse, e levou seu rosto dela, enquanto a puxou com delicadeza até o dele.

Myranda fechou os olhos e abriu a boca, sentindo o roçar da língua quente de Sor Ronnel, entrelaçando a sua própria língua com a dele.

O cavaleiro Waynwood passou as mĂŁos pelas costas dela, puxando-a mais perto para si, sentindo os seios e a barriga dela baterem contra o seu corpo, sentindo o seu calor corporal.

Sor Ronnel ergueu Myranda em seus braços, levando-a para a cama coberta por um dossel, como um marido faz com sua esposa.


NĂŁo quer ver anĂşncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio Ă© fundamental. Torne-se um herĂłi!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.