Os Sem Nome escrita por Trashcan Bin
Notas iniciais do capítulo
Eu sou ruim de revisão, as coisas escapam e os capítulos acabam sendo editados depois da publicação para corrigir os erros. Perdoa.
Tóquio, 1979
Um quarto, ou sala, enorme numa mansão. Duas crianças sentadas em uma mesa, uma menina e um menini. Parecem ter a mesma idade. Também estão ali um homem alto e careca, que parece ser o mordomo, e uma jovem uniformizada tipicamente como empregada.
— Você quer mais chá, senhor Tom? — a menina se levantou, e se dirigiu ao menino, cujo nome real não era esse. Só tinha uma resposta certa.
— Não. — ele ainda não tinha entendido.
Ela parou e fitou ele por alguns instantes, como se não tivesse entendido.
— O professor Nakamura disse que na Inglaterra é falta de educação negar um chá.
— Quem é professor Nakamura?
— Meu professor de etiqueta.
— Ah…
— Então, senhor Tom, voltando… — disse ela se voltando para o bule de chá que estava na mesa.
— Mas se a resposta é sim de qualquer jeito — ele ficou pensativo — Pra que perguntar?
Ela fitou ele novamente, como se estivesse pensando em uma resposta.
— Por educação. — disse depois de um tempo.
O menino parece satisfeito.
— É educado perguntar, mas não responder com sinceridade?
— Não, é que responder “sim” também é educado. Responder “não” seria uma desfeita.
— Mas eu já tomei o chá. Por que é uma desfeita?
— Tem coisas que são como são.
— É?
— É.
Ele aceitou. Talvez.
— Então eu aceito mais chá, senhora Hose.
— É “Rose”. Não “Hose”, “Rose”. — ela dizia olhando pra o bule, sem perceber que ele ligeiramente olhava para o chão.
— Tá, desculpe.
— Você tem que melhorar o inglês.
— Eu não sei falar inglês.
Ela olhou para ele com um ar de incredulidade.
— Você não aprende na escola?
— Não.
Ela parecia estar pensando na resposta dele.
— Francês?
— Não.
— Nem coreano?
— Também não.
— Hum… o que você aprende na escola?
— Japonês, ué — ele voltou a olhar pra ela.
— Só?
— De língua, sim. Mas tem também Matemática, História, Geografia, Artes, coisas assim.
Um silêncio tomou conta daquela conversa enquanto eles se encaravam.
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— Você sabe falar todas essas línguas, senhorita Saori? — para Takeshi, era claro que eles já não estavam mais brincando de nada.
— Eu estudo todas elas. E tem grego também. Os professores dizem que não é tão importante, mas o meu avô insistiu. Ele falou que temos uma relação importante com uma família da Grécia. Eles dizem que depois eu vou ter que aprender outros idiomas…
— Por isso ele viajou pra lá agora?
A expressão na cara dela mudou, quase como se fosse capaz de matar ele com os olhos. Não só isso, mas era como se toda a atmosfera do quarto respondesse a essa mudança.
— Acho que sim. Ele não me fala muito disso.
— Ei, moleque, você não está aqui para ficar perguntando nada — Tatsumi logo bradou, e se aproximou dos dois;
— Desculpe — Takeshi achou que era melhor voltar para o outro assunto — Você vai aprender árabe, senhorita?
— Árabe? Não sei, por quê?
— Minha mãe me ensinou a falar árabe.
— Ah, é mesmo. E o Hideki fala português porque a mãe dele é do Brasil. E a sua mãe é de… de…
— Gaza.
— Isso. Mas você nasceu aqui no Japão, né?
— Sim. Um dia eu quero conhecer lá.
— Você não tem medo?
— Do quê?
— Não sei. O professor Watanabe uma vez disse que os árabes podem ser violentos.
— Ei! Não é assim!
Saori viu se Takeshi levantar num impulso, batendo com a mão na mesa e, em sequência, ter seu corpo arremessado no chão, com uma marca roxa em seu rosto.
— Moleque, eu falei que é pra você se comportar na frente da senhorita Kido! — a mão de Tatsumi ainda estava estendida — Entendeu?
— Tatsumi, o que você tá fazendo?!
— Ensinando esse moleque a ficar no devido lugar.
— Por ordem de quem?
O mordomo engoliu a seco.
— Eu por acaso pedi?
— … Não.
— Então saia daqui, agora.
— Certo. Me desculpe — o mordomo fez uma reverência e foi rumo à porta.
Enquanto Saori dava seu show, a empregada foi socorrer Takeshi.
— Tá tudo bem, Take?
— Tá sim, obrigado — o menino parecia desnorteado — Pelo menos não foi na frente da minha mãe — ele complementou, falando mais baixo.
— Yoshiko — a moça virou-se para Saori ao ouvir seu nome.
— Sim, senhorita?
— Leva o Takeshi e pede pra alguém vir arrumar aqui — ela disse, também se dirigindo à porta. Era o tom impositivo de sempre, mas tanto Takeshi quanto Yoshiko sentiam uma atmosfera diferente.
— Certo. Acho que se colocar gelo ou uma compressa fria vai melhorar mais rápido.
— Faz o que você quiser — e foi embora.
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— Argh! Tá vendo? Essa menina é uma chata!
— Hideki, para de ficar implicando com ela.
— Além das brincadeiras chatas, ela não tá nem aí pro Take ter apanhado! E na frente dela! Olha aí como ficou a cara dele, esse hematoma gigante.
— Pelo menos ela mandou o Tokumaru sair. Ei, Take, depois que tirar o gelo, se você quiser, posso fazer um curativo em cima pra esconder esse roxo. Dá pra passar uma maquiagem em cima também, mas acho que você não vai querer, haha.
— Obrigado, Hikari, mas não foi nada de mais.
— Mandar o Tokumaru sair era o mínimo! Ela ficou brava porque não tinha mandado ele fazer nada. Não tá nem aí pro resto, só liga de “faz isso, não faz aquilo”. Acha que todo mundo aqui é propriedade dela.
— Não sei, Hideki, não acho que foi bem assim…
— Você também vai defender ela, Take?
— Não é isso…
— Ai, Hideki, tá bom, ela nem sempre é agradável, mas você implica muito fácil. Às vezes não sei se você tem mesmo 9 anos, ou se parou na idade dela.
— Tá falando que eu sou infantil?
— Às vezes.
— Eu não sou, não, tá? É só que, argh, me irrita essas coisas. Ela e o avô, ainda bem que ele nem aqui está.
— Tudo bem se irritar, mas é melhor você abaixar essa bola porque senão sobra pra sua mãe também.
— Aff, eu sei. Só acho que o Take também precisa aprender a se defender melhor.
— Eu o que?
— Na escola você tem que andar com o pessoal que faz luta! Aí você aprende a segurar o Tatsumi.
— Eu não quero brigar!
— Ué, Hideki, e por que você fica no futebol e não no karatê?
— Porque eu já me garanto na briga, oras!
— Sei…
— É verdade! Take, depois que você melhorar aí, vou te ensinar a dar uns socos.
— Eu não vou brigar!!
— Ai, Hideki, você não tem nada na cabeça mesmo…
E assim seguiu a tarde daquelas crianças.
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